terça-feira, 9 de setembro de 2025

O CAMINHO DA AÇÃO

Hinduísmo - Srimad Bhagavad Gita - O Canto do Senhor. Capítulo III - O CAMINHO DA AÇÃO. 1 - Disse Arjuna: Ó Janardana, se segundo tua opinião, o conhecimento é superior à ação, então por que me conduzir a esta terrível ação? 2– Com palavras aparentemente contraditórias, pareces confundir minha compreensão. Diga-me algo que com certeza me ajude a lograr o Supremo. 3– Disse o BENDITO SENHOR: Ó Impecável, ao princípio (antes), para os homens, Eu havia declarado dois cominhos espirituais: Jñana yoga, ou caminho do conhecimento para os contemplativos e karma yoga, ou caminho da ação para os ativos. 4– O não trabalhar não conduz ao estado da inação, nem pela mera renúncia da ação se logra a perfeição. (O estado da inação é aquele onde todo motivo pessoal para atuar está ausente.) 5– Na verdade, ninguém pode estar inativo nem por um momento, porque os gunas ou qualidades nascidas da prakriti (a natureza psicofísica) o obrigam a atuar. 6– O néscio que, controlando externamente os órgãos da ação, segue mentalmente aos objetos dos sentidos é um hipócrita. 7– Pelo contrário, ó Arjuna, se distingue aquele que controlando com a mente seus órgãos de ação, os dirige sem apego à karma yoga (a ação que conduz à liberação). 8– Cumpre com os deveres prescritos, porque a ação é superior a indolência e, além disso, se não atuas nem sequer poderás manter teu corpo. 9– Este mundo (as pessoas) está atado por ações distintas das de yagña (culto, sacrifício, Vishnu ou Deus mesmo), de maneira que, ó Kouteya, atua sem apego, somente para o yagña. 10–12- Ao principio quando Prajapati, o Criador, criou os seres juntamente com o yagña disse: “Por este yagña vos multiplicareis, que este yagña outorgue tudo o que desejais. Pelo yagña nutrireis aos devas (seres celestiais) e eles vos nutrirão. Nutrindo-se mutuamente ambos alcançareis ao bem supremo. Sendo nutridos pelo yagña (pelas oferendas), os devas vos darão os objetos desejados. É um verdadeiro  ladrão aquele que desfruta dos objetos outorgados pelos devas, sem fazer as oferendas a eles”. 13– As pessoas boas que comem as sobras das oferendas se liberam de todos os pecados, em troca os que cozinham para si mesmos, comem pecados. 14– Os seres corpóreos nascem do alimento, o alimento vem da chuva, a chuva vem do yagña e o yagña vem do karma ou ação. 15– Sabe que as ações têm sua origem nos Vedas (são motivadas pelos ditos védicos) e os Vedas procedem do Imortal. Por isso, o onipresente Veda (Conhecimento) sempre está nos yagñas. 16– Ó Partha, aquele que não segue aqui a esta roda que foi posta em movimento e está satisfeito com a vida sensória e pecaminosa, vive em vão. 17– Ao contrário, aquele que se deleita somente no Atman (Ser), está satisfeito com o Atman e está plenamente contente com o Atman, não tem nenhum dever. 18– Neste mundo ele não tem nada que ganhar pela ação, nada perde se não atua, nem necessita depender de ninguém para lograr seu propósito. 19– Assim que, mantendo-se desapegado, cumpra com seu dever. Na verdade, atuando sem apego o homem alcança o Supremo. 20– O Rei Janaka e outros conseguiram a perfeição, apenas pela ação. Deves atuar, ainda que seja só para servir de exemplo às pessoas. 21– O que o homem superior faz é copiado pelas pessoas; o que ele mostra em sua ação é seguido pelo povo. 22– Ó Partha, Eu não tenho nenhum dever a cumprir, não há nada nos três mundos que não haja logrado ou que tenha que lograr, no entanto continuo atuando. 23– Ó Partha, se alguma vez Eu deixasse de atuar, o que faço sem descanso, as pessoas seguiriam meus passos. 24– Se deixasse de trabalhar, estes mundos pereceriam, Eu seria responsável pela mistura das raças e pela destruição destes seres. 25– Ó Bhárata, com o mesmo zelo com que os ignorantes trabalham para si mesmos, os sábios desapegados devem trabalhar para os demais.  26– O sábio não deve perturbar a fé do ignorante que está apegado à ação; no entanto trabalhando ele mesmo assiduamente, deve ocupar ao ignorante na ação. (O conhecimento se purifica pela ação abnegada. O egoísmo, o maior obstáculo ao progresso espiritual, cresce mais na indolência.) 27– Em todos os casos são os gunas (as qualidades) da prakriti que atuam, aquele cuja mente está iludida pelo egoísmo pensa: eu sou aquele que age (ator). 28– Mas, ó tu de braços poderosos, saiba que os sábios conhecem a verdade sobre a distinção dos gunas e suas ações, e que os gunas, como sentidos, descansam sobre os gunas como objetos e assim não têm apego. 29– Alucinadas pelos gunas que constituem a prakriti, as pessoas se apegam aos sentidos e suas funções. O sábio, que conhece tudo, não deve perturbar as pessoas de pouca inteligência e conhecimento imperfeito. (O processo da evolução mental deve ser contínuo, mas jamais deve ser forçado e ir contra a tendência natural de cada aspirante espiritual. Nem todos têm o mesmo grau de compreensão nem a mesma capacidade de transformação, por isso as instruções espirituais devem ser aplicadas com muito carinho e paciência, individualmente para cada caso. Cada homem vê, interpreta e compreende a Verdade segundo seu ambiente e conceitos anteriores. Só pela contínua ação abnegada crescem no homem os conceitos universais da eterna Existência Consciência– Bem-aventurança. O pensamento e a ação abnegada formam a base de todo progresso.) 30– Dedicando a Mim todas as tuas ações e seus resultados, com a mente estabelecida no Atman e abandonando a esperança e o egoísmo, luta sem febre mental. 31– Também, aqueles que sem reclamar e cheios de shraddha, praticam constantemente este Meu ensinamento, se liberam das ações e seus resultados. (shraddha é a atitude mental composta de sinceridade, humildade e fé.) 32– Mas os que não praticam e desprezam este Meu ensinamento, estes néscios, muito ignorantes, vão à ruína. 33– Mesmo o sábio trabalha segundo sua própria natureza; todos os seres seguem sua natureza. Que pode fazer o mero controle? (Nossa natureza está formada dos resultados de nossas ações e pensamentos anteriores, de maneira que o mero controle dos órgãos de ação não muda a atitude mental; este controle deve ser acompanhado pelo controle dos pensamentos e desejos.). 34– Natural é a atração e aversão dos sentidos pelos objetos correspondentes; não se deve cair sob seu domínio porque eles (os objetos) são seus inimigos. 35– Sempre é melhor cumprir o próprio dever, ainda que seja mal, que cumprir bem o dever que não lhe corresponde. E preferível morrer cumprindo o próprio dever; o dever alheio encerra temor (por ser desconhecido). 36– Disse Arjuna: Ó Varsneya (descendente dos Vrisnis, Krishna), o que impele ao homem a cometer o pecado, contra sua própria natureza e obrigado pela força? 37– Disse o BENDITO SENHOR: É o desejo, é a ira, nascido da qualidade rajásica (ativa) da prakriti; é como uma fome insaciável e muito pecaminoso. Considera-o neste mundo como teu inimigo. 38-39– Como o fogo está coberto pela fumaça, o espelho pela poeira e o feto pela placenta, assim este (o conhecimento) está coberto por aquele (o desejo). O Kouteya, o conhecimento está coberto pelo desejo, que é como um voraz incêndio e constante inimigo do homem. 40– Se diz que suas moradas são: os sentidos, a mente e o intelecto. Agindo por eles, o desejo alucina ao homem, cobrindo seu conhecimento. 41– Por isso, ó tu o melhor dos Bháratas, antes de tudo controla teus sentidos e em seguida mata-o (o desejo), ele é o pecaminoso destruidor do conhecimento e da Suprema realização espiritual. 42– Se diz que os sentidos são superiores ao corpo; a mente é superior aos sentidos; o intelecto é superior a mente e o Atman é superior ao intelecto. 43– Ó tu de braços poderosos, restringindo assim a mente mediante o intelecto e conhecendo Aquele que está além do intelecto, destrua ao desejo, este inimigo difícil de vencer. Abraço. Davi

Nenhum comentário:

Postar um comentário