Astrologia. I. O
DESPERTAR DA ASTROLOGIA. AS MAIS PRIMITIVAS RESPOSTAS DO HOMEM À INFLUÊNCIA
CELESTIAL. Mesmo agora na década de 1970, sentimos certa inquietação quando a
Lua cobre a face do Sol ocasionando um eclipse total. Ainda hoje, século XXI
ano 2016, o Sol e a Lua têm um poderoso efeito físico sobre nossas vidas, mas
em épocas pré-históricas esse efeito deve ter sido sentido de modo bem mais
forte. Para o homem primitivo, a vida era selvagem e desconfortável. As
temperaturas, o calor impiedoso, a fome e as doenças dificultavam a sua
sobrevivência. Além disso, ele tinha de enfrentar os animais selvagens e
defender-se dos ataques dos seus semelhantes. Quando caçava e pescava, na busca
do alimento, ou quando estava frio, o homem sentia o calor do Sol. Observava a
alternação de luz e trevas e os, movimentos rítmicos do mar na praia. Sua
atenção, naturalmente, era atraída pelos corpos celestes que se moviam
constantemente num cenário aparentemente estático. Aqueles corpos eram o Sol, a
Lua e os planetas, nitidamente visíveis nas latitudes mesopotâmicas, onde a
atmosfera era clara e brilhante e onde a civilização – e a astrologia –
começaram. PODER AOS PLANETAS. As estrelas e planetas ofereciam ao homem primitivo
um espelho, no qual ele via um mundo superior que não apenas refletia sua
própria sorte mas – uma vez que pudesse interpretar os segredos do mesmo – o
guiariam positivamente através de tempos difíceis, evitariam desastres e o
colocariam nos caminhos certos para a paz e a prosperidade. Quase
contemporaneamente aos mais antigos documentos sobre o homem, deparamos com a
noção do Sol, da Lua e dos planetas como personalidades, seja comandando a vida
humana, seja intervindo nela. O Sol e a Lua formavam um grupo familiar com
Mercúrio e Vênus (para designá-los pelos conhecidos nomes que os romanos lhes
deram mais tarde). Aos poucos, Mercúrio e Vênus adquiriram a reputação de
serem, respectivamente, o bem e o mal. Marte, Júpiter e Saturno constituíram
uma família rival, com Júpiter à frente: e porque este, como o líder, só podia
ser bom, imaginou-se que os outros dois representavam o mal. Desde cedo os
planetas adquiriram características mais ou menos fixas: Mercúrio, o rápido,
astuto e manhoso planeta-deus, ficou associado a um tipo de sabedoria arguta
(incidentalmente, ele também se tornou bissexual). Marte transformou-se no
regente da violência e da guerra. Júpiter virou uma espécie de rei dominador
dos homens. Saturno, um deus de certo modo cruel e soturno (sombrio, imerso em
trevas). O Sol, Júpiter e Saturno eram particularmente ativos durante o dia, e
a Lua, Marte e Vênus, à noite. Aos homens nascidos sob sua influência, quando
esses astros ocupavam determinadas posições no céu, era atribuído um conjunto
de características planetárias específicas da hora e do lugar de nascimento.
OBSERVATÓRIOS ANTIGOS. A Grande Investigação Começa a Utilizar o Mundo
Superior. Os antigos já se preocupavam com as posições dos planetas em relação
ao ponto de visão do observador na Terra, e também com as relações angulares
que eles pareciam formar entre si. Os primeiros astrônomos-astrólogos
raciocinavam que, se os planetas deviam ser encarados como humanos e capazes de
partilhar emoções como humanos e capazes de partilhar emoções humanas, então se
poderia esperar que exercessem certos efeitos uns sobre os outros. Vênus e
Mercúrio, por exemplo, teriam condições de discutir com o Sol e modificar os
julgamentos deste. Os vizinhos deveriam ter alguma influência sobre a família
real, e ao mesmo tempo tenderiam a discutir entre si, tomando partido e até
adotando uma posição solitária junto ao bem ou ao mal. No México havia o
Observatório Caracol de Chichenltza, onde os astrólogas maias estudavam os
planetas. No dia do casamento de um chefe maia, astrólogos observavam uma
estrela favorável entrar em seu bastão bifurcado. Na França existem Menires
(monumentos formados por blocos de pedras) ou grandes pedras de Carnac, outrora
relacionados a poderosos cultos do Sol. TÚMULOS E MEGALITOS. Entretanto, antes
que pudesse ser interpretado o sentido oculto das posições tomadas pelos vários
planetas, era essencial, evidentemente, que se fosse capaz de determinar essas
posições com grande precisão. Para esse tipo de trabalho detalhado, dois
métodos forma adotados – megálitos e túmulos. As imensas pedras levadas para os
locais megalíticos de Stonehenge, Carnac e outros lugares foram dispostas com
um a precisão quase miraculosa, a fim de registrar os movimentos progressivos
de vários corpos celestes durante o ano. O princípio do “túmulo” foi aplicado
em toda espécie de torres, pirâmides e outras estruturas monumentais que
ofereciam uma visão mais vasta do horizonte. Em certos casos, esses “túmulos”
continham corredores oblíquos ou janelas de ângulos especiais que serviam como
pontos de observação. Os aparecimentos de determinados planetas nessas
aberturas eram cuidadosamente registrados, compilando-se mapas celestes e
calendários com a informação obtida. É realmente impressionante descobrir-se
pelo mundo a fora – na Índia, China, Europa, Oriente Médio e América – a
quantidade de estruturas gigantescas que ou foram construídas como
observatórios ou torres de vigia, ou de algum modo foram adaptadas para o
estudo dos fenômenos celestes – especialmente daqueles que ocorrem ao longo da
rota anual do Sol, vista a partir da Terra. Ao longo dessa trajetória, que
chamamos agora de eclíptica, fica região do Zodíaco, essa parte central do céu
que contém os grupos de estrelas dos quais derivam os doze signos astrológicos,
que vão de Áries a Peixes. Em Gizé, no Egito, as estrelas eram observadas dos
corredores das pirâmides. Um dos zigurates, ou torres de vigia, de Ur na
Caldéia – Mesopotâmia onde os astrólogos babilônicos foram os primeiros a
observar que as esferas celestes moviam-se segundo um padrão, no qual estava a
chave para a compreensão humana do mundo terrestre. ORIGEM DO ZODÍACO. Os
Deuses Estelares Ocupam os Lugares Que Lhes Foram Designados. Num texto
babilônico, escrito por volta de 700 AC, há uma referência ao cinturão
zodiacal, descrevendo-se 15 constelações como compreendidas no mesmo. Com o
tempo, o número de “constelações principais” foi reduzido a 12 e o cinturão
zodiacal dividido em 12 seções de 30º cada uma. O Sol, que passa através do
Zodíaco uma vez por ano, era então visto como “residindo” em cada signo do
Zodíaco, sucessivamente, por um período de 30 dias. As criaturas escolhidas
para representar as constelações foram tiradas do mundo cotidiano das
civilizações primitivas da região do Mediterrâneo, especialmente as da
Babilônia (incluindo a Caldéia) e Assíria. Há sete signos bestiais – Áries, o
Carneiro; Touro; Câncer, o Caranguejo; Leão; Escorpião; Capricórnio, o Bode; e
Peixes. Quatro signos são humanos – Gêmeos; Virgem; Sagitário, o Arqueiro; e
Aquário, o Aguadeiro. (Embora seja metade cavalo, Sagitário é considerado
humano por causa da atividade humana – disparando uma flecha – com a qual é
associado). Libra, a Balança, não é bestial e nem humano, mas é julgado um
signo humano devido à sua preocupação com a justiça. AS CASA. Á medida em que a
Terra girava sobre seu eixo a cada 24 horas, os caldeus e outros observadores
primitivos viam o Sol, a Lua e os planetas levantarem-se e se porém segundo
esse padrão, com todo o céu atravessando um signo zodiacal (ou 30º) em duas
horas. Em conjunção com esse movimento diário, os astrólogos desenvolveram um
sistema de Casas. A partir da linha do horizonte do observador, a esfera
celeste foi dividida em 12 seções. Cada seção representava uma área da vida,
como se segue: 1. Vida; 2. Pobreza/riqueza; 3. Irmãos/irmãs; 4. Pais; 5.
Filhos; 6. Saúde; 7. Marido/esposa; 8, Morte; 9. Religião; 10. Aspirações; 11.
Amizade; 12. Família. Os planetas foram então descritos em termos dos signos e
casas que ocupavam no momento do nascimento e determinando, dessa forma, sua
influência. Em seu trabalho para documentar os movimentos dos planetas, os
primeiros astrólogos da Babilônia e Assíria viram que os fenômenos nos céus se
repetiam. Desse modo, criaram as primeiras tabelas dos movimentos planetários.
As efemérides (anuário, calendário) mais de que se tem notícia datam do reino
de Assurbanipal (669 AC 625). O futuro que os astrólogos previam geralmente não
era de indivíduos, e sim dos estados. Eles sabiam que os céus e a Terra eram inter-relacionados,
mas não possuíam provas de que um indivíduo podia sofrer influências
planetárias determinadas – exceto um homem, o Rei, que era considerado como a
corporificação do Estado, e cuja data de nascimento era ponto de partida dos
prognósticos para o Estado. Esses prognósticos previam a aproximação de grandes
acontecimentos e determinavam seus possíveis efeitos. Os Peixes, de uma pintura
mural em Knossos, Creta, centro da civilização da Idade do Bronze. Em
Astrologia, os piscianos se sentem, frequentemente, impelidos – como os peixes
do seu signo – em direções opostas. Um dos primeiros sagitarianos – um centauro
mítico, metade homem, metade cavalo, que aparece geralmente pisando um rival
até a morte. Os deuses egípcios pesam a morte. Na religião babilônica, Libra
era vinculada ao julgamento das almas. Na Suméria, existia uma tocante imagem
dos capricornianos primitivos – um bode feito de ouro e lápis-lazúli.
Capricórnio foi estabelecido como um bode com rabo de peixe, conhecido dos
babilônios antigos como Ea, o “antílope do oceano subterrâneo” e como
Kusarikku, o peixe-carneiro. Em Carnac, Egito, onde fica uma avenida de
figuras, a esfinge de cabeça de carneiro era considerada como um símbolo de
poder, mistério e sabedoria. Em todas as civilizações o touro era considerado
como um símbolo de força e, frequentemente, de energia criativa. Há uma cabeça
de touro em Knossos, Creta que representa o deus-touro. ASTROLOGIA CLÁSSICA.
Antigo Egito, Grécia e Roma – Uma Nova Era de Horóscopo Para Todos. Os egípcios
foram cientistas afamados e observadores entusiastas dos céus, produzindo mapas
estelares desde o quinto milênio AC. Sua preocupação com a elaboração de
calendários e com a matemática ajudou consideravelmente o progresso da
Astrologia: as funções astrológicas das grandes pirâmides são pesquisadas até
hoje. Um dos reis-astrólogos, mais famosos foi Ramsés II, “Osimandias, Rei dos
Reis que, ao morrer, me 1223 AC, teve sua tumba ricamente decorada com símbolos
astrológicos. Foi ele, ainda, quem fixou os quatro signos cardeais – Áries,
Libra, Câncer e Capricórnio. Um relevo do templo de Denderá, datado de cerca de
30 AC, mostra a primeira representação pictórica do Zodíaco de que se tem
conhecimento; mais precisamente, dois Zodíacos são retratados, um dentro do
outro, apoiados em quatro figuras femininas em pé. Vem do Egito também um grupo
de manuscritos colecionados sob o nome de Hermes Trismegistus, o fundador de um
culto médico-astrológico. Muitos de seus elementos são puramente mágicos e
esses documentos se constituem no primeiro exemplo concreto da ligação entre a
Astrologia e o culto; uma das mais interessantes ideias contidas nos
manuscritos é a de que existe uma correspondência entre o grande mundo
exterior, o macrocosmo, e o homem, o microcosmo. A ASTROLOGIA CHEGA AO POVO.
Também os gregos deram grande importância à Astrologia, como testemunha grande
números de documentos e monumentos decorados com símbolos astrológicos, que se
conservaram através dos tempos. Datam da época de Antíoco de Comena (130 AC 68)
os primeiros horóscopos de fontes literárias gregas; aproximadamente dos cinco
séculos seguintes em diante, cerca de 180 horóscopos individuais chegaram até
nós. De fato, a grande contribuição dos gregos para a Astrologia foi
racionalizá-la, elaborando mapas de nascimento ao alcance de todos e não apenas
como privilégio do dirigente – como representante do Estado. Por volta do ano
280 AC, o astrólogo babilônio Berosus, cujos trabalhos foram encontrados em
bibliotecas gregas, teve condições para criar uma escola de Astrologia de
grande sucesso na ilha de Cos, e, já então, astrólogos fixavam e racionalizavam
em livros para a posteridade a soma total de seus conhecimentos. Essa eclosão
de estudos culminou com o primeiro texto moderno de Astrologia, o Tetrabiblos,
atribuído ao grande astrônomo, matemático e geógrafo Claudio Ptolomeu, nascido
na Grécia por volta de 120 e falecido em 168, que foi um dos maiores pensadores
de seu tempo. Seu trabalho como geógrafo e matemático foi radical e
revolucionário, e sua Syntaxis sobreviveu por 1400 anos como a fonte mais
acessível das ideias gregas sobre Astronomia. O Tetrabiblos é um livro
extraordinário, tão revelador como muitos livros modernos (e melhor do que
alguns deles); muitos de seus princípios gerais são aceitos até hoje. ESCRAVOS
DO DESTINO: ROMA IMPERIAL. Durante os dois primeiros séculos depois de Cristo,
a atividade astrológica centralizou-se na Roma Imperial. Naquele tempo, assim
que se evidenciava que um homem era candidato ao trono, os astrólogos se concentravam
em seu redor. Naturalmente, os imperadores tendiam a monopolizar os astrólogos
disponíveis mais convincentes, mais lúcidos e persuasivos, mantendo-os ocupados
em torno do centro do poder – mesmo que fosse apenas para desencorajar os
pretendentes ao trono. Esses imperadores consideravam qualquer tentativa de
consultar um astrólogo como uma atitude extremamente suspeita, e como indicação
provável de uma conspiração para tomada do poder. Tibério (reinou de 14 a 37
DC), de todos os imperadores romanos, foi talvez o mais apegado à Astrologia.
Sua ascensão e “destino grandioso” haviam sido preditos em seu nascimento e até
o fim de sua vida – principalmente durante seu retiro em Capri – Itália, quando
seus excessos fizeram-no um dos homens mais desprezados, temidos e odiados –
ele foi cercado pelo que Júnio Juvenal (60 -120) chamou de seu “bando de
Caldeus”. O imperador Cláudio que reinou de 41 a 54 DC, tinha ideias antiquadas
e preferia a adivinhação pelo voo dos pássaros (augúrios = previsão) à
Astrologia; aliás, baniu do país os astrólogos – ainda que sua ordem não tenha
sido inteiramente cumprida. Mais tarde, um nobre romano foi apanhado ao
consultar um astrólogo para saber quando Cláudio morreria – e foi ele quem teve
um fim repentino e violento. Nero que reinou de 54 a 68 DC, embora de modo
geral não favorecesse nenhuma religião, era excessivamente supersticioso e foi
encorajado por seus duvidosos profetas a cometer grande número de atrocidades.
Um suposto astrólogo oficial Bilbilus, aconselhou-o a desviar os efeitos
maléficos de um cometa massacrando os líderes das maiores famílias de Roma. A
IMPERATRIZ E O GLADIADOR. Imperadores de épocas posteriores, ainda que
manifestando ocasionalmente opiniões zombeteiras sobre as superstições
antiquadas, tinham o cuidado de conservar um astrólogo em casa. Vespasiano
exilou oficialmente todos os astrólogos, mas reteve o mais famoso deles para
seu serviço pessoal. Seu filho Tito consultava astrólogos estrangeiros e
acreditava firmemente na Astrologia. Domiciano confiava totalmente em
astrólogos. Demitia e até assassinava nobre encontrados de posse do Horóscopo
imperial, e estudava cuidadosamente os mapas de nascimento daqueles que
imaginava poderem estar de olho no trono. Durante o fim de seu reinado
cresceram seus temores. Um de seus últimos atos foi ordenar a execução de um
astrólogo que havia sido especialmente convocado da Alemanha para interpretar
uma série de presságios ameaçadores – e cujas respostas, obviamente, haviam
chegado muito perto da verdade! Adriano (117-138) promovia uma espécie de
soirée (noite) no primeiro dia de cada ano, quando predizia, com detalhes
consideráveis, os acontecimentos do ano, chegando mesmo a prognosticar a hora
de sua própria morte. O último dos grandes imperadores, Marco Aurélio (160-180),
consultou astrólogos sobre a ligação de sua mulher Faustina com um gladiador,
cujos músculos ela vinha admirando evidentemente mais de perto do que quando o
via lutando em um estádio; esse mesmo imperador parece também ter mantido um
“mago egípcio” provavelmente um astrólogo na corte imperial. Coleção Zodíaco.
Bloch Editores. Abraço. Davi.
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