Espiritismo. www.institutoandreluiz.org. Texto de
Allan Kardec (1804-1869). I MÉDIUM E
MEDIUNIDADE. Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos
Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não
constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as
pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode,
pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente,
assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem
caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que
então depende de uma organização mais ou menos sensitiva. E de notar-se, além
disso, que essa faculdade não se revela, da mesma maneira, em todos.
Geralmente, os médiuns têm uma aptidão especial para os fenômenos
desta, ou daquela ordem, donde resulta que formam tantas variedades, quantas
são as espécies de manifestações. As principais são: a dos médiuns de efeitos físicos; a dos médiuns
sensitivos, ou impressionáveis; a dos audientes; a dos videntes; a dos
sonambúlicos; a dos curadores; a dos pneumatógrafos; a dos escreventes, ou
psicógrafos. 1. Médiuns
de efeitos físicos. Os médiuns de efeitos físicos são particularmente aptos a
produzir fenômenos materiais, como os movimentos dos corpos inertes, ou ruídos,
etc. Podem dividir-se em médiuns facultativos e médiuns involuntários. (Veja-se
a 2ª parte, caps. II e IV). Os médiuns facultativos são os que têm
consciência do seu poder e que produzem fenômenos espíritas por ato da própria
vontade. Conquanto inerente à espécie humana, conforme já dissemos, semelhante
faculdade longe está de existir em todos no mesmo grau. Porém, se poucas
pessoas, há em quem ela seja absolutamente nula, mais raras ainda são as
capazes de produzir os grandes efeitos tais como a suspensão de corpos pesados,
a translação aérea e, sobretudo, as aparições. Os efeitos mais simples são a
rotação de um objeto, pancadas produzidas mediante o levantamento desse objeto,
ou na sua própria substância. Embora não demos importância capital a esses
fenômenos, recomendamos, contudo, que não sejam desprezados. Podem proporcionar
ensejo a observações interessantes e contribuir para a convicção dos que os
observem. Cumpre, entretanto, ponderar que a faculdade de produzir efeitos
materiais raramente existe nos que dispõem de mais perfeitos meios de
comunicação, quais a escrita e a palavra. Em geral, a faculdade diminui
num sentido à proporção que se desenvolve em outro. Os médiuns
involuntários ou naturais são aqueles cuja influência se exerce a seu mau
grado. Nenhuma consciência tem do poder que possuem e, muitas vezes, o que de
anormal se passa em torno deles não se lhes afigura de modo algum
extraordinário. Isso faz parte deles, exatamente como se dá com as pessoas que,
sem o suspeitarem, são dotadas de dupla vista. São muito dignos de observação
esses indivíduos e ninguém deve descuidar-se de recolher e estudar os fatos
deste gênero que lhe cheguem ao conhecimento. Manifestam-se em todas as idades
e, frequentemente, em crianças ainda muito novas. Tal faculdade não constitui,
em si mesma, indício de um estado patológico, porquanto não é incompatível com
uma saúde perfeita. Se sofre aquele que a possui, esse sofrimento é devido a
uma causa estranha, donde se segue que os meios terapêuticos são impotentes
para fazê-la desaparecer. Nalguns casos, pode ser consequente de uma certa
fraqueza orgânica, porém, nunca é causa eficiente. Não seria, pois, razoável
tirar dela um motivo de inquietação, do ponto de vista higiênico. Só poderia
acarretar inconveniente, se aquele que a possui abusasse dela, depois de se
haver tornado médium facultativo, porque então se verificaria nele uma emissão
demasiado abundante de fluido vital e, por conseguinte, enfraquecimento dos
órgãos. A razão se revolta à lembrança das torturas morais e corporais a
que a ciência tem por vezes sujeitado criaturas fracas e delicadas, para se
certificar da existência de fraude da parte delas. Tais experimentações, amiúde
feitas maldosamente, são sempre prejudiciais às organizações sensitivas,
podendo mesmo dar lugar a graves desordens na economia orgânica. Fazer
semelhantes experiências é brincar com a vida. O observador de boa-fé não
precisa lançar mão desses meios. Aquele que está familiarizado com os fenômenos
desta espécie sabe, aliás, que eles são mais de ordem moral, do que de ordem
física e que será inútil procurar-lhes uma solução nas nossas ciências exatas.
Por isso mesmo que tais fenômenos são mais de ordem moral, deve-se evitar com
escrupuloso cuidado tudo o que possa sobre excitar a imaginação. Sabe-se que de
acidentes pode o medo ocasionar e muito menos imprudências se cometiam, se se conhecessem
todos os casos de loucura e de epilepsia, cuja origem se encontra nos contos de
lobisomens e papões. Que não será, se se generalizar a persuasão de que o
agente dos aludidos fenômenos é o diabo? Os que espelham semelhantes ideias não
sabem a responsabilidade que assumem: podem matar. Ora, o perigo não existe
apenas para o paciente, mas também para os que o cercam, os quais podem ficar
aterrorizados, ao pensarem que a casa onde moram se tornou um covil de
demônios. Esta crença funesta é que foi causa de tantos atos de atrocidade nos
tempos de ignorância. Entretanto, se houvesse um pouco mais de
discernimento, teria ocorrido aos que os praticaram que não queimavam o diabo,
por queimarem o corpo que supunham possesso do diabo. Desde que do diabo é que queriam
livrar-se, ao diabo é que era preciso matassem. Esclarecendo-nos sobre a
verdadeira causa de todos esses fenômenos, a Doutrina Espírita lhe dá o golpe
de misericórdia. Longe, pois, de concorrer para que tal ideia se forme, todos
devem, e este é um dever de moralidade e de humanidade, combatê-la onde
exista. O que há a fazer-se, quando uma faculdade dessa natureza se
desenvolve espontaneamente num indivíduo, é deixar que o fenômeno siga o seu
curso natural: a Natureza é mais prudente do que os homens. Acresce que a
Providência tem seus desígnios e aos maiores destes pode servir de instrumento
a mais pequenina das criaturas. Porém, forçoso é convir, o fenômeno assume por
vezes proporções fatigantes e importunas para toda gente (1). (1) Um
dos fatos mais extraordinários desta natureza, pela variedade e singularidade
dos fenômenos, é, sem contestação, o que ocorreu em 1852, no Palatinado
(Baviera renana), em Bergzabern, perto de Wissemburg. É tanto mais notável,
quanto denota, reunidos no mesmo indivíduo, quase todos os gêneros de
manifestações espontâneas: estrondos de abalar a casa, derribamento dos móveis,
arremesso de objetos ao longe por mãos invisíveis, visões e aparições,
sonambulismo, êxtase, catalepsia, atração elétrica, gritos e sons aéreos, instrumentos
tocando sem contato, comunicações inteligentes, etc. e, o que não é de somenos
importância, a comprovação destes fatos, durante quase dois anos, por inúmeras
testemunhas oculares, dignas de crédito pelo saber e pelas posições sociais que
ocupavam. A narração autêntica dos aludidos fenômenos foi publicada, naquela
época, em muitos jornais alemães e, especialmente, numa brochura hoje esgotada
e raríssima. Na Revue Spirite de 1858 se encontra a tradução completa dessa
brochura, com os comentários e explicações indispensáveis. Essa, que saibamos,
é a única publicação feita em francês do folheto a que nos referimos. Além do
empolgante interesse que tais fenômenos despertam, eles são eminentemente
instrutivos, do ponto de vista do estudo prático do Espiritismo. Os seres invisíveis, que revelam
sua presença por efeitos sensíveis, são, em geral, Espíritos de ordem inferior
e que podem ser dominados pelo ascendente moral. A aquisição deste ascendente é
o que se deve procurar. Para alcançá-lo, preciso é que o indivíduo passe
do estado de médium natural ao de médium voluntário. Produz-se, então, efeito
análogo ao que se observa no sonambulismo. Como se sabe, o sonambulismo natural
cessa geralmente, quando substituído pelo sonambulismo magnético. Não se
suprime a faculdade, que tem a alma, de emancipar-se; dá-se outra diretriz. O
mesmo acontece com a faculdade mediúnica. Para isso, em vez de pôr óbices ao
fenômeno, coisa que raramente se consegue e que nem sempre deixa de ser
perigosa, o que se tem de fazer é concitar o médium a produzi-los à sua
vontade, impondo-se ao Espírito. Por esse meio, chega o médium a sobrepujá-lo
e, de um dominador às vezes tirânico, faz um ser submisso e, não raro, dócil.
Fato digno de nota e que a experiência confirma é que, em tal caso, uma criança
tem tanta e, por vezes, mais autoridade que um adulto: mais uma prova a favor
deste ponto capital da Doutrina, que o Espírito só é criança pelo corpo; que
tem por si mesmo um desenvolvimento necessariamente anterior à sua encarnação
atual, desenvolvimento que lhe pode dar ascendente sobre Espíritos que lhe são
inferiores. A moralização de um Espírito, pelos conselhos de uma terceira
pessoa influente e experiente, não estando o médium em estado de o fazer,
constitui frequentemente meio muito eficaz. Mais tarde voltaremos a tratar
dele. Nesta categoria parece, à primeira vista, se deviam incluir as
pessoas dotadas de certa dose de eletricidade natural, verdadeiros torpedos
humanos, a produzirem, por simples contato, todos os efeitos de atração e
repulsão. Errado, porém, fora considerá-las médiuns, porquanto à vera
mediunidade supõe a intervenção direta de um Espírito. Ora, no caso de que
falamos, concludentes experiências hão provado que a eletricidade é o agente
único desses fenômenos. Esta estranha faculdade, que quase se poderia
considerar uma enfermidade, pode às vezes estar aliada à mediunidade, como é
fácil de verificar-se na história do Espírito batedor de
Bergzabern. Porém, as mais das vezes, de todo independe de qualquer
faculdade mediúnica. Conforme já dissemos, a única prova da intervenção dos
Espíritos é o caráter inteligente das manifestações. Desde que este caráter não
exista, fundamento há para serem atribuídas a causas puramente físicas. A
questão é saber se as pessoas elétricas estarão ou não mais aptas, do que
quaisquer outras, a tornar-se médiuns de efeitos físicos. Cremos que sim, mas
só a experiência poderia demonstrá-lo. 2. Médiuns sensitivos, ou impressionáveis. Chamam-se
assim às pessoas suscetíveis de sentir a presença dos Espíritos por uma
impressão vaga, por uma espécie de leve roçadura sobre todos os seus membros,
sensação que elas não podem explicar. Esta variedade não apresenta caráter bem
definido. Todos os médiuns são necessariamente impressionáveis, sendo assim a impressionabilidade
mais uma qualidade geral do que especial. É a faculdade rudimentar
indispensável ao desenvolvimento de todas as outras. Difere da
impressionabilidade puramente física e nervosa, com a qual preciso é não seja
confundida, porquanto, pessoas há que não têm nervos delicados e que sentem
mais ou menos o efeito da presença dos Espíritos, do mesmo modo que outras,
muito irritáveis, absolutamente não os pressentem. Esta faculdade se
desenvolve pelo hábito e pode adquirir tal sutileza, que aquele que a possui
reconhece, pela impressão que experimenta, não só a natureza, boa ou má, do
Espírito que lhe está ao lado, mas até a sua individualidade, como o cego
reconhece, por um certo não sei quê, a aproximação de tal ou tal pessoa.
Torna-se, com relação aos Espíritos, verdadeiro sensitivo. Um bom Espírito
produz sempre uma impressão suave e agradável; a de um mau Espírito, ao
contrário, é penosa, angustiosa, desagradável. Há como que um cheiro de
impureza. 3. Médiuns
audientes. Estes ouvem a voz dos Espíritos. É, como dissemos ao falar da
pneumatofonia, algumas vezes uma voz interior, que se faz ouvir no foro íntimo;
doutras vezes, é uma voz exterior, clara e distinta, qual a de uma pessoa viva.
Os médiuns audientes podem, assim, travar conversação com os Espíritos. Quando
têm o hábitode se comunicar com determinados Espíritos, eles os reconhecem
imediatamente pela natureza da voz. Quem não seja dotado desta faculdade pode,
igualmente, comunicar com um Espírito, se tiver, a auxiliá-lo, um médium
audiente, que desempenhe a função de intérprete. Esta faculdade é muito
agradável, quando o médium só ouve Espíritos bons, ou unicamente aqueles por
quem chama. Assim, entretanto, já não é, quando um Espírito mal se lhe agarra,
fazendo-lhe ouvir a cada instante as coisas mais desagradáveis e não raro as
mais inconvenientes. Cumpre-lhe, então, procurar livrar-se desses Espíritos,
pelos meios que indicaremos no capítulo da Obsessão. 4. Médiuns falantes. (Psicofônicos
- nota nossa). Os médiuns audientes, que apenas transmitem o que
ouvem, não são, a bem dizer, médiuns falantes. Estes últimos, as mais das
vezes, nada ouvem. Neles, o Espírito atua sobre os órgãos da palavra, como atua
sobre a mão dos médiuns escreventes. Querendo comunicar-se, o Espírito se serve
do órgão que se lhe depara mais flexível no médium. A um, toma da mão; a outro,
da palavra; a um terceiro, do ouvido. O médium falante geralmente se exprime
sem ter consciência do que diz e muitas vezes diz coisas completamente
estranhas às suas idéias habituais, aos seus conhecimentos e, até, fora do
alcance de sua inteligência. Embora se ache perfeitamente acordado e em estado
normal, raramente guarda lembrança do que diz. Em suma, nele, a palavra é um
instrumento de que se serve o Espírito, com o qual uma terceira pessoa pode
comunicar-se, como pode com o auxílio de um médium audiente. Nem sempre,
porém, é tão completa a passividade do médium falante. Alguns há que têm a
intuição do que dizem, no momento mesmo em que pronunciam as palavras.
Voltaremos a ocupar-nos com esta espécie de médiuns, quando tratarmos dos
médiuns intuitivos. 5. Médiuns
videntes. Os médiuns videntes são dotados da faculdade de ver os Espíritos.
Alguns gozam dessa faculdade em estado normal, quando perfeitamente acordados,
e conservam lembrança precisa do que viram. Outros só a possuem em estado
sonambúlico, ou próximo do sonambulismo. Raro é que esta faculdade se mostre
permanente; quase sempre é efeito de uma crise passageira. Na categoria dos
médiuns videntes se podem incluir todas as pessoas dotadas de dupla vista. A
possibilidade de ver em sonho os Espíritos resulta, sem contestação, de uma
espécie de mediunidade, mas não constitui, propriamente falando, o que se
chama médium vidente. Explicamos esse fenômeno em o capítulo VI - Das manifestações
visuais. O médium vidente julga ver com os olhos, como os que são dotados
de dupla vista; mas, na realidade, é a alma quem vê e por isso é que eles tanto
veem com os olhos fechados, como com os olhos abertos; donde se conclui que um
cego pode ver os Espíritos, do mesmo modo que qualquer outro que tem perfeita a
vista. Sobre este último ponto caberia fazer-se interessante estudo, o de saber
se a faculdade de que tratamos é mais frequente nos cegos. Espíritos que na
Terra foram cegos nos disseram que, quando vivos, tinham, pela alma, a
percepção de certos objetos e que não se encontravam imersos em negra
escuridão. Cumpre distinguir as aparições acidentais e espontâneas da
faculdade propriamente dita de ver os Espíritos. As primeiras são frequentes,
sobretudo no momento da morte das pessoas que aquele que vê amou ou conheceu e
que o vêm prevenir de que já não são deste mundo. Há inúmeros exemplos de fatos
deste gênero, sem falar das visões durante o sono. Doutras vezes, são, do mesmo
modo, parentes, ou amigos que, conquanto mortos há mais ou menos tempo,
aparecem, ou para avisar de um perigo, ou para dar um conselho, ou, ainda, para
pedir um serviço. O serviço que o Espírito pode solicitar é, em geral, a
execução de uma coisa que lhe não foi possível fazer em vida, ou o auxílio das
preces. Estas aparições constituem fatos isolados, que apresentam sempre um
caráter individual e pessoal, e não efeito de uma faculdade propriamente dita.
A faculdade consiste na possibilidade, senão permanente, pelo menos muito frequente
de ver qualquer Espírito que se apresente, ainda que seja absolutamente
estranho ao vidente. A posse desta faculdade é o que constitui, propriamente
falando, o médium vidente. Entre esses médiuns, alguns há que só veem os
Espíritos evocados e cuja descrição podem fazer com exatidão minuciosa.
Descrevem com as menores particularidades, os gestos, a expressão da
fisionomia, os traços do semblante, as vestes e, até, os sentimentos de que
parecem animados. Outros há em quem a faculdade da vidência é ainda mais ampla:
vêem toda a população espírita ambiente, a se mover em todos os sentidos,
cuidando, poder-se-ia dizer, de seus afazeres. Assistimos uma noite à
representação da ópera Oberon, em companhia de um médium vidente muito bom.
Havia na sala grande número de lugares vazios, muitos dos quais, no entanto,
estavam ocupados por Espíritos, que pareciam interessar-se pelo espetáculo.
Alguns se colocavam junto de certos espectadores, como que a lhes escutar a
conversação. Cena diversa se desenrolava no palco: por detrás dos atores muitos
Espíritos, de humor jovial, se divertiam em arremedá-los, imitando os gestos de
modo grotesco; outros, mais sérios, pareciam inspirar os cantores e fazer
esforços por lhes dar energia. Um deles se conservava sempre junto de uma das
principais cantoras. Julgando-o animado de intenções um tanto levianas e
tendo-o evocado após a terminação do ato, ele acudiu ao nosso chamado e nos
reprochou, com severidade, o temerário juízo: "Não sou o que julgas,
disse; sou o seu guia e seu Espírito protetor; sou encarregado de
dirigi-la." Depois de alguns minutos de uma palestra muito séria,
deixou-nos, dizendo: "Adeus; ela está em seu camarim; é preciso que vá
vigiá-la." Em seguida, evocamos o Espírito Weber, autor da ópera, e lhe
perguntamos o que pensava da execução da sua obra. "Não de todo má; porém,
frouxa; os atores cantam, eis tudo. Não há inspiração. Espera, acrescentou, vou
tentar dar-lhes um pouco do fogo sagrado." Foi visto, daí a nada, no
palco, pairando acima dos atores. Partindo dele, um como eflúvio se derramava
sobre os intérpretes. Houve, então, nestes, visível recrudescência de energia.
Outro fato que prova a influência que os Espíritos exercem sobre os homens, à
revelia destes: Assistíamos, como nessa noite, a uma representação teatral, com
outro médium vidente. Travando conversação com um Espírito espectador,
disse-nos ele: "Vês aquelas duas damas sós, naquele camarote da
primeira ordem? Pois bem, estou esforçando-me por fazer que deixem a
sala." Dizendo isso, o médium o viu ir colocar-se no camarote em questão e
falar às duas. De súbito, estas, que se mostravam muito atentas ao espetáculo,
se entreolharam, parecendo consultar-se mutuamente. Depois, vão-se e não voltam
mais. O Espírito nos fez então um gesto cômico, querendo significar que
cumprira o que dissera. Não o tornamos a ver, para pedir-lhe explicações mais
amplas. assim que muitas vezes fomos testemunha do papel que os Espíritos
desempenham entre os vivos. Observamo-los em diversos lugares de reunião, em
bailes, concertos, sermões, funerais, casamentos, etc., e por toda parte os
encontramos atiçando paixões más, soprando discórdias, provocando rixas e
rejubilando-se com suas proezas. Outros, ao contrário, combatiam essas
influências perniciosas, porém, raramente eram atendidos. A faculdade de
ver os Espíritos pode, sem dúvida, desenvolver-se, mas é uma das de que convém
esperar o desenvolvimento natural, sem o provocar, em não se querendo ser
joguete da própria imaginação. Quando o gérmen de uma faculdade existe, ela se
manifesta de si mesma. Em princípio, devemos contentar-nos com as que Deus nos
outorgou, sem procurarmos o impossível, por isso que, pretendendo ter muito,
corremos o risco de perder o que possuímos. Quando dissemos serem
frequentes os casos de aparições espontâneas (n. 107), não quisemos dizer que
são muito comuns. Quanto aos médiuns videntes, propriamente ditos, ainda são
mais raros e há muito que desconfiar dos que se inculcam possuidores dessa
faculdade. E prudente não se lhes dar crédito, senão diante de provas
positivas. Não aludimos sequer aos que se dão à ilusão ridícula de ver os
Espíritos glóbulos, que descrevemos no nº 108; falamos apenas dos que dizem ver
os Espíritos de modo racional. E fora de dúvida que algumas pessoas podem enganar-se
de boa-fé, porém, outras podem também simular esta faculdade por amor-próprio,
ou por interesse. Neste caso, é preciso, muito especialmente, levarem conta o
caráter, a moralidade e a sinceridade habituais; todavia, nas particularidades,
sobretudo, é que se encontram meios de mais segura verificação, porquanto
algumas há que não podem deixar suspeita, como, por exemplo, a exatidão no
retratar Espíritos que o médium jamais conheceu quando encamados. Pertence a
esta categoria o fato seguinte: Uma senhora, viúva, cujo marido se
comunica frequentemente com ela, estava certa vez em companhia de um médium
vidente, que não a conhecia, como não lhe conhecia a família. Disse-lhe o
médium, em dado momento: Vejo um Espírito perto da senhora. - Ah! disse esta
por sua vez: E com certeza meu marido, que quase nunca me deixa. - Não,
respondeu o médium, é uma mulher de certa idade; está penteada de modo
singular; traz um bandó (penteado de cabelo) branco sobre a fronte. Por essa
particularidade e outros detalhes descritos, a senhora reconheceu, sem haver
possibilidade de engano, sua avó, em quem naquele instante absolutamente não
pensava. Se o médium houvesse querido simular a faculdade, fácil lhe fora
acompanhar o pensamento da dama. Entretanto, em vez do marido, com quem ela se
achava preocupada, ele vê uma mulher, com uma particularidade no penteado, da
qual coisa alguma lhe podia dar idéia. Este fato prova também que a vidência,
no médium, não era reflexo de qualquer pensamento estranho. 6. Médiuns sonambúlicos. Pode considerar-se
o sonambulismo uma variedade da faculdade mediúnica, ou, melhor, são duas
ordens de fenômenos que frequentemente se acham reunidos. O sonâmbulo age sob a
influência do seu próprio Espírito; é sua alma que, nos momentos de
emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos. O que ele
externa tira-o de si mesmo; suas ideias são, em geral, mais justas do que no
estado normal, seus conhecimentos mais dilatados, porque tem livre a alma. Numa
palavra, ele vive antecipadamente a vida dos Espíritos. O médium, ao contrário,
é instrumento de uma inteligência estranha; é passivo e o que diz não vem de
si. Resumindo, o sonâmbulo exprime o seu próprio pensamento, enquanto que o
médium exprime o de outrem. Mas, o Espírito que se comunica com um médium comum
também o pode fazer com um sonâmbulo; dá-se mesmo que, muitas vezes, o estado
de emancipação da alma facilita essa comunicação. Muitos sonâmbulos veem
perfeitamente os Espíritos e os descrevem com tanta precisão, como os médiuns
videntes. Podem confabular com eles e transmitir-nos seus pensamentos. O que
dizem, fora do âmbito de seus conhecimentos pessoais, lhes é com frequência
sugerido por outros Espíritos. Aqui está um exemplo notável, em que a dupla
ação do Espírito do sonâmbulo e de outro Espírito se revela e de modo
inequívoco. Um de nossos amigos tinha como sonâmbulo um rapaz de 14 a 15
anos, de inteligência muito vulgar e instrução extremamente escassa.
Entretanto, no estado de sonambulismo, deu provas de lucidez extraordinária e
de grande perspicácia. Excedia, sobretudo, no tratamento das enfermidades e
operou grande número de curas consideradas impossíveis. Certo dia, dando
consulta a um doente, descreveu a enfermidade com absoluta exatidão. Não basta,
disseram-lhe, agora é preciso que indiques o remédio. Não posso, respondeu, meu
anjo doutor não está aqui. Quem é esse anjo doutor de quem falas? O que dita os
remédios. - Não és tu, então, que vês os remédios? - Oh! não; estou a dizer que
é o meu anjo doutor quem os dita. Assim, nesse sonâmbulo, a ação de ver o
mal era do seu próprio Espírito que, para isso, não precisava de assistência
alguma; a indicação, porém, dos remédios lhe era dada por outro. Não estando
presente esse outro, ele nada podia dizer. Quando só, era apenas sonâmbulo; assistido
por aquele a quem chamava seu anjo doutor, era sonâmbulo-médium. A lucidez
sonambúlica é uma faculdade que se radica no organismo e que independe, em
absoluto, da elevação, do adiantamento e mesmo do estado moral do indivíduo.
Pode, pois, um sonâmbulo ser muito lúcido e ao mesmo tempo incapaz de resolver
certas questões, desde que seu Espírito seja pouco adiantado. O que fala por si
próprio pode, portanto, dizer coisas boas ou más, exatas ou falsas, demonstrar
mais ou menos delicadeza e escrúpulo nos processos de que use, conforme o grau
de elevação, ou de inferioridade do seu próprio Espírito. A assistência então
de outro Espírito pode suprir-lhe as deficiências. Mas, um sonâmbulo, tanto
como os médiuns, pode ser assistido por um Espírito mentiroso, leviano ou mesmo
mau. AI, sobretudo, é que as qualidades morais exercem grande influência, para
atraírem os bons Espíritos. (Veja-se: O Livro dos Espíritos,
"Sonambulismo", n. 425, e, aqui, adiante, o capítulo sobre a
"Influência moral do médium"). 7. Médiuns curadores. Unicamente para não deixar de
mencioná-la, falaremos aqui desta espécie de médiuns, porquanto o assunto
exigiria desenvolvimento excessivo para os limites em que precisamos ater-nos.
Sabemos, ao demais, que um de nossos amigos, médico, se propõe a tratá-lo em
obra especial sobre a medicina intuitiva. Diremos apenas que este gênero de
mediunidade consiste, principalmente, no dom que possuem certas pessoas de
curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um gesto, sem o concurso de
qualquer medicação. Dir-se-á, sem dúvida, que isso mais não é do que
magnetismo. Evidentemente, o fluido magnético desempenha aí importante papel;
porém, quem examina cuidadosamente o fenômeno sem dificuldade reconhece que há
mais alguma coisa. A magnetização ordinária é um verdadeiro tratamento seguido,
regular e metódico; no caso que apreciamos, as coisas se passam de modo
inteiramente diverso. Todos os magnetizadores são mais ou menos aptos a
curar, desde que saibam conduzir-se convenientemente, ao passo que nos médiuns
curadores a faculdade é espontânea e alguns até a possuem sem jamais terem
ouvido falar de magnetismo. A intervenção de uma potência oculta, que é o que
constitui a mediunidade, se faz manifesta, em certas circunstâncias,
sobretudo se considerarmos que a maioria das pessoas que podem, com razão, ser
qualificadas de médiuns curadores recorre à prece, que é uma verdadeira
evocação. Eis aqui as respostas que nos deram os Espíritos às perguntas que
lhes dirigimos sobre este assunto: 1ª Podem considerar-se as pessoas dotadas de força magnética como
formando uma variedade de médiuns? "Não há que
duvidar." 2ª Entretanto, o médium é um intermediário entre os
Espíritos e o homem; ora, o magnetizador, haurindo em si mesmo a força de que
se utiliza, não parece que seja intermediário de nenhuma potência
estranha. "É um erro; a força magnética reside, sem dúvida, no
homem, mas é aumentada pela ação dos Espíritos que ele chama em seu auxilio. Se
magnetizas com o propósito de curar, por exemplo, e invocas um bom Espírito que
se interessa por ti e pelo teu doente, ele aumenta a tua força e a tua vontade,
dirige o teu fluido e lhe dá as qualidades necessárias." 3ª Há,
entretanto, bons magnetizadores que não creem nos Espíritos? "Pensas
então que os Espíritos só atuam nos que creem neles? Os que magnetizam para o
bem são auxiliados por bons Espíritos. Todo homem que nutre o desejo do bem os
chama, sem dar por isso, do mesmo modo que, pelo desejo do mal e pelas más
intenções, chama os maus." 4ª Agiria com maior eficácia aquele
que, tendo a força magnética, acreditasse na intervenção dos Espíritos? "Faria
coisas que consideraríeis milagre." 5ª Há pessoas que
verdadeiramente possuem o dom de curar pelo simples contato, sem o emprego dos
passes magnéticos? "Certamente; não tens disso múltiplos
exemplos?" 6ª- Nesse caso, há também ação magnética, ou
apenas influência dos Espíritos? "Uma e outra coisa. Essas
pessoas são verdadeiros médiuns, pois que atuam sob a influência dos Espíritos;
isso, porém, não quer dizer que sejam quais médiuns curadores, conforme o
entendes." 7ª Pode transmitir-se esse poder? "O
poder, não; mas o conhecimento de que necessita, para exercê-lo, quem o possua.
Não falta quem não suspeite sequer de que tem esse poder, se não acreditar que
lhe foi transmitido." 8ª Podem obter-se curas unicamente por meio
da prece? "Sim, desde que Deus o permita; pode dar-se, no entanto, que
o bem do doente esteja em sofrer por mais tempo e então julgais que a vossa
prece não foi ouvida." 9ª Haverá para isso algumas fórmulas de
prece mais eficazes do que outras? "Somente a superstição pode
emprestar virtudes quaisquer a certas palavras e somente Espíritos ignorantes,
ou mentirosos podem alimentar semelhantes ideias, prescrevendo fórmulas. Pode,
entretanto, acontecer que, em se tratando de pessoas pouco esclarecidas e
incapazes de compreender as coisas puramente espirituais, o uso de determinada
fórmula contribua para lhes infundir confiança. Neste caso, porém, não é na
fórmula que está a eficácia, mas na fé, que aumenta por efeito da ideia ligada
ao uso da fórmula."8. Médiuns pneumatógrafos. Dá-se este nome aos
médiuns que têm aptidão para obter a escrita direta, o que não é possível a
todos os médiuns escreventes. Esta faculdade, até agora, se mostra muito rara.
Desenvolve-se, provavelmente, pelo exercício; mas, como dissemos, sua utilidade
prática se limita a uma comprovação patente da intervenção de uma força oculta
nas manifestações. Só a experiência é capaz de dar a ver a qualquer pessoa se a
possui. Pode-se, portanto, experimentar, como também se pode inquirir a
respeito um Espírito protetor, pelos outros meios de comunicação. Conforme seja
maior ou menor o poder do médium, obtêm-se simples traços, sinais, letras,
palavras, frases e mesmo páginas inteiras. Basta de ordinário colocar uma folha
de papel dobrada num lugar qualquer, ou indicado pelo Espírito, durante dez
minutos, ou um quarto de hora, às vezes mais. A prece e o recolhimento são
condições essenciais; é por isso que se pode considerar impossível a obtenção
de coisa alguma, numa reunião de pessoas pouco sérias, ou não animadas de
sentimentos de simpatia e benevolência. (Veja-se a teoria da escrita direta,
capítulo VIII, Laboratório do mundo invisível, nº 127 e seguintes, e capítulo
XII, Pneumatografia) Trataremos de modo especial dos médiuns escreventes nos
capítulos que se seguem. DOS MÉDIUNS
ESCREVENTES OU PSICÓGRAFOS. Médiuns mecânicos, intuitivos, semi
mecânicos, inspirados ou involuntários; de pressentimentos. De todos os
meios de comunicação, a escrita manual é o mais simples, mais cômodo e,
sobretudo, mais completo. Para ele devem tender todos os esforços, porquanto
permite se estabeleçam, com os Espíritos, relações tão continuadas e regulares,
como as que existem entre nós. Com tanto mais afinco deve ser empregado, quanto
é por ele que os Espíritos revelam melhor sua natureza e o grau do seu
aperfeiçoamento, ou da sua inferioridade. Pela facilidade que encontram em
exprimir-se por esse meio, eles nos revelam seus mais íntimos pensamentos e nos
facultam julgá-los e apreciar o valor. Para o médium, a faculdade de escrever
é, além disso, a mais suscetível de desenvolver-se pelo exercício. Médiuns mecânicos. Quem
examinar certos efeitos que se produzem nos movimentos da mesa, da cesta, ou da
prancheta que escreve não poderá duvidar de uma ação diretamente exercida pelo
Espírito sobre esses objetos. A cesta se agita por vezes com tanta violência,
que escapa das mãos do médium e não raro se dirige a certas pessoas da
assistência para nelas bater. Outras vezes, seus movimentos dão mostra de um
sentimento afetuoso. O mesmo ocorre quando o lápis está colocado na mão do
médium; frequentemente é atirado longe com força, ou, então, a mão, bem como a
cesta, se agitam convulsivamente e batem na mesa de modo colérico, ainda quando
o médium está possuído da maior calma e se admira de não ser senhor de si
Digamos, de passagem, que tais efeitos demonstram sempre a presença de
Espíritos imperfeitos; os Espíritos superiores são constantemente calmos,
dignos e benévolos; se não são escutados convenientemente, retiram-se e outros
lhes tomam o lugar. Pode, pois, o Espírito exprimir diretamente suas ideias,
quer movimentando um objeto a que a mão do médium serve de simples ponto de
apoio, quer acionando a própria mão. Quando atua diretamente sobre a mão,
o Espírito lhe dá uma impulsão de todo independente da vontade deste último.
Ela se move sem interrupção e sem embargo do médium, enquanto o Espírito tem
alguma coisa que dizer, e para, assim ele acaba. Nesta circunstância, o
que caracteriza o fenômeno é que o médium não tem a menor consciência do que
escreve. Quando se dá, no caso, a inconsciência absoluta; têm-se os médiuns
chamados passivos ou mecânicos. E preciosa esta faculdade, por não permitir dúvida
alguma sobre a independência do pensamento daquele que escreve. Médiuns intuitivos. A
transmissão do pensamento também se dá por meio do Espírito do médium, ou,
melhor, de sua alma, pois que por este nome designamos o Espírito encarnado. O
Espírito livre, neste caso, não atua sobre a mão, para fazê-la escrever; não a
toma, não a guia. Atua sobre a alma, com a qual se identifica. A alma, sob esse
impulso, dirige a mão e està dirige o lápis. Notemos aqui uma coisa
importante: é que o Espírito livre não se substitui à alma, visto que não a
pode deslocar. Domina-a, mau grado seu, e lhe imprime a sua vontade. Em tal
circunstância, o papel da alma não é o de inteira passividade; ela recebe o
pensamento do Espírito livre e o transmite. Nessa situação, o médium tem
consciência do que escreve, embora não exprima o seu próprio pensamento. E o
que se chama médium intuitivo. Mas, sendo assim, dir-se-á, nada prova seja um
Espírito estranho quem escreve e não o do médium. Efetivamente, a distinção é
às vezes difícil de fazer-se, porém, pode acontecer que isso pouca importância
apresente. Todavia, é possível reconhecer-se o pensamento sugerido, por não ser
nunca preconcebido; nasce à medida que a escrita vai sendo traçada e, amiúde, é
contrário à ideia que antecipadamente se formara. Pode mesmo estar fora dos
limites dos conhecimentos e capacidades do médium. O papel do médium
mecânico é o de uma máquina; o médium intuitivo age como o faria um intérprete.
Este, de fato, para transmitir o pensamento, precisa compreendê-lo,
apropriar-se dele, de certo modo, para traduzi-lo fielmente e, no entanto, esse
pensamento não é seu, apenas lhe atravessa o cérebro. Tal precisamente o papel
do médium intuitivo. Médiuns
semi mecânicos. No médium puramente mecânico, o movimento da
mão independe da vontade; no médium intuitivo, o movimento é voluntário e
facultativo. O médium semi mecânico participa de ambos esses gêneros. Sente que
à sua mão uma impulsão é dada, mau grado seu, mas, ao mesmo tempo, tem
consciência do que escreve, à medida que as palavras se formam. No primeiro o
pensamento vem depois do ato da escrita; no segundo, precede-o; no terceiro,
acompanha-o. Estes últimos médiuns são os mais numerosos. Médiuns inspirados. Todo aquele
que, tanto no estado normal, como no de êxtase, recebe, pelo pensamento,
comunicações estranhas às suas idéias preconcebidas, pode ser incluído na
categoria dos médiuns inspirados. Estes, como se vê, formam uma variedade da
mediunidade intuitiva, com a diferença de que a intervenção de uma força oculta
é aí muito menos sensível, por isso que, ao inspirado, ainda é mais difícil
distinguir o pensamento próprio do que lhe é sugerido. A espontaneidade é o
que, sobretudo, caracteriza o pensamento deste último gênero. A inspiração nos
vem dos Espíritos que nos influenciam para o bem, ou para o mal, porém,
procede, principalmente, dos que querem o nosso bem e cujos conselhos muito
amiúde cometemos o erro de não seguir. Ela se aplica, em todas as
circunstâncias da vida, às resoluções que devamos tomar. Sob esse aspecto, pode
dizer-se que todos são médiuns, porquanto não há quem não tenha seus Espíritos
protetores e familiares, a se esforçarem por sugerir aos protegidos salutares
idéias. Se todos estivessem bem compenetrados desta verdade, ninguém deixaria
de recorrer com frequência à inspiração do seu anjo de guarda, nos momentos em
que se não sabe o que dizer, ou fazer. Que cada um, pois, o invoque com fervor
e confiança, em caso de necessidade, e muito frequentemente se admirará das
ideias que lhe surgem como por encanto, quer se trate de uma resolução a tomar,
quer de alguma coisa a compor. Se nenhuma ideia surge, é que é preciso esperar.
A prova de que a ideia que sobrevém é estranha à pessoa de quem se trate está
em que, se tal ideia lhe existira na mente, essa pessoa seria a qualquer
momento, utilizá-la e não haveria razão para que ela se não manifestasse à
vontade. Quem não é cego nada mais precisa fazer do que abrir os olhos, para
ver quando quiser. Do mesmo modo, aquele que possui ideias próprias tem-nas sempre
à disposição. Se elas não lhes vêm quando quer, é que está obrigado a buscá-las
algures, que não no seu íntimo. Também se podem incluir nesta categoria as
pessoas que, sem serem dotadas de inteligência fora do comum e sem saírem do
estado normal, têm relâmpagos de uma lucidez intelectual que lhes dá
momentaneamente inabitual facilidade de concepção e de elocução e, em certos
casos, o pressentimento de coisas futuras. Nesses momentos, que com acerto se
chamam de inspiração, as ideias abundam, sob um impulso involuntário e quase
febril. Parece que uma inteligência superior nos vem ajudar e que o nosso
espírito se desembaraçou de um fardo. Os homens de gênio, de todas as
espécies, artistas, sábios, literatos, são sem dúvida Espíritos adiantados, capazes
de compreender por si mesmos e de conceber grandes coisas. Ora, precisamente
porque os julgam capazes, é que os Espíritos, quando querem executar certos
trabalhos, lhes sugerem as ideias necessárias e assim é que eles, as mais das
vezes, são médiuns sem o saberem. Têm, no entanto, vaga intuição de uma
assistência estranha, visto que todo aquele que apela para a inspiração, mais
não faz do que uma evocação. Se não esperasse ser atendido, por que exclamaria,
tão frequentemente: meu bom gênio, vem em meu auxílio? As respostas
seguintes confirmam esta asserção: a) Qual a causa primária da
inspiração? "O Espírito que se comunica pelo
pensamento." b) A revelação das grandes coisas não é que constitui
o objeto único da inspiração? "Não, a inspiração se
verifica, muitas vezes, com relação às mais comuns circunstâncias da vida. Por
exemplo, queres ir a alguma parte: uma voz secreta te diz que não o faças,
porque correrás perigo; ou, então, te diz que faças uma coisa em que não
pensavas. É a inspiração. Poucas pessoas há que não tenham sido mais ou menos
inspiradas em certos momentos." c) Um autor, um pintor, um músico, por
exemplo, poderiam, nos momentos de inspiração, ser considerados médiuns? "Sim,
porquanto, nesses momentos, a alma se lhes torna mais livre e como que
desprendida da matéria; recobra uma parte das suas faculdades de Espírito e
recebe mais facilmente as comunicações dos outros Espíritos que a
inspiram." Médiuns de
pressentimentos. O pressentimento é uma intuição vaga das coisas futuras. Algumas
pessoas têm essa faculdade mais ou menos desenvolvida. Pode ser devida a uma
espécie de dupla vista, que lhes permite entrever as consequências das coisas
atuais e a filiação dos acontecimentos. Mas, muitas vezes, também é resultado
de comunicações ocultas e, sobretudo neste caso, é que se pode dar aos que dela
são dotados o nome de médiuns de pressentimentos, que constituem uma variedade
dos médiuns inspirados. Livro dos Médiuns – Capítulo XIV. www.institutoandreluiz.org.
Abraço. Davi.
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