domingo, 8 de fevereiro de 2015

Filme O Gato do Rabino.



Na animação  O Gato do Rabino do diretor Joann Star produzido em 2011 é mostrada a temática das religiões monoteístas que são o Cristianismo, Judaísmo e Islamismo que aferradas a conceitos dogmáticos verossímeis a seus próprios interesses fecham-se nas ortodoxias que praticam. Isso é evidenciado nas crenças defendidas com rigor em nome de seu Deus (Jesus, Maomé e Moisés). A fé na doutrina religiosa  (lei) é mais importante que o adepto seguidor. Na animação o rabino judeu tenta superar a recente perda de sua esposa, que convenhamos, quando esse relacionamento é baseado no amor, companheirismo e cumplicidade é uma situação dificílima. Como sentiu fortemente esta ausência uma crise existencial de caráter espiritual provocou um ceticismo, a ponto de culpar Deus indiretamente por suas orações para restabelecer a esposa não terem sido respondidas naqueles dias de conflitos e tristeza interiores. A figura do gato na animação é justificada, pois os cães na tradição judaica são considerados animais imundos bem como os porcos. Assim esses bichos para os judeus ortodoxos não devem ser criados, e nem domesticados, constituindo desobediência a esse preceito um pecado. Esse gato era estimado pelo rabino e por sua filha. Mas com a chegada de um papagaio, o gato, teve que dividir as atenções dos seus donos com esta ave e isso o provocava e irritava bastante. Então subitamente olhando para o papagaio pulou em cima dele e o devorou adquirindo a característica de falar. Assim esse gato começou a questionar os valores religiosos que o Judaísmo tinha como verdades absolutas para confusão da mente do rabino, dando explicações alternativas fora dos pressupostos da Torá, Talmud e Tanach. Vários aspectos podem ser abordados como componentes do enredo da projeção. Quando o gato pede ao rabino para fazer o Bar Mitzvah o rito de introdução do jovem judeu na comunidade local onde ele, com 13 anos faz pela primeira vez a leitura da Torá na presença da congregação recebendo as credenciais simbólicas de maioridade. Esses questionamentos do gato traz a ideia da dispensabilidade desse rito como ofício de iniciação, pois deveria ser estendido a todos inclusive aos animais e não somente aos judeus. Por que o indivíduo precisa formalizar publicamente sua crença para tornar-se membro de uma comunidade espiritual judaica? O Judaísmo tem dois ritos de iniciação a circuncisão e o Bar Mitzvah. No Cristianismo temos o batismo nas águas e os sacramentos do pão e do vinho, bem como a leitura das Escrituras (Bíblia) Sagradas. No Islamismo o egresso é chamado de muçulmano, e a partir desse momento deve ler regularmente o Alcorão e as doutrinas normativas contidas na Suna e na Hadith, devendo se tiver condições financeira visitar (pelo menos uma vez na vida) a cidade sagrada de Meca na Arábia Saudita ,e se possível beijar a pedra escura sagrada que se encontra dentro da Kaaba a Tenda Negra. Isso é árduo, pois na semana da festa do Hamadan (jejum coletivo) a cidade de Meca é visitada por 3 milhões de fiéis muçulmanos. É discutível o conceito de monoteísmo (único Deus) quanto as três religiões que estamos abordando, pois cada uma delas tem seu Deus de características e especificidades diferentes. Para os Judeus ele é Yavé, D’us; isso no aspecto exotérico (público), pois no misticismo esotérico (oculto) da Cabala Jeová tem 99 nomes e o número 100 é uma combinação de consoantes YHWH que por ser santíssimo é impronunciável por qualquer mortal e segundo os judeus ortodoxos sua menção é pecado de blasfêmia. No Cristianismo Jesus Cristo é a figura central sendo o Deus encarnado que trouxe a redenção substitutiva e a salvação pessoal a todo aquele que crê no filho de Deus. Mas há controvérsias históricas começando nos primórdios do Cristianismo Primitivo com os pais da igreja, pois a deidade de Cristo desde aquela época e ainda hoje é motivo de indagações e esclarecimentos mais profundos e o caminho para a solução dessa questão passa a ser a fé pura e simples, pois não há argumentos lógicos para uma explicação filosófico científica, recorrendo-se apenas a hermenêutica teológica. Já os Muçulmanos têm Alá como o Deus Todo Poderoso e não me arrisco a dizer se eles consideram Alá como o mesmo Deus dos cristãos e judeus. Alá é o Santíssimo Pai, e Onipontentes Deus correspondente a Suprema Divina dos cristãos e judeus. Pra mim não há dúvida que os três nomes tem a mesma representação entre as religiões em estudo, mas com competências singularizadas em seus ritos e doutrinas exotéricas e esotéricas. Os muçulmanos compreendem Maomé e Jesus Cristo como profetas de Alá sendo que Maomé tem preeminência na religião Islâmica exotérica e no misticismo esóterico islâmico Sufista. O processo de chegada aos céus do muçulmano é através de virtudes morais e éticas, sendo que este lugar de conforto e descanso têm conotação humana e material onde o fiel desfrutará os benefícios da vida terrena que não foram alcançados em vida. A ideia de que política e religião são coisas muitíssimo parecidas é mencionada na animação. O comunista russo que viaja à África com o rabino e o maulá (clérigo muçulmano) com sua ideologia, tenta impressiona os dois religiosos expondo opiniões socialistas e comunistas, conseguindo que os símbolos da foice e do martelo estivessem na bandeira que usaram na viajem para o Continente Africano. Quando as ideologias políticas suplantam os ideais espirituais e de fraternidades humanas, estabelecesse o conflito de interesses, que fatalmente por ser irreconciliáveis terminam com a mortes e esse foi o fim do cidadão russo que participava da comitiva. O comunismo foi claramente a partir de segunda década do século XX (1917) a "religião" da Rússia apesar de oficialmente ser o Catolicismo Ortodoxo do patriarcado de Constantinopla. O imperialismo socialista destitui a monarquia Ksarista instalando um regime de perseguição, medo, terror e mortes. Judeus e opositores políticos foram aprisionados e enviados para os campos de concentração na Sibéria, onde torturas físicas e psicológicas eram aplicadas aos detentos além de exposição a temperaturas negativas de mais de 50ºC , despidos de qualquer vestimentas no rigoroso frio siberiano eles definhavam até a morte. É interessante a cena em que o jovem judeu artista (pintor de quadro) dá pinceladas em uma tela em pleno ar livre na belíssima paisagem das savanas africanas. A representação do belo e da natureza na forma artística trazem uma autonomia do ser, integrando-se em harmonia com o mundo visível e invisível. Dos quatro personagens principais (rabino, muçulmano, comunista e o jovem judeu) esse último parece o mais trabalhado em caráter moral e espiritualidade, pois ousou, expondo a própria vida conhecer a primitiva tribo africana da nação etíope, que supostamente era guardiã da arca da aliança, o testemunho vivo e representativo de YHWH com seu povo “escolhido”. Para sua surpresa foi perseguido pelos gigantes primatas, que tinham sua particular maneira de adorar Yavé, D’us e junto com sua corajosa esposa milagrosamente conseguiu escapar. O filme O Gato do Rabino tem o propósito de mostrar a temática das religiões monoteísta que são o Cristianismo, Islamismo e Judaico em suas semelhantes e diferenças, evidenciadas nas pessoas dos principais personagens do enredo que são o rabino, o líder árabe, o padre e o comunista. A figura do padre é pouco apreciada no enredo, talvez, julgo, por estar descontextualizada. Além do que os cristãos sempre foram os mais intransigentes e anacrônicos, entre os povos monoteístas, quanto a diálogos inter religiosos. Seu incansável discipulado e proselitismo quer dominar o outro com sua teologia dogmática, impondo pela fé cega supostos argumentos verossímeis. Essas três religiões nas primeiras décadas do século XX disputavam a supremacia como filosofia espiritual de vida das potências europeias e asiáticas hegemônicas. O Cristianismo em sua ambição colonizadora tinha uma filosofia religiosa intolerante e dogmática. Sua ortodoxia era pregada pela força psicológica e usava-se a energia física  para a obrigatoriedade da conversão do “incrédulo e infiel”. As colonizações imperialistas dos séculos XV e XVI traziam os missionários da Companhia de Jesus (Jesuítas) para a catequização de índios e negros, nesse processo apesar de atuarem clérigos de renomes e de um coração puro  e compromissados quanto a evangelização e amor ao próximo como os padres Manoel da Nóbrega (1517-1570), José de Anchieta (1534-1597) e Antônio Vieira (1608-1697), que sendo cultos e sensível as necessidades dos fracos e desamparados, fizeram o que foi possível para mitigar o sofrimento de milhares de indigentes naqueles terríveis dias de dominação e supremacia do explorador branco europeu, mas infelizmente, entre esses (que eram a grande maioria) existiam os jesuítas oportunistas que trabalhando para o Estados Imperialistas se vendiam por migalhas financeiras e posições na hierarquia eclesiástica, cooperando com os governos das metrópoles Portuguesa e Espanhola oprimiam, trocavam, vendiam, torturavam e matavam os índios, ciganos e escravos negros. Como nesse período ainda não existia consenso entre os teólogos católicos sobre a condição da alma dos negros e índios (não havia jurisprudência teológica clara, se eles tinham alma ou não; um absurdo inacreditável), usaram esse pretexto para tentar atenuar a culpa em suas consciências cauterizadas.  Mas esses crimes terríveis ainda estão sendo cobrados (lei do carma) pela justiça divina que é perfeita e eterna. A história comprova que 50 milhões de indígenas e outros milhares de negros perderam a vida nessas incursões exploradoras e missionárias. Com o advento da reforma protestante com Martinho Lutero (1483-1546) as coisas melhoram um pouco, mas os princípios estreitantes e exclusivistas das facções liberais cristãs continuaram numa ortodoxia de cunho apelativo para uma fé cega e simplista, baseada no livre arbítrio e na predestinação da alma. Assim os conceitos do Cristianismo Primitivo como gnose, mistérios menores e mistérios maiores, reencarnação, a dualidade da matéria e espírito, o Cristo Mítico e Místico, a Senda Espiritual, Cristo Histórico e a evolução da vida humana através de estágios densos ou compactos alcançando níveis mais sutis ou fluidos, que São Clemente (150-215) e seu discípulo Orígenes de Alexandria (185-253) pregavam para os primeiros cristãos , não mais existiam como conteúdo de apreciação pública exotérica para os ouvintes. Desse modo, também, os tópicos aos iniciados de análises esótericas (ocultas) que deveriam disciplinar a senda espiritual foram obliterados. Os ensinos do Mestre Jesus foram substituídos por dogmas e crenças absolutas e nesse âmbito o amor ao próximo e o amor a Deus foram enclausurados pela institucionalização das doutrinas. O apóstolo São Paulo (5 DC 67) foi o principal idealizador organizacional dos preceitos, normas e regras da vida cristã. Isso trouxe benefícios e também prejuízos, pois se secularizou e mundanizou a pureza e a santidade do evangelho. O Mestre Jesus deve está triste com o que se tornou aquilo que ele iniciou. O Islamismo tem semelhanças históricas de expansionismo e colonização parecidas com o Cristianismo, pois no afã de multiplicar seus adeptos pelo sul da Europa, norte e sul da África e Ásia Oriental deixou marcas de destruição e mortes por onde passava. Os seguidores do Profeta Maomé, contrários as palavras do Alcorão que pregam o amor ao próximo e condescendência com os desiguais, desamparados e desfavorecidos inverteram a ordem de evolução espiritual que deveriam obedecer. Alá nunca quis que seu povo muçulmano estabelecesse a dominação pela guerra e o derramamento de sangue, isso foi uma contingência que o Profeta Maomé assumiu pessoalmente (sem o preponderância de imposição,  conclamando seus seguidores a Jihah ou guerra santa contra os infiéis e pagãos. O expansionismo do Império Muçulmano se deu pelas línguas, costumes, hábitos, culturas e guerras promovidas pelos exércitos Árabes para dominar e sub julgar os povos das regiões citadas acima. O Alcorão é a base dos seus ensinos e dois grandes grupos étnicos os Xiitas e os Sunitas lutam política e religiosamente para manter a supremacia sobre a religião do Profeta Maomé sendo que cada um tem seu modo particular de pensar os preceitos que Alá deixou na revelação divina do Alcorão. As mulheres muçulmanos ainda tem poucos direitos sociais adquiridos constitucionalmente e até religiosamente sofrendo uma condição de submissão quase absoluta ao homem, sendo-lhes reservado serviços inferiores na hierarquia social e segundo os preceitos religiosos sustentados por clérigos conservadores a função principal da procriação. Mas as coisas tem mudado, pois países como a Arábia Saudita já autorizaram as mulheres a dirigirem automóveis e ingressarem em universidades públicas, A República Islâmica do Irã  tem um dos governos teocráticos com mais liberdades constitucionais para as mulheres, pois elas a anos fazem graduação superior e têm acesso a várias profissões dos homens. A muçulmana iraniana Shirin Ebadi (1947-     ) juíza e ex ativista dos direitos humanos ganhou em 2003 a prêmio nobel da paz uma conquista feminina impressionante de uma mulher corajosa e destemida que mesma sob ameaças de morte defendeu presos políticos e mulheres sentenciadas a morte por supostas infidelidades conjugais. O Judaísmo é um dos formadores da cultura cristã ocidental com suas Escrituras Sagradas Torá, Talmud (exotérico e esotérico) e Thanach além do rico misticismo da cabala oculta oral e escrita. Abraão que iniciou a gêneses dos Hebreus partindo da Babilônia de Ur dos Caldeus e Moisés que recebeu as tábuas da lei no monte Sinai são os representantes máximos dessa religião. No filme O Gato do Rabino o jovem artista judeu que fugiu da Rússia por motivos de perseguição política usa a palavra pogrom que de origem russa significa os vários momentos históricos e maneiras usadas pela monarquia Ksarista de Nicolau I (1817-1855) e a Revolução Russa lideradas por Wladimir Lenin (1870-1924) e Josef Stalin (1878-1953) para perseguir, prender, enviar para os campos de trabalhos forçados (Gulag) na Sibéria os judeus, camponeses desvalidos, ciganos, homossexuais e opositores do regime comunista, um período que ceifou a vida de mais 3 milhões e meio destas comunidades sociais citadas anteriormente, isso em números aproximados tendo esses eventos lugares nos século XIX e XX. Na década de 40 Adolf Hitler (1889-1945) usou a palavra shoá a solução final um processo de genocídio em escala programada para exterminar o maior número de judeus nos campos de concentração espalhados por alguns países da Europa Central e o resultado foi a morte de mais de 6 milhões de judeus de várias nacionalidades incluindo mulheres, velhos e crianças que foram executadas de maneira monstruosa e desumana. Lamentavelmente a ideia do antissemitismo sempre foi difundida mundialmente em todas as épocas sendo uma ideologia satânica que tem como premissa principal que os judeus são os responsáveis pelas desgraças da humanidade, mas quanto mais são odiados, envergonhados, humilhados e mortos se apegam veementemente a Jeovah, YHWH e recebem dele o amor e proteção. Um povo de uma fé inabalável em seu Deus sendo um exemplo de coragem e altruísmo que devemos imitar em nossa caminhada espiritual. Uma importante ideia que infiro da projeção O Gato do Rabino é que mesmo na diversidade religiosa e cultural é possível uma convivência pacífica e ordeira usando como princípio para que isso ocorra o respeito e a compreensão por cada indivíduo e a sua maneira de pensar, de ver o mundo, de adorar seu Deus, de falar sua língua e nunca querer colonizá-lo ou sub julgá-lo, fazendo-o nosso adepto e seguidor seja pela força física ou psicológica ou ideológica. Outra concepção que podemos tirar da filmagem é que Deus é de todos os povos (os filiados as religiões e os não religiosos) e nenhuma nação ou filosofia espiritual têm a prerrogativa de ter exclusividade sobre Ele, pois sua Deidade é expansiva e inclusiva alcançando através do Logos Divino cada partícula atômica em todos os seres minerais, vegetais, animais e humanos tornando sua casa as mais variadas culturas e tradições espiritualistas recebidas das originárias gerações passadas que construiram o arcabouço arquetípico sociológico de cada povo. Saúde. Davi.    

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