Budismo. www.budismomoderno.org.br. O QUE A NOSSA MORTE SIGNIFICA? A nossa morte é a separação
permanente entre o nosso corpo e a nossa mente. Podemos experienciar muitas
separações temporárias do nosso corpo e mente, mas elas não são a nossa morte.
Por exemplo, quando aqueles que concluíram seu treino na prática conhecida como
“transferência de consciência” entram em meditação, a mente deles se separa do
corpo. O corpo desses meditadores permanece onde estão meditando, mas a mente
vai para uma Terra Pura e, então, retorna para o corpo deles. À noite, durante
os sonhos, nosso corpo permanece na cama, mas a nossa mente vai para diversos lugares
do mundo do sonho e, então, retorna para o nosso corpo. Essas separações de
nosso corpo e mente não são a nossa morte, porque essas separações são apenas
temporárias. Na morte, nossa mente separa-se permanentemente do nosso corpo. O
nosso corpo permanece no local de sua vida, mas a nossa mente vai para os
diversos lugares das nossas vidas futuras, como um pássaro deixando um ninho e
voando para outro. Isso mostra claramente a existência das nossas incontáveis
vidas futuras e que a natureza e a função do nosso corpo e da nossa mente são
muito diferentes. Nosso corpo é uma forma visual que possui cor e formato, mas
nossa mente é um continuum sem forma que sempre carece de cor e formato. A
natureza da nossa mente é um vazio semelhante ao espaço, e ela atua percebendo
ou entendendo objetos – essa é a sua função. Por meio disso, podemos
compreender que o nosso cérebro não é a nossa mente. O cérebro é simplesmente
uma parte do nosso corpo que, por exemplo, pode ser fotografado, ao passo que
não podemos fazer o mesmo com a nossa mente. Podemos não ficar felizes ao ouvir
sobre a nossa morte, mas contemplar e meditar sobre a morte é muito importante
para a efetividade da nossa prática de Dharma. O motivo é que contemplar e
meditar sobre a morte impede o principal obstáculo à nossa prática de Dharma –
a preguiça do apego às coisas desta vida – e nos encoraja a praticar o puro
Dharma agora. Se fizermos isso, realizaremos o verdadeiro sentido da vida
humana antes da nossa morte. Como meditar sobre a morte. Primeiro, fazemos a
seguinte contemplação: Com certeza, eu vou morrer. Não há nenhuma maneira de
impedir que o meu corpo finalmente decaia. Dia após dia, momento após momento,
a minha vida está se esvaindo. Eu não tenho ideia alguma de quando morrerei: a
hora da morte é completamente incerta. Muitas pessoas jovens morrem antes de
seus pais; outras, no momento, em que nascem – não há certezas neste mundo.
Além disso, há muitas causas de morte prematura. As vidas de muitas pessoas
fortes e saudáveis são destruídas em acidentes. Não há garantia de que não
morrerei hoje. Tendo contemplado repetidamente esses pontos, repetimos
mentalmente muitas e muitas vezes “pode ser que eu morra hoje, pode ser que eu
morra hoje” e concentramo-nos no sentimento que isso evoca. Transformamos a
nossa mente no sentimento “pode ser que eu morra hoje” e permanecemos
estritamente focados nesse sentimento pelo maior tempo possível. Devemos
praticar essa meditação repetidamente, até acreditarmos espontaneamente todos
os dias: “pode ser que eu morra hoje”. Por fim, chegaremos à conclusão: “Já que
terei de partir cedo deste mundo, não há sentido em ficar apegado às coisas
desta vida. Em vez disso, a partir de agora devotarei toda a minha vida para
praticar o Dharma pura e sinceramente”. Então, mantemos essa determinação dia e
noite. Durante o intervalo entre meditações devemos, sem preguiça, aplicar
esforço em nossa prática de Dharma. Realizando que os prazeres mundanos são
enganosos e que eles nos distraem de usarmos nossa vida de uma maneira significativa,
devemos abandonar o apego por eles. Dessa maneira, podemos eliminar o principal
obstáculo à pura prática de Dharma. Os perigos de um renascimento inferior. O
propósito desta explicação é encorajarmo-nos a preparar uma proteção contra os
perigos de um renascimento inferior. Se não fizermos isso agora, enquanto temos
uma vida humana com suas liberdades e dotes e a oportunidade para fazê-lo, será
tarde demais quando tivermos qualquer um dos três renascimentos inferiores;
além disso, será extremamente difícil obter uma preciosa vida humana novamente.
Diz-se que é mais fácil para os seres humanos obterem a iluminação que para
seres como os animais obterem um precioso renascimento humano. Compreendendo
isso, vamos nos encorajar a abandonar não-virtude, ou ações negativas; praticar
virtude, ou ações positivas; e buscar refúgio em Buda, Dharma e Sangha (os
supremos amigos espirituais). Essa é a nossa verdadeira proteção. Cometer ações
não virtuosas é a causa principal de renascimento inferior, ao passo que
praticar virtude e buscar refúgio em Buda, Dharma e Sangha são as causas
principais de um precioso renascimento humano – um renascimento no qual temos a
oportunidade de obter a libertação permanente de todo o sofrimento. Ações não
virtuosas graves são a causa principal de renascimento como um ser-do-inferno,
ações não virtuosas medianas são a causa principal de renascimento como um
fantasma faminto, e ações não virtuosas menores são a causa principal de
renascimento como um animal. Existem muitos exemplos dados nas escrituras
budistas sobre como as ações não virtuosas conduzem a renascimentos nos três
reinos inferiores. Havia uma vez um caçador cuja esposa vinha de uma família de
criadores de animais. Após morrer, ele renasceu como uma vaca, pertencendo à família
de sua mulher. Então, um açougueiro comprou essa vaca, abateu-a e vendeu a
carne. O caçador renasceu sete vezes como uma vaca, pertencendo à mesma
família, e, dessa maneira, veio a se tornar o alimento de outras pessoas. No
Tibete há um lago chamado Yamdroktso, onde muitas pessoas da cidade próxima
costumavam passar suas vidas pescando. Certa vez, um grande iogue com
clarividência visitou a cidade e disse: “eu vejo que as pessoas desta cidade e
os peixes deste lago estão continuamente trocando suas posições”. O que ele
quis dizer é que as pessoas da cidade que gostavam de pescar estavam renascendo
como peixes, o alimento de outras pessoas, e os peixes no lago estavam
renascendo como as pessoas que gostavam de pescar. Dessa maneira, trocando seus
aspectos físicos, eles estavam continuamente matando e comendo uns aos outros.
Esse ciclo de infortúnio continuou geração após geração. Como meditar sobre os
perigos de um renascimento inferior. Primeiro, fazemos a seguinte contemplação:
Quando o óleo de uma lamparina é consumido, a chama se extingue porque ela é
produzida pelo óleo; mas, quando o nosso corpo morre, a nossa consciência não
se extingue, porque a consciência não é produzida pelo corpo. Quando morremos,
nossa mente tem de deixar este corpo atual, que é apenas uma morada temporária,
e encontrar outro corpo, assim como um pássaro deixando um ninho e voando para
outro. A nossa mente não tem liberdade de permanecer e não tem escolha para
aonde ir. Somos soprados para o lugar do nosso próximo renascimento pelos
ventos das nossas ações, ou carma (nossa boa ou má fortuna). Se o carma que
amadurecer na hora da nossa morte for negativo, com toda a certeza teremos um
renascimento inferior. Carma negativo grave causa renascimento no inferno,
carma negativo mediano causa renascimento como fantasma faminto, e carma
negativo menor causa renascimento como um animal. É muito fácil cometer carma
negativo grave. Por exemplo, ao simplesmente esmagar um mosquito com raiva,
criamos a causa para renascer no inferno. Nesta e em todas as nossas
incontáveis vidas anteriores, cometemos muitas ações negativas graves. A não
ser que já tenhamos purificado essas ações pela prática sincera de confissão,
suas potencialidades permanecem em nosso continuum mental, e qualquer uma dessas
potencialidades negativas poderá amadurecer quando morrermos. Mantendo isso em
mente, devemos nos perguntar: “Se eu morrer hoje, onde estarei amanhã? É muito
provável que eu me encontre no reino animal, entre os fantasmas famintos ou no
inferno. Se alguém hoje me chamasse de vaca estúpida, acharia difícil tolerar
isso, mas o que eu faria se realmente me tornasse uma vaca, um porco ou um
peixe – o alimento de seres humanos?”. Tendo contemplado repetidamente esses
pontos e compreendido como os seres nos reinos inferiores, tais como os
animais, experienciam sofrimento, geramos um forte medo de renascer nos reinos
inferiores. Essa sensação de medo é o objeto da nossa meditação. Retemos,
então, essa sensação sem esquecê-la; a nossa mente deve permanecer estritamente
focada nessa sensação de medo pelo maior tempo possível. Se perdermos o objeto
da nossa meditação, renovamos a sensação de medo recordando-a imediatamente ou
repetindo a contemplação. Durante o intervalo entre meditações, devemos tentar
nunca nos esquecer da nossa sensação de medo de renascer nos reinos inferiores.
Em geral, medo é algo sem sentido, mas o medo gerado por meio da contemplação e
meditação acima tem um imenso significado, porque ele surge da sabedoria e não
da ignorância. Esse medo é a principal causa de buscar refúgio em Buda, Dharma
e Sangha, a verdadeira proteção contratais perigos, e nos ajuda a sermos
conscienciosos e atentos em evitar ações não virtuosas. Página 36. www.budismomoderno.org.br. Abraço. Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário