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O QUE É ESCATOLOGIA. Escatologia é o estudo sobre os “últimos acontecimentos”.
A palavra vem do grego eschatón (= último). Se refere ao término da história da
salvação. Sem isto não compreendemos a vida da Igreja. Os romanos diziam: “em
tudo que faças, considera o fim, pois é o fim que dita o itinerário a
percorrer”. A realização da Igreja se dará plenamente só na eternidade. O
Concílio Vaticano II afirma: “É no fim dos tempos que será gloriosamente
consumada [a Igreja], quando, segundo se lê nos Santos Padres, todos os justos,
desde Adão, do justo Abel até o último eleito, serão congregados junto ao Pai
na Igreja universal” (LG,2). “A Igreja à qual somos todos chamados em Jesus
Cristo (...) só será consumada na glória celeste, quando chegar o tempo da
restauração de todas as coisas; e, como o gênero humano, também o mundo
inteiro, que está intimamente unido ao homem e por ele atinge o seu fim, será
totalmente renovado em Cristo” (LG,48). Muitas
passagens das Escrituras mostram isso: Atos 3,21 - “Enviará ele o Cristo que
vos foi destinado, Jesus, aquele que o céu deve conservar até os tempos da
restauração universal, da qual falou Deus pela boca dos seus santos profetas”.
Quando de sua vinda gloriosa, Cristo inaugurará o seu Reino definitivo e toda a
criação será renovada. 1 Coríntios 15,24-28 - “Depois, virá o fim, quando
entregar o Reino a Deus, ao Pai, depois de haver destruído todo principado,
toda potestade e toda dominação. Porque é necessário que ele reine, até que
ponha todos os inimigos debaixo de seus pés (...). E, quando tudo lhe estiver
sujeito, então também o próprio Filho renderá homenagem àquele que lhe sujeitou
todas as coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos”. São Paulo nos ensina
que este é o “misterioso” desígnio da vontade do Pai na plenitude dos tempos:
Efésios 1,10 - “Reunir em Cristo todas as coisas que estão na terra e no céu”.
Colossenses 1,20 - “E por seu intermédio reconciliar consigo todas as
criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz,
restabeleceu a paz a tudo quando existe na terra e nos céus”. São Pedro fala
dessa renovação do mundo e da gloria da Igreja: 2 Pedro 3,10-13. “Entretanto,
virá o dia do Senhor como ladrão. Naquele dia os céus passarão com ruído, os
elementos abrasados se dissolverão, e será consumida a terra com todas as obras
que ela contém (...) Nós, porém, segundo sua promessa, esperamos novos céus e
uma nova terra, nos quais habitará a justiça”. Sabemos que São Pedro escreve
numa linguagem apocalíptica, e que não pode ser interpretada ao pé da letra. O que sabemos de certo é que haverá a consumação do universo e a glória
da Igreja, segundo o desígnio de Deus. Isaías 65,16 “Eis que faço novos céus e
nova terra; e ninguém mais se recordará das coisas passadas; elas já não
voltarão à mente”. Apocalipse 21,1 “Vi um céu novo e uma terra nova, pois o
primeiro céu e a primeira terra haviam desaparecido”. É interessante notar o
que Jesus disse aos apóstolos: Mateus 19,28 - “No dia da renovação do mundo,
quando o Filho do homem estiver sentado no trono da glória (...)” Mateus 28,20
- “Eis que estou convosco até a consumação do século”. Com relação à data em
que acontecerá a renovação do mundo e a inauguração definitiva do Reino de
Deus, ninguém sabe e não deve especular a respeito. Muitos se enganaram sobre
isto e levaram muitos outros ao engano e ao desespero. Até grandes santos da
Igreja erraram neste ponto. Podemos citar alguns exemplos:
São Hipólito de Roma (†235) - chegou a afirmar que o final do mundo seria no ano
500 (...). Santo Irineu (†202) - confirmava a tese do Ps Barnabé, de que o
final seria no ano 6000 após a criação do mundo (...). Santo Ambrósio (†397) e
São Hilário de Poitres (†367) - apoiaram a mesma tese anterior. São Gaudêncio
de Bréscia (†405) - indicava o ano 7000 após a criação. No século V, com a
queda de Roma (476), São Jeronimo (†420), São João Crisóstomo (†407), São Leão
Magno (†461), defendiam que face à queda de Roma, o fim do mundo estava próximo
(...) No século VI e VII, São Gregório Magno (†604) afirmava como próxima a
vinda de Cristo (...). Muitas vezes as profecias sobre a vinda de Cristo
iminente são sugeridas pela necessidade que temos de encontrar uma “saída” para
os tempos difíceis em que se vive. Por isso a Igreja é muito cautelosa nesse
ponto, e sempre nos lembra: Atos 1,7 - “Não toca a vós ter conhecimento dos
tempos e momentos que o Pai fixou por sua própria autoridade”. Marcos 13,32 -
“Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém os conhece, nem mesmo os anjos do
céu, nem mesmo o Filho, mas, sim, o Pai só”. Santo Agostinho interpreta essa
passagem dizendo que Jesus diz não saber esta data, porque está fora do
depósito das verdades que Ele veio revelar aos homens; não pertence à sua
missão de Salvador revelar essa data (In Ps 36 Migne 36,355). O Magistério da
Igreja quer que se respeite essa vontade de Deus de deixar oculta aos homens
essa data. No Concílio Universal de Latrão V, em 1516, foi decretado: “Mandamos
a todos os que estão, ou futuramente estarão incumbidos da pregação, que de
modo nenhum presumam afirmar ou apregoar determinada época para os males
vindouros para a vinda do Anticristo ou para o dia do juízo”. Com efeito, a Verdade diz: “Não toca a vós ter conhecimento dos tempos e
momentos que o Pai fixou por Sua própria autoridade. Consta que os que até hoje
ousaram afirmar tais coisas mentiram, e, por causa deles, não pouco sofreu a
autoridade daqueles que pregam com retidão. Ninguém ouse predizer o futuro
apelando para a Sagrada Escritura, nem afirmar o que quer que seja, como se o
tivesse recebido do Espírito Santo ou de revelação particular, nem ouse
apoiar-se sobre conjecturas vãs ou despropositadas. Cada qual deve, segundo o
preceito divino, pregar o Evangelho a toda a criatura, aprender a detestar o
vício, recomendar e ensinar a prática das virtudes, a paz e a caridade mútuas,
tão recomendadas por nosso Redentor”. Em 1318, o Papa João XXII, condenando os
erros dos chamados Fraticelli disse: “Há muitas outras coisas que esses homens
presunçosos descrevem como que em sonho a respeito do curso dos tempos e do fim
do mundo, muitas coisas a respeito da vinda do Anticristo, que lhes parece
estar às portas, e que eles anunciam com vaidade lamentável”. Declaramos que tais coisas são, em parte, frenéticas, em parte doentias,
em parte fabulosas. Por isso nós os condenamos com os seus autores em vez de as
divulgar ou refutar” (Curso de Escatologia - Dom Estevão Bettencourt, págs.
123/124). A esperança da Igreja é a vida eterna onde o Reino de Deus será
pleno. Jesus disse a Pilatos: “Meu Reino não é deste mundo” (João 18,36). Por
isso, a Igreja aguarda vigilante a vinda do Senhor. Era a esperança dos
Apóstolos: Colossenses 3,4 - “Quando Cristo, nossa vida, aparecer, então também
vós aparecereis com ele na glória”. 1 João 3,2. Caríssimos, desde agora somos
filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que,
quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, por quanto o veremos
como Ele é. Filipenses 3,20 - “Nós porém, somos cidadãos dos céus”. É de lá que
ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará
nosso mísero corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, em virtude do
poder que tem de sujeitar a si toda criatura”. A Igreja sabe que é peregrina
neste mundo. O termo Paróquia quer dizer “terra de exílio”. São Paulo expressa
bem esta realidade: 2 Coríntios 5,6 - “Sabemos que todo o tempo que passamos no
corpo é um exílio longe do Senhor. Andamos na fé e não na visão. Estamos,
repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos deste corpo para ir
habitar junto do Senhor”. E o Apóstolo suspirava estar com
Cristo: Filipenses 1,23 - “Sinto-me pressionado dos dois lados: por uma parte,
desejaria desprender-me para estar com Cristo - o que seria imensamente
melhor”. Filipenses 1,21 - “Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é
lucro”. Antes, porém, de reinarmos com Cristo compareceremos diante dele: 2
Coríntios 5,10 - “Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo, a
fim de cada um ser remunerado pelas obras da vida corporal, conforme tiver
praticado o bem ou o mal”. E a esperança do Apóstolo é grande: Rom 8,18 -
“Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não tem proporção alguma
com a glória que há de revelar-se em nós “. 2 Timóteo 2,11-12 - “Eis uma verdade
absolutamente certa: Se morrermos com Ele, com Ele viveremos. Se soubermos
perseverar com Ele reinaremos”. Tito 2,13 - “Na expectativa da nossa esperança
feliz, a aparição gloriosa de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo”. Por esta esperança a Igreja busca a santidade, pois sabe que sem ela
“ninguém pode ver o Senhor” (Hebreus 12,14). Ser cristão em última instância, é
desejar o céu, buscar a santidade e, para isso, desprende de todas as
satisfações da terra, aspirando as celestes. Deus fez tudo nesta vida precário,
passageiro, transitório, para que não nos acostumemos a viver na terra, como se
aqui fosse o céu. O destino da Igreja é o céu, a terra é o caminho. Os santos
ansiavam pelo céu, diziam como santa Teresinha: “Tenho sede do céu, dessa mansão
bem-aventurada, onde se amará Deus sem restrições”. São belas, sobre o céu, as
palavras de São Paulo: 1 Coríntios 2,9 - “Os olhos não viram, nem ouvidos
ouviram, nem coração humano imaginou o que Deus tem preparado para aqueles que
o amam”. 2 Coríntios 5,1 - “Sabemos, com efeito, que, quando for destruída esta
tenda em que vivemos na terra, temos no céu uma casa feita por Deus, uma
habitação eterna, que não foi feita por mãos humanas”. E não se importava com o
próprio envelhecimento: 2 Coríntios 4,16 - “Ainda que em nós se destrua o homem
exterior, o interior renova-se de dia para dia”. Jesus nos
chama a olhar para o céu: Mateus 6,19-21 - “Não ajunteis para vós tesouros na
terra (...) Ajuntai para vós tesouros no céu (...) porque, onde está o teu
tesouro, lá também está teu coração”. A maioria dos homens, mesmo os cristãos,
ainda têm o tesouro e o coração na terra; por isso suas vidas espirituais são
tíbias e os frutos são poucos. Mateus 18,21 - “Se queres ser perfeito, vai,
vende os teus bens, e dá aos pobres, terás um tesouro no céu”. Não é sem razão
que São Leão Magno dizia que “as mãos do pobre são o Banco de Deus”. Marcos
8,36 - “Que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua
vida? “ Santo Agostinho (354-430) perguntava: “De que vale viver bem, se não me
é dado viver sempre? João 14,2-3 - “Na cada do meu Pai há muitas moradas... vou
preparar-vos um lugar. Depois de ir, e vos preparar um lugar, voltarei e
tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais”. Infelizmente
hoje, para o mundo, eternidade parece ser uma palavra morta. É a chamada
“secularização”, o amor a este século, ao tempo presente. O materialismo, o relativismo, o liberalismo e o hedonismo (busca do
prazer como fim) geraram a perda do infinito, do céu, onde está a grande
realização do homem. Por isso hoje ele se arrasta como um verme e se desespera
na lama da imoralidade, da depressão e do vazio. Pagamos dolorosamente o preço
da perda da fé e da esperança. Só Deus pode satisfazer “a fome” infinita que o
homem traz em si - como ensina Santa Catarina de Sena, doutora da Igreja -
pois, as criaturas não podem satisfazê-lo, uma vez que são inferiores ao homem.
“Só Deus basta”. O Corpo de Cristo, a Igreja, subsiste em três estados:
militante, que está na terra a lutar; padecente, que se purifica no purgatório
e triunfante, que já vive a bem-aventurança do céu. Ensina-nos o Concílio Vaticano II que: “Até que o Senhor venha em sua
majestade e com ele todos os anjos, e destruída a morte, todas as coisas lhe
sejam sujeitas, alguns dentre os seus discípulos peregrinam na terra, outros,
terminada esta vida, são purificados, enquanto outros são glorificados, vendo
claramente o próprio Deus trino e uno, assim como é”. “A união dos que estão na
terra com os irmãos que descansam na paz de Cristo, de maneira alguma se
interrompe; pelo contrário, segundo a fé perene da Igreja, vê-se fortalecida
pela comunhão dos bens espirituais”(LG, 49). Essa comunhão de bens espirituais,
que é um verdadeiro intercâmbio de graças, é a riqueza da “Comunhão dos
Santos”. Diz a “Lumen Gentium” que: “Pelo fato
de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam
com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por
nós junto do Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único
mediador de Deus e dos homens, Jesus Cristo. Por conseguinte, pela fraterna
solicitude deles, a nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio” (idem) São
Domingos, já moribundo dizia a seus irmãos: “Não choreis! Ser-vos-ei mais útil
após a minha morte e ajudar-vos-ei mais eficazmente do que durante a minha
vida” (CIC, 956). O mesmo dizia Santa Teresinha: “Passarei meu céu fazendo bem
na terra” (idem). A Igreja acredita desde os primórdios na salutar “intercessão
dos santos” e também na “comunhão com os falecidos”. E nos ensina que: “A nossa
oração por eles pode não somente ajudá-los, mas também tornar eficaz a sua
intercessão por nós” (CIC, 958). A primeira atestação da crença numa oração dos
justos falecidos em favor dos vivos, a Igreja viu no segundo livro de Macabeus.
Judas Macabeus, enfrentando o adversário Nicanor, que desejava destruir o
Templo, na época da perseguição do terrível Antíoco Epífanes (166-160) AC.,
colocando toda a sua confiança em Deus, teve um sonho, uma espécie de visão:
Ora, assim foi o espetáculo que lhe coube apreciar: Onias, que tinha sido sumo
sacerdote, homem honesto e bom, modesto no trato e de caráter manso (...)
estava com as mãos estendidas, intercedendo por toda a comunidade dos judeus.
Apareceu da mesma forma, um homem notável pelos cabelos brancos e pela
dignidade, sendo maravilhosa e majestosíssima a superioridade que o circundava.
Tomando a palavra disse Onias: Este é o amigo dos seus irmãos, aquele que muito
reza pelo povo e por toda a cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus-.
Estendendo por sua vez a mão direita, Jeremias entregou a Judas uma espada de
ouro, pronunciando essas palavras enquanto a entregava: - Recebe esta espada
santa, presente de Deus, por meio da qual esmagarás os teus adversários (2
Macabeus 15,12-15). Esta visão de Judas Macabeus, mostra o grande sumo
sacerdote Onias e o profeta Jeremias, ambos, então, já falecidos, intercedendo
pelo povo de Deus. Encontramos na Bíblia, a passagem em que Deus manda a Abimeleque
que peça orações a Abraão: -Ele rogará por ti e tu viverás- (Gênesis 20,7-17).
Ainda sobre a intercessão dos santos por nós, a Igreja deixou claro no Concílio
de Trento (1545-1563): Os santos que reinam agora com Cristo, oram a Deus pelos
homens. É bom e proveitoso invocar
suplicantemente e recorrer às suas orações e intercessão, para que nos obtenham
os benefícios de Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, único Salvador e Redentor
nosso. São ímpios os que negam que se devam invocar os santos que já gozam da
eterna felicidade no céu.Os que afirmam que eles não oram pelos homens, os que
declaram que lhes pedir por cada um de nós em particular é idolatria, repugna à
palavra de Deus e se opõe à honra de Jesus Cristo, único Mediador entre Deus e
os homens- (Sessão 25). Enfim, a Igreja é a “comunhão dos santos”. Na profissão
de fé solene - o Credo do Povo de Deus - disse Paulo VI: “Cremos na comunhão de
todos os fiéis de Cristo, dos que são peregrinos na terra, dos defuntos que
estão terminando a sua purificação, dos bem-aventurados do céu, formando todos
juntos uma só Igreja, e cremos que nesta comunhão o amor misericordioso de Deus
e dos seus santos está sempre à escuta das nossas orações “ (CPD, 30). A
Eucaristia que celebramos é a antecipação litúrgica da feliz eternidade no Céu.
Esta alegria que não tem fim, sempre foi representada pela festa de Bodas, do
Noivo (Jesus) com a Noiva (a Igreja). A Eucaristia é a antecipação da
consumação da glória da Igreja. Diz o Catecismo que: “À
oferenda de Cristo unem-se não somente os membros que estão na terra, mas
também os que já estão na glória do céu” (CIC, 1370). O altar em torno do qual
a Igreja celebra a Eucaristia, representa, ao mesmo tempo, dois mistérios: “o
altar do sacrifício” e a “mesa do Senhor” (CIC nº 1383). São João viu todo o
esplendor da Igreja futura na visão do Apocalipse: a Cidade Santa, a Jerusalém
celeste, a Noiva, a Esposa do Cordeiro, a filha de Sião: “Vem, e mostrar-te-ei
a noiva, a esposa do Cordeiro. Levou-me em espírito a um grande e alto monte e
mostrou-me a Cidade Santa, Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus,
revestida da glória de Deus” (Apocalipse 21, 9-11). Note que bela comparação:
“Assemelhava-se seu esplendor a uma pedra preciosa, tal como o jaspe
cristalino. Tinha grande e alta muralha com doze portas, guardadas por doze
anjos. Nas portas estavam gravados os nomes das doze tribos dos filhos de
Israel (...) A muralha tinha doze fundamentos com os nomes dos doze Apóstolos
do Cordeiro (...) O material da muralha era jaspe, e a cidade ouro puro,
semelhante a puro cristal”. Os alicerces da muralha da
cidade eram ornados de toda espécie de pedras preciosas: o primeiro era jaspe,
(...) Cada uma das doze portas era feita de uma só pérola e a avenida da cidade
era de ouro, transparente como cristal” (Apocalipse 21, 11-21). Este riquíssimo
simbolismo tem grande significação em cada uma de suas palavras, e nos revela
que esta cidade inimaginável na terra, só pode existir no céu; é a Igreja na
sua glória consumada, onde cada um de nós é chamado a viver na comunhão de toda
a família de Deus. Ele e o Cordeiro estão presentes, não haverá falta de nada.
Vejamos como continua a descrição: “Não vi nela, porém, templo algum, porque o
Senhor é o seu templo, assim como o Cordeiro. A cidade não necessita de sol nem
de lua para iluminar, porque a glória de Deus a ilumina, e a sua luz é o
Cordeiro. As nações andarão à sua luz, e os reis da terra levar-lhe-ão a sua
opulência. As suas portas não fecharão diariamente, pois não haverá noite. Nela
não entrará nada de profano nem ninguém que pratique abominações e mentiras,
mas unicamente aqueles cujos nomes estão inscritos no livro da vida do
Cordeiro” (Apocalipse 21.22-27). E continua a descrição da Cidade celeste: “Não
haverá aí nada execrável, mas nela estará o trono de Deus e do Cordeiro. Seus
servos lhes prestarão um culto. Verão a sua face e o seu nome estará nas suas
frontes. Já não haverá noite, nem se precisará
da luz de lâmpada ou do sol, porque o Senhor Deus a iluminará, e hão de reinar
pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 22, 1-5). Esta longa narração mostra a
vitória e a gloriosa consumação final da Igreja. E o Apocalipse termina com o
Senhor dizendo: “Felizes aqueles que lavam as suas vestes para ter direito à
árvore da vida e poder entrar na cidade pelas portas ” (22,14). “O Espírito e a
Esposa dizem: Vem! Possa aquele que ouve dizer também: Vem! Aquele que atesta
estas coisas diz: Sim ! Eu venho depressa! Amém. Vem, Senhor Jesus!” (22,
17-21). A glória futura da Igreja já está
garantida, porque o seu Senhor já reina no céu, sentado à direita do Pai,
aguardando o momento de consumar o seu Reino. -Depois de falar com os
discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de
Deus-(Marcos16,19). São Paulo explica na Carta aos Efésios todo o esplendor de
Cristo, Cabeça da Igreja, já glorificado no céu: -Ele manifestou sua força em
Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos
céus, bem acima de toda autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer
título que se possa nomear não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro.
Sim, Ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a cabeça
da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude
universal-(Efésios 1,20-22). É preciso ter em mente que Jesus glorificado à
direita do Pai, é o Verbo Encarnado, perfeitamente homem; assim, a humanidade,
por Jesus, já voltou ao paraíso, que havia perdido pelo pecado. Desta forma São
Paulo nos exorta a vivermos cientes de que a nossa vida - está escondida com
Cristo em Deus. Se portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do
alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de
cima, e não às da terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com
Cristo em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós
aparecereis com Ele na glória (Colossenses 3,1s) São Leão Magno (†431) dizia
que: “Onde a Cabeça está, aí devem estar também os membros do corpo”. A Igreja tem plena consciência de que a sua glória está assegurada no
céu, já que a -Cabeça- já está -sentada à direita do Pai. Na missa da festa da
Ascensão do Senhor, rezamos: Ó Deus todo poderoso, a ascensão do vosso Filho já
é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois,
membros de seu Corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória-.
É nesta esperança que vive a Igreja: No mundo tereis tribulações. Mas tende
coragem! Eu venci o mundo!. (João 16,33). Sabemos, como nos ensina São Paulo na
carta aos tessalonicenses, que a Igreja passará a terrível “provação final”,
que será também o momento de dar ao Senhor a prova maior do seu amor, e que
será também a sua maior purificação. Após isto será consumada na sua glória.
Então, “Deus será tudo em todos” (1 Coríntios 15,28). Estará então
restabelecida a “Família de Deus”, que no Paraíso foi dispersa pelo pecado.
Novamente Deus viverá no “jardim” celeste com o homem (Gênesis 2,5-8), com toda
a intimidade e comunhão desejadas desde o princípio. A harmonia que o pecado
rompeu será restabelecida plenamente. É a imagem maravilhosa que o Profeta nos
dá do Reino do Messias, onde só haverá paz: “Então o lobo será hóspede do
cordeiro, a pantera se deitará ao pé do cabrito, o touro e o leão comerão
juntos, e um menino pequeno os conduzirá; a vaca e o urso se fraternizarão,
suas crias repousarão juntas, e o leão comerá palha com o boi. A criança de
peito brincará junto a toca da víbora, e o menino desmamado meterá a mão na
caverna da áspide. Não se fará mal nem agravo em todo o meu monte santo, porque
a terra estará cheia da ciência do Senhor, assim como as águas recobrem o fundo
do mar” (Isaías 11, 6-9). Sobre a “última provação” que a Igreja deverá
enfrentar, fala o Catecismo da Igreja: “Antes do Advento de Cristo, a Igreja
deve passar por uma provação final que abalará a fé de muitos crentes (Lucas
18,8; Mateus 24,12). A perseguição que acompanha a
peregrinação dela na terra (Lucas 21,12; João 15, 19-20) desvendará o “mistério
da iniquidade” sob a forma de uma impostura religiosa que há de trazer aos
homens uma solução aparente aos seus problemas, à custa da apostasia da
verdade. A impostura religiosa suprema é a do Anticristo, isto é, a de um falso
messianismo em que o homem se glorifica a si mesmo em lugar de Deus e do seu
Messias que veio na carne (2 Tessalonicenses 2,4-12; 1 Tessalonicenses 5,2-3; 2
Jo7; 1 João 2,18-22) (CIC, 675). O Catecismo explica que a grande impostura
religiosa anticrística será uma falsificação do Reino de Deus, a ser implantado
na terra, pelo próprio homem, sem a necessidade de Deus. É o ateísmo
sistemático - já denunciado no santo Concílio Vaticano II (GS 20,21) que leva o
homem a se rebelar “contra qualquer dependência de Deus”. “Aqueles que
professam tal ateísmo disse o Concílio - sustentam que a liberdade consiste em
o homem ser o seu próprio fim e o único artífice e demiurgo [ criador] de sua
própria história. E pretendem que esta posição não pode harmonizar-se com o
reconhecimento do Senhor (...)” (GS, 20). A Igreja sabe que só entrará na
glória do Reino passando por uma “Paixão” semelhante a do seu Senhor. O Catecismo afirma que: “O Reino não se realizará por um triunfo
histórico da Igreja segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de
Deus sobre o desencadeamento último do mal (cf Apocalipse 20,7-10), que fará a
sua Esposa descer do Céu (Apocalipse 21,2-4). Então, finalmente, “haverá um
novo céu e uma nova terra” (Apocalipse 21,1) e se realizará o que está escrito:
“Eis a tenda de Deus com os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu
povo, e ele, Deus-com-eles, será o seu Deus. Ele enxugará toda a lágrima dos
seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor
haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram! (Apocalipse 21,3-4). DO Livro: A MINHA IGREJA do Prof. Felipe de Aquino. www.universocatolico.com.br. Abraço. Davi
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