Religião Afro-brasileira. Umbanda. Por Rubens Saraceni (1951-2015). RITUAL. Parte II. A Umbanda nasceu no meio do culto de Nação ou Candomblé, e foi se destacando até poder caminhar com as próprias pernas e trilhar seu caminho luminoso. Gêges, nagôs, Ketos, angolas, minas, bantos, indígenas etc. Todos contribuíram com a Umbanda, todos em suas linhas, assim como estão em suas divindades, não importando se os chamam de Orixás, voduns, inquices etc. Na Umbanda, todos recebem o nome de “Orixás”, os Senhores do Alto! Mas antes ela foi toda pensada no astral e idealizada para que tivesse em si mesma tantos recursos quantos lhes fossem possíveis ou permitidos. Um ritual criado hoje já é bem visível nas milhares de tendas de Umbanda espalhadas pelo Brasil. O ritual é simples e, às vezes, até impressiona pela forma como o realizam. Mas, sempre que uma engira é formada, a onipresença dos sagrados Orixás é percebida pelos médiuns já plenamente desenvolvidos percepcionalmente e com os canais mediúnicos abertos. Normalmente, as tendas centralizam seus trabalhos na linha dos caboclos, pretos-velhos e exus. Mas algumas abrem seus espaços religiosos para que outras linhas espirituais possam atuar por meio da incorporação e comunicação mediúnica. Quem iniciou as linhas de baianos, boiadeiros e marinheiros, isso não importa, porque o fato é que os espíritos se manifestam de forma característica e visam a descontrair os ambientes de trabalhos espirituais. Nós temos os pretos-velhos ou “linha das Almas”, regidos pelo mistério “Obaluaiê”. Temos os caboclos de Oxóssi, de Ogum, de Xangô etc. Temos as caboclas de Oxum, Iansã, Nanã e Iemanjá etc. Temos os exus de todos os Orixás. Logo perguntam-nos: Quem são os baianos, boiadeiros e os marinheiros? Bom, os baianos são regidos pelo Tempo (Oyá), sendo os espíritos que antes de desencarnarem cultuavam os encantados (Orixás) e eram, em sua maioria, pais e mães no Santo. Os boiadeiros, em sua maioria, são espíritos que estavam incorporados as linhas de exus, mas adquiriram créditos pra atuarem a direita dos senhores Orixás intermediários. Assim, Umbanda é evolução espiritual contínua e não nega a ninguém uma oportunidade de ascender nas suas linhas de trabalho. Só os ignorantes negam essa possibilidade aos espíritos que atuam nas linhas de Umbanda. Uns tolos até duvidam quando um boiadeiro diz que já foi Exu. Todavia adquiriu grau para atuar em uma linha de “direita”. Já vimos alguns umbandistas escreverem livros de Umbanda nos quais negam essa possibilidade, essa ascensão nas linhas de Umbanda. Mas tais pessoas desconhecem a extrema mobilidade que existe nessas linhas. Nelas, os graus de evolução individual são os diferenciadores. Se nas linhas de exus a Umbanda incorpora todos os espíritos que desejam reparar seus erros, falhas e pecados, no entanto, não paralisa a nenhum deles. Muito pelo contrário, estimula-os a resgatarem seus carmas e a se libertarem das ligações com as trevas mais densas. Só assim ascenderão aos níveis superiores da espiritualidade. Esses supostos escritores de Umbanda nada entendem de evolução, religião ou Orixás. Tentam passar a falsa ideia de que se um espírito é, hoje, um Exu, amanhã terá de continuar Exu. Senão não tem um aproveitamento positivo dentro da Umbanda. Ledo engano. O que mais distingue a Umbanda como religião é justamente essas oportunidades que oferece aos espíritos. Assim vão evoluindo e ascendendo dentro de suas linhas de ação e trabalhos espirituais. Pessoas desprovidas do real conhecimento da Umbanda melhor fariam se permanecessem caladas, pois não são poucos os atuais caboclos que no início da Umbanda atuavam como exus de Lei. Contudo evoluíram e ascenderam tanto que optaram por atuar a partir da “direita”. Umbanda é evolução e ascensão, e não nega a nenhum espírito uma oportunidade, regido pela Lei de Umbanda Sagrada, de retomar a senda da Luz, da Lei e da Vida. Por “mistos” entendam vários Orixás. Então temos: O mistério “Caboclo”. O mistério “Preto-Velho”. O mistério “Criança”. O mistério Baiano. O mistério “Boiadeiro”. O mistério” Marinheiro”. O mistério” Exu”. Oyá, caso não saibam, é a regente feminina da linha de forças religiosas, conhecida como “linha do Tempo”. Nessa linha, ela forma um par vibratório com o Orixá Obaluaiê. Ela recolhe os eguns e os encaminha a Obaluaiê, que os ordena e os distribui nos subníveis vibratórios, para que retomem suas evoluções, já ordenadas pela Lei (Ogum) e amparadas pela Justiça (Xangô). Para que retornem a Vida (Iemanjá), voltando a vibrar sentimento de Amor (Oxum) para toda a humanidade (Oxalá). Obaluaiê, como já ensinamos em outros livros, é o polo masculino regente da linha da Evolução, que tem em seu polo feminino a Orixá Nanâ Buruquê. Infelizmente, os escritores de Umbanda só veem em Obaluaiê o curador de doenças da matéria, pois foi isso que mais o distinguiu entre os sacerdotes africanos que mais se destaca em sua lenda. Desconhecem que, sendo ele uma divindade planetária, atua mais sobre o espírito do que sobre a carne e que, se cura as “almas” é porque as recoloca na senda da evolução mental e da ascensão espiritual. Bom, deixemos de ser críticos ásperos e retomemos o tema de nosso comentário. O fato é que o ritual é simples, e se os caboclos estão incorporados atendendo os fiéis de Umbanda. No entanto, estão presentes, e invisíveis, muitos espíritos que pertencem a outras linhas de trabalho. Por isso, quando uma “sobe” outra é chamada e se manifesta. Se o dirigente espiritual tem afinidades e desenvolveu suas ligações com linhas de baianos, boiadeiros e marinheiros, basta a ele invocá-las com cantos rituais próprios que eles se manifestam amparados pelos Orixás. Isso deve ser salientado, porque dentro e um centro de Umbanda Sagrada só se manifestam espíritos regidos pelos Orixás. Mesmo os quiumbas, os sofredores etc., são regidos pelos Orixás, só que ainda desconhecem isso e vão sendo despertados lentamente quando doutrinados pelos médiuns. Eventuais quiumbas, zombeteiros, eguns soltos no tempo etc. Só se manifestam e mistificam um trabalho se os Orixás se afastarem do dirigente dos trabalhos. Mas aí, bem, aí o “Tempo” o está punindo e redirecionando, porque ele falhou em alguma coisa, e de forma tão acentuada que. Ou retoma a linha ou será escravo do baixo astral, que o usará e dele abusara, em uma justa punição. Afinal, se o ritual é simples e nos coloca em comunicação com universo astral regido pelos sagrados Orixás. A simplicidade visa dar maior praticidade aos trabalhos e não admite desleixo, desrespeito ou falta de fé no que se faz. Entidades, que faltam com o respeito as pessoas, estes são os tão falados quiumbas. Num espaço dedicado as práticas religiosas de Umbanda não se admitem palavras de baixo calão ou ofensas aos frequentadores. Como fazem alguns espíritos mistificadores que incorporam em médiuns relapsos. Mas estes, se doutrinados ou chamados a atenção, logo se emendam ou se afastam ou são afastados por guias doutrinadores aplicadores de corretivos nos espíritos indisciplinados. O ritual procura ser prático e recorre a simplicidade, não exigindo dos espíritos manifestantes a erudição verborrágica. No entanto, tão somente a comunicação simples e objetiva que toca fundo no íntimo dos consulentes. Página 93. Abraços. Davi
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