Islamismo. Manual para o Novo Muçulmano. Por Jamaal Zarabozo ( 1961 - ). RELIGIÃO DO ISLAM. Parte XVI. Allah deixa muito claro que todas as ações serão analisadas no Dia do Juízo. Allah disse: “E a ponderação, nesse dia, será a equidade; aqueles cujas boas ações forem mais pesadas serão os bem-aventurados. E aqueles, cujas boas ações forem leves serão desventurados por haverem menosprezado os Nossos versículos.” (7: 8-9). Devemos recordar a todo o momento que as recompensas de Allah para Seus servos são um ato de Sua misericórdia e, também, que Suas recompensas são sempre maiores que realmente merecemos por nossas boas ações. Certamente, o castigo de Allah é determinado mediante Sua justiça e Ele não castiga a ninguém além do que é merecido. O terceiro aspecto fundamental da crença no Último Dia é a crença no Paraíso e Inferno. O Paraíso é a morada eterna e a recompensa para os crentes. O Inferno é a morada eterna e o castigo para os incrédulos. A opinião mais sólida é que ambos existem na atualidade e que continuarão existindo para sempre. Não constituem meros estados de espírito como consideram alguns não muçulmanos e hereges muçulmanos. Allah e Seu Mensageiro os mencionaram e descreveram claramente e de forma inequívoca. Não existe nenhum motivo para que um muçulmano negue sua existência ou suas descrições. Acerca do Paraíso, por exemplo, Allah disse: “Por outra, os fiéis, que praticam o bem, são as melhores criaturas, Cuja recompensa está em seu Senhor: Jardins do Éden, abaixo dos quais correm os rios, onde morarão eternamente. Deus se comprazerá com eles e eles se comprazerão n’Ele. Isto acontecerá com quem teme o seu Senhor.” (98: 7-8) “Nenhuma alma caridosa sabe que deleite para os olhos lhe está reservado, em recompensa pelo que fez.” (32: 17) Quanto ao Inferno: “Dize-lhes: A verdade emana do vosso Senhor; assim, pois, que creia quem desejar, e descreia quem quiser. Preparamos para os iníquos o fogo, cuja labaredas os envolverá. Quando implorarem por água, ser-lhes-á dada a beber água semelhante a metal em fusão, que lhes assará os rostos. Que péssima bebida! Que péssimo repouso!” (18: 29) “Em verdade, Deus amaldiçoou os incrédulos e lhes preparou o tártaro. Onde permanecerão eternamente; não encontrarão protetor ou quem os socorra. No dia em que seus rostos forem virados para o fogo, dirão: Oxalá tivéssemos obedecido a Deus e ao Mensageiro!” (33: 64-66) Ibn Taimiyah destaca que a crença no Último Dia também inclui a crença em tudo o que ocorra a uma pessoa logo após sua morte e antes do Dia da Ressurreição. Isso inclui o juízo no túmulo e o prazer ou castigo dentro do sepulcro. O castigo do túmulo é mencionado em um hadith autêntico, registrado por Tirmidhi. Ali foram mencionados os anjos Munkar e Nakir, eles se aproximam da pessoa e perguntam: “Que costumavas dizer a respeito deste homem [referindo-se a Muhammad]?” Outros escritos mencionam que os dois anjos virão e farão três perguntas: “Quem é teu Senhor? Qual é tua religião? Quem é teu Profeta?”. Existem minuciosos aspectos adicionais que se relacionam com a próxima vida e que todo crente deve conhecer e crer. Devido a limitações de espaço não se podem ser analisadas em detalhe, por aqui. Estas questões incluem: (1) A fonte ou poço do Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele); (2) As diferentes intercessões; (3) A distribuição dos livros das ações; (4) Travessia da ponte (siraat) sobre o Inferno. (5) A entrada no Paraíso ou no Inferno e todos os aspectos relacionados. A crença e o conhecimento dos grandes acontecimentos do Último Dia e da Próxima Vida deveriam ter uma influência profunda em cada indivíduo, sempre e quando esta pessoa se atenha às reflexões e análises deste Dia. Em primeira instância, deveria incitar os crentes a realizarem boas ações, por saberem das recompensas que os aguardam. Os benefícios do Paraíso são maiores que qualquer olho jamais tenha visto ou que qualquer pessoa jamais possa imaginar. Antes de qualquer coisa, esta incrível recompensa abrange a complacência de Allah e a oportunidade de vê-lo na Próxima Vida. Se as pessoas pudessem estar conscientes deste aspecto, a todo e qualquer momento em suas vidas, buscariam, ansiosamente, realizar tantas boas ações quanto fossem possíveis. Em segundo lugar, a advertência do castigo deveria persuadir as pessoas a não cometerem nenhum pecado, sem se importar quão leve seja. Nenhum pecado cometido neste mundo vale a pena se forem levados em conta o castigo que podemos receber na Próxima Vida. Além disso, ao cometer um pecado, o pecador também ganha o descontentamento de Allah, seu Senhor, o Criador e o Amado. Em terceiro lugar, de acordo com Ibn Uthaimin, a prestação de contas e a justiça no Dia do Juízo provocarão bem-estar e consolo aos crentes. É natural que os seres humanos odeiem a injustiça. Neste mundo, isso é algo que ocorre com frequência. Os que enganam e carecem de ética, muitas vezes, vivem neste mundo sem sofrer as consequências por seus atos. Sem dúvida, isso acontece porque e somente porque, em grande escala, este mundo não é um lugar propício para o juízo, as recompensas e os castigos. Essas pessoas não se safarão das maldades que vêm praticando. As boas ações de uma pessoa também não são realizadas em vão, o que muitas vezes aparenta ser, neste mundo. Virá o momento em que estas questões serão resolvidas, e melhor, resolvidas de uma forma justa. Esse momento será o Dia do Juízo Final.A crença no Decreto Divino O seguinte e último pilar da fé mencionado pelo Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) é a crença no “Decreto Divino”, ou al-qadar. Idris analisa o significado disto e manifesta que: “O significado original da palavra qadar é medida ou cifra específica, seja em qualidade ou quantidade. Também há outras acepções que não se relacionam com o tema em questão. Desta maneira, yuqad-dir quer dizer, entre outras coisas, medir ou determinar a quantidade, qualidade, medida, etc. de algo antes de construí-lo. E esta última acepção da palavra é o que nos interessa.” É obrigatório que todos os muçulmanos creiam no conceito de qadar, ou Decreto divino, já que é mencionado claramente em muitos ahaadith autênticos. Ibn Qaiim nos mostra que existem quatro níveis, ou aspectos, na crença do qadar. Aquele que não crê nestes quatro aspectos, não tem uma crença em Allah correta e apropriada. O primeiro nível consiste em crer que Allah sabe tudo, particular ou universalmente, antes que as coisas existam. Isso se relaciona tanto às comumente chamadas ações de Allah, como, por exemplo: a produção da chuva, dar vida e outras, como também às ações dos seres humanos. Allah possui o conhecimento prévio de todas as ações da criação devido a Seu conhecimento eterno, que, segundo se diz, Ele há possuído desde sempre. Isto inclui Seu conhecimento acerca de todas as questões de obediência, desobediência, sustento e período de duração da vida. Este aspecto pode ser compreendido em numerosos versículos do Qur’an, como, por exemplo: “Ele possui as chaves do incognoscível, coisa que ninguém, além d’Ele, possui; Ele sabe o que há na terra e no mar; e não cai uma folha (da árvore) sem que Ele disso tenha ciência; não há um só grão, no seio da terra, ou nada verde, ou seco, que não esteja registrado no Livro lúcido.” (6: 59) O segundo nível na crença no qadar é crer no registro de Allah de todas as coisas, antes mesmo da criação dos céus e da terra. Por conseguinte, Allah não apenas teve e tem conhecimento do que passará, senão que registrou esta informação na Tabla Preservada (al-Lauhul Mahfudh). Isso não é algo difícil para Allah. Allah disse: “Ignoras, acaso, que Deus conhece o que há nos céus e na terra? Em verdade, isto está registrado num Livro, porque é fácil para Deus.” (22: 70) “Não assolará desgraça alguma, quer seja na terra, quer seja em vossas pessoas, que não esteja registrada no Livro [a Tabla Protegida], antes mesmo que a evidenciemos. Sabei que isso é fácil a Deus.” (57: 22) O terceiro nível consiste em crer que Allah dirige e governa sobre tudo o que existe e que se Ele não deseja algo, isso não encontrará maneira de existir. Novamente, isso se refere às ações de Allah, de dar vida, sustento, etc. e também às ações realizadas pelos seres humanos. Nada pode suceder a menos que Allah o decrete e permita que ocorra. Por exemplo, uma pessoa pode atentar contra a vida de outra, mas, sem dúvidas só matará a outra se Allah o permitir. Pode-se realizar todas as ações para atingir um fim, mas se Allah não quiser, não ocorrerá. No caso mencionado anteriormente, Allah pode fazer com que o tiro saia pela culatra ou que a mão que dispara trema, fazendo com que a finalidade não seja atingida. Este aspecto do qadar também pode ser compreendido com diversas provas. Por exemplo, Allah disse:... Se Deus quisesse, aqueles que os sucederam não teriam combatido entre si, depois de lhes terem chegado as evidências. Mas discordaram entre si; uns acreditaram e outros negaram. Se Deus quisesse, não teriam digladiado; porém, Deus dispõe como quer.” (2: 253) “Certamente, não é mais do que uma mensagem, para o universo. Para quem de vós se quiser encaminhar. Porém, não vos encaminhareis, salvo se Deus, o Senhor do Universo, assim o permitir.” (81: 27-29) Ibn Uthaimin também nos oferece um argumento racional para este aspecto da crença no qadar. Diz-se que deve se aceitar que Allah é o Dono, Senhor e Controlador de Sua criação. Desta maneira, não há forma de que algo ocorra sob Seu domínio sem que Ele saiba o que se passa, pois tudo se encontra sob Seu controle e faz parte de Seu domínio. Então, tudo que ocorre em Sua criação está sujeito à Sua vontade. Nada pode ocorrer a menos que Ele o deseje. Do contrário, Seu controle e autoridade sobre Seu domínio seriam deficientes e insuficientes, já que haveria coisas que aconteceriam sob Seu domínio, sem que necessitasse de Seu consentimento ou conhecimento. Estas hipóteses são inaceitáveis. O quarto nível na crença no qadar é a crença em que Allah é o Criador de tudo, Ele quem provoca a existência e outorga essência a tudo. Este aspecto pode ser demonstrado por vários versículos do Qur’an, como os seguintes: “Bendito seja Aquele que revelou o Discernimento ao Seu servo – para que fosse um admoestador da humanidade, O Qual possui o reino dos céus e da terra. Não teve filho algum, nem tampouco teve parceiro algum no reinado. E criou todas as coisas, e deu-lhes a devida proporção.” (25: 1-2). “Deus é o Criador de tudo e é de tudo o Guardião.” (39: 62). “Em verdade, criamos todas as coisas predestinadamente.” (54: 49). Ibn Uthaimin explicou este assunto com as seguintes palavras: “tudo é criação de Allah. Inclusive as ações da humanidade são criações de Allah. Apesar de ser produto do livre arbítrio e vontade do homem, continua sendo criação de Allah. Isto se deve a que cada ação do homem é resultado de duas coisas: uma vontade clara e habilidade [para realizar tal ação]. Por exemplo, suponhamos que à sua frente haja uma rocha, cujo peso é nove quilos. E eu ordene: “levante esta rocha” e você responde: “não quero levantá-la”. Neste caso, sua falta de vontade o impediu de levantar a rocha. Pensemos que peço pela segunda vez: “Levante a rocha”, então você responde: “sim, farei o que me pedes”. Neste momento você quis levantar a pedra, entretanto não foi capaz, portanto, não a levantou porque não foi capaz. Se digo pela terceira vez: “levante esta pedra” e você a levanta, então houve a capacidade e a vontade para fazê-lo. Todas as ações que realizamos são o resultado de nossa vontade e nossa plena capacidade. Quem criou essa habilidade e essa vontade foi Allah. Se Allah nos houvesse paralisado, não teríamos habilidade para realizar nenhuma ação. Se, podendo fazer uma ação, desviamos a atenção para outra coisa, não a realizaremos. Dessa forma, dissemos: Todas as ações do homem são criadas por Allah. Isso se deve ao resultado de nossa vontade e habilidade e está vontade é de Allah. A razão pela qual Allah é o Criador dessa vontade e capacidade baseia-se no fato de que a vontade e a habilidade são duas características de quem quer algo e de quem tem habilidade para alcançá-lo. E por isso quem criou esta pessoa com esta habilidade foi Allah. Aquele que criou a pessoa que possui tais características específicas é Aquele que criou ditas características. Isso clarifica a situação e prova que as ações dos seres humanos são criação de Allah.” Na verdade, há muitas perguntas e equívocos que surgem ao redor do conceito de qadar. Devido às limitações de espaço, não podemos analisá-las em detalhes aqui. Não obstante, em uma passagem, Jaafar Shaikh Idris trata adequadamente várias questões relacionadas com o tema. Ele escreveu: “Deus decidiu criar o homem como um indivíduo livre, sem dúvidas Ele sabe (e o que Ele não pode saber?), antes de criar cada homem, e que este usará seu livre arbítrio. Por exemplo, sabe qual será sua reação quando um Profeta lhe transmita a mensagem de Deus... ‘Mas, se somos livres para usar de nossa vontade’, um Qadari pode dizer, ‘podemos usá-la de forma tal que contradiga a vontade de Deus e, nesse caso, estaremos equivocados ao declarar que tudo é vontade ou está decretado por Deus’. O Qur’an responde a esta pergunta recordando-nos que é Deus quem determina as ações que podem ser arbitrárias e é Ele quem nos permite fazer uso de nossa vontade. ‘Em verdade, esta é uma admoestação: e, quem quiser, poderá encaminhasse até a senda do seu Senhor. Porém, só o conseguireis se Deus o permitir, porque é Prudente, Sapientíssimo’ (76: 29-30)”. ‘Por ser assim,’ diz um qadari ‘Ele poderia evitar que cometêssemos maus atos.’ Obviamente, Ele poderia, ‘Porém, se teu Senhor tivesse querido, aqueles que estão na terra teriam acreditado unanimemente...’ (10:99). Sem dúvidas, Ele ditou que os homens fossem livres, especialmente nas questões da fé e incredulidade. ‘Dize-lhes: A verdade emana do vosso Senhor; assim, pois, que creia quem desejar, e descreia quem quiser...’ (18:29). ‘Se nossas ações são vontade de Deus,’ alguém pode dizer que ‘estas são, na realidade, Suas ações.’ Esta ideia é uma grande confusão. Deus deseja o que nós desejamos a partir do momento em que nos outorga a vontade de eleger e nos faz capazes de utilizar esta vontade; por exemplo, Ele cria tudo que possibilita nossa capacidade do exercício da vontade. Ele não exerce esta vontade mediante fatos, pelo contrário, não se poderia dizer que quando alguém bebe, come ou dorme é Deus quem realiza estas ações. Deus as criou, Ele não as realiza ou executa. Outro argumento baseado numa confusão consiste em que se Deus nos permite realizar más ações, então Ele as aprova e aquilo causa satisfação n’Ele. “Certamente, desejar algo, no sentido de permitir que uma pessoa faça algo, uma coisa é aprovar sua ação e elogiá-la e outra. Página 144. Abraço. Davi
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