Judaísmo. Livro Um Guia a Sabedoria Oculta da Cabala. Por Rabi Michael Laitman (1946 - ). QUEM É CABALISTA? O Cabalista é um pesquisador que estuda sua própria natureza utilizando um método preciso, comprovado e que resistiu à prova do tempo. O Cabalista estuda a essência de sua existência utilizando ferramentas simples que todos podem empregar - sentimentos, intelecto e coração. Um Cabalista é uma pessoa comum como outra qualquer. Não precisa ter nenhuma habilidade, talento ou ocupação especial. Não precisa ser um sábio ou ter a expressão facial de um santo. Em algum momento de sua vida, tomou a decisão de procurar um caminho que lhe oferecesse respostas confiáveis às perguntas que o perturbavam. Mediante um método preciso de estudo, pôde adquirir um sentido adicional, um sexto sentido, o sentido espiritual. Com a ajuda deste sentido, o Cabalista percebe as esferas espirituais tão claramente como nós percebemos nossa realidade aqui e agora; ele recebe conhecimento a respeito das esferas espirituais, dos mundos superiores e da manifestação das forças superiores. Estes mundos denominam-se "superiores" porque se encontram mais além, mais acima do que o nosso. O Cabalista eleva-se do seu nível espiritual atual para o nível espiritual seguinte, ou mundo superior. Este movimento o leva de um mundo superior ao seguinte. Ele percebe as raízes a partir das quais se desenvolveu tudo o que existe aqui, tudo o que preenche o nosso mundo, incluindo nós mesmos. O Cabalista encontra-se ao mesmo tempo em nosso mundo e nos mundos superiores. Esta qualidade é comum a todos os Cabalistas. O Cabalista recebe a informação real que nos circunda e percebe esta realidade. Por isso pode estudá-la, familiarizar-se com ela e transmiti-la para nós. Propõe-nos um método novo para conhecer a fonte de nossas vidas e conduzir-nos para a espiritualidade. Oferece-nos esse conhecimento em livros escritos em uma linguagem especial. Lidos de forma especial, esses livros converter-se-ão em naves que nos permitirão descobrir também a verdade por nossos próprios meios. Nos livros que escreveram, os Cabalistas nos transmitem técnicas baseadas em experiências pessoais. A partir de sua vastíssima perspectiva, encontraram a maneira dde ajudar aqueles que viriam depois, para que subam a mesma escada que eles. Este método denomina-se "a Sabedoria da Cabala". HISTÓRIA DA CABALA E DO ZOHAR. O primeiro Cabalista que conhecemos foi o patriarca Abraham. Ele percebeu as maravilhas da existência humana, propôs perguntas a respeito do Criador, e os mundos superiores lhe foram revelados. Transmitiu às gerações seguintes o conhecimento adquirido e o método usado para adquiri-lo. A Cabala foi transmitida oralmente durante muitos séculos. Cada Cabalista agregou sua experiência única e sua personalidade a este corpo de conhecimento acumulado, na linguagem própria para as almas de sua geração. A Cabala continuou a desenvolver-se depois que a Bíblia (os 5 livros de Moisés) foi escrita. No período compreendido entre o Primeiro Templo e o Segundo (586 a.C * antes da era comum – 515 a.C), já se estudava Cabala em grupos. Depois da destruição do Segundo Templo (70 *d.C – era comum) e até a nossa geração, houve três períodos particularmente importantes no desenvolvimento da Cabala, nos quais apareceram os mais importantes escritos a respeito de seus métodos de estudo. O primeiro período teve início durante o século III, quando o livro do Zohar foi escrito por Rav Shimon Bar Yochai (150 – 230), o "Rashbi", um aluno de Rav Akiva (40 – 160). Rav Akiva e muitos dos seus estudantes foram torturados e assassinados pelos romanos, que se sentiram ameaçados pelo ensinamento da Cabala. Depois da morte de 24,000 dos seus discípulos, Rav Akiva (50 - 135 d.C) e Rav Yehuda Ben Baba autorizaram o Rashbi a transmitir a Cabala que lhe havia sido ensinada. Somente o Rav Shimon Bar Yochai e outros quatro estudantes haviam sobrevivido à matança e, depois da captura e encarceramento do Rabí Akiva, o Rashbi escapou com seu filho Eliezer. Viveram numa gruta durante 13 anos. Eles saíram da gruta com o Zohar, com um método completo para o estudo da Cabala e tendo atingido a espiritualidade. Rashbi alcancou os 125 níveis que um ser humano pode conseguir durante sua vida neste mundo. O Zohar nos relata que ele e seu filho atingiram o nível denominado "Eliahu o Profeta", o que significa que o próprio profeta em pessoa vinha ensinar-lhes. O Zohar é um livro escrito em forma de parábolas e em aramaico, um idioma que se falava nos tempos bíblicos. O Zohar nos diz que o aramaico é o "inverso do hebraico", o lado oculto do hebraico. Rabí Shimon Bar Yochai não o escreveu ele mesmo, mas transmitiu a sabedoria e a forma de atingi-la metodicamente ditando seu conteúdo a Rav Aba. Aba redigiu o Zohar de maneira que só pudessem entendê-lo aqueles que fossem dignos disso. O Zohar explica que o desenvolvimento humano se divide em 6.000 anos, durante o qual as almas transitam em um processo de desenvolvimento contínuo a cada geração. Ao final do processo, todas as almas atingem o "fim da correção", isto é, o nível mais elevado de espiritualidade e perfeição. Rabí Shimon bar Yochai foi um dos maiores de sua geração. Escreveu e interpretou muitos temas Cabalísticos que foram publicados e são conhecidos até o dia de hoje. O livro do Zohar, por sua vez, desapareceu depois de ser escrito. Conta a lenda que os escritos do Zohar permaneceram ocultos numa gruta perto de Sfat, em Israel. Foram encontrados vários séculos depois por residentes árabes da região. Um dia, um Cabalista de Sfat comprou pescado no mercado, descobrindo com surpresa o valor inestimável do papel em que estava embrulhado. Imediatamente se dedicou a comprar dos árabes o resto das peças, reunindo-as num livro. Isto ocorreu porque está na natureza das coisas ocultas que elas sejam descobertas no momento oportuno, quando as almas adequadas reencarnam e ingressam no nosso mundo. Deste modo o Zohar foi revelado ao longo do tempo. Pequenos grupos de Cabalistas estudaram estes escritos em segredo. No século XIII, na Espanha, Rav Moshé de León (1240-1305) publicou este livro pela primeira vez. O segundo período de desenvolvimento da Cabala é muito importante para a Cabala de nossa geração. É o período do Ari, Rav Isaac Luria (1534-1572), autor da transição entre os dois métodos de estudo da Cabala. Nos escritos do Ari aparece pela primeira vez a linguagem pura da Cabala. Ari proclamou o começo de um período de estudo aberto e em massa da Cabala. Ari nasceu em Jerusalém em 1534. Tendo perdido o pai ainda pequeno, sua mãe o levou ao Egito, onde criando-o na casa de seu tio. Durante sua vida no Egito, mantinha-se graças ao comércio, mas dedicava a maior parte de seu tempo ao estudo da Cabala. Segundo a lenda, passou sete anos isolado na ilha da Roda no Nilo, estudando o Zohar, os livros dos primeiros Cabalistas e os escritos de outro membro de sua geração, o "Ramak", Rav Moisés Cordovero. Em 1570, chegou a Safed, em Israel. Embora jovem, começou imediatamente a ensinar Cabala. Sua grandeza foi logo reconhecida; todos os sábios de Safed, muito versados na Torá revelada e na oculta, vieram estudar com ele, que se tornou famoso. Durante um ano e meio, seu discípulo Chaim Vital registrou as respostas a muitas das perguntas que surgiam durante seus estudos. Alguns destes textos foram escritos pelo Ari, conhecidos por nós como "Etz Hachayim" (A Árvore da Vida )"Sha'ar Hakavanot" (O Portal das Intenções), "Sha'ar Hagilgulim" (O Portal da Reencarnação) e outros. Ari nos legou um sistema básico para estudar a Cabala, que continua vigente até o dia de hoje. Ari faleceu ainda jovem, em 1572. Segundo sua vontade, seus escritos foram arquivados, para que a sabedoria não fosse revelada antes do tempo certo. Os grandes Cabalistas forneceram o método e o ensinaram, mas sabiam que sua geração era ainda incapaz de apreciar sua dinâmica. Por isso preferiram muitas vezes esconder ou mesmo queimar seus escritos. Sabemos que Baal HaSulam (1885-1954) queimou e destruiu a maior parte de seus escritos. É significativo o fato de o conhecimento ter sido confiado ao papel e depois destruído. O que se revela no mundo material tem efeitos no futuro e será mais facilmente revelado uma segunda vez. Rav Vital ordenou que certas seções dos escritos do Ari fossem ocultas e enterradas com ele. Uma parte foi legada a seu filho, que as organizou como “As Oito Portas”. Muito depois, um grupo de estudiosos liderados pelo neto de Rabí Vital resgataram da tumba a outra parte dos escritos. Apenas nos tempos do Ari, começou-se a estudar o Zohar em grupos abertamente. A partir dali o estudo do Zohar prosperou durante duzentos anos. No grande período da Hassidut (1750 – fins do século XIX) praticamente todo grande rabino era um Cabalista. Apareceram Cabalistas principalmente na Polônia, Rússia, Marrocos, Iraque, Yemen e outros países. Depois, no início do século XX, o interesse pela Cabala decaiu até quase desaparecer por completo. O terceiro período agrega um método adicional às doutrinas do Ari, redigido em nossa geração por Rabí Yehuda Ashlag, autor da interpretação Sulam (escada) do Zohar e dos ensinamentos do Ari. Este método mostra-se particularmente apropriado para as almas de nossa geração. Rav Yehuda Ashlag, conhecido como "Baal HaSulam" por sua versão Sulam do Zohar, nasceu em 1885, em Lodz, na Polônia. Durante sua juventude, absorveu um profundo conhecimento da lei oral e escrita, sendo depois juiz e mestre em Varsóvia. Em 1921 emigrou para Israel com sua família, ocupando o posto de rabino de Givat Shaul, em Jerusalém. Já estava imerso na redação de sua própria doutrina quando começou a escrever o comentário do Zohar em 1943. Baal HaSulam terminou de redigir seu comentário do Zohar em 1953. Morreu no ano seguinte, tendo sido enterrado no cemitério de Givat Shaul em Jerusalém. Sucedeu-lhe seu filho mais velho, Rav Baruch Shalom Ashlag, o "Rabash". Seus livros estruturam-se segundo as instruções de seu pai. Elaboram com elegância os escritos paternos legados à nossa geração, facilitando seu entendimento. Rabash nasceu em Varsóvia em 1907, emigrando para Israel com seu pai. Somente depois de seu casamento o pai lhe permitiu integrar os seletos grupos de estudo da sabedoria oculta -a Cabala. Rapidamente o autorizou a dar aulas para iniciantes. Depois da morte de seu pai, encarregou-se de continuar ensinando o método especial que tinha aprendido. Apesar de seus grandes feitos, insistiu, como seu pai, em manter um modo de vida muito modesto. Ao longo de sua vida trabalhou como sapateiro, pedreiro e empregado de escritório. Vivia exteriormente como uma pessoa comum, mas dedicava cada minuto livre ao estudo e ao ensino da Cabala. Rabash faleceu em 1991. Rav Yehuda Ashlag, o Baal HaSulam, é o líder espiritual adequado para nossa geração. É o único de sua geração que escreveu um comentário completo e atualizado do Zohar e dos escritos do Ari. Estes livros e os ensaios de seu filho, Rav Baruch Ashlag, o Rabash, são a única fonte que dispomos nos ajudar em nosso progresso espiritual. Ao estudar seus escritos, estamos estudando na verdade o Zohar e os escritos do Ari através dos comentários mais recentes (últimos 50 anos). Atuam como cinto de segurança para nossa geração, pois nos permitem estudar textos antigos como se tivessem sido escritos agora, usando-os como trampolim para a espiritualidade. O método do Baal HaSulam serve para todos. A Sulam (escada) que construiu em seus escritos assegura que nenhum de nós deve temer o estudo da Cabala. Todo aquele que estudar Cabala durante três a cinco anos subirá às esferas espirituais, à realidade total e ao "entendimento divino", nome do que está acima (além) de nós e do que ainda não percebemos. Estudando segundo os livros de Rav Yehuda Ashlag, atingiremos a autêntica correção. O método de estudo tem por objetivo despertar em nós o desejo de compreendermos os mundos superiores. Aumenta nosso desejo de conhecermos nossas raízes e de conectar-nos com elas. Então seremos capazes de nos aperfeiçoar e de nos autorrealizar. Os três grandes Cabalistas são uma mesma alma, que apareceu uma vez como Rav Shimón, em uma segunda ocasião como o Ari e uma terceira vez como Rav Yehuda Ashlag. Cada ocasião correspondeu ao momento oportuno de maturidade e merecimento de cada geração, descendo a alma para ensinar o método adequado. As gerações são cada vez mais dignas de descobrir o Zohar. O que foi escrito e oculto por Rav Shimón Bar Yochai foi descoberto mais tarde pela geração de Rabí Moshé de León e depois pela do Ari, que começou a interpretá-lo em termos de Cabala. Estes escritos também foram arquivados e depois parcialmente redescobertos a seu devido tempo, enquanto nossa geração tem o privilégio de aprender com o Sulam, que habilita a qualquer um a estudar a Cabala e a auto-corrigir-se já. Vemos que o Zohar fala a cada geração. À medida que passam as gerações, o livro é mais revelado e melhor compreendido. Cada geração abre o livro do Zohar a seu modo, segundo as raízes de sua alma. Ao mesmo tempo, tenta-se ocultar os escritos cabalísticos, para que os que sintam a necessidade os procurem e s descubram por si mesmos. Os Cabalistas sabem evidentemente que o processo de mudança requer duas condições: momento adequado e maturidade da alma. Somos testemunhas de um acontecimento muito interessante, caracterizado pelo surgimento e a sinalização de uma nova era no estudo da Cabala. Abraço. Davi
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