Espiritismo. www.eradoespirito.blogspot.com.
Agradecimento à Eliana Ferrer Haddad pela sugestão do tema. O SUICÍDIO NA VISÃO
ESPÍRITA E DE OUTRAS RELIGIÕES. Se cada fase da vida tem algo de importante par
nos ensinar, é preciso descobrir o que está reservado para nós no ocaso da
existência. A. Trigueiro, “Viver é a melhor opção”. MUITAS VEZES, VIVER É UM
ATO DE CORAGEM – Sêneca (4 AC 65 DC). Diz-se que “religião não se discute”,
entretanto, é na religião que encontramos uma das maiores forças de manutenção
da vida humana. Um assunto que mostra todo poder da religião é a questão do
suicídio. André Tregueiro (1966- ) recentemente lançou um livro sobre esse
tema. Lembro-me de ler alguém reclamando que essa obra só apresenta a visão
espírito do suicídio. Neste post fazemos um resumo dessa breve pesquisa. É
interessante comparar as justificativas para a condenação do suicídio nessas
diversas visões com a perspectiva espírita, que traz uma novidade. É
interessante também observar que há exceções à condenação do “matar-se a si
mesmo”, de acordo com as referências de várias religiões. Já escrevemos algo
sobre um tipo de suicídio neste blog. Mas, como se manifestam as diversas
religiões sobre ele? Mais importante do que isso, como elas justificam suas
posições? Há duas bases para se posicionar em relação ao suicídio: 1. A visão de princípios. 2. A visão das consequências do suicídio. Para se convencer disso, basta considerar que, para doutrinas
materialistas, a questão do suicídio é de reduzida importância, pois não há
alma nem sobrevivência. A lógica materialista acredita que vale a pena
continuar a viver desde que existam vantagens em existir. Desaparecendo essas
vantagens, cessa também a necessidade de viver. Portanto, a vida para o
materialismo não tem valor em si, mas é relevante apenas como condição para
eventuais prazeres em existir: O que faz a vida merecer ser vivida?
Certamente muito mais ceder ao sangue suicida, que há em mim e procurar o
esquecimento no abraço frio da morte. Zane Grey
(1872-1939). Podemos falar em um "valor da vida" para cada visão
religiosa - incluindo o materialismo - que é derivado da visão que cada
doutrina tem da existência humana. Uma vez que o assunto é complexo, optamos
por apresentar tudo em apenas um único post que, por isso, resultou extenso.
Isso não significa que o assunto tenha sido exaurido. O que colocamos abaixo é
apenas um resumo. A referência principal que usamos aqui como orientação pode
ser lida integralmente em. Judaísmo. De acordo com a lei mosaica. O suicídio é proibido pela lei Judaica. O
Judaísmo tradicionalmente vê o suicídio como um pecado. Não é visto como
alternativa a se cometer certos pecados capitais que justificariam abandonar a
vida ao invés de cometê-los. Entretanto, não há referências explícitas
no Talmude sobre o
suicídio. A fundamentação é, portanto, de princípios e baseada em
interpretações do texto bíblico. Estudiosos e autoridades no Judaísmo porém,
podem suspender a proibição do suicídio em determinadas circunstâncias, como
foi o caso de Jacob Emden,
que afirmou ser o suicídio uma opção a alguém condenado à pena de morte. O
suicídio seria então uma maneira de se expiar o pecado que originou a
condenação. Catolicismo. Como é bastante conhecido, o Catolicismo
explicitamente condena o suicídio. A razão também tem com base princípios como
a proibição "Não matarás" (Êxodo 20:13), ou uma lógica como a
que se lê em: O
suicídio contradiz a inclinação natural do ser humano em se preservar
e perpetuar. Ele se coloca gravemente em oposição ao amor por si
próprio. Ele também ofende o amor ao próximo, porque injustamente quebra os
laços de solidariedade com a família, nação e outras sociedades humanas para as
quais temos obrigações. O suicídio é contrário ao amor ao Deus vivo.
(parágrafo 2281). É possível lembrar que
a condenação ao Inferno sempre correu em paralelo com a condenação do suicídio
em diversas religiões cristãs. Entretanto, em uma versão moderna do catecismo
da Igreja podemos ler: Não se deve temer pela punição eterna das
pessoas que tiraram suas próprias vidas. Por meios apenas conhecidos por Ele,
Deus pode conceder oportunidade de arrependimento. A Igreja ora pelas pessoas
que tiraram suas próprias vidas. (parágrafo 2283, grifo meu). Por que a Igreja teria
deixado de ameaçar com o inferno os suicidas? Talvez a condenação eterna esteja
muito desacreditada na modernidade e a estratégia de se abrandar a pena
recorrendo a um possível meio "somente conhecido por Deus" é mais
lógica diante da crença maior em um Deus bom. Com bases semelhantes,
religiões de origem protestante também condenam o suicídio. É interessante ir à
origem dos movimentos protestantes e de lá extrair uma perspectiva mais moderna
sobre o suicídio. Assim, para a Igreja Luterana: Certamente, não temos
o desejo de condenar ninguém que opte pela auto destruição. É impossível a nós
descer a níveis tão baixos, em que muitos cristãos chegam, e irresponsavelmente
cometem tais atos. Talvez o Senhor não os julgará responsáveis, mas nós não sabemos. Esse mesmo texto cita uma passagem em
que Lutero
(1483-1546) afirmou: Não tenho certeza se os suicidas certamente
estão condenados. Penso que eles talvez não quisessem se suicidar, mas
capitularam frente ao poder do demônio. Desde esse ponto de
vista, o suicídio não pode ser automaticamente condenado porque as razões para
o ato são desconhecidas (a decisão de se matar segue sentimentos e intenções
privadas do indivíduo). Lutero ainda foi perspicaz o suficiente em ressaltar
que sua opinião não implicava na redução da gravidade do suicídio como pecado. A opinião presente dos evangélicos nacionais sobre o suicídio
pode ser lida aqui: As Escrituras Sagradas relatam a história de
algumas pessoas que cometeram suicídio, dentre estas: Saul (I Samuel 31:4),
Aitofel (II Samuel 17:23), Zinri (I Reis 16:18) e Judas (Mateus 27:5). Todos
foram maus, perversos e pecadores, o que provavelmente após a morte
experimentaram a condenação eterna. Ora, sem a menor sombra de dúvidas a Bíblia
vê o suicídio do mesmo modo que o assassinato – e assim o é – um
auto-assassinato. Cabe a Deus decidir quando e como a pessoa morrerá. Tomar de
assalto este por em suas próprias mãos, de acordo com a Bíblia, é atentar
contra Deus. Admitido isso, também não creem que um
"cristão verdadeiro" perca sua salvação com o suicídio. Islã. A recente onda de
atentados de fundamentalistas islâmicos no ocidente por suicídio pode levar a
se pensar que o suicídio seja amplamente aprovado pelo Islã, mas isso não é
verdade. De acordo com: E não se matem. Certamente Alá será mais
misericordioso convosco. Corão, Sura 4 (An-Nisa). Ayat 29. E, nos ditados de Maomé,
suicidas são condenados explicitamente ao inferno. Porém, segundo Daud Matthews
(8), não se deve julgar quem se suicida porque não são conhecidas as
circunstâncias que levaram à decisão de se matar: Aqui só podemos
afirmar o que o Islã diz sobre o suicídio como ato. Ainda assim, não podemos
julgar um caso específico de suicídio porque nunca sabemos o que
apenas Alá sabe sobre o estado do suicida no momento em
que comete o ato. Uma pessoa que parece se atirar de uma sacada
pode ter caído por acidente, o que não sabemos. Assim, nunca devemos julgar e
deixamos que isso seja feito pelo Criador que definitivamente sabe
muito mais do que nós. Como pode então existir fundamentalistas
islâmicos que se suicidam em nome do Islã? É que, como todas as religiões
antigas, o Islamismo se fragmentou em muitas vertentes interpretativas e
algumas delas sustentam que o suicídio deve ser incentivado se for feito com
objetivo de guerra religiosa. Não é na origem do movimento que devemos procurar
os problemas que surgiram com as várias religiões, mas nos seguidores que
interpretam de forma diferente os fundamentos. Hinduísmo. A pratica do Sati era um rito funeral em certas
comunidades asiáticas em que viúvas recentes cometiam suicídio atirando-se no
fogo da pira funerária de seus maridos. Foi banida pelos Britânicos no século
XIX. De acordo com Jaraya.
O suicídio em Sânscrito é chamado
"Atmahatya" que significa matar a própria alma. Essa
palavra representa amplamente a atitude do Hinduísmo para com o suicídio.
Suicídio é matar a si mesmo, pura e simplesmente. Porque o Hinduísmo vê o
suicídio de forma tão negativa, como um ato desprezível e um pecado, pode ser
entendido pelas seguintes razões (...). Uma lista resumida dessas causas é fornecida na continuação do
texto: "porque o Hinduísmo vê a vida como sagrada (mesmo a de insetos e
animais), porque cada ser humano tem um papel e responsabilidade a desempenhar
no mundo, porque o suicídio, motivado por paixões más, ignorância e ilusão,
representa mau uso da autonomia que Deus deu ao homem e porque, com a vida, o
homem tem obrigações para consigo mesmo, com os outros, os deuses e com seus
ancestrais". Entretanto, o
Hinduísmo mantem uma crença estranha de que o suicídio é permitido em alguns
casos, principalmente se cometidos por gurus como um ato de auto sacrifício ou
imolação. De acordo com tal crença, casos de imolação por fogo (agnipravesa),
fome lenta (prayopavesa) ou por suspensão da respiração (entrada no
estado de samadhi) são considerados suicídios válidos. Portanto,
para o Hinduísmo, apenas é condenável o suicídio por razões banais ou por auto
ilusão. Budismo. Das doutrinas antigas, o Budismo pode ser considerado uma das
mais sofisticadas: O Budismo ensina que
todas as pessoas experimentam o sofrimento (dukka), que se origina
primariamente de atos anteriores negativos (karma) ou que resultam do
processo natural do ciclo de nascimento e morte (samsara). Outras razões
para a prevalência do sofrimento dizem respeito ao conceito de ilusão (maya).
Uma vez que tudo está em estado constante de impermanência ou fluxo, indivíduos
passam por insatisfação com os eventos naturais da vida. Para quebrar a
samsara, o Budismo advoca o nobre caminho óctuplo e não apoia o suicídio. Como o primeiro preceito determina que não se
tire a vida de ninguém - inclusive a própria - o suicídio é considerado um ato
negativo pelo Budismo. De acordo com a crença, alguém que cometa suicídio por
razões negativas pode renascer em condições bastante tristes como consequência
de seus pensamentos negativos. Para o Budismo, a condenação do suicídio não
pode ser absoluta, devendo-se observar as razões do ato que, se negativas, são
contrárias ao caminho da iluminação. Mesmo assim, na tradição Budista, há duas estórias de monges que
estavam muito próximos da morte e que, afirmando terem atingido a iluminação,
cometeram suicídio - ou o que seria hoje conhecido como "eutanásia".
Tais contos implicam que o Budismo antigo pôde aceitar o suicídio em certas circunstâncias
(que não envolvem pensamentos negativos). Entretanto, conforme o texto (3)
explica, "pessoas que alcançaram a iluminação não cometem suicídio",
o que ressalta a opinião negativa que o Budismo tem hoje do suicídio. Xintoísmo.
O excessivo caso de suicídios no
Japão (11) leva a se considerar influências culturais e religiosas nessa
prática. A religião nacional do Japão é o Xintoísmo. Diz-se que o
Xintoísmo é excessivamente condescendente com os suicidas. A origem pode ser a
crença de que a vida continua na forma
os Kamis (deuses) e que a morte nada significa além da
continuidade. Mas sobre esse aparente apoio dado ao suicídio, encontramos vozes
no Japão que se colocam contra alguns posicionamentos ocidentais: Um simpósio entre religiões no Japão explorou
as atitudes das comunidades japonesas com o suicídio, incluindo o uso comum do
termo "morte voluntária" - escreve Hisashi Yukimoto. Promovido pela
conferência dos bispos católicos do Japão, a conferência considerou a tendência
recente de se designar o suicídio pelo termo "jishi" - que significa
"morte voluntária" ou "matar-se a si mesmo". Muitas pessoas,
incluindo membros de famílias enlutadas, agora preferem usar "jishi"
(o título oficial do encontro foi "A missão dos religiosos - sobre a morte
voluntária"). Um dos conferencistas,
Wataru Kaya, um sacerdote xintoísta e psiquiatra, enfatizou a
importância das preces e da compaixão para aqueles que se matam
voluntariamente, com base na cultura tradicional japonesa. Ele reiterou que o
Xintoísmo "não vê a morte voluntária como um mal absoluto". Mas, Hiroshi Saito, que gerencia o escritório
de estudos do Instituto da Doutrina Oomoto. Um cisma xintoísta, desde 1892,
observa que o cânon Oomoto diz: "O suicídio é um pecado
entre os pecados". Advertiu ainda, "ao se usar o termo 'morte
voluntária', acredito que o sentido de pecado que existe ao se praticar o
suicídio está sendo inconscientemente reduzido". Saito criticou as
considerações de José M. Bertolote, do Departamento de Saúde Mental da
Organização Mundial de Saúde que, em um artigo na revista "The
Economist", disse que o suicídio no Japão é parte de uma cultura que prega
ainda "o padrão ético de se preservar a honra e se fazer responsável por
meio do suicídio". Saito afirmou que essas são "visões muito
tendenciosas...Poucas pessoas veem o suicídio hoje no Japão como uma
virtude". Espiritismo. Além de outras obras fundamentais, a questão
do suicídio foi introduzida por A. Kardec na IV Parte de "O Livro dos
Espíritos", mais precisamente entre as questões 944 e 957. O assunto se
inicia pela questão #944: 944. Tem o homem o direito de dispor da sua vida? Não; só a
Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão da lei
divina. a) – Não é sempre voluntário o suicídio? O louco que se mata não
sabe o que faz. É importante
considerar, porém que, para o Espiritismo, o suicídio deve ser evitado a todo
custo por causa das consequências do ato que são positivamente estudadas por
meio de comunicações mediúnicas. Trata-se, assim, de uma extensão do suicídio
frustrado. Mesmo para o materialismo, o suicídio pode não valer pena se
o suicida não tiver competência suficiente para se matar e, do ato,
resultarem sequelas e piora da situação. Suicidas em desespero podem não
calcular corretamente o risco a que estão sujeitos, caso não consigam se livrar
completamente de suas vidas. Tomando como ponto de partida que o
suicídio foi motivado por pensamentos e intenções negativas, a IV
Parte do "Livro dos Espíritos" exploras os possíveis caminhos
morais que o suicida poderia tomar caso raciocinasse diferente. Com certo
escrutínio psicológico, os Espíritos identificam a grande causa como a falta
de fé no futuro a principal razão para o ato suicida. A escalada
do suicídio nos tempos modernos confirma essa identificação porque ela tem, no
materialismo, a sua principal doutrina de apoio: A propagação das ideias materialistas é, pois,
o veneno que inocula a ideia do suicídio na maioria dos que se suicidam, e os
que se constituem apóstolos de semelhantes doutrinas assumem tremenda
responsabilidade. Com o Espiritismo, tornada impossível a dúvida, muda o
aspecto da vida. O crente sabe que a existência se prolonga indefinidamente
para lá do túmulo, mas em condições muito diversas; donde a paciência e a
resignação que o afastam muito naturalmente de pensar no suicídio; donde, em
suma, a coragem moral. (O "Evangelho S. o Espiritismo" Capítulo V, "Suicídio e Loucura". Parágrafo
16). A certeza da vida futura tem, portanto, a capacidade de anular o efeito do
suicídio nesses casos: A calma e a resignação
hauridas da maneira de encarar a vida terrestre e da fé no futuro dão ao
espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e
o suicídio. Com efeito, é certo que a maioria dos casos de loucura se deve
à comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem a coragem de
suportar. Ora, se encarando as coisas deste mundo da maneira por que o
Espiritismo faz que ele as considere, o homem recebe com indiferença, mesmo com
alegria, os reveses e as decepções que o houveram desesperado noutras
circunstâncias, evidente se torna que essa força, que o coloca acima dos
acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, a
conturbariam. (O "Evangelho S. o
Espiritismo" Capítulo V, "Suicídio e Loucura". Parágrafo 14).
Com relação ao "suicídio por sacrifício", há condições específicas
que o desqualificariam como um suicídio, conforme pode-se ler na questão #951
de "O Livro dos Espíritos": 951. Não é, às vezes, meritório o sacrifício da vida, quando
aquele que o faz visa salvar a de outrem, ou ser útil aos seus semelhantes? “Isso é sublime, conforme a intenção, e, em tal caso, o
sacrifício da vida não constitui suicídio. Mas Deus se opõe a todo sacrifício
inútil, e não o pode ver de bom grado se tem o orgulho a manchá-lo. Só o
desinteresse torna meritório o sacrifício e, algumas vezes, quem o faz guarda
oculto um pensamento, que lhe diminui o valor aos olhos de Deus”. O "valor aos olhos de Deus" é uma
designação metafórica para o real estado da consciência no momento da
realização do ato. Por sua importância, essa "exceção" é comentada
por Allan Kardec: Todo sacrifício que o
homem faça à custa da sua própria felicidade é um ato soberanamente meritório
aos olhos de Deus, porque é a prática da lei de caridade. Ora, sendo a vida o
bem terreno a que maior apreço dá o homem, não comete atentado o que a ela
renuncia pelo bem de seus semelhantes: faz um sacrifício. Mas,
antes de o cumprir, deve refletir sobre se sua vida não será mais útil do que
sua morte. (grifo meu). É claro
que o ato só é justificável se tem como consequência o bem dos
semelhantes. Dito isso, ainda assim são raríssimas as evidências
mediúnicas que atestariam essa exceção. A maior parte delas relata grandes
sofrimentos com a morte planejada. O que dizem as cartas psicografadas. Como uma extensão dos casos de sequelas de
suicídios malogrados, a visão das "consequências" se explica ao se
conhecer com precisão o estado da alma após a morte. O Espiritismo traz uma
contribuição inovadora porque afirma ser possível conhecer essa situação por
meio de evidências. Os meios de contato com os mortos constituem um
processo antigo, cuja importância para o pensamento religioso e psicológico tem
o seu reconhecimento no Espiritismo. O problema do suicídio adquire uma nova
dimensão apenas quando a visão da vida futura é aceita abertamente. Em "O Céu e o Inferno", II Parte do
Capítulo V, há duas comunicações analisadas por A. Kardec. A do "Suicida
da Samaritaine" e a do "Sr. Félicien". Há também
outros trechos, como na "Revista Espírita" de Agosto de 1860 e
Janeiro de 1869. No caso do suicida de Samaritaine, a conformação do sofrimento
pode ser lida na resposta dada à invocação do Espírito, que ainda alimentava a
ideia de desaparecer, ignorante de seu estado: 5. Que motivo vos levou a vos suicidardes?
Eu morri? (...) Não (...) habito meu corpo (...) Não sabeis quanto
sofro! (...). Asfixio (...). Que uma mão compassiva tente acabar comigo! Encontramos em nossas pesquisas 14 autores de
cartas psicografadas por Chico Xavier reportados como suicidas. Desses
destacamos como exemplo Francisco A. Nogueira Filho (1960-1978). Sua morte se
deu por enforcamento a 15 de agosto de 1978. Sobre sua carta, destacamos alguns
trechos: Ignoro que forças
indomáveis me fizeram aceitar a ideia de uma corda que me pendurasse o corpo, a
fim de que tudo acabasse para mim. (...). O que se passou, não tenho vocábulos
para contar. Quanto tempo me arrastei naquelas sombras densas,
arrependido e infeliz, não sei dizer. Tive medo da vida, sem a presença de meu pai, mas o
medo era o que eu sentia e não aquela temeridade que acabou por me perder. (...)
Depois de um tempo que para mim teve a duração de séculos, uma voz
me veio atender aos gritos de socorro... (grifos meus) A explicação para as "sobras densas" (que também
aparece nas comunicações obtidas por Kardec) pode ser achada neste comentário
de A. Kardec ("Céu e Inferno", II Parte, Cap. V, "O Suicida de
Samaritaine"): Sua alma, embora
separada do corpo, ainda está completamente mergulhada no que se poderia chamar
o turbilhão da matéria corpórea; as ideias terrestres ainda são vivazes; ele
não acredita que está morto. A "duração de séculos", em verdade, foi menos de cinco
anos, pois a data da primeira mensagem é de janeiro de 1982. Em todas essas
cartas - que tocaram profundamente os parentes e lhes serviram como lenitivos
para as dores da separação - os Espíritos suicidas reconhecem a falta, a
passagem pelo sofrimento e a perspectiva de reparação no futuro. Com
relação ao sofrimento experimentado por suicidas com a morte, já havia
observado Kardec pelas comunicações que não havia uma regra uniforme para todos
os casos: Esse estado é
frequente nos suicidas, mas nem sempre se apresenta em condições idênticas;
varia sobretudo na duração e na intensidade segundo as circunstâncias
agravantes ou atenuantes da falta. Ela é frequente entre aqueles que viveram
mais da vida material do que da vida espiritual. Em princípio, não há falta sem
punição; mas não há regra uniforme e absoluta nos meios de punição. (O Céu e o Inferno, II Parte, Exemplos,
Capítulo V - Suicidas: O suicida da Samaritaine). De fato, em uma das cartas
psicografadas, um dos autores reporta o estado de uma parenta suicida cuja
culpa não teria se estabelecido pelo seu estado de doente mental. Perspectivas
com as evidências de além tumulo. Nossa pesquisa bastante imperfeita mostra
que, embora textos considerados sagrados possam veementemente condenar os
suicidas, a maior parte das autoridades religiosas mais lúcidas são cuidadosas
em ressaltar a impossibilidade da condenação absoluta - punição eterna -
pelo desconhecimento das causas que levaram o ato. Em todos os casos, o
suicídio é condenável porque: Entende-se que o direito de subtração da vida não compete ao
homem a quem a vida foi dada por um poder superior. O suicídio rompe laços de família e de
obrigação que o indivíduo tem com sua sociedade e com o poder criador. Nossa conclusão é que, embora as diferenças patentes entre as
crenças, fundamentalmente as religiões condenam o suicídio por motivos
semelhantes. Porém, o Espiritismo permite pesquisar as consequências do ato
após a morte: Por causa do
rompimento abrupto do fluxo vital que viria a termo com a morte natural, o
suicida está exposto a uma variedade de sofrimentos cuja duração não pode ser
prevista e que gerará consequências para sua vida futura. Alguns intelectuais, ignorantes da fenomenologia psíquica,
mantem a opinião de que a visão de sofrimento dos suicidas no além túmulo é um
recurso psicológico - que se acredita inválido - para desmotivar o suicídio.
Tal como a condenação eterna, seria um recurso para "assustar criancinhas".
Ingenuamente creem eles, em sua visão materialista, que o ser não sobrevive e,
portanto, não há porque se preocupar com isso. Como já dissemos antes, o
materialismo não tem como frear o impulso suicida, sendo na verdade um
potencializador dele, porque sua principal motivação é a falta de fé no futuro
e a crença errônea de que a morte é o fim do ser. O Espiritismo, ao abrir um
canal com os mortos - antes considerado proibido ou inaceitável por algumas
religiões - permite conhecer em detalhes o estado da vida futura, conforme os
atos previamente cometidos. Trata-se, portanto, de uma extensão dos casos das
sequelas dos suicídios frustrados em estado desencarnado. Não mais nosso estado presente de compreensão se baseará em
antigas tradições ou crenças, mas na comprovação e nas evidências - que ainda
não são universalmente aceitas por razões alheias aos fatos. É um novo mundo
que se abre, permitindo o planejamento de nossas vidas pelo conhecimento das
consequências finais dos erros alheios. A certeza na continuidade abranda as
dores do agora e permite que o suicídio deixe de ser considerado como solução
final. O suicídio é, acima de tudo, um problema de saúde espiritual e como tal
deve ser tratado. www.eradoespirito.blogspot.com.
Abraço. Davi
Editor do Mosaico.
Uma oração. Divina, Santíssima e Amada Maternidade Cósmica. Concede-nos a graça
de permanecer unidos a tua beatífica bondade e compaixão. Proteja todos nós, do
egoísmo, narcisismo, masoquismo e sadismo. Elementos corruptores da vida
encarnada outorgada pela divindade. Tendo seu tempo de duração e suas
implicações cármicas em nossas ações e disciplina. Quando extrapolamos os
limites do bom senso e integração de amor com as vidas humana, animal,
vegetal e mineral. Irrefletidamente abortar a vida, fere mortalmente todo o
processo evolucionário que adiantaria nosso progresso espiritual. Regredindo em
centenas de encarnações num doloroso sofrimento, que passa a tornar-se a
marca ou sinal de nossa transgressão voluntária. Apagado posteriormente em
centenas de renascimentos para saldar esse terrível e impensado
débito. Mãe Divina, indubitavelmente, temos no sofrimento o esmerilar de
nosso quaternário inferior (físico, energético, emocional e mental), quando
passado na normalidade encarnada cotidiana. Entretanto, ele, na situação onde a
personalidade não foi formalmente destruída pelos senhores do carma, devido a
obstrução voluntária egoisticamente realizada é uma extrema desconsolação.
Podendo ser comparado ao esmagar de algumas toneladas de pedra numa bola
de grafeno (um dos metais mais duros do mundo). Na mitologia temos o
exemplo da maldição de Prometeu que acorrentado ao cume do monte Cáucaso, por
haver roubado o fogo dos deuses e dado aos homens. Por causa desse delito,
Zeus, o deus do Olimpo, ordenou que todos os dias uma águia (ou corvo) fosse ao
monte é dilacerasse o fígado do Titã Prometeu, que horas depois, começava
a regenerar-se. Mãe Divina, compunge nosso coração para aproveitar bem
cada segundo, minuto, hora, dia, mês e ano de nossa vida. Praticando o amor e
compaixão para com todos os seres, inclusive nós mesmos. Em I Samuel 2,6 é dito
"O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer a sepultura e faz tornar
a subir". Mãe Divina, guarde a todos nós muçulmanos, budistas, judeus,
hinduístas, Hare krishnas, religião afrodescendentes, cristãos e todos os
seguimentos espirituais para não atentarmos contra nossa preciosa e divina
vida. Que possamos, ao término de nossa encarnação, oferecer-te com honra
e veneração essa existência, que gratuitamente nos oferecestes, como forma
de evolução para alcançar a completude com o Espírito Eterno. Louvado seja teu
nome, Oh! Divina, Santa e Imaculada Mãe Universal. Tu que continuas intercedendo
no Trono da Graça para o bem de todos os teus filhos aqui na Terra. Amém!
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