Cristianismo.
Editor do Mosaico. Estive num culto religioso à noite chegando na hora da
mensagem por circunstâncias justificáveis. A palestra foi no Caminho da Graça,
uma Comunidade Cristã fundada pelo pastor Caio Fábio (1955- ),
alguém bem conhecido e conceituado no meio evangélico do Brasil. A palavra
compartilhada nas Escrituras Sagradas, mencionou o evangelho de Mateus
25:14-30, o famoso texto da PARÁBOLA DOS TALENTOS. “Digo também que o Reino
será como um senhor que, ao sair da viagem, convocou seus servos e confiou-lhes
os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro, dois e a outro um talento: a
cada um conforme a sua capacidade pessoal. E, em seguida, partiu de viagem. O
que havia recebido cinco talentos saiu imediatamente. Investiu-os, e ganhou
mais cinco. Da mesma forma, o que recebera dois talentos ganhou outros dois.
Entretanto, o que tinha recebido um talento afastou-se, cavou um buraco na
terra e escondeu o dinheiro que o seu senhor havia confiado aos seus cuidados.
Após um longo tempo, retornou o senhor daqueles servos e foi acertar contas com
eles. Então, o servo que recebera cinco talentos, informando: O senhor me
confiou cinco talentos; eis aqui mais cinco talentos que ganhei. Respondeu-lhe
o senhor: Muito bem, servo bom e fiel! Foste fiel no pouco, muito confiarei em
tuas mãos para administrar. Entra e participa da alegria do teu senhor! Assim
também, aproximou-se o que recebera dois talentos e relatou: Senhor, dois
talentos me confiaste; trago-lhe mais dois talentos que ganhei. O senhor lhe
disse: Muito bem, servo bom e fiel! Foste fiel no pouco, muito confiarei em
tuas mãos para administrar. Entra e participa da alegria do teu senhor! Assim
também, aproximou-se o que recebera dois talentos e relatou: Senhor dois talentos
me confiaste; trago-lhe mais dois talentos que ganhei. O senhor lhe disse:
Muito bem, servo bom e fiel! Foste fiel no pouco, muito confiarei em tuas mãos
para administrar. Entra e participa da alegria do teu senhor! Chegando,
finalmente, o que tinha recebido apenas um talento, explicou: Senhor, eu te
conheço, sei que és um homem severo, que colhe onde não plantou e ajunta onde
não semeou. Por isso, tive receio e escondi no chão o teu talento. Aqui está,
toma de volta o que te pertence. Sentenciou-lhe, porém, o senhor: Servo mau e
negligente! Sabias que colho onde não plantei e ajunto onde não semeei! Então,
por isso, ao menos devíeis ter investido meu talento com os banqueiros, para
que quando eu retornasse, o recebesse de volta, mais os juros. Sendo assim,
tirai dele o talento que lhe confiei e dai-o ao servo que agora está com dez
talentos. Pois a quem tem, mais lhe será confiado, e possuirá em abundância.
Mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto ao servo inútil,
lançai-o para fora, às trevas. Ali haverá muito pranto e ranger de dentes. O
juízo final”. Pastor Caio começou citando o Texto de Colossenses 3:15 “Seja a
paz de Cristo o juiz em vossos corações, tendo em vista que fostes convocados
para viver em paz, como membros de um só corpo. E sede agradecidos”. A gratidão
é um dom que todos os humanos têm, mas que precisa ser exercitado nos momentos
e ambientes onde estamos inseridos. Um coração agradecido produz paz a nós e
aqueles com os quais mantemos contato, seja direta ou indiretamente. Ao
contrário a ingratidão demonstra nossa ignorância e mesquinhez de querer
satisfazer nosso desejo pessoal, não se importando com atitudes que elevam
nossa alma e produzem bem estar contínuo. O pregador por ter formação
psicanalítica abordou o assunto de maneira nova, a margem dum viés teologizado,
dando oportunidade ao ouvinte de entender o assunto dentro de sua limitação,
sem a conclusão prefixada do credo cristão implantado no inconsciente coletivo.
Segue as impressões que tive quanto ao panorama usado na explanação. Enfatizou
o ser e o ente (grosso modo na filosofia o ser é o indivíduo e o ente são as
coisas e objetos) na perspectiva existencial. O grupo de pessoas na parábola, a
qual foi dado os talentos representam nossa experiência vivencial. Falou-se
sobre um despertar da vida que todos precisamos em algum momento atingir em
nossa passagem pela terra. Como ele é manauara, nascido na cidade de Manaus,
contou seu insight revelado quando tinha 7 anos no pátio do colégio onde
estudava, brincando com saúvas (formigas) que carregavam folhas dez vezes maiores que
elas. Ele bloqueava a passagem delas com obstáculos, dificultando-lhes o
trabalho que tinham de levar as folhas ao formigueiros. Também colocava-as para
lutarem; reconhecendo instantes depois sua maldade com seres senscientes (que
percebem pelos sentidos através de impressões) tão envolvido em objetivos
comuns. De repente, olhando pro céu, viu um infinito azul que
atingia toda abóbada celeste. Sua escola estava numa elevação da capital do
estado do Amazonas. Caindo em si, percebeu seu ignóbil ato contra os insetos, e
viu que, de alguma forma poderia ajudar a humanidade das pessoas em sua caminha
pela vida. Esse insight existencial, segundo abordou, determina os talentos que
teremos e como aumentá-lo para o bem daqueles a nossa volta. Os talentos não
são uma manufatura em série ou uma especificação de um produto espiritual como
geralmente somos induzidos a imaginar. Porém um dom que está latente em nós;
exemplificando um desejo de aprender a dançar, escrever poesia, tocar um
instrumento musical, praticar o voluntariado dando assistência à alguma casa de
criança carente ou de idoso, praticar atos generosos. Além de muitos outros
“ofícios” escondidos em nós, esperando que o despertemos. Esse se “descobrir”
ou descortinar-se para ocorrer, é antecipado por provas ou eventos marcantes
que enfrentamos, alguns dentro duma perspectiva de angústia, tristeza ou
sofrimento capazes de mudar a trajetória que estávamos percorrendo, outros,
normalmente em nossa caminhada pela vida. Cada um tem esse potencial oculto
(dom ou talento) na medida da proporção do desenvolvimento existencial. A
quantidade, tamanho ou volume não tem relevância como projeção
individual, já que todos prestaremos contas daquilo que recebemos do Senhor, conforme
é claramente ensinado pelo Mestre. Uma coisa é certa devemos duplica-lo como
visto na alegoria bíblia. Caso contrário enfrentaremos a consequência da
passividade e negligência de nossos atos. O que recebeu cinco multiplicou
outros cinco, o que teve dois granjeou outros dois; adquirindo esses o direito
de entrar no gozo do Senhor. Aqui está implícito que nada nos é concedido além
de nossas possibilidades, pois a justiça divina usa a equanimidade como modelo
para medir nossas atitudes, palavras e pensamentos. Devemos interiorizar nosso
ser para ter a experiência do Eu Absoluto, do contrário, desfragmentado pela
exteriorização da nossa natureza, fica impossível sermos um todo no meio das
partes. Na prática não conhecemos nossa essência divina, pois priorizamos o
ter, o prazer, o desejar, o apegar; mas ao constatar num vislumbre quem somos
tendemos a fugir da imagem refletida no invisível espelho da vida. A partir de
nossa auto aceitação começamos a pluralizar os talentos adquiridos não
almejando nenhuma recompensa ou troca, apenas o desejo pelo serviço realizado
na virtuosidade. O “entrar no gozo” é a alegria e felicidade de poder ser útil
a alguém ou fazer-se agradável a qualquer ser ou ente que necessite da
expressão de amor ou compaixão. Aqui não é uma esfera física de conforto ou
refrigério, mas uma sensação produzida pelo consciente de paz e harmonia com a
natureza em suas variadas manifestações. Essa sensibilidade do “entrar” é a
ponte que une o eu inferior (personalidade) terreno; purificada pela beatitude
espontânea do Eu Superior (individualidade) celestial. O que recebeu um talento
com medo de seu senhor, o enterrou na terra. Aqui inferimos que a atitude desse
servo é um retrato de seu desinteresse em desenvolver sua espiritualidade,
vivendo na timidez e tendo o medo como empecilho para encontrar seu dom. Uma
covardia que estereotipava sua compreensão da realidade do seu senhor que não
era nada daquilo que ele imaginava ser. Ele tinha uma visão de Deus como um
carrasco tirânico, implacável e impiedoso juiz. Não percebia, em sua cegueira e
ignorância, que a misericórdia e graça divina são infinitamente maiores que
nossas falhas e pecados. Sendo que o Inominável e Incognoscível não tinha e nem
tem o desejo de “lançar” nenhuma de suas criaturas viventes “nas trevas
exteriores, onde há choro e ranger de dentes”. Somos responsáveis pelo que
fazemos à todos os seres, tendo nossas ações consequências no mundo físico e
espiritual como é dito em Lucas 6:43 “Não existe árvore boa produzindo fruto
mau, nem inversamente, uma árvore má produzindo bom fruto. Pois cada árvore é
conhecida pelo seu próprio fruto”. Gálatas 6:7 “Não vos enganeis: Deus não se
permite zombar. Portanto, tudo o que o humano semear, isso também colherá!”
Esse ajuste de contas à pagar podemos pensá-lo, para efeito duma melhor
compreensão num aspecto metafórico existencial. Suponho não ser baseado no
conceito do maniqueísmo do bem e mal, certo ou errado que tendem a manifestar o
materialismo e determinismo teológico. Entretanto, de conformidade com o
monismo que percebe o Sumo Bem, sendo o mal uma ausência do bem e não seu
oponente confrontador. Encaminhando esse processo (bem) à interação e harmonia
do homem com a natureza onde há uma dependência dum em relação ao outro. O
acerto vem no tempo e espaço, no aqui e agora sem a futurologia teleológica
(finalidade) que o dogma costuma trazer como explicação desse evento bíblico.
Se temos dívida à acertar limitadas pelo tempo e espaço em que existimos como
quitar esse débito num âmbito eterno? Isso não é justo e nem razoável dentro do
entendimento humano. Assim, esse ônus espiritual, ocorre “momentos” antes de
temporariamente interrompida nossa existência na Terra. Quando damos nosso
último suspiro, nossa consciência, mesmo que em fração de segundo, perpassa
aquilo que fizemos ou deixamos de fazer (multiplicando ou enterrando o dom ou
talento) agradando ou desagradando ao Senhor da vida. Assim, quanto antes
despertarmos ou sermos iluminados para a necessidade de desenvolvermos esse
carisma, estaremos ganhando tempo e desenvolvendo nossa salvação. O orador
disse que esse processo é realizado diferentemente em cada indivíduo. Alguns
tem esse despertar ainda criança, outros quando adolescentes, também na fase
adulta e ainda na velhice. Acontece que quanto mais o “procedimento” é
retardado se perde precioso tempo com futilidades (trivialidades) da vida
acentuando-se o maniqueísmo (bem e mal), desviando-se do propósito original
pelo qual os viventes foram criados e estão em fase de crescimento e aumento da
consciência interior. A demora nos expõe a temeridade abrindo nosso ser a
energias negativas que captada pelo inconsciente produz o tédio, ansiedade e
abatimento. Uma situação anormal que é revertida com a coragem de assumirmos
quem somos, mesmo não sabendo exatamente o que somos. O eu inferior é
representado pela personalidade, que transitória vai se desfazendo na medida
que a velhice e morte vão se aproximando. Numa leitura mística é como alguém
que se veste pela manhã (nascimento) e a noite se despe desse manto quando vai
dormir (morte). O Eu Superior é nossa individualidade manifesta em nosso
espírito incriado perene e eterno. É nele que os talentos se manifestam
ganhando expansão de nossa interioridade, uma auto multiplicação de Deus em
nossa natureza humana. Eles (talentos) não podem ter a materialização da
recompensa, pois teoricamente são substâncias informes sem uma significação
material. A expansão do divino na fragilidade existencial tem, imagino, por
objetivo absolver o humano completamente no divino. Filipenses
2:12-13 “Sendo assim, meus amados, como sempre obedecestes, não somente na
minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, colocai em prática a
vossa salvação com reverência e temor a Deus. Pois é Deus quem produz em vos
tanto o querer como o realizar, de acordo com a sua vontade”. Abraço. Davi.
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