Fama Fraternitatis Rose
Crusis. MANIFESTO DA FRATERNIDADE DA MUI LOUVÁVEL ORDEM DA ROSA CRUZ. A todos os chefes de Estado, ilustres e eruditos da Europa. Nós, Irmãos da Fraternidade
da R.C., oferecemos nossa saudação, nosso amor e nossa oração a todos os que leem
nossa Fama de inspiração cristã. Como o Deus único, sábio e misericordioso, tem
derramado, nestes últimos tempos, sua graça e sua bondade com tanta profusão
sobre o gênero humano, a fim de que ele se aprofunde ainda mais tanto no
conhecimento de seu Filho como no conhecimento da natureza, podemos, com toda
razão, falar de um tempo feliz, pois Ele não somente nos revelou e nos fez
descobrir a metade desconhecida e oculta do mundo, como mostrou inúmeras obras
e criaturas prodigiosas da natureza, antes jamais vistas, e também fez surgir
homens mui iluminados e dotados de nobreza de espírito que, em parte,
recuperaram a honra das artes imperfeitas para que o homem compreenda,
finalmente, sua nobreza e sua majestade e perceba a razão pela qual ele é
chamado de microcosmo e a extensão de sua arte na natureza. No entanto, isso
será de pouca serventia para o mundo insensato, e é por isso que a
maledicência, o riso e o escárnio crescerão continuamente. Também entre os
eruditos a arrogância e o orgulho são tão grandes que eles não podem se reunir
para, a partir de tudo o que Deus espalhou tão abundantemente em nosso século,
coligir e produzir em conjunto um Librum Naturæ, ou seja, um compêndio de todas
as artes. Porém, um partido se opõe tanto ao outro e mantém tanta aversão, que
todos continuam com o mesmo refrão: o Papa, Aristóteles, Galeno – sim, tudo o
que se assemelhe a um codex – são tomados como sendo a clara luz manifestada,
ao passo que, se eles ainda estivessem vivos, sem dúvida sentiriam grande
alegria em se reorientar. Mas somos muito fracos para um trabalho tão grande.
E, ainda que na Teologia, na Física e na Matemática a verdade se oponha ao
adversário clássico, este sempre demonstra amplamente sua malícia e seu furor,
freando uma tão bela evolução por meio dos belicosos e dos vagabundos, e
tornando-a detestável. Para levar essa reforma a cabo, nosso bem-amado e
espiritualmente mui iluminado Pai e Irmão C.R., alemão, chefe e fundador de
nossa Fraternidade, consagrou muitos sofrimentos e esforços, durante um longo
tempo. Em seu quinto ano de vida, por causa da pobreza de seus pais, embora
nobres, ele foi acolhido em um mosteiro, onde aprendeu relativamente bem as
duas línguas: a grega e a latina. Depois, por causa de suas preces e súplicas
insistentes, ainda na flor da juventude, foi auxiliar do Irmão P.A.L., que
queria empreender uma viagem ao Santo Sepulcro. Não obstante esse irmão haver
morrido em Chipre, e assim não ter chegado a ver Jerusalém, nosso Irmão C.R.
não regressou, mas lançou vela em direção totalmente oposta e dirigiu-se a
Damasco, propondo-se, a partir daí, a visitar Jerusalém. Mas, devido a
dificuldades corporais, ele teve de permanecer no lugar em que estava e, graças
aos remédios – dos quais tinha um certo conhecimento – conquistou a simpatia
dos turcos. Por acaso, ouviu falar a respeito dos sábios de Damcar, na Arábia,
e sobre os milagres que realizavam, e sobre o fato de que a natureza inteira
lhes havia sido desvelada. Com isso, o elevado e nobre espírito do Irmão C.R.C.
foi despertado, de modo que agora Jerusalém já não lhe interessava tanto quanto
Damcar. Como já não podia dominar seu desejo, ofereceu, mediante uma certa soma
de dinheiro, seus serviços a marinheiros árabes para que o levassem a Damcar.
Quando lá chegou, não tinha mais do que dezesseis anos – mas já possuía uma
forte constituição alemã. Assim como ele mesmo pôde testemunhar, os sábios o
receberam não como um estrangeiro, mas como aquele que aguardavam há muito
tempo. Eles também o chamaram por seu nome e lhe ensinaram outros mistérios de
seu mosteiro, pelo que muito se admirou. Aí ele aprendeu melhor a língua árabe,
a ponto de traduzir, em bom latim, já no ano seguinte, o Librum M, que levou
consigo. Nesse lugar ele adquiriu também seus conhecimentos de Física e
Matemática, dos quais o mundo poderia deveras se rejubilar, se maior fosse o
amor, e menor, a inveja. Ele retornou ao final de três anos e, munido do
salvo-conduto adequado, lançou vela do Sinus Arabicus (Golfo Arábico) para o
Egito, onde, entretanto, não permaneceu por muito tempo, mas onde prestou mais
atenção às plantas e às criaturas. De lá atravessou o Mar Mediterrâneo, até
chegar a Fez, cidade que os árabes lhe haviam indicado. É uma verdadeira
vergonha para nós que sábios que vivem tão longe uns dos outros não somente
estejam unidos entre si, mas também contrários a toda polêmica e dispostos a
revelar seus segredos, em total confiança. Anualmente, os árabes e os africanos
se reúnem e se consultam mutuamente sobre as artes para saber se alguma coisa
melhor foi descoberta ou se seus conceitos foram superados pela experiência.
Desse modo, a cada ano algo novo se apresenta para melhorar a Matemática, a
Física e a Magia, pois nisso os habitantes da cidade de Fez no Marrocos são
muito avançados. Da mesma forma, na Alemanha não faltam atualmente eruditos,
magos, cabalistas, médicos e filósofos, mas eles deveriam ser mais caridosos e
a maioria não deveria querer devorar o pasto sozinha. Em Fez, ele travou
conhecimento com os que chamamos comumente de habitantes originais, os quais lhe
revelaram muitos de seus segredos, do mesmo modo que nós, os alemães,
poderíamos reunir muito do que é nosso se uma unidade semelhante reinasse entre
nós e se aspirássemos à pesquisa com toda a sinceridade. Quanto aos habitantes
de Fez, ele reconheceu muitas vezes que a magia deles não era totalmente pura e
que sua cabala havia sido corrompida por sua religião. Apesar disso, soube
fazer excelente uso dela e descobriu um fundamento ainda melhor para sua fé,
pois está agora concordava com a harmonia do mundo inteiro, encarnada de modo
maravilhoso em todos os tempos. E foi aí que se originou a bela associação
segundo encerrada uma árvore ou um fruto inteiro também a totalidade do vasto
mundo estaria presente em um “pequeno homem”, cuja religião, política, saúde,
membros, natureza, palavras e obras seguiriam em uníssono a melodia de Deus, do
céu e da terra. Tudo o que estivesse em dissonância com isso seria erro,
falsidade e obra do diabo, que é o primeiro instrumento e última causa da
dissonância do mundo, de sua cegueira e de sua ignorância. Se, no entanto,
alguém pudesse examinar abertamente todos os homens sobre a face da terra,
descobriria que o que é bom e certo sempre está em harmonia consigo mesmo,
enquanto, o restante está maculado por milhares de interpretações incorretas.
Dois anos mais tarde, o Irmão R.C. partiu de Fez rumo à Espanha, como portador
de inúmeros e valiosos tesouros, com a esperança de que aí, uma vez que havia
tirado tanto proveito de sua viagem, os sábios da Europa ficassem muitíssimo contentes
com ele e edificassem agora seus estudos sobre fundamentos tão seguros. Por
isso, conversou com os eruditos, na Espanha, sobre o que faltava a nossas artes
e quanto ao modo de auxiliá-los, e de onde poderiam tirar indícios seguros para
os tempos vindouros e em que deveriam concordar com os tempos passados;
saberiam como reformar os defeitos da Eclésia e de toda a filosofia moral. Ele
lhes mostrou novas plantas, novas frutas e animais que não estavam de
conformidade com as leis da antiga filosofia e lhes transmitiu novos axiomas
que poderiam resolver tudo perfeitamente. Mas isso lhes pareceu risível e, como
tudo ainda era novo, temeram que seu grande renome sofresse, uma vez que eles
deveriam, inicialmente, entregar-se novamente ao estudo e confessar que estavam
perdidos há muitos anos. Além disso, eles estavam muito acostumados a situação
e já tinham tirado muito proveito dela. Que outra pessoa, a quem a inquietude
fosse agradável, fizesse a reforma! Esse estribilho foi-lhe cantado também por
outras nações, o que muito o afligiu, pois de maneira alguma contara com isso,
e estava pronto a comunicar generosamente todas as suas artes aos eruditos,
quisessem eles apenas dar-se ao trabalho de constatar os axiomas infalíveis de
todas as faculdades, ciências, artes e de toda a natureza. Afinal, ele estava
persuadido de que esses axiomas, como em uma esfera, deviam se dirigir a um
único ponto central e, tal como acontecia entre os árabes, deveriam servir de
diretriz unicamente aos sábios, a fim de que também na Europa houvesse uma
comunidade que dispusesse de bastante ouro e pedras preciosas para poder
comunicar isso aos reis, com a devida e respeitosa finalidade de que os
soberanos fossem instruídos por essa comunidade, de modo que soubessem tudo o
que Deus permite ao homem saber e pudessem, em caso de necessidade, ser
consultados, tal qual os pagãos faziam com seus oráculos. É preciso reconhecer
que o mundo, na época já prenhe de uma tão grande comoção, atravessava as dores
do parto: assim, ele engendrou heróis infatigáveis e gloriosos que, com todas
as suas energias, atravessaram as trevas e a barbárie, deixando para todos nós,
os mais fracos, o cuidado de segui-los. Sem dúvida, eles foram o vértice mais
alto do triângulo ígneo de onde as chamas evadir-se-ão, daqui para frente, com
energia cada vez maior, para acender, indefectivelmente, o último incêndio do
mundo. Teofrasto, por vocação, foi também um desses heróis. Anão obstante, ele
leu diligentemente o Livro M, o qual iluminou seu discernimento inato. Contudo,
a confusão dos eruditos e dos ignorantes impediu esse homem de se desenvolver
melhor, de modo que nunca pôde falar pacificamente com outrem de suas reflexões
sobre a natureza. É por isso que, em seus textos, mais zombou dos indiscretos
do que se deu a conhecer inteiramente. Todavia, a harmonia mencionada acima
achava-se profundamente ancorada nele, e ele a teria sem dúvida comunicado aos
sábios, se eles fossem encontrados mais dignos de uma arte superior do que
inclinados a sutis vexações. Assim, ele desperdiçou seu tempo com uma vida
livre e descuidada, abandonando o mundo a seu tolo prazer. Não esqueçamos,
porém, nosso Amado Pai, Irmão C.R. que, após muitas viagens cansativas e após
um ensinamento verídico ofertado em vão, regressou à Alemanha, que ele – por
causa da mudança iminente e da luta singularmente perigosa que aí deviam
ocorrer – amava de coração. Embora lá pudesse ter brilhado por sua arte, em
especial pela transmutação dos metais, interessou-se mais pelo céu e por seus
cidadãos, os homens, do que por toda glória. Contudo, construiu para si uma
morada apropriada e limpa, onde meditou sobre suas viagens e sua filosofia e
sobre as quais escreveu um relatório. Nessa casa, dedicou-se um longo tempo à
Matemática e fez, de todos os âmbitos da arte, muitos belos instrumentos, dos
quais, entretanto, somente chegaram até nós poucas coisas, assim como veremos
em seguida. Após cinco anos veio-lhe de novo à mente a reforma desejada. Uma
vez que não conseguia o auxílio e a assistência de outrem, apesar de ser
trabalhador, ágil e infatigável, decidiu empreender esse trabalho com apenas
poucos auxiliares e colaboradores. Por isso, convidou três de seus confrades de
seu primeiro mosteiro, pelos quais tinha simpatia especial: Irmão G.V., Irmão
I.A. e Irmão I.O., sendo que estes últimos estavam mais familiarizados com as
artes do que era de costume então. Solicitou a esses três irmãos o compromisso
de serem-lhe o mais fiéis possível, diligentes e silenciosos, até o Último Dia
e de que o mundo não verá, mesmo em sua última e mais avançada idade, nada mais
valioso, pois nossas Rotæ começaram no dia em que Deus pronunciou seu Fiat
(Faça-se) e terminarão quando ele pronunciar seu Pereat (Pereça). Contudo, o
relógio de Deus marca cada minuto, ao passo que o nosso não indica senão as
horas inteiras. Cremos também firmemente que nossos bem-amados pais e irmãos,
tivessem eles alcançado nossa presente clara luz, tratariam mais rigorosamente
o Papa, Maomé, bem como os escribas, artistas e sofistas, e lhes teriam
fornecido as provas de sua força de alma de fato, e não apenas mediante
suspiros e desejos de realização. e de colocar por escrito, com a maior
aplicação, todas as instruções que ele desse a cada um, a fim de que os futuros
membros, que deveriam ser admitidos na Ordem por causa de uma revelação
especial, não fossem enganados por nenhuma sílaba e nenhuma letra. Assim, a
Fraternidade da Rosacruz começou com apenas quatro pessoas. A linguagem e a
escrita mágicas foram providas por elas de vasto vocabulário, que utilizamos,
ainda hoje, para a honra e a glória de Deus, e onde encontramos grande
sabedoria. Eles também escreveram a primeira parte do Livro M. Mas como esse
trabalho havia se tornado demasiadamente importante e a incrível afluência de
doentes muito os estorvava, estando, além disso, concluída a nova morada,
denominada Sancti Spiritus, decidiram admitir outras pessoas em sua comunidade
e fraternidade. Para isso foram escolhidos: Irmão R.C., filho do irmão de seu
falecido pai; Irmão B., hábil pintor; G.G. e P.D., seus secretários. Assim,
eram agora ao todo oito, alemães, com exceção de I.A., todos celibatários e
devotados à castidade. Eles deveriam recompilar em uma só obra tudo o que o
homem pudesse querer, desejar ou esperar para si. Apesar de admitirmos sinceramente
que o mundo tenha melhorado muito nos últimos cem anos, estamos certos de que
nossos Axiomata permanecerão imutáveis até o Último Dia e de que o mundo não
verá, mesmo em sua última e mais avançada idade, nada mais valioso, pois nossas
Rotæ começaram no dia em que Deus pronunciou seu Fiat (Faça-se) e terminarão
quando ele pronunciar seu Pereat (Pereça). Contudo, o relógio de Deus marca
cada minuto, ao passo que o nosso não indica senão as horas inteiras. Cremos
também firmemente que nossos bem-amados pais e irmãos, tivessem eles alcançado
nossa presente clara luz, tratariam mais rigorosamente o Papa, Maomé, bem como
os escribas, artistas e sofistas, e lhes teriam fornecido as provas de sua
força de alma de fato, e não apenas mediante suspiros e desejos de realização.
Livro O Segredo da Fraternidade Rosa Cruz. Abraço. Davi
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