quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

MEDITAÇÃO OU SUBJUGAÇÃO AO EU SUPERIOR.

Bhagavad Gita. ATMA SANYAMA YOGA. Capítulo Seis. MEDITAÇÃO OU SUBJUGAÇÃO AO EU SUPERIOR. Neste capítulo se expõe com se realiza a união com o Ser Supremo, mediante a santificação interior, e a meditação.

1. O Verbo Divino: Ouve as minhas palavras, ó Arjuna! Quem cumpre honestamente o seu dever da melhor maneira que lhe é possível, sem nutrir desejos de ser recompensado é, ao mesmo tempo, um asceta e um homem de ação; não aquele que simplesmente prescinde de ritos e sacrifícios.

2. Sabe, ó príncipe, que a Reta Ação, praticada com o conhecimento da verdade, é a melhor renúncia, o melhor ascetismo. Porque este consiste em verdade só no desinteresse e, se a ação não é acompanhada pelo conhecimento inteligente da renúncia dos resultados, não merece o nome de Reta Ação.

3. Nos primeiros degraus do Caminho da Perfeição, ensina-se que o aspirante deve praticar a reta ação para ganhar os melhores méritos. Quando o discípulo atingiu a sabedoria e o conhecimento, e libertou-se do apego às obras, explica-se que a calma meditação e a paz serena da mente são os melhores para conduzi-lo ao alvo. A cada um dá-se conforme as necessidades e o grau de seu desenvolvimento.

4. Quando o homem está livre do apego aos frutos das ações, e à ação mesma, e aos objetos do mundo dos sentidos, então atingiu o mais alto grau da Reta Ação, e tornou-se um yogi perfeito.

5. Cada um deve elevar-se espiritualmente pela força que lhe dá o Espírito divino, e não inferioriza-se. O Eu Real, isto é, o Espírito do homem, é o amante do homem e o seu melhor amigo; mas ao ignorante pode parecer que é seu inimigo porque tende a aniquilar o seu sentimento de personalidade separada.

6. O Eu Real é o amigo daquele que domina o seu eu pessoal, inferior; porém, se a alma não alcançou ainda o Conhecimento, pode parecer-lhe que o Eu Real é o seu maior inimigo, porque quer libertar a alma ignorante das ilusões e dos erros que se lhe tornaram agradáveis.

7. A Alma do homem que chegou ao conhecimento do Eu Real em si mesmo permanece quieta e calma, contente e meiga, não se alterando pelo frio nem pelo calor, nem por sofrimento nem por prazer, nem por aquilo que o mundo chama honra ou desonra.

8. O sábio yogi contentá-se com a ciência e com o conhecimento da Humanidade Divina; ele dá igual apreço a um pedaço de barro como ao ouro ou a uma pedra preciosa.

9. É afável para com todos, com igual amor e fraternidade a todos trata, sejam amigos ou inimigos, parentes ou não, compatriotas ou estrangeiros, santos ou pecadores, bons ou maus.

10. O yogi senta-se num lugar isolado e entrega-se à meditação e a profundos pensamentos. Dominando a mente e o corpo pelo Eu Real, é livre de opiniões e de expectativas egoístas.

11. Senta-se num lugar limpo, nem demasiado alto, nem demasiado baixo; cinge-se com um pano ou como o couro de antílope preto, e repousa sobre verbenas (1)
(1). O plano é o símbolo da castidade, o antílope é o símbolo da delicadeza do sentimento; a verbena (erva "kusha") é o símbolo da firmeza. O yogi deve ser casto, delicado e firme.

12. Assim sentado, domina a sua mente e dirige o pensamento a um ponto de concentração, retendo, ao mesmo tempo, as impressões dos sentidos e não deixando entrar na mente pensamentos que vagueiam. Nessa posição, conservando calma e persistência, purifica a sua alma, dirigindo a consciência ao Eu Real, ao Absoluto, que é a base de todos os seres.

13. Tem sob domínio e imóveis a sua cabeça, a nuca e todo o corpo, de acordo com os costumes tradicionais dos yogis; fixa o olhar no Eterno e Infinito, não olhando para nada do mundo dos sentidos, que o rodeia.

14. Com o ânimo tranquilo o sereno, livre do medo, inabalável em seu propósito, refreando a sua vontade, em silêncio permanece, pensando em Mim e em Mim se imergindo.

15. O yogi que, desta maneira, se exercita em devoção e, praticando o domínio mental, une-se com o Eu Real, passa para o estado de Paz e Bem-aventurança que só em Mim se encontram.

16. A união mística com a Divindade não é atingível, porém, para aquele que é comilão, nem para quem jejua demasiadamente, nem para o dorminhoco, nem para quem se debilita por demasiadas vigílias. Quem quer ser yogi, há de evitar os extremos e seguir o dourado caminho do meio.

17. A ciência yogi, que destrói o sofrimento, é realizável para os que observam moderação e temperança em comida e recreio, em ação e descanso; par que aqueles que, fugindo do mal do excesso em ação, não caem no mal oposto do excesso em repressão.

18. Quando um homem tem o pleno domínio de si mesmo, e conserva a sua mente fixa no Eu Real, e não anseia nenhum objeto desejável, merece o nome de yukta, "cheio de graça".

19. A sua mente tornou-se estável e firme, como a chama da lâmpada que está colocada num lugar aonde não tem acesso o vento.

20. A mente do yogi se deleita na contemplação do Eu Real e acha no seu interior o contentamento e a felicidade.

21. Cheio de indizíveis delícias, inerentes às esferas espirituais que se estendem além dos sentidos, o yogi permanece firme na contemplação da Verdade.

22. Ele sabe que não há coisa melhor, nem maior satisfação, do que esse estado de Paz inabalável, que resulta do Conhecimento da Realidade; nada lhe pode perturbar essa Paz e esse contentamento, nem os maiores sofrimentos, dores e cuidados da vida mundana, porque está acima deles.

23. A ausência de sofrimentos, dores e cuidados chama-se Yoga, União Espiritual. Esta Yoga deve ser começada com firme convicção e praticada com alegre disposição mental.

24. Atirando longe de ti os vãos desejos da imaginação e dominando por meio da mente, iluminada e guiada pelo Espírito, as inclinações dos sentidos, chegarás, passo a passo, à tranquilidade e calma.

25. Quando a mente se fixou uma vez no Eu Real, acha insensato peregrinar em qualquer outra coisa

26. Se tua mente não atingiu ainda o necessário grau do domínio das paixões e impressões, anda para cá e para lá, desviando-se de seu Objetivo Supremo, sê vigilante e refreia-a pela força da vontade concentrada, reconduzindo-a sempre ao Alvo.

27. O homem, cujo coração encontrou a Paz que ão admite nenhum movimento de paixão, e tornou-se livre daquilo a que se chama "pecado", venceu os erros e entrou no reino da Verdade.

28. O yogi, que atingiu assim a Unidade Eterna e cessou de pecar, goza a harmonia da Vida Una e as delícias da união com Deus.

29. Ele, cuja alma se uniu assim a Deus, em Deus, e Deus em todas as almas, vê tudo em Deus.

30. Em verdade te digo que aquele que Me vê em tudo e todo o Universo em Mim, nunca me vê em tudo e todo o Universo em Mim, nunca Me abandonará e nunca será por Mim abandonado. Para sempre estará ligado a Mim, pelos laços preciosos do Amor.

31. Quem Me reconhece em todos os seres, ama-me e comigo se une, participa da vida eterna do meu ser, qualquer que seja o seu modo de vida exterior neste mundo.

32. O verdadeiro yogi, ó Arjuna! É aquele que chegou, pela iluminação interna, a saber que uma só Essência penetra toda a vida e todas as coisas, e conserva o ânimo igual em todas as vicissitudes da vida, reconhecendo a necessidade de equilíbrio entre o prazer e a dor na Natureza.

33. Arjuna: Eu não posso achar firmeza, ó Herói valente, nessa submissão, nessa resignação e nesse domínio da mente, de que falas. Eu sei que a mente e o coração são instáveis, inquietos, turbulentos, vacilantes, obstinados e insubmissos à vontade.

34. Parece que dominar o coração ou a mente em suas inclinações e seus pensamentos é tão difícil como reter um forte vento.

35. KRISHNA: Tens razão, dizendo que é muito difícil dominar a mente, porque é instável e inclina-se ora para um ora para outro objeto; entretanto, quem fortaleceu a sua vontade por meio de exercícios e disciplina, pode ser senhor de seu coração, senhor de sua mente.

36. É verdade que a Yoga (União Espiritual) é coisa dificílima para quem tem a mente descontrolada, mas é acessível para quem tenha a mente dominada.

37. Arjuna: Qual é, porém, a sorte daquele, ó Mestre, que está cheio de fé, mas não atinge a perfeição em Yoga, porque não domina a sua mente, que se afasta do caminho da disciplina?

38. Parecerá, talvez, como uma nuvem despedaçada pelos ventos? Será ele reduzido a nada, sendo repelido tanto deste mundo, como do mundo superior, porque caminha, incerto e inexperiente, pela senda que conduz ao Brahma, ao Absoluto!

39. Responde-me, ó Divino, porque tu, unicamente, podes dar-me explicação satisfatória e dissipar as minhas dúvidas.

40. KRISHNA: Não, meu caríssimo, não perecerá o homem em tais condições; não será aniquilado nem neste mundo, nem nos vindouros. A fé conserva-o vivo, a sua bondade preserva-o da aniquilação. Não se perde nunca quem vive honestamente e em Mim confia.

41. A Alma, cuja devoção é fé, acompanhadas de boas obras, carecem da aquisição da perfeita disciplina, depois da morte do corpo, vai habitar o céu dos justos que ainda não atingiram a Perfeição (1). Ali fica gozando felicidade por inúmeros anos, mas, depois, reencarna-se em casa de um homem bom e nobre, nas condições adaptadas ao seu desenvolvimento e adiantamento. (1). Os teósofos hindus chamam a esse céu - devachan ou morada dos deuses.

42. Pode nascer, nesta nova encarnação, como filho de um yogi adiantado, se bem que tal nascimento seja difícil obter-se neste mundo, atrasado moralmente.

43. Na sua nova existência, o homem recupera novamente toda a organização espiritual que tinha adquirido na vida passada, e, assim, fica preparado para continuar os estudos e as tarefas que conduzem à Perfeição.

44. Com a morte, não se perde nada daquilo que a alma adquiriu. As experiências que o homem fez nas vidas passadas tornam-se instintos e incitam-no ao progresso, até inconscientemente. Mesmo quem só tivesse desejado conhecer Yoga, recupera esse desejo, e com o decorrer do tempo transcende os liames da matéria.

45. Trabalhando com paciência, perseverança e aplicação, sendo livre dos erros e plenamente desenvolvido pelas experiências, ganhas em suas múltiplas encarnações, o yogi chega ao alvo procurado, à Paz e à Meta Suprema.

46. Como vês, yogi é aquele que procura a Verdade e, confiando na Justiça da Lei Absoluta, sempre faz o melhor que pode. É maior do que um asceta ou fanático que procura obter mérito, impondo-se penas e martírios voluntários a si mesmo. É superior aos eruditos e aos que praticam boas obras com desejo de recompensa. Sê, pois, ó Arjuna! também um yogi, cheio de fé e bondade!

47. De todos os yogis, eu prefiro, porém, aquele que me adora com fé e a mim dedica o interior da sua alma; aquele cujo coração transborda meu amor e cuja mente sempre sente a minha presença e, com ela, a Paz Suprema. Livro Bhagavad Gita - A Mensagem do Mestre. Abraço. Davi.


Bhagavad Gita. Resumo do Capítulo Seis – MEDITAÇÃO OU SUBJUGAÇÃO AO EU SUPERIOR. Tales Nunes o realizou a partir das aulas de A Essência da Gita da professora Glória Arieira. Este capítulo marca o final da primeira parte do ensinamento de KRISHNA à Arjuna. Da parte que fala sobre o Indivíduo que se vê limitado e que deve descobrir que é pleno, completo e ilimitado. Aqui é apresentado o YOGA como um meio de preparação da mente do indivíduo, como um estilo de vida. Achamos que a meditação tem como objetivo o aquietar a mente, a quietude emocional, a tranquilidade, a paz e nada mais. O objetivo da meditação é fazer com que você possa descobrir a sua verdadeira natureza, aquilo que você é fundamentalmente, livre de limitação. Para isso há todo um estilo de vida que inclui a meditação e que vai conduzir à contemplação. A contemplação é a capacidade de ver a minha natureza fundamental, que está além dos pensamentos. E a contemplação não depende da meditação sentado, de prāṇāyāma. O foco não é a meditação, não é renunciar, é adquirir meios para que a meditação e a renúncia possam acontecer. Eu dou meios para que a mente seja contemplativa. Eu entendo coisas para que eu abra mão de coisas que eu estou apegado e reativo. A atitude contemplativa é equivalente ao amor. Assim como não podemos dizer, agora vou ter uma mente contemplativa, não podemos dizer, agora ame essa pessoa. Essa mente contemplativa tem a capacidade de contemplar qualquer coisa. Pode contemplar BRAHMAN, mas também qualquer outro assunto. Uma vida de YOGA vai nos conduzir a uma mente contemplativa. Porque à medida que agimos, refletimos sobre se a ação foi adequada. Quando o resultado da ação vem, aceitamos e tentamos não reagir, mas agir. Assim a pessoa aprende como funciona a mente e está presente nas ações. Dessa maneira, a pessoa tem a capacidade de escutar, refletir e contemplar o conhecimento de BRAHMAN. Este ensinamento sobre o Todo. É uma questão de entender a veracidade das palavras transmitidas pelo mestre. O que sou eu, o que é o Todo. Através da meditação não tentamos chegar a uma experiência, um estado da mente diferente, um estado alterado de consciência. O objetivo da meditação é o entendimento dessa visão e compreensão de BRAHMAN, do todo como sendo você mesmo. O verdadeiro yogi é um renunciante. Pois ele tem essa atitude mental perante a vida. Uma atitude de não reação, de desapego em relação aos seus desejos e aversões. O yogi é aquela pessoa que abandonou a fantasia da mente. KRISHNA chama essa pessoa com a mente preparada de Yoga āruḍa. Ou seja é a pessoa que dominou YOGA. Ele obteve os resultados de Yoga. Uma mente que tem tranquilidade, firmeza e desapego. Como dominar YOGA? Tendo a capacidade de ter uma tranquilidade para aceitar os resultados das ações. A pessoa que conquistou YOGA é uma pessoa que consegue renunciar qualquer coisa que aconteça na sua mente. Para que você conquiste YOGA, levante o olhar sobre si mesmo. Não se olhe como incapaz, infeliz, incompleto. Eleve-se, não se deixe afogar. Tenha a sua mente como um amigo. O pior inimigo que você pode ter é a sua própria mente. Amigo é aquele que soma, que contribui. A mente amiga é aquela que conquistou a si mesma. Nós temos uma identificação com um eu que é limitado. Essa identificação já vem de muito tempo, dessa vida e de outras. “Eu sou limitado, eu sou mortal, eu sou insuficiente” esse pensamento é uma constante porque é valido para o corpo e para a mente, mas fundamentalmente eu sou livre de limitação. Ainda que entendamos que somos plenos e completos, ao ouvir este ensinamento, parece que ainda falta alguma coisa, falta absorver o conhecimento, porque foi muito tempo de identificação com o contrário. Por habito nós corremos para os objetos, corremos para as situações para nos preencherem porque já chegamos a essa conclusão de que somos limitados e somos insuficientes e automaticamente, sem pensar, vamos atrás de objetos externos achando que vão me fazer mais feliz, que vão me preencher. Para a mudança desse hábito é necessário um tempo, é necessário que eu me veja como livre de limitação, como eterno para que eu possa me libertar desse hábito. A meditação tem basicamente esse objetivo, não o objetivo de produzir uma felicidade, uma tranquilidade, porque se fosse para isso já teríamos os objetos, porque os objetos também produzem felicidade, tranquilidade: uma música, um passeio, uma caminhada, uma viagem. A meditação também dá essa tranquilidade, mas o objetivo último não é produzir alguma coisa e sim me ajudar a assimilar um fato ao meu respeito, que eu já conclui com o estudo e estou preso a essa ideia de que eu sou limitado, que eu sou infeliz e que sou insuficiente. A meditação não é uma ação, não é uma coisa que você faça em um determinado momento. Meditar é uma consequência de uma série de fatores, principalmente de um tipo de mente. No verso 33 Arjuna diz: “KRISHNA, esse YOGA que foi ensinado por você como igualdade; eu não vejo a existência firme dessa igualdade devido à inconstância da mente”. E segue no verso seguinte: “Pois a mente é inconstante, atormentadora, poderosa, obstinada, ó KRISHNA! Eu considero o controle da mente tão difícil como o controle do vento”. Arjuna ficou esperando que KRISHNA respondesse, “é com essa mente não vai dar, acho que você pode mesmo desistir e ir pra montanha”, mas KRISHNA responde no verso 35: “Sem dúvida Arjuna, a mente é incostante e difícil de ser controlada. Porém, ó Arjuna, a través da repetição e do desapego, ela é disciplinada”. O método apresentado aqui na Gītā para lidar com a mente e a mesma que Patañjali fala no YOGA SUTRAAbhyāsa é a disciplina, a repetição. Eu faço hoje, amanhã eu faço de novo e depois eu faço de novo. Não é ficar distraindo a minha mente, agora eu faço isso, depois aquilo. A mente foge, mas você traz de volta. Ela foge de novo, você traz de volta de novo. À medida que você vai fazendo essa repetição, ao mesmo tempo você vai se desapegando das outras coisas que deseja desapegar. Dessa maneira Abhyāsa traz naturalmente vairāgya. Abhyāsa dentro desse estudo é o escutar, se expor ao conhecimento e refletir sobre o mesmo. Esse é o métido para se chegar ao desapego final. Ao final do capítulo, KRISHNA fala sobre o resultado final do conhecimento. “O yogi, esforçando-se apropriadamente, purificado de impurezas, tendo conquistado sucesso através de inúmeros nascimentos, alcança, então, o mais alto objetivo”. “Entre todos os yogis, aquele que se entrega a mim com a mente absorta em mim, que tem confiança, esse é considerado por mim como o mais elevado”. www.vidadeyoga.com.br. Abraço. Davi.

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