sexta-feira, 20 de junho de 2014

Preceitos das Antigas Escolas de Cabala. Parte III.

(C.024) Falando agora da tradição mística oral da Cabala há unanimidade entre os estudiosos dessa ciência que seja qual for o primeiro homem a ter recebido o conhecimento esotérico da Cabala ninguém discute que os ensinamentos foram transmitidos oralmente ao longo de muitas gerações até que alguém resolveu eternizá-los na escrita. Os primeiros escritos conhecidos com referências a esses ensinamentos datam do século I sendo livretos reunidos numa coleção chamada Heichalot (Os Palácios) que versam sobre os passos necessários para ascender evolutivamente através de 7 palácios celestiais com ajuda de espíritos angelicais. Mas os livros mais importantes da Cabala são o Sefer Yitizirah (Livro da Criação) e o Zohar (Livro do Esplendor) sendo ambos de origem incerta onde o primeiro teria sido escrito no século II de duvidosa autoria e o segundo a situação é mais complexa pois para alguns cabalistas ele foi escrito pelo rabino Shimon Bar Yochai também no século II (101-200), mas a maioria dos estudiosos porém acredita que o Livro do Esplendor seja de autoria do cabalista judeu espanhol Moisés de León que divulgou os manuscritos no século XIII. Embora o Sefer Yitizirah e o Zohar concentrem em suas páginas os principais ensinamentos da Cabala é importante lembrar que a Torá é tão importante quanto eles isso porque segundo a Cabala a Torá contém ensinamentos esotéricos preciosos codificados dentro do texto sagrado. Decifrar esses ensinamentos ocultos é por sinal um dos principais propósitos do misticismo judaico assim uma das maneira de interpretar a Bíblia (Tannach) Hebraica é recorrer a códigos e números a chamada guematria que é a face matemática da Cabala que atribui valores numéricos a cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico sendo a ordenação dessas letras no texto bíblico uma das maneiras que Deus teria encontrado para revelar ao homem os segredos do universo. Entre o período final da Idade Média e o fim da Idade Moderna houve um ressurgimento da Cabala assim no século XIII o Zohar foi distribuído pelo cabalista espanhol Moisés de León (1250-1350) mas no século XVI os conhecimentos foram sistematizados pelo místico Moisés Cordovero (1522-1570) um dos sábios a se refugiar na cidade Israelense de Safed em seguida Isaac Luria (1534-1572) divulgou novas interpretações dos ensinamentos esotéricos que foram espalhados por vários mestres pela Europa fazendo da Cabala a teologia dominante em círculos escolásticos e no imaginário popular judaico entretanto no século XVIII o rabino Baal Shem Tov (1698-1758) que fundou o hassidismo variante ortodoxa do Judaísmo que ensinava uma versão mais fácil da Cabala sendo de todo modo a essência inalterada por mais de 4 mil anos como é dito por Ian Mecler (1967-    ) "O conhecimento não muda assim como as leis da física não mudam, mudando somente a forma de transmitir". Hoje com o advento da internet o conhecimento da Cabala é acessível a qualquer interessado ainda que de forma simplificada dentro desse contexto nos séculos XX e XXI foram feitas diversas traduções do Zohar para o hebraico moderno (o idioma original é o aramaico) e para o inglês não existindo uma versão completa em português, mas o fato contribuiu para a popularização da mística judaica bem como celebridades que passaram a estudar o pensamento cabalístico como Madonna, Mick Jagger, Britney Spears e outras. Assim como a religião Judaica a Cabala em seu ensino esotérico considera fundamental prosseguir no caminho da evolução espiritual sendo um dos estudos mais importantes para isso o que diz respeito à natureza da divindade e nesse plano os cabalistas preferem o termo Deus Infinito uma tradução de Ein Sof lendo da direita para a esquerda sendo seu significado aquele que veio antes de tudo que precede a Criação. Veja o que diz o Zohar sobre o Ein Sof : "Antes de dar qualquer formato ao mundo antes de produzir qualquer forma Ele estava só sem forma e sem semelhança com qualquer coisa. Quem então pode compreender como Ele era antes da Criação? Por isso é proibido emprestar-lhe qualquer forma ou similitude, ou mesmo chamá-lo pelo Seu nome sagrado ou indicá-lo por uma simples letra ou um único ponto ( ... ). Mas depois que Ele criou a forma do Homem Celestial Ele a usou como um veículo por onde descer e Ele deseja ser chamado por Sua forma que é o nome sagrado YHWH". Pode parecer estranho não poder dar um nome a Deus tornando-o de certa maneira inacessível para os homens mas afinal se é assim como pode existir uma experiência mística que permite esse acesso? Bem a Cabala explica que o contato com Deus é realizado indiretamente por meio de um de seus desdobramentos. "Para tornar-se ativo e criativo Deus criou as 10 Sefirot ou emanações sendo elas formadoras da Árvore da Vida que representa os aspectos de Deus existentes dentro de nós", instrui o rabino Leonardo Alanati que o contato místico com Deus é através de uma das 10 Sefirot que são as mesmas representadas no famoso diagrama da Sefirot. Vamos falar resumidamente sobre as Sefirot um estudo que está baseado na Árvore da Vida da Cabala que busca a correta compreensão das forças que regem o universo assim a Árvore da Vida é uma diagramação sistematizada que representa o cosmo (micro e macro) em toda a sua complexidade e também o espírito humano em suas inter relações sendo esta estrutura composta por 10 Sefirot termo mencionado pela primeira vez no Livro da Formação escrito a mais de 4 mil anos pelo Patriarca Abraão designando os 10 números primordiais que somados às 22 letras do alfabeto hebraico formam os 32 Caminhos da Sabedoria. Por cada Sefirá onde passa a Luz ela se manifesta de forma diferente mas sem nunca mudar sua essência sendo como se colocássemos um filtro colorido na luz do sol onde nós a veremos azul, vermelha ou verde, mas a Luz não muda nunca o que muda é o recipiente sendo elas também como os atributos divinos ou emanações sagradas já que cada uma delas está relacionada a um atributo ou qualidade de Deus. (1) Keter (Coroa, Semente) como a primeira Sefirá está ligada ao Mundo do Adam kadmo o Homem Primordial que faz parte do triângulo superior ou supremo (junto com Chochma e Binah) que está além da nossa realidade física situando-se no topo da coluna central pilar do equilíbrio. (2) Chochma (Sabedoria) está localizada no topo da coluna direita pilar de misericórdia mantendo-se em uma figura do Pai Universal sendo o primeiro recipiente a conter toda a Sabedoria do universo e contendo a totalidade da Luz. (3) Binah (Entendimento, Compreensão) é a figura da Mãe Cósmica ou Divina e situa-se no topo da coluna esquerda pilar da severidade sendo uma usina geradora de energia cósmica desde aquela que motiva o empenho humano até aquela que mantém as galáxias em movimento. (4) Chesed (Misericórdia, Compaixão) situa-se na coluna direita logo abaixo de Chochma. sendo também a primeira das Sete Sefirot inferiores com as quais nos relacionamos e o canal para acessar Chesed é o patriarca Abraão pois ele foi o canal que manifestou a inteligência, misericórdia e gentileza.  De acordo com a Guematria a numerologia cabalística as letras hebraicas que formam a palavra Chesed somam 72 relacionando-a com o poder dos 72 nomes de D us. (5) Gevurah (Severidade, Julgamento, Força) situa-se na coluna esquerda logo abaixo de Binah sendo o canal para acessá-la o patriarca Isaque filho de Abraão e no nosso corpo essa Sefirá se relaciona com o braço esquerdo enquanto Chesed se doa incondicionalmente Gevurah é avarenta. (6) Tiferet (Beleza, Equilíbrio) estando relacionada com a coluna central localizada abaixo e entre as Sefirot de Chesed e Gevurah formando a tríade superior do Maguen Davi (Escudo e Estrela de Davi). O canal para Tiferet é Jacó e no corpo humano está relacionada ao tronco (coração, pulmões, etc). (7) Netzach (Vitória, Eternidade) situa-se na coluna direita logo abaixo de Chesed sendo um armazém de energia positiva que irradia o desejo de compartilhar e se tornar um canal dessa energia na medida em que começa a abordar o mundo físico no qual vivemos. É vitória no sentido de vencer as próprias limitações e Eternidade ao expressar os pensamentos eternos. (8) Hod (Glória, Esplendor) localizado na coluna esquerda abaixo de Gevurah e no corpo humano corresponde à perna portanto o canal que nos conecta a energia de Hod é o sacerdote Arão. (9) Yesod (Fundamento, Alicerce) conhecida como receptáculo das emanações situa-se como um grande reservatório abaixo das oito Sefirot das quais falamos anteriormente todavia as Sefirot acima enumeradas emanam sua inteligência e seus atributos para o vasto recipiente de Yesod onde são misturados, equilibrados e preparados para transferência de um esplendor radiante de influxo divino a uma próxima Sefirá. (10) Malchut (Reino) a última das Sefirot contendo o mundo da fisicalidade e o nível de revelação esotérica sendo a única das Sefirot onde a matéria física parece existir mas mistura-se pelo despejar depositário de Yesod endurecendo como pedra e adquirindo estrutura física. Em nosso corpo está relacionada aos pés e o canal para Machut é o Rei Davi com a finalidade de também relacionar-se ao mundo da manifestação, da ação, e tendo a ver com nossa existência física como comer, trabalhar, dançar, estudar etc. É em Malchut que ocorre o maior desejo de receber porque essa dimensão em nosso universo é a que está mais distante da fonte de Luz. Abraço. Davi. 

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