Bhagavad Gita. Comentário
de Shri Mataji Devi. OS TRÊS TIPOS DE FÉ. SHRADDHA. Nesse 17º capítulo Arjuna
pergunta acerca da posição daqueles que adoram Deus com fé. Em resposta a isso,
o Senhor Krishna descreve os três tipos de fé baseadas nas três Gunas e afirma
que o caráter de um indivíduo é determinado pela sua fé. A fé do ser humano é
determinada pela dominância de uma ou de outra das três qualidades da natureza;
vale dizer, Sattva, Rajas e Tamas. As suas preferências em relação aos objetos
de adoração, aos alimentos, às atividades, etc; dependerão do tipo de sua fé
(Shradha). Tudo aquilo que é feito sem orgulho, mas cuja motivação é o bem dos
outros e leva em consideração a graça de Deus é algo com as caraterísticas de
Sattva, ou seja, pureza e equilíbrio. Tudo aquilo que é buscado ou feito com
desejo, com vaidade ou com a busca de recompensas tem as peculiaridades de
Rajas, ou seja, paixão e agitação. Tudo aquilo que é realizado com indiferença,
com má vontade ou impensadamente é Tamas. Tal conduta é fútil em relação à
evolução mais elevada do ser humano. Os versos de 23 a 28 tratam das sílabas
sagradas OM, TAT e SAT, que indicam uma mentalidade impregnada de
espiritualidade. Seja o que for que um indivíduo oferecer a Deus, proferindo
essas sílabas, promoverá o seu progresso espiritual. Todos os rituais, todos os
sacrifícios e todas as ações caritativas não produzirão quaisquer efeitos se
não forem alicerçadas pela fé. Segue a Escritura Sagrada. “Então dirigiu Arjuna
ao Divino Mestre esta pergunta: Qual é a condição e o estado daqueles homens
que com fé oferecem sacrifícios, embora menosprezem os preceitos da Lei
escrita? É de Sattwa, Rajas ou Tamas? Respondeu Krishna, o Sublime: De três
tipos é a fé inata nos encarnados: pura, passional e tenebrosa (Sattwica,
Raj´stica e Tamástica). Escuta o que delas passo a dizer-te. A fé de cada um,
Oh príncipe! Reflete o caráter ou a natureza do homem. A fé constitui o homem:
assim qual seja a sua fé, tal será o homem. Os homens nós quais predomina a
Sattwa veneram seres espirituais elevados, dando-lhes os nomes de deuses e
santos; os mais adiantados adoram a Mim, o Deus único. Ao homens rajásticos
veneram heróis e outros seres espirituais poderosos. Os tamasicos dirigem o seu
culto aos espíritos inferiores, demônios e espectros. Atormentado os elementos
vivos nos seus corpos, a Mim mesmo Me atormentam, e associam-se aos demônios.
De três espécies são os alimentos apreciados pelos homens, e também de três são
os sacrifícios, as austeridades e as esmolas. Escuta como se distinguem. O
alimento mais agradáveis ao homem puro é aquele que aumenta a vitalidade, o
vigor, a saúde. Preserva da doença, e traz o contentamento e a calma de
espírito. Tal alimento tem bom sabor, mata a fome, não é nem demasiado amargo,
nem demasiado azedo, nem salgado demais, nem muito quente, picante ou
adstringente (contrai, aperta). Os homens rajásticos preferem o que é amargo,
azedo, ardente, picante, bem salgado e fortemente temperado. Que lhes excite o
apetite e estimule o paladar, porém, finalmente lhes acarreta moléstias, dores
e enfermidades. Os homens tamásicos apetecem alimento rançoso, estragado,
insulso, putrefato, corrompido e ainda as sobras de comida e outras imundícies.
Quanto aos sacrifícios e oferendas, eis a distinção: o homem sáttwico oferece o
sacrifício conforme as prescrições das Escrituras, sem desejar recompensas
firmemente convencidos de que estão cumprindo um dever. O homem rajásico adora
e oferece sacrifícios com a esperança de obter uma vantagem, preferência,
prêmio ou recompensa, ou por motivos de vaidade e ostentação. O tamasico
pratica os atos de adoração e apresenta oferendas com fé, sem devoção, sem
pensamento ou reverência, só porque quer seguir o costume. Eis agora as três
espécies de penitência, que são: a penitência corporal, lingual e mental. A
penitência corporal consiste em respeitar os seres celestes, os homens santos
os iluminados. Os Mestres e guias do conhecimento, os sábios e ser honesto,
reto, casto e manso. A penitência lingual consiste em prece silenciosa, e em
falar com gentileza e mansidão afavelmente, evitando todas as palavras
ofensivas, dizendo o que é verdadeiro e justo. A penitência mental consiste no
contentamento e na igualdade de ânimo, temperamento moderado, discrição,
devotamento, domínio das paixões e pureza da alma. Estas três espécies de
penitência, praticadas com boa fé pelos homens amantes de Deus, que não as
fazem com motivos egoístas, pertencem a Sattwa. A penitência, praticada pelos
hipócritas e com a esperança de obter vantagens pessoais, honra e boa fama,
pertence a Rajas. Esta é incerta e inconstante. A penitência motivada pro algum
fim insensato, para atormentar-se a si mesmo ou fazer mal aos outros, pertence a
Tamas. Quanto à prática de caridade, também é de três modos. Quando se dá
esmola ou auxílio a uma pessoa digna, que não pode retribuí-lo, pelo sentimento
de dever, em lugar e tempo próprios, é um ato sáttwico. Quando se dá um
presente com a esperança de obter, por isso, recompensa ou vantagem, ou quando
se dá com repugnância, é um ato rajástico. E quando se dá esmola sem
afabilidade, com desprezo, em lugar e tempo impróprios, ou quando se dá um
indigno, é um ato tamástico. AUM – TAT – SAT. Este é o tríplice nome de Brahma.
A tríplice designação do Absoluto. A esta força devem a sua existência os
mestres e iluminados, as Sagradas Escrituras e a Religião. Por isso, aqueles
que conhecem Brahma, pronunciam sempre a palavra AUM, que significa o Eterno
Poder Supremo; antes de praticarem qualquer ato religioso ou antes de darem
esmola. TAT é o símbolo que indica que todos os entes tem o seu ser eternamente
em Deus. Pronuncia-se na prática de vários sacrifícios, penitências e obras de
caridade, para evocar a ideia de Unidade. SAT significa verdade e bondade, e
pronuncia-se quando se pratica uma boa ação ou quando se observa uma boa
qualidade. Por isso, designa-se com a palavra SAT a perseverança, em sacrifício
de si mesmo, penitência, renúncia, adoração mental e caridade, e tudo relativo
a estes fins. Tudo, porém, que se faz sem fé e sem boa vontade, seja
sacrifício, mortificação da carne, abstinência ou esmola chama-se ASAT
(nulidade) e não tem valor ou mérito, nem neste mundo nem no outro”. Abraço.
Davi.
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