quarta-feira, 24 de setembro de 2025

TRABALHO DE ILUSTRAÇÃO E HÁBITOS PESSOAIS DE CONFÚCIO

Confucionismo. Biografia de Confúcio. Memória Histórica de Sima Qian. 7. TRABALHO DE ILUSTRAÇÃO E HÁBITOS PESSOAIS de Confúcio. O Duque Aí, de Lu, consultou-o sobre questões de governo, e Confúcio respondeu: - "O segredo de um governo está em escolher bem seus ministros." O Barão K' ang consultou-o sobre questões de governo, e Confúcio respondeu: - "Ponde homens corretos no poder e usei-os como exemplos para os incorretos, e os incorretos hão de voltar à correção [8] ." O Barão K'ang mostrava-se preocupado com bandidos e ladrões que infestavam o país, e Confúcio lhe disse: ,.- "Se de vossa parte não gostais de dinheiro, podeis distribuí-lo aos ladrões, e eles não o terão de roubar." Mas afinal, nem o governo de Lu achava meios de elevar Confúcio ao poder, nem ele próprio parecia desejoso de colocação oficial. Por esse tempo declinara o poderio dos imperadores Chou, as formas de procedimento social e religioso ("ritual e música") haviam degenerado, o estudo e a ilustração estavam em decadência. Confúcio pesquisou o cerimonial religioso e os documentos históricos das três dinastias (Hsia, Shang e Chou), e configurou os acontecimentos desde os imperadores Yao e Shun até à época do Duque Mu, de Ch’in, numa disposição cronológica. E certa vez comentou: "Eu seria capaz de falar sobre a ordem feudal (li ou "ritual") de Hsia, mas não há bastantes costumes remanescentes na cidade de Chi (governada pelos descendentes dos Hsia). Eu seria capaz de discutir a ordem feudal da Dinastia Shang (notoriamente governada por sacerdotes), mas não há bastantes costumes remanescentes na cidade de Sung (governada pelos descendentes dos imperadores Shang). Se houvesse bastantes vestígios eu seria capaz de evidentemente reconstituir tudo." Fez um levantamento das alterações nos costumes entre as dinastias Hsia e Shang, e, depois de observar como se modificaram tais costumes com a Dinastia Chou, falou: _ "Posso até predizer como será o desenvolvimento da História, por uma centena de gerações," Verificou que certa dinastia (Shang) representava uma cultura rica em formalidades cerimoniais, que outra (Hsia) representava uma cultura de vida simples, e que a Dinastia Chou combinara e mesclara as duas culturas precedentes de maneira equilibrada e perfeita; e assim decidiu escolher por ideal a cultura Chou". Nesse sentido preparou Confúcio uma série de obras históricas (por exemplo, o atual LIVRO DA HISTÓRIA) e profusa documentação sobre Etnologia e costumes antigos. Discutindo música, com o Grande Mestre de Música, de Lu, disse uma vez: - "Os princípios da Música devem ser conhecidos. Uma execução deveria começar tranquilamente: desdobrando-se em perfeita harmonia e clareza, e afinal culminando pela continuação ou repetição do tema. Noutra ocasião disse também: - Depois de meu regresso, de Wei a Lu; tornei-me capaz de restaurar a tradição musical e classificar a música de sung [partituras cerimoniais] e ya (música clássica de Chou ) , e de restituir aos cantares as respectivas melodias originais . Na antiguidade havia mais de três mil cantares, mas Confúcio eliminou as duplicatas e selecionou os que se apresentavam com boa forma. A coleção começava com os cantos de Ch’i e Houchi [ancestrais mitológicos dos imperadores Chou], cobria todo o largo período dos reis Shang e Chou, e estendia-se até à época dos tiranos Yu e Li. Abre-se com um cantar de amor conjugal, e a propósito se diz: "a canção Kuanchih abre a série de Fenq, Luming abre a série do Pequeno Ya, Wenwang abre a série do Grande Ya, e Ch'ingmiao abre a série de Sung."  Confúcio cantava, ele próprio, as trezentas e cinco canções, tocando as respectivas músicas num instrumento de cordas, para verificar sua adequação aos tipos hsieo, wu, ya e sung. Graças aos seus esforços a tradição da música e dos rituais antigos foi assim salva do esquecimento e transmitida à posteridade, como elementos auxiliares na realização do ideal confuciano que visava um governo de reis e o ensino das "Seis Artes". Confúcio, velho, sentiu-se atraído para o estudo do Yiking, ou Livro das Mutações - com o seu Prefácio, T'uen, Hsi, Hsienq, Shuokue e Wenyuan. Leu o YIKING a ponto de puir-se o couro (que unia as inscrições de bambu), que teve de ser mudado três vezes: e ele só dizia: - "Dei-me alguns anos mais para estudar o YIKING, e então eu ficarei conhecendo bem o sentido da mutação nos fenômenos humanos." Confúcio lecionava poesia, história, cerimonial e música, a 3.000 alunos - dos quais 72, como Yen Tut­ sou, dominavam as "Seis Artes" (a referência é certamente às "Seis Clássicas"). Grande número de pessoas vinha estudar com ele. Confúcio ensinava quatro tipos de coisas: literatura, conduta humana, autenticidade pessoal, e honestidade nas relações sociais. Condenava (ou tentava por todos os meios evitar) quatro coisas: arbitrariedade de opiniões, dogmatismo, estreiteza de espírito, e egotismo. Mostrava interesse e cuidado com respeito a três circunstâncias: o banho cerimonial (na preparação para os cultos), a guerra e a enfermidade. Raramente falava sobre lucros, desígnios do Céu ou destino ou fatalidade ou sobre o "homem de verdade". Se um indivíduo não se mostrava profundamente inclinado ou determinado a encontrar a verdade. Confúcio não tentaria explicar e estimular-lhe o pensamento; se lhe dizia uma quarta parte do que teria a dizer e esse indivíduo, por si mesmo, não chegasse a perceber as três quartas partes restantes. Confúcio não tornaria a ensinar-lhe coisa alguma.[12] Em sua vida privada[13], na aldeia onde nascera ou com a sua gente, era gentil e cordial - como alguém que não era de muito falar e que, entretanto, nos lugares de culto público e nas cortes, mostrava-se loquaz, escolhendo minuciosamente as palavras. Na corte, falava serenamente, respeitoso para com os superiores e quase afável para com os subalternos. Ao entrar num recinto público, era seu costume curvar-se e logo avançar rápido para a frente. Quando lhe chegava um mensageiro do rei, assumia um ar grave; e quando um rei o convocava, ia sem esperar pela carruagem. Quando a carne ou o peixe não estavam frescos, ou quando não eram bem cortados, Confúcio não os comia. Quando a esteira não estava bem estendida, ele não se sentava. Em companhia de pessoas de luto, jamais comia até locupletar-se: e se havia de chorar (em cerimônias fúnebres), não cantava no mesmo dia. Ao avistar pessoas enlutadas ou quando passava por algum cego, alterava-se lhe o semblante, ainda que se tratasse de uma criança. "Nunca saí a passeio com três pessoas sem achar que pelo menos uma delas tivesse algo a ensinar-me" - dizia. E ainda:- "As coisas que me preocupam e temo, são: que eu me tenha esquecido de aperfeiçoar o meu caráter, que eu tenha negligenciado meus estudos, que eu não tenha sido capaz de seguir o caminho certo percebido por mim, e que eu não tenha sido capaz de corrigir meus próprios erros." Quando ouvia um homem cantar, e gostava, pedia-lhe que repetisse, e então fazia ouvir também a sua voz nos estribilhos. Recusava-se a falar e discutir sobre mitologia, proezas físicas exibicionistas, pessoas insubordinadas, e espíritos sobrenaturaisSobre Confúcio, disse Tsekung: - "O Mestre ensinava-nos literatura e ilustração: isto pôde-se aprender com ele, o que não se pôde aprender com ele, o que não nos ensinou, foi o que pensava sobre a Natureza (ou o Céu) e seus desígnios." Yen Yuan, ou Yen Huei, suspirava e fabulava: - "Levantais a cabeça e o fitais, e ele vos parece altíssimo; tentais penetrá-lo e parece duríssimo; dá a impressão de estar à vossa frente e de repente o tendes atrás de vós. O Mestre é muito bom, disposto sempre a conduzir e ensinar alguém. A mim ensinou a tornar-me maior, lendo boa literatura, e a controlar-me pela observância da conduta adequada. Dou-me por encaminhado, mas depois de ter feito o máximo que podia e desenvolvido o que havia de melhor em mim, algo ainda o Mestre reserva que eu não consigo apreender. Por mais que eu faça para chegar à sua condição, não há meios." Um moço de Tah­siang chegou a dizer: - "Grande é Confúcio! Tudo sabe, e em nada se especializa." Ao ter conhecimento disso, Confúcio ponderou: - "Em que me hei de especializar? Em manejar arco e flecha, em guiar carruagens?”  Tselu falou: - "De si próprio, o que Confúcio diz é que não ingressou no governo e assim teve tempo bastante para estudar as diferentes artes e a literatura." Na primavera do ano décimo quarto do Duque Ai, de Lu (481 A. C.), houve uma caçada; e o guia do Barão Shusun, de nome Chushang, pegou um estranho animal que foi tomado como sinal de má fortuna. Confúcio viu-o e declarou que era um unicórnio, e então levaram o animal para casa[15]. E Confúcio falou: ­ “Ai de mim! nenhuma tartaruga ostentando mágicos anagramas apareceu no Rio Amarelo, nenhum sinal sagrado tampouco saiu do Rio Lo... Acabou-se!” . Quando morreu Yen Huei, Confúcio disse: - "Vejo que o Céu vai tirar de mim a minha missão." E ao ver o unicórnio, durante aquela caçada, falou: - Isto é o fim!", e suspirou, terminando: .- "Não há no mundo quem me compreenda." Ouvindo-o, Tsekung o interpelou: - "Por que dizeis que não há quem vos compreenda?”. E Confúcio respondeu: "Não culpo o Céu, nem culpo a Humanidade... O que tenho feito é o máximo que posso para adquirir sabedoria e atingir a um ideal mais elevado. Talvez somente o Céu me compreenda!". A respeito de Poyi e Shu Ch’i, Confúcio disse não haverem eles comprometido seus princípios e assim não se haviam desgraçado (eram sábios de fama, vivendo como reclusos); sobre Liushia Huei e Shaolien, disse que haviam comprometido seus princípios e se haviam desgraçado; sobre Yuchung e Yiyi, disse que haviam levado vida retirada e em elevadas palestras filosóficas, mas que, todavia, não eram realistas e haviam-se adaptado às circunstâncias, conforme o princípio da utilidade. "Mas eu sou diferente de todos esses: decido de acordo com as circunstâncias de cada momento, e procedo melhor" (literalmente: "nem pode, nem não pode"). Confúcio disse: - "Isto não pode ser! Isto não pode ser! Um gentil-homem peje-se de morrer sem haver realizado alguma coisa. Acho que não conseguirei chegar ao poder para pôr em prática meu ideal de governo. Que conta darei de mim, aos olhos da posteridade?" Por isso escreveu Primavera e outono (crônicas), com bases nas histórias existentes, a começar do Duque Yín (722 A. C.) até o ano décimo quarto do Duque Aí (481 A. C.), abrangendo assim os períodos de governo de doze duques (De Lu). Adotou, ao escrever, a posição de Lu , mas procurou respeitar os imperadores Chou, reportando-se à Dinastia Shang e observando as transformações de sistema verificadas nas Três Dinastias. Exprimiu-se em estilo conciso, mas prenhe de sentido. Eis por que, embora os governantes de Wu e Ch'u se outorgassem o título de "reis", em Primavera e outono encontram-se rebaixados de categoria e são citados apenas como "barões". Em certa ocasião, o imperador foi realmente intimado pelos duques a comparecer: mas em Primavera e Outono, esforçando-se por dar melhor aparência aos fatos, Confúcio escreveu que "o celestial Imperador veio caçar em Hoyang..." Palavras distintas assim eram usadas, implicando aprovação ou reprovação do autor às práticas do seu tempo, na esperança de que futuramente surgisse um grande rei que abrisse o seu livro e adotasse os princípios ali inscritos, para vergonha e exemplo dos soberanos desordeiros e rapaces. Quando tinha função oficial, Confúcio estudava os processos e documentos de cada caso, com seus colegas, e ouvia-lhes as opiniões, jamais impondo as suas próprias; mas ao redigir PRIMAVERA E OUTONO fê-lo exatamente como lhe parecia melhor, e os discípulos como Tsehsia não mexiam uma palavra. Ao apresentar a obra a seus discípulos, Confúcio disse: - "As gerações vindouras me compreenderão através de Primavera e Outono, e por Primavera e Outono me hão de julgar." Abraço. Davi


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