terça-feira, 1 de julho de 2014

A Sabedoria Divina da Gnose. Parte II.

(C.028) Continuamos nossa digressão sobre a Sabedoria Divina da Gnose baseado no texto As Revelações Secretas da Religião Cristã de Anne Besant (1847-1933) estando na página 32 e recapitulando as citações quanto ao livro serão colocadas entre aspas entretanto os comentários e acréscimos seguirão normalmente conforme a regra da língua portuguesa. "De Jâmblico o grande teurgo do terceiro e quarto século depois de Cristo muito há a aprender com relação ao fim dos mistérios. A teurgia era a magia a parte mais adiantada da ciência sacerdotal ela era praticada nos mistérios maiores para evocar a aparição dos Seres Superiores. Resumida em algumas palavras a teoria que serve de base aos mistérios é a segunda. Primeiramente o Único anterior a todos os seres, imóvel, concentrado na solidão de sua própria unidade. Dele emana o Deus supremo gerador de si mesmo, o Bem, a Fonte de todas as coisas, a Raiz, o Deus dos Deus, a Causa Primeira, cuja manifestação é a luz". Jâmblico (245-325) estudou a magia dos caldeus e a filosofia Pitagórica, Platão, Aristóteles (384 AC 322) e Plotino (204-270). Ao tomar contato com o neoplatonismo foi para Roma a fim de estudar com Porfírio (234-305) e sua amizade com esse levou-o a escrever Vida de Pitágoras (580 AC 497). Jâmblico foi um teólogo helenístico do período pré-nissênico nascido em Cálcis na Assíria considerado o fundador da chamada escola neoplatônica síria sendo seus dados biográficos imprecisos e aparentemente tomou conhecimento das doutrinas neopitagóricas por influência principal de Nicômano de Gerasa (60-120) talvez em Alexandria e do peripatetismo com Anatólio de Laodiceia (240-325). Jâmblico foi discípulo de Porfírio o Fenício e considerado o maior pupilo de Plotino o filósofo neoplatônico helenístico que com sua procura mística de união com o bem através da inteligência constituiu-se como ponto de ligação entre a filosofia grega e a sapiência alexandrina. Mudando-se para a Síria deu início à propagação de suas teses e transformou a filosofia mítica de Plotino numa Teurgia ou conjugação mágica de deuses fundando e orientando a escola neoplatônica siríaca com interesse na teologia politeísta e hoje é especialmente famoso por ter praticado especificamente a Teurgia ou trabalho divino ou a Magia Sagrada sendo sua obra composta principalmente de dez livros intitulados Resumo das Doutrinas Pitagóricas. Destes somente cinco se encontram preservados atualmente e seus escritos metafísicos estão perdidos mas suas ideias ficaram conhecidas preservadas sob forma de citação ou comentários, doxografias em escritos de diversos autores entretanto seu livro mais conhecido Sobre os Mistérios do Egito escrito em grego foi em resposta à carta de Porfírio a Amélio (220-290) refutando qualquer Teurgia e as práticas de adivinhação da época sendo esse famoso livro uma defesa da Teurgia isto é da possibilidade da manipulação mágica dos deuses em prol da satisfação de desejos humanos. Além disso atribui-se a ele as seguintes obras: De Mysteriis Liber, De Chaldaica Perfectíssima Theologia, De Descensu Animae e De Diis mas destas somente alguns fragmentos sobreviveram até nossos dias e os eruditos creem que ele foi um espírita um médium no sentido popular porém parece mais fácil justificar que ele opunha-se definitivamente a tal prática. Além deste filósofo os principais representantes de sua escola foram Déxipo (350), Sópatro de Apaméia e Teodoro de Asine (300) este o mais proeminente e seu discípulo mais conhecido de todos os seus discípulos diretos entretanto as principais influências exercidas pelo seu pensamento incidem sobre as teses de Proclo (412-485) e de Juliano o Apóstata (331-363) em sua tentativa de reviver o paganismo em resumo lecionou em Apaméia e diz-se que sucedeu à Porfírio na escola neoplatônica e a transportou para Pérgamo e depois para Alexandria sendo o local de sua morte incerto. A alma também é um elo à inteligência pura que é impessoal e universal e o mundo sensível contendo todas as forças inteligentes da realidade os logoi de tudo o que existe a alma é o exemplo paradigmático em relação à natureza material  e a imagem da hipóstase intelectual. Assim os poderes reflexivos e executivos da alma são ligados e ambos trabalham diretamente pelo bem do mundo. A filosofia é crucial para a capacidade da alma em se tornar uma imagem precisa dos reinos transcendentais de maior unidade manifesta-se em ação como harmonia e em pensamento como beatitude e a ética é fundamental para a habilidade da alma de ser um paradigma da natureza que contribuia para o bem de todos os seres. Para Jâmblico falar da descida e subida da alma é como falar da aurora e do ocaso o que é conveniente mas falando estritamente impreciso nada pode se mover para fora de sua ordem e nível mas pode obscurecer a radiação numinosa em si mesma e deste modo pode cair enfraquecendo toda a ordem ou pode esforçar-se para refletir aquela radiação mais completamente e aspirando restabelece toda a ordem. Aplicado a antropologia de Jâmblico isto significa que cada alma tem sua própria peregrinação mas seu destino é causalmente ligado ao destino de todas as outras almas e seres portanto a ética não pode ser divorciada da Teurgia. As miríades de níveis de seres matemáticamente estruturados e ontologicamente inter relacionados correspondem as hierárquias dos deuses desde o completamente inefável até as hostes de espíritos da natureza. A Teurgia lida com a transformação da natureza através da auto transformação vista como a interação de inteligências envolvendo ritos, sacrifícios e invocações. A sabedoria é magia embora nem toda magia seja sabedoria e este é o motivo pelo qual quem deseja comungar com o Divino deve cultivar em si mesmo a filosofia, o amor à sabedoria, e não simplesmente o amor a magia. Qualquer sacrifício ou ritual oferecido aos deuses é eficaz mas uma vez que o universo é uma geometria viva cada som, número, cor e ação corresponde a alguma ordem de seres inteligentes. A natureza do sacrifício e o estado da mente com que se oferece determina o deus que ele invoca sendo a pessoa que deve ter mente e coração puros bem como deve possuir conhecimentos se não deseja atrair um demônio ou oferenda indigna ou estranha aos deuses. Poderes considerados remotos pelos homens comuns podem ser obtidos como demonstrou Pitágoras e era acreditado pelo próprio Jâmblico. É desastroso procurá-los por si mesmo pois sempre na ordem Teurgica as naturezas secundárias são invocadas através das primárias e isto requer verdadeiro conhecimento espiritual essencial para toda atividade sacrificial e a prece coletiva ou a meditação no Divino podem levar ao contato com a divindade sendo a comunhão consensual, transcendendo a falta e o conceito invoca os dons dos deuses mas o selo da união inefável com os deuses leva a alma a repousar na Deidade. Embora Jâmblico fosse caluniado pela igreja como instrutor das superstições ditas Pagãs e esquecido por uma tradição filosófica que preferiu ignorar o significado espiritual da Teurgia aqueles que o estudaram chegaram a conclusões diferentes. Proclo e outros chamaram-no divino e o imperador Juliano escreveu que ele tinha uma mente igual a de Platão. Como todos daquela linha de instrutores da qual ele veio o pensamento sutil e vida disciplinada de Jâmblico serviram para emitir uma mensagem simples para a humanidade. O contínuo exercício da prece cultiva o vigor de nosso intelecto e torna os receptáculos da alma muito mais capazes para as comunicações dos deuses igualmente é a chave divina que abre aos homens a porta para os deuses e nos acostuma aos esplêndidos rios de luz suprema em um curto período ela aperfeiçoa nossos recessos mais íntimos e os dispõe para o abraço inefável e o contato com os deuses e não desiste até que nos leva ao topo de tudo. "Deste surge o mundo inteligível ou Universo Ideal, a Mente Universal, o Nous, do qual dependem os deuses incorpóreos e intelectuais. Do Nous procede a Alma do Mundo à qual pertencem as formas divinas intelectuais que acompanham os corpos visíveis dos deuses", A influência de Plotino e dos neoplatônicos sobre o pensamento Cristão, Islâmico e Judaico foi representativa para escritores como Gregório de Nazianzo, Gregório de Nissa, Santo Agostinho, Pseudo Dionísio o Areopagita, Boécio, João  de Escoto, Alberto Magno, Santo Tomás de Aquino, Dante Alighieri, Mestre Eckhart, Johannes Tauber, Nicolau de Cusa, São João da Cruz, Marsílio Ficino, Pico de la Mirandola, Giordano Bruno, Avicena, Ibn Gabirol, Espinosa, Coleridge, Henry Bergson e Máximo o Confessor. Plotino dividia o universo em três hipóstases: o Uno, o Nous - mente - e a alma. O Uno segundo Plotino refere-se a Deus dado que sua principal característica é a indivisibilidade, "é em virtude do Uno - unidade - que todas as coisas são coisas". O Nous termo filosófico grego que não possui uma transcrição direta para a língua portuguesa e que significa atividade do intelecto ou da razão em oposição aos sentidos materiais, "muitos autores atribuem como sinônimo a Nous os termos inteligência ou pensamento. O significado ambíguo do termo é resultado de sua constante apropriação por diversos filósofos para denominar diferentes conceitos e ideias. Nous refere-se dependendo do filósofo e do contexto a uma faculdade mental ou característica outras vezes a uma correspondente qualidade do universo ou de Deus. Homero usou o termo Nous significando atividade mental em termos gerais mas no período pré Socrático o termo foi gradualmente atribuído ao saber e a razão em contraste aos sentidos sensoriais. Anaxágoras (500 AC 428) descreveu Nous como a força motriz que formou o mundo a partir do caos original iniciando o desenvolvimento do cosmo. Platão definiu Nous como a parte racional e imortal da alma sendo o Divino e atemporal pensamento no qual às grandes verdades e conclusões emergem imediatamente sem necessidade de linguagem ou premissas preliminares. Aristóteles (384-322) associou Nous ao intelecto distinto de nossa percepção sensorial entretanto ele ainda dividiu-o entre Nous ativo e passivo sendo o último afetado pelo conhecimento e o primeiro representando a eterna primeira causa de todas as subsequentes causas no mundo e Plotino (204-270) descreveu Nous como sendo uma das emanações do Ser Divino. A Alma na Teosofia é associada ao 5º princípio do homem o Manas a Alma Humana ou Mente Divina sendo o elo entre o espírito - Atma e Budhi - e a matéria os princípios inferiores do homem. Assim a constituição sétupla do homem aceita na Teosofia adapta-se  facilmente a um sistema com três elementos: espírito, alma e corpo sendo a alma o elo entre o espírito e o corpo do homem. Plotino postulou alguns princípios fundamentais quanto ao Nous onde todo ser perfeito é causa eficiente perfeita isto é manifesta necessariamente a sua perfeição produzindo um ser à sua imagem de sorte que a sua causalidade goza de tríplice caráter: 1º. O agente dá sem nada perder como o vaso cheio transborda sem deixar de estar cheio ou como o sol que emite raios luminosos sem diminuir a luz a sua ação causal é precisamente a contemplação silenciosa da sua perfeição que se exterioriza por si mesma numa imagem. 2º. O efeito por seu lado é necessariamente semelhante à causa participando da sua perfeição que sob este ponto de vista não pode separar-se dela permanece-lhe intimamente unido e como imanente. 3º. Por outro lado a perfeição do efeito nunca pode igualar a da causa e sob esse ponto de vista todo o princípio é realmente distinto dos seus efeitos assim Plotino afirmava que é um corolário muito lógico porque seria absurdo identificar o perfeito imutável com a imagem imperfeita que dele procede mas rigorosamente falando Plotino não foi capaz de demonstrar seu princípio fundamental mas apresentou evidências comprovatórias como exemplos assim verifica-se com efeito que todos os seres em atingindo a perfeição longe de repousarem estérilmente derramam à volta a sua superabundância onde se percebe que o fogo ilumina e aquece mas a neve não conserva em si todo o frio e os objetos perfurados alegram toda a vizinhança. Nessa perspectiva o Ser Perfeito Supremo não pode ser nem cioso da sua perfeição nem impotente para a comunicar mas necessariamente há de comunicá-la assim como todo o ser perfeito na medida da sua perfeição. Mas a origem profunda da justificação deste princípio está na intuição do ser perfeito que Plotino concebe como bondade superabundante e ativa assim podemos dizer que à luz desse princípio o universo aparece constituído por uma hierarquia de seres que procedem ou emanam uns dos outros segundo a lei da degradação descendente e contínua contudo Plotino reduz ao mínimo o número de seres no mundo ideal e prova que não pode haver mais que três. 1º. O Ser necessário plenamente perfeito que tem o nome próprio de Uno e não é preciso demonstrar a sua existência porque ela se impõe por si mesma como fonte suprema de toda a realidade assim negá-la seria suprimir toda a explicação racional do universo. 2º. Imediatamente depois do Uno vem a dualidade essencial à Inteligência. 3º. Depois é a pluralidade ainda unificada na Alma. 4º. A seguir apenas se encontra a pluralidade pura e por consequência o Não-Ser que é a Matéria então O Uno, a Inteligência, a Alma, a Matéria são as quatro explicações do princípio fundamental de Plotino. Algumas curiosidade sobre Plotino. No pensamento de Santo Agostinho (354-430) o ponto de partida é a defesa dos dogmas do Cristianismo principalmente na luta contra os que ele chamava erroneamente de pagãos com as armas intelectuais disponíveis combatia ignorantemente aquilo que provinha da filosofia helenístico romana em especial dos neoplatônicos como Plotino. Pelo que sabemos foi Amônio Saccas (175-242) professor de Plotino provavelmente a usar a palavra Teosofia pela primeira vez ao se reportar às formas de pensamento que buscam explicar a natureza divina as relações com tudo o mais assim Amônio depois de abandonar a religião cristã definiu as bases da filosofia neoplatônica adotada por seus discípulos Longino (213-272) e Plotino da Escola de Alexandria. Os alunos de Plotino eram numerosos e diversificados haviam poetas, nobres, médicos, políticos e o imperador Galieno mas os alunos mais próximos foram Porfírio, Paulus, Amélius, Eustóquio e outros sendo que a maneira como Plotino escrevia despertava interesse pois basicamente usava a mesma maneira como falava e sempre visava como fim a contemplação e seus ensinamentos retornavam e se aprofundavam enquanto os estudos de seus alunos prosseguiam perfazendo um modo circular. Concluiremos o assunto na próxima parte. Abraço. Davi.

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