terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O Cristo Mítico. Parte II.

Continuamos o tema O Cristo Mítico. "Ora, nos planos superiores, os símbolos representam igualmente os objetos e formam um alfabeto pitoresco empregado por todos os autores de mitos, cada um possuindo um sentido determinado. Um símbolo serve para representar certo objeto, assim coma as palavras servem para distinguir os objetos entre si. O conhecimento dos símbolos é, portanto, necessário para ler um mito, pois os primeiros autores dos grandes mitos foram sempre Iniciados habituados a empregar a língua simbólica, usando símbolos fixo e convenciona. Um símbolo oferece um sentido principal e diferentes sentidos secundários que se ligam ao primeiro. O Sol, por exemplo, é o símbolo do Logos, eis um sentido principal. Mas o Sol assinala também uma encarnação do Logos, ou ainda um qualquer dos grandes Enviados que o representam momentaneamente, como um embaixador representa seu Rei. Os grandes Iniciados, encarregados de missões especiais, que se encarnam entre os homens e com eles vivem durante algum tempo, como Reis e Instrutores, seriam designados pelos símbolo do Sol. Individualmente falando, este símbolo não lhes pertence, mas lhes é conferido por sua dignidade. Todos os que são representados por esse símbolo oferecem certas particularidades, e se encontram em certas situações conforme seu modo de atividade no decurso de suas vidas terrestres. O Sol é a sombra física ou, como é chamado, o corpo do Logos; por consequência, o seu curso anual representa a atividade dele, embora de modo imperfeito: tal uma sombra que representa os movimentos do objeto que a produz. O Logos, o Filho de Deus baixando ao plano material, tem por sombra o curso anual do Sol e esta verdade representa o Mito Solar. Assim, também uma encarnação do Logos, ou de um dos seus grandes embaixadores, se representará com uma sombra em seu corpo mortal, esta atividade do Logos. As biografias destes enviados oferecem, então, forçosamente, pontos idênticos e, ainda mais, a ausência destes pontos indicaria imediatamente que a pessoa em questão não é um embaixador com plenos poderes, mas de caráter menos importante. Assim portanto o Mito Solar é uma encarnação onde aparece, em primeiro lugar, a atividade do Logos ou Verbo no Cosmos e, em seguida, os fatos da vida de um Ser que é, ou uma encarnação do Logos ou de um dos Seus embaixadores. O Herói do mito é, geralmente, representado como um Deus ou semideus, e sua carreira será determinada pelo curso do Sol, por ser este astro a sombra do Logos. A parte do trajeto percorrida durante a vida humana é a que cai entre o solstício (direção do sol no espaço quando ele aparece em seu ponto mais distante norte ou sul entre as estrelas) de inverno, morre no equinócio (época do ano em que o Sol, em seu movimento próprio aparente na eclíptica, corta o Equador Celeste, correspondendo a igualdade de duração dos dias e das noites) da primavera e, vencedor da morte, sobe ao céu. A este respeito é interessante citar o seguinte fragmento em que o autor, colocando-se no ponto de vista mais geral, encara o mito como uma alegoria que traduz verdades internas. "A lenda diz Alfredo de Vigny (1797-1863), é, na maioria das vezes, mais verdadeira que a história, porque não refere contos incompletos e abortivos, mas o próprio gênio dos grandes homens e de grandes Nações". Este belo pensamento pode -se aplicar admiravelmente ao Evangelho, que não é apenas a narração do passado, mas a verdade de tudo o que existe e existirá eternamente. O Salvador do Mundo será sempre adorado pelos reis da inteligência, representados pelos Magos. Sempre Ele multiplicará o pão Eucarístico para alimentar e reconfortar as almas; sempre, quando O Invocarmos, à noite e no meio da tormenta, Ele virá a nós, andando sobre as águas, sempre estenderá sua mão para nos ajudar a transpor a crista das vagas; sempre há de curar nossos males e nos encher de luz; sempre, para seus fiéis, aparecerá luminoso e transfigurado, sobre o monte Tabor (em Israel), interpretando a lei de Moisés e moderando o zelo de Elias. Como veremos, os Mitos estão intimamente ligados aos Mistérios, os quais consistiam, parcialmente, em mostrar em quadros animados os acontecimentos dos mundos superiores, que terminam tomando corpo nos Mitos. Nos pseudo (falso) mistérios, as reproduções incompletas dos quadros animados dos verdadeiros mistérios eram mesmo representados em um drama e em cenas, por autores. E muitos mitos secundários são precisamente estes dramas postos em palavras. Nada de mais claro, nestas linhas, do que a história do Deus Solar; sua vida laboriosa ocupa os seis primeiros meses do ano solar, sendo os seis últimos um período de proteção e de conservação gerais; nasce sempre no solstício do inverno, depois do dia mais curto do ano, à meia noite, 24 de dezembro, quando o signo da Virgem se eleva acima do horizonte e, nascendo no momento em que surge este signo, ele é sempre posto no mundo por uma virgem que conserva sua virgindade após o nascimento da Criança Solar, como a Virgo celeste permanece intacta e pura, quando, nos céus, dá nascimento ao Sol. A criança é fraca e débil como um recém nascido, vinco ao mundo quando os dias são mais curtos e as noites mais longas(ao norte do Equador); a sua infância é rodeada de perigos, pois neste instante o reino das trevas é mais longo do que o seu; sobrevive, contudo, a todos os perigos que a ameaçam, e o dia se alonga a medida que se aproxima o equinócio da primavera; finalmente, chega o momento de sua passagem, a crucificação cuja, data varia cada ano. Certas esculturas representam o Deus Solar rodeado pelo círculo do horizonte; sua cabeça e seus pés tocam o círculo ao norte, e ao sul, suas mãos estendidas alcançam a leste e a oeste. "Ele foi crucificado". Em seguida, eleva-se triunfante e sobe ao céu; amadurece a espiga e a uva, dando sua própria vida para formar sua substância e, por eles, o corpo dos seus adoradores. O Deus, nascido no alvorecer de 25 de dezembro, é sempre crucificado no equinócio vernal (diz-se das plantas cujas flores desabrocham na primavera) dando sua vida para alimentar seus adoradores. Tais são os caracteres mais importantes do Deus Solar. A data do nascimento é fixa, a da morte é variável, e este fato torna-se dos mais significativos, quando nos lembramos que a primeira responde a uma posição solar fixa e a segunda a uma posição variável. A Páscoa é uma festa variável, calculada segundo as posições relativas do Sol e da Lua. Isto seria um modo impossível de fixar cada ano o aniversário de um acontecimento histórico, enquanto que é um modo muito natural, ou melhor, inevitável, de calcular uma festa solar. Estas datas mudáveis não se referem a história de um homem, mas ao Herói do Mito Solar. Os mesmos acontecimentos se encontram na vida dos diferentes Deuses Solares, e a antiguidade nos dá inumeráveis exemplos. A Ísis egípcia, como Maria de Belém, era Nossa Senhora Imaculada, Estrela do Mar, Rainha do Céu, Mãe de Deus; nós a vemos representada de pé sobre o crescente, coroada de estrelas; alimenta o jovem Hórus (na mitologia é considerado o deus dos céus. Possuía cabeça de falcão e corpo de humano, simbolizando a luz o poder e a realiza), e a cadeira em que está assentada, com o Filho sobre os joelhos, traz uma cruz no encosto. A Virgo do Zodíaco (relacionado aos signos Escorpião e Leão na cadeia astrológica) é representada, em certos desenhos antigos, por uma mulher amamentando uma criança, o que representa o tipo de todas as Madonas futuras com seus divinos filhos, e de onde se originou o símbolo; essa mulher, igualmente, é representada tendo em seus braços o divino Krishna (é uma figura mitológica central do Hinduísmo. Aparece em um amplo espectro de tradições filosóficas e teológicas hindus, sendo retratado em várias perspectivas: como um deus do panteão hindu, como uma encarnação de Vishnu ou ainda como a forma original e suprema de Deus. Krishna é o oitavo Avatar de Vishnu), como também Milita ou Istar em Babilônia, sempre com a coroa de estrelas, e seu filho Tamuz nos joelhos. Mercúrio, Hércules, Perseias, os Diosouros, Mitras e Zaratustra eram todos de nascimento tanto divino como humano. A relação entre o solstício de inverno e Jesus é igualmente significativo O nascimento de Mitras (ou amigo é o deus sol, da sabedoria e da guerra na mitologia Persa) era celebrado, no solstício de inverno, com grandes regozijos. Hórus também nasceu nesta data. "Seu nascimento é um dos grandes mistérios da religião egípcia. Naqueles tempos, encontram-se pinturas murais que o representam. Era filho da Divindade. Pelo natal, exatamente correspondendo a nossa festa, sua imagem era levada fora do santuário com cerimônias especiais, como em Roma a imagem do Bambino (criança) é ainda conduzida fora das igrejas, Williamson exprime-se nesses termos: "Todos os cristãos sabem que 25 de dezembro é, agora, (convencionou-se) a festa do nascimento de Jesus, mas poucas pessoas sabem que nem sempre foi assim. Cento e trinta e seis datas diferentes foram escolhidas por diversas seitas (esse termo é hoje emprego em sentido geral conotativo e não mais no aspecto estrito denotativo, estando em desuso pela linguagem culta de tradição ocidental, pois o vocábulo traz insinuação pejorativa e discriminatória) cristãs. Joseph Barber Lighfoot (1828-1889) coloca este acontecimento a 15 de setembro, outro em fevereiro ou agosto. Epifânio de Salamina (310-403) menciona duas seitas, sendo que uma celebrava o Natal em junho, a outra em julho. A questão foi definitivamente resolvida pelo Papa Júlio I (280-352), em 337, e São Crisóstomo (347-407), escrevendo em 390, diz: "Este dia, 25 de dezembro, em Roma, acaba de ser escolhido como o do nascimento de Cristo, a fim de que os pagãos, ocupados com suas cerimônias (as brumélias, em honra de Baco), deixem os cristãos celebrarem seus próprios ritos sem serem molestados". Edward Gibbon (1737-1794), na Decadência e Queda do Império Romano, diz também: "Os romanos (cristãos), tão ignorantes como seus irmãos com relação a data do nascimento do Cristo, escolheram, para festejá-la, o 25 de dezembro, no momento das brumélias do solstício de inverno, nas quais os pagãos celebram cada ano o nascimento do Sol". Charles William King (1818-1888), em Gnostic and Their Remains, diz também: "A antiga festa celebrada a 25 de dezembro, em honra do nascimento do Ser Invencível, e assinalada por grandes jogos no Circo, foi, depois, transferida para comemorar o nascimento do Cristo, cuja data certa, como confessam numerosos Padres da Igreja, era então, como hoje, desconhecida". Em nossos dias, segundo o Cônego Farrar: "Todo o esforço para descobrir o mês e o dia da Natividade tem sido inútil. Não existem dados que nos permitam determiná-los, mesmo, de maneira aproximada". Podemos concluir, do que precede, que a festa do solstício de inverno foi, na antiguidade, celebrada nos países mais afastados uns dos outros, em honra do nascimento de um Deus que se chama, quase invariavelmente, um Salvador e cuja mãe é chamada Virgem Imaculada. Enfim, as notáveis semelhanças de que demos exemplo, não só entre os nascimentos, como também entre as vidas desses Deuses Salvadores, são muito mais numerosas para se explicar por uma simples coincidência". No que concerne ao Buda (563 AC 483), é possível verificar a maneira pela qual a um Mito se liga um personagem histórico. A história de sua vida é bastante conhecida e, na maioria das narrações indianas, seu nascimento é simplesmente o de um homem; mas, segundo a versão chinesa, Ele (Buda) nasceu de uma Virgem, chamada Maiadevi, como o Mito arcaico fez dele um novo Herói. Conta-nos Williamson que, entre os povos célticos, se acendem fogueiras sobre as colinas; estes fogos, que os irlandeses e os montanheses da Escócia chamam Bheil ou Baaltine, trazem, assim, o nome de Bel, Bal ou Baal, a antiga divindade dos Celtas (atual França, Itália, Portugal, Espanha e Reino Unido), o Deus Sol, embora eles sejam, agora, dedicados ao Cristo. Sob este ponto de vista, a festa do Natal não poderia senão apresentar novos motivos de regozijo e um caráter mais sagrado, já que os servidores do Cristo, vendo nela a reprodução de antiga solenidade, a encontrariam no mundo inteiro, desde os tempos mais remotos. Os sinos de Natal ressoam através da história da humanidade, e a noite dos tempos nos envia o eco das suas harmonias vibrantes. Não é a posse exclusiva, mas a aceitação universal que dá o sinal que dá o sinal distintivo da verdade. A data da morte, como já dissemos, não é fixa como a do nascimento. A primeira é calculada segundo as posições relativas do Sol e da Lua no equinócio da primavera, que varia cada ano, e a morte de todos os Heróis Solares é celebrada nesta época. O animal que simboliza o Herói é o signo do Zodíaco, no qual o Sol atinge o equinócio vernal; ora este varia conforme a precessão dos equinócios. Na Assíria, Oanes tinha por signo Pisces, o Peixe; era considerado por esta forma. Mitra coincide  com Tauro. Osíris era adorado sob a forma de Osíris Ápis ou Serápis, o Touro. Na Babilônia, Merodache era adoraedeo sob a forma de um Touro, como o era Astarteia, na Síria. Quando o Sol está em Áries, o Carneiro ou Cordeiro, Osíris é representado sob a forma do Cordeiro; assim também  Astarteia e Júpiter Ámnon, e é ainda o mesmo animal que se torna o símbolo de Jesus, o Cordeiro de Deus. Encontra-se por toda a parte esculpido, nas catacumbas (edificação subterrânea utilizada como sepultura ou depósito de ossos de pessoas mortas), o Cordeiro como símbolo de Jesus; Ele é quase sempre assim representado apoiando-se na cruz. Williamson diz a este respeito: "O Cordeiro acabou por ser representado na cruz, mas foi durante o sexto sínodo de Constantinopla, reunido em 680, que se decidiu substituir o símbolo primitivo por uma figura humana crucificada. Este decreto foi confirmado pelo Papa Adriano I (700-795). O Peixe, símbolo dos mais antigos, é igualmente aplicado a Jesus, e assim Ele é representado nas catacumbas. A morte e a ressurreição do Herói Solar no equinócio da primavera, ou perto dele, se encontram tão amplamente difundidas como seu nascimento no solstício do inverno. É o momento em que Osíris , abatido por Tifon, é representado no círculo do horizonte, os braços estendidos, como um crucificado. Esta atitude indicava primitivamente não o sofrimento, mas a bênção. Cada ano, no equinócio da primavera, a morte de Tamuz é chorada na Babilônia e na Síria; igualmente, na Síria e na Grécia para Adônis, na Frígia para Átis, representado sob a forma de um homem cravado com um cordeiro aos pés. A morte de Mitra era celebrada e maneira semelhante na Pérsia, e a de baco e Dionísio, um só e mesmo herói, na Grécia. No México, encontramos a mesma ideia, como de ordinário, acompanhada da cruz. Em todos estes países, ao luto pela morte, sucedem-se imediatamente os regozijos pela ressurreição pela ressurreição. Notemos, a propósito, o interessante fato que a palavra "Easter" (páscoa em inglês), como verificaram os investigadores, se deriva de istar, virgem e mãe de Tamuz imolado. É igualmente significativo observar que o jejum que precede a morte, no equinócio vernal, a quaresma, se encontra no México, em Babilônia, na Assíria, no Egito, na Pérsia, na Ásia Menor (Turquia); em certos casos, a sua duração é igualmente de quarenta dias. Nos pseudos mistérios, a história do Sol era representada sob a forma de um drama; nos antigos Mistérios, o Iniciado a reproduzia em sua própria vida; eis por que os Mitos Solares e os grandes fatos da Iniciação se encontram enlaçados e confundidos. Eis por que, quando Cristo, o Messias, se torna o Cristo dos Mistérios, se ligam a Ele, renovando, assim, as velhas narrações, e que os mais recentes Instrutores Divinos  representam mais uma vez o Logos Solar. Então a festa de Sua Natividade torna-se a data imemorial em que o Sol nasceu de uma Virgem, e a alegria dos exércitos celestes enche o céu da meia noite , cantando: "Muito cedo, muito cedo, Cristo nasceu ( ... )". Trata-se de um verso do cântico de coral Christ Was Born on Christmas Day (Cristo Nasceu no Dia de Natal) de John Mason Heale.  A grande lenda do Sol tendo-se ligado a pessoa do Cristo, o signo do Cordeiro torna-se o da Sua crucificação, como o da Virgem ficou sendo o da uSua Natividade. Vimos que, se o Touro era consagrado a Mitra e o Peixe a Oanes, o Cordeiro o era ao Cristo. A razão é sempre a mesma: o Cordeiro era o signo do equinócio vernal, na época histórica em que Ele transpôs o grande círculo do horizonte e foi crucificado no espaço. Esses Mitos Solares, que se repetem através  das idades, cada vez com um herói de nome diferente, não podem ser ignorados pelo adorador. E quando são empregados como armas para destruir a majestosa figura do Cristo, é necessário não negar o fato, mas fazer compreender o sentido profundo dessas narrações e verdades espirituais, expressas veladamente por estas legendas. Por que  se combinam essas lendas com a história de Jesus? Por que se condensam em torno dele, personagem histórico? Essas narrações não se referem de modo particular a um indivíduo chamado Jesus, mas ao Cristo Universal, o homem simbolizando um Ser Divino e representando uma verdade natural fundamental, a um homem investido de uma certa função gloriosa, colocado diante da humanidade em certas condições características, tendo com ela relações particulares que se renovem de idade em idade, à medida que as gerações se sucedem e as raças se renovam. Jesus é, portanto, como todos os Seus Predecessores, o Filho do Homem, título particular  e distintivo, o de um ofício e não o de um indivíduo. O Cristo do Mito Solar era o Cristo dos Mistérios, e nós encontramos no Cristo Mítico o segredo do Cristo Místico". Abraço. Davi.

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