quinta-feira, 5 de junho de 2014

Quando Deus faz calar o homem. Parte I.

Um cristão chinês de nome Nee To Cheng conhecido no mundo ocidental como Watchmann Nee (1903-1972) em suas mensagens voltadas para a vida interior cativou um grande público cristão sequioso por experiência mais profundas manifestadas numa comunhão recíproca contemplativa e meditativa entre o Mestre Jesus e o seu discípulo. Por ser um oriental Nee em seus escritos traz inúmeros elementos do esoterismo místico budista e hindu e entendo ser este o motivo pelo qual sua obra teve um alcance tão considerável no cristianismo. Pensando as publicações de Nee num todo abarcante parece que sua intenção oculta foi realizada, pois suas mensagens até onde consigo mensurar aquelas de mais peso místico produziam impacto espiritual pessoal nos seus ouvintes sem um apelo exegético para um conservadorismo organizacional institucional do cristianismo. Avalio ser esse o primeiro momento de seus escritos e os mais profundos, pois se reconhece que não há pretensões colonialista espiritualizadas apenas uma procura pelo transcendente através da pureza de vida e a santidade moral e nesse ponto cito como exemplos importantes livros de sua autoria como: seu clássico livro Doze Cestos Cheios nos quatro volumes traz as virtudes humanas como sinônimo de elevação da espiritualidade e os anseios pela contemplação do Divino nos instantes de isolamento e reclusão mística. O Homem Espiritual em seus três volumes mostra a singularidade da experiência cristã desapegada do pesado formalismo e ritualismo vazio e estressante o qual nunca leva o discípulo a trilhar o caminho estreito, mas apenas caminhar pela estrada larga. O controverso mas esclarecedor Poder Latente da Alma foi até onde lembro um livro proibido em muitos movimentos religiosos, pois era criticado por despertar os poderes ocultos da mente humana que a princípio estão abertos e acessíveis a todos aqueles que desejarem ter uma experiência exotérica nas ciências ocultas, em seu único volume se percebe também os elementos da natureza mineral, vegetal e animal atuando de forma harmônica e coerente na evolução espiritual do ser humano. Uma Mesa no Deserto é daqueles livros que precisamos de um conhecimento esotérico amplo, pois a mesa (Eucaristia) é tratada como um altar místico onde o humano e o Divino interagem para formar uma única substância, sendo esse conceito uma representação das apologias de Orígenes de Alexandria (182-254) quando percebia nesse ato da conexão homem/Deus um requisito para os iniciados nos mistérios menores da Sabedoria Divina. A Vida Cristã Normal Equilibrada é recorrente nessa analise que faço, pois não se percebe uma ênfase no denominacionismo do século XX que foi uma tentativa de expansão do cristianismo vulgarizando seus principais conceitos e substituindo a busca pelo perene e duradouro revelado nos mistérios exotéricos pelo imediatismo consumista demonstrado por uma fé cega irracional e secularizada. Homens como Frei Leonardo Boff (1938-   ) investiram nessa direção procurando caminhos alternativo para que o cristianismo não afundasse nas águas do ceticismo espiritualista, mas foram expulsos das fileiras religiosas como hereges e subversivos dos dogmas vigentes. Não Ameis o Mundo penso ter sido uma estratégica ofensiva de Nee para trazer o cristianismo de volta para as coisas "terrenas", digo isso pensando ocultamente no argumento do inverso verossímil como ele não queria confrontar seus párias religiosos abertamente criticou o mundanismo da vida fútil e os prazeres transitórios, mas sua intenção era que os cristãos aprendessem a discernir o verdadeiro do falso, o material do imaterial, o bom do ruim. o bem do mal, a inveja do orgulho, a opressão da depressão, pois a vida interior tem o poder de produzir o auto conhecimento no cristão levando-o a exercitar atos de justiça e fraternidade para com o próximo. Essas situações de dualidades e conflitos  provocavam grandes angustias naqueles tempos e os cristãos não sabiam o que fazer para caminharem seguros pela senda espiritual. O segundo momento da vida de Wachtman Nee foi influenciado pela subida ao poder do Partido Comunista Chinês liderado por Mao Tse Tung (1893-1976), pois numa situação política e social conturbada onde haviam perseguições, torturas e mortes era impossível viver um cristianismo individualizado ao modelo do Budismo onde os iniciados e adeptos são responsáveis pela sua evolução cósmica, assim sua obra espiritual precisou adequar-se a necessidade da sobrevivência do cristianismo chinês onde ele, mudando radicalmente de posição adota o regime corporativo onde a igreja seria o âmbito de convivência dos crentes para estarem guardados debaixo de uma cobertura espiritual. Assim deixa de lado o aspecto místico individual e concentra suas forças na esfera do exoterismo coletivo onde tudo está relacionado ao corpo de Cristo. Obras como O Corpo de Cristo, Conhecimento Espiritual, Salvação não Através de Boas Obras, O Poder da Pressão singularizam essa fase e não tenho desejo de tecer nenhum comentário sobre elas, apenas percebo que Nee foi instado por forças do mundo oculto a mudar seu ponto de vista naquele momento da história de seu pais, pois se não o faz talvez o cristianismo teria sido varrido do Território Chinês tal a violência humana misturado aos seres malignos interplanetários  de outros mundos que se movimentaram para destruir essa religião naquele presumível continente. Assim precisamos ponderar e valorizar o trabalho árduo e incansável desse corajoso servo de Deus que não mediu esforços para que a mensagem do Cristo Iluminado Deus chegasse ao coração do povo Chinês e do mundo ocidental.   Wachtman Nee foi um exemplo em seu tempo de uma vida piedosa, casta, sincera e profundamente comprometida com aqueles que amavam a Deus e o têm como Senhor de suas vidas. Um homem que sofreu literalmente fortes dores no peito, pois desde os vinte e um anos de idade foi acometido por uma doença cardíaca que o acompanhou até a morte.  Em 1952 foi preso pelo Partido Comunista Chinês, mas antes havia contraído núpcias com Charity Chang sua fiel companheira que o visitou na prisão por quinze anos indo duas vezes por semana, ele foi acusado injustamente de seduzir seus compatriotas para se converterem as seitas ocidentais cristãs, nunca houveram provas consistentes sobre isso tudo baseado em suposições e desconfianças sendo que em 1967 as esperanças floresceram para que Nee fosse solto pois não justificava sua prisão pelos já quinze anos, mas a Revolução Cultural Chinesa foi implacável e mesmo Nee  debilitado fisicamente por antigos problemas de tuberculose e um coração doentio o mantiveram na prisão até sua morte em 1972. O que dizer de um homem que por vinte anos esteve confinado e recluso, nosso silêncio é uma homenagem a esse santo místico que suportou com bravura e resignação seu carma até o fim. Dizem que uma de suas últimas palavras no dia de sua morte foram "Apesar  da minha doença ainda continuo cheio de alegria em meu coração". Um funcionário da prisão onde Nee estava encontrou um bilhete escrito por ele com letras grandes e trêmulas que dizia "A maior verdade desse universo é que Jesus é o Filho de Deus e ele morreu pelos nossos pecados. Morro por amor a Ele". Continuamos na parte II.  Abraço. Davi.

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