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O ÚLTIMO SERMÃO DO BUDA. Poucos meses antes de sua morte – Parinirvana –
Gautama Buda habitava uma aldeia chamada Beluva. Tinha, nessa época, cerca de
80 anos e estava gravemente enfermo, porém, sentindo ainda necessidade de
esclarecer seus discípulos mais próximos, com coragem e determinação superou
seus sofrimentos temporariamente. Nessa
ocasião, Ananda, discípulo devoto e sempre solícito que acompanhava de perto a
evolução da doença, sentando-se ao lado do Mestre, perguntou: Senhor, fiquei preocupado com a saúde do Sublime e,
acompanhando vossa enfermidade, o horizonte tomou-se sombrio para mim; no
entanto, tive o pressentimento de que o Bem-Aventurado não partiria sem dar
instruções sobre quem iria recair a responsabilidade da direção da ordem da
Sangha (Comunidade dos discípulos). Buda, cheio de compaixão falou
com bondade a seu discípulo bem-amado: Ananda, que espera de mim a Ordem do Sangha?
Ensinei o Dhamma (Verdade) sem fazer nenhuma distinção entre o exotérico
(externo) e o esotérico (interno). No que concerne à verdade, o Tathagata nada
ocultou – acariya mutthi. Certamente, Ananda, se há alguém que pensa poder dirigir
a Sangha, que a Sangha lhe fique subordinado, que ele dê suas instruções. Mas o
Tathagata nunca pensou tal coisa, por que, então, haveria de deixar instruções
a respeito da Sangha? Portanto, Ananda. Faz de ti mesmo a tua própria ilha, teu
próprio suporte, faz de ti mesmo e de ninguém mais teu próprio refúgio. Não
procures nenhum auxílio fora de ti mesmo, fazendo do Dhamma tua ilha (suporte).
Do Dhamma teu único refúgio e de nada mais. E, para os monges, continuou: Ó monges, não vos entristeçais. Ainda
que eu permanecesse no mundo durante milhares de anos, isso não me livraria da
morte. Tudo o que se reúne, não escapa à separação. Já foram ensinados todos os
Dhamma que trazem proveito a quem os pratica, e que trazem proveito a outrem.
Ainda que eu permanecesse vivo, nada mais teria a fazer. Todas as pessoas a
quem eu devia ensinar, já foram ensinadas. Quanto àquelas a quem eu ainda não
ensinei, já criei condições para que sejam ensinadas. Se vós, meus discípulos,
persistirdes na prática da Lei após minha morte, meu corpo de Lei continuará
eternamente vivo. Esforçai-vos sem cessar na prática que leva à Libertação.
Permanecei em silêncio. O tempo passa e é chegada a hora de eu me extinguir. E
terminou: Tudo o que aparece, desaparece. Firmai-vos na Plena Atenção. Buda foi
o primeiro ser humano que ultrapassou a morte, embora os maiores pensadores
deste mundo tenham querido saber como isto pode ser feito. O Buda não
ultrapassou a morte da maneira como todo mundo poderia imaginar que isto
pudesse ser feito, isto é, vivendo para sempre. Ele o fez removendo aquilo
sobre o qual a morte, da mesma forma que o nascimento e decadência, se aplica,
isto é, todo subjetivismo: pessoa ou "ego, eu e meu". "A
experiência do Iluminado vivo é: não-nascido, não-decadente e imortal (...),
pois não sobra nada no Iluminado para dizer: “Eu nasci”; não tendo nascido,
como, ó monges, pode ele envelhecer? Não envelhecendo, como pode ele
morrer?" (Majjhima Nikaya, 140). Ele diz que todas estas perguntas não se
aplicam, porque, em relação ao Buda, não há uma "pessoa", um
"ser", ou "alguém" para dizer "eu" e
"meu", a respeito dos quais estas perguntas se apliquem. Então, não
há morte aplicável ao Buda. Por conseguinte, questões pertencentes ao
"após morte" não se aplicam. Os Cinco Agregados da existência, que
foram extintos pela raiz para nunca surgir novamente, são os Cinco Agregados da
existência como objetos de apego, isto e, como "meu" e
"eu". Nascimento, decadência e morte aplicam-se apenas aos Cinco
Agregados da existência como objetos de apego, porque um eu ou
"pessoa" para o qual apenas nascimento, decadência e morte são
aplicáveis, está presente se houver apego, isto é, subjetivismo. Quando o apego
for extinto, todo o subjetivismo será extinto. o que, então, permanece é o residual:
Cinco Agregados da existência para os quais nascimento, decadência e morte não
se aplicam. Com relação a todas as pessoas que não sejam iluminadas, questões e
indagações a respeito o após morte são relevantes. O que acontece com o ser
quando se dá a morte física? Mas, para o Iluminado, não existem questões a
respeito da morte; por conseguinte, também não surgirá nele questões a respeito
do após morte. Para o Iluminado há apenas o quebrar do corpo, que acontece
quando a vida chega a seu fim. Isto é tudo, como já sabemos, com o Iluminado
não existe uma "pessoa" ou "eu" existindo. Há apenas uma
experiência em fluxo. O Buda disse de si próprio: O Tathagata é profundo,
incomensurável, insondável como o grande oceano. Dizer: O Tathagata existe após
a morte não se aplica. Dizer: "O Tathagata não existe após a morte"
não se aplica. Dizer: "O Tathagata existe e não existe após a morte, não
se aplica." Dizer: "O Tathagata nem existe, e nem não existe após a
morte", também não se aplica. (Samyutta Nikaya). Portanto, a imortalidade
era algo que já havia acontecido, que já havia sido atingida. Quando Ananda,
famoso discípulo do Buda, atingiu a Iluminação, ele disse, para si próprio:
"Foi posto um fim ao nascimento e morte; eu carrego a última
carcaça." Isto é a imortalidade, quer dizer, a libertação de todo apego,
pela mente. O presente se renova em cada momento de consciência; portanto, só
tem intensidade, não extensão, por isso é que é eterno. Assim, o eterno
presente, na realidade, é o momento limítrofe, ou linha limite irracional,
entre duas direções do tempo, o passado e o futuro. Os ensinamentos do Buda são
para ser compreendidos aqui e agora, todos eles, nesta própria vida. A
não-decadência, o não-nascimento e a imortalidade são também para ser
compreendidos aqui e agora. Assim, o Nirvana é para ser atingido aqui e agora,
e não numa futura existência. Esta Realidade última, indescritível por
palavras, exceto por símbolos como Nirvana, Samyak, Sambodhi ou Prajnaparamita,
etc., e que o próprio Buda recusava definir, insistindo na experiência própria
de cada um, é que o significado desta nossa vida e do Universo revelado está
contido no fato da nossa própria consciência, e não fora de nós mesmos. De
acordo com as próprias palavras do Buda, sua consciência penetrou inúmeros períodos
de tempo no passado; do mesmo modo penetrou inúmeros períodos de tempo no
futuro; em outras palavras, penetrou a eternidade, independentemente do que
chamamos passado ou futuro, que tomou-se para ele o presente imediato. Dito na
linguagem da nossa consciência mundana, a universalidade da Mente Búdica criou
um efeito tão longínquo, que a sua presença pode ser sentida até nossos dias, e
a luz da sabedoria libertadora que ele deixou há dois e meio milénios ainda
irradia e continuará a irradiar, até quando existirem seres à procura da luz. A
natureza da Iluminação não tem exclusividades; tanto no caminho para a sua
realização, como depois de realizada, é uma luz que irradia sem limites e sem
esgotar-se, que ilumina sem restrição. BUDA morreu aos oitenta anos de idade,
na cidade de Kushinagar, no atual estado de Uttar Pradesh, na Índia. Seu corpo
foi cremado por seus amigos, sob a orientação de Ananda, seu assistente
pessoal. As suas cinzas foram repartidas entre vários governantes, para serem
veneradas como relíquias sagradas. Psicologia do Autoconhecimento. Doutor
George da Silva e Rita Homenko. www.misticismonatural.blogspot.com.
Abraço. Davi
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