Cristianismo. Livro Catecismo da Igreja Católica. Capítulo II. Parte III. A SAGRADA ESCRITURA. 1. Cristo – Palavra única da Sagrada Escritura. Na condescendência de sua bondade, Deus, para revelar-se aos homens, fala-lhes em palavras humanas. Com efeito, as palavras de Deus, expressas por línguas humanas, fizeram-se semelhantes à linguagem humana, tal como outrora o Verbo do Pai Eterno, havendo assumido a carne da fraqueza humana, se fez semelhante aos homens. Por meio de todas as palavras da Sagrada Escritura, Deus pronuncia uma só Palavra, seu Verbo único, no qual se expressa por inteiro. Lembrai-vos que é uma mesma a Palavra de Deus que está presente em todas as Escrituras. Que é um mesmo Verbo que ressoa na boca de todos os escritores, ele que, sendo no início Deus junto de Deus, não tem necessidade de sílabas, por não estar submetido ao tempo. Por este motivo, a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, como venera também o Corpo do Senhor. Ela não cessa de apresentar aos fiéis o Pão da Vida tomado da Mesa da Palavra de Deus e do Corpo de Cristo. Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra incessantemente seu alimento e sua força, pois nela não acolhe somente uma palavra humana, mas o que ela é realmente: a Palavra de Deus. Com efeito, nos Livros Sagrados, o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao encontro de seus filhos e com eles fala. 2. Inspiração e verdade da Sagrada Escritura. Deus é o autor da Sagrada Escritura. As coisas divinamente reveladas, que estão contidas e são apresentadas nos livros da Sagrada Escritura, foram registradas sob a inspiração do Espírito Santo. A santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e canônicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo Testamento. Com todas as partes, porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, eles têm Deus como autor e, nesta sua qualidade, foram confiados a própria Igreja. Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados. Na redação dos livros sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu, fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades, a fim de que, agindo ele próprio neles e por meio deles. Escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que ele próprio queria. Os livros inspirados ensinam a verdade. Portanto, já que tudo o que os autores inspirados, ou hagiógrafos, afirmam deve ser lido como afirmado pelo Espírito Santo. Deve-se professar que os livros da Escritura ensinam, com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus, em vista de nossa salvação, quis que fosse registrada nas Sagradas Escrituras. Todavia, a fé cristã não é uma “religião de Livro”. O Cristianismo é a religião da Palavra de Deus, não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo. Para que as Escrituras não permaneçam letra morta, é preciso que Cristo, Palavra eterna de Deus vivo, pelo Espírito Santo nos abra o espírito à compreensão das Escrituras. 3. O Espírito Santo, intérprete da Escritura. Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem à maneira dos homens. Para bem interpretar a Escritura é preciso, assim, estar atento aquilo que Deus quis manifestar-nos pelas palavras deles. Para descobrir descobri a intenção dos autores sagrados, há que levar em conta as condições de sua época e de sua cultura, os gêneros literários em uso naquele tempo, os modos, então correntes de sentir, falar e narrar. Pois a verdade é apresentada e expressa de maneiras diferentes nos textos que são, de vários modos históricos ou proféticos. Ou os demais, de outros gêneros de expressão. Por ser a Sagrada Escritura inspirada, há outro princípio da interpretação correta, não menos importante que o anterior, e sem o qual a Escritura permaneceria letra morta. A Sagrada Escritura deve também ser lida e interpretada com a ajuda daquele mesmo Espírito em que foi escrita. O Concílio Vaticano II indica três critérios para a interpretação da Escritura conforme o Espírito que a inspirou. A. Prestar muita atenção ao conteúdo e à unidade da Escritura inteira, desse modo, por mais diferentes que sejam os livros que a compõem, a Escritura ´e una em razão da unidade do projeto de Deus, do qual Cristo Jesus é o centro e o coração, aberto depois de sua Páscoa. O coração de Cristo designa a Sagrada Escritura, que dá a conhecer o coração de Cristo. O coração estava fechado antes da Paixão, desse modo, a Escritura era obscura. Porém, a Escritura foi aberta após a Paixão, dessa maneira, a partir daí, têm a compreensão dela os que a consideram e discernem de que maneira as profecias devem ser interpretadas. B. Ler a Escritura dentro da Tradição viva da Igreja inteira. Consoante um adágio dos Padres: a Escritura está escrita mais no coração da Igreja do que nos instrumentos materiais. Com efeito, a Igreja leva, em sua Tradição, a memória viva da Palavra de Deus, sendo o Espírito Santo que lhe dá a interpretação espiritual da Escritura. Segundo o sentido espiritual que o Espírito dá a Igreja. Os Sentidos da Escritura. Segundo uma antiga tradição, podemos distinguir dois sentidos da Escritura: o sentido literal e o sentido espiritual, sendo este último subdividido em alegórico, moral e anagógico. A concordância profunda entre os quatro sentidos garante toda a sua riqueza à leitura viva da Escritura na Igreja. O sentido literal. É o sentido significado pelas palavras da Escritura e descoberto pela exegese que segue as regras da correta interpretação. Todos os sentidos, da Escritura Sagrada, devem estar fundados no sentido literal. O sentido espiritual. Graças a unidade do projeto de Deus, não somente o texto da Escritura, mas também as realidades e os acontecimentos de que ele fala podem ser sinais. A. O sentido alegórico. Podemos adquirir uma compreensão mais profunda dos acontecimentos, reconhecendo a significação deles em Cristo. Assim, a travessia do Mar Vermelho é um sinal da vitória de Cristo e do Batismo. B. O sentido moral. Os acontecimentos relatados na Escritura devem nos conduzir a um justo agir. Eles foram escritos como advertência para nós I Coríntios 10,11. C. O sentido anagógico. Podemos ver realidades e acontecimentos em sua significação eterna, nos conduzindo a nossa Pátria. Assim, a Igreja na terra é sinal da Jerusalém celeste. Um dístico medieval resume a significação dos quatro sentidos. A letra, ensina o acontecimento. A alegoria, o que deves crer. A moral, o que deves fazer. A anagogia, para onde deves caminhar. É dever dos exegetas esforçarem-se, dentro dessas diretrizes, por entender e expor com maior aprofundamento o sentido da Sagrada Escritura. A fim de que, por seu trabalho de certo modo preparatório, amadureça o julgamento da Igreja. Todas estas coisas que concernem a maneira de interpretar a Escritura estão sujeitas, em última instância, ao juízo da Igreja. Que exerce o divino ministério e mandato do guardar e interpretar a Palavra de Deus. 4. O Cânon das Escrituras. Foi a tradição apostólica que fez a Igreja discernir quais escritos deveriam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados. Esta lista completa é denominada “Cânon” das Escrituras. Ela comporta 46 escritos pra o Antigo Testamento e 27 para o Novo Testamento. Para o Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, os dois livros de Samuel, os dois livros dos Reis, os dois livros das Crônicas, Esdras e Neemias, Tobias, Judite, Ester, os dois livros dos Macabeus, Jó, os Salmos, os Provérbios, o Eclesiastes, o Cântico dos Cânticos, a Sabedoria, o Eclesiástico, Isaías, Jeremias, as Lamentações, Baruque, Ezequiel, Daniel, Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias. Para o Novo Testamento: Os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, Atos dos Apóstolos, Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, Filemon, Hebreus, Tiago, I e II Pedro, I, II e III João, Judas e Apocalipse. O Antigo Testamento. É uma parte indispensável da Sagrada Escritura. Seus livros são divinamente inspirados e conservam valor permanente, pois a Antiga Aliança nunca foi revogada. Com efeito, a Economia do Antigo Testamento estava ordenada principalmente pra preparar a vinda de Cristo, Redentor de todos. Embora contenha também coisas imperfeitas e transitórias, os livros do Antigo Testamento dão testemunho de toda a divina pedagogia do amor salvífico de Deus. Neles encontram-se sublimes ensinamentos acerca de /deus e salutar sabedoria concernente a vida do homem. Bem como admiráveis tesouros de preces. Nestes livros, está latente o mistério de nossa salvação. Os cristãos veneram o Antigo Testamento como verdadeira Palavra de Deus. A Igreja sempre rechaçou vigorosamente a ideia de rejeitar o Antigo Testamento sob o pretexto de que o Novo o teria feito caducar – marcionismo. O Novo Testamento. A Palavra de Deus, que é força de Deus para a salvação de todo crente, é representada e manifesta seu vigor, de modo eminente, nos escritos do Novo Testamento. Estes escritos nos fornecem a verdade definitiva da revelação divina. Seu objeto central é Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado. Seus atos, ensinamentos, paixão e glorificação, assim como os inícios de sua Igreja soba a ação do Espírito Santo. Os Evangelhos são o coração de todas as Escrituras, uma vez que constituem o principal testemunho da vida e da doutrina do Verbo encarnado, nosso Salvador. Na formação dos Evangelhos, podemos distingues três etapas: A. A vida e o ensinamento de Jesus. A Igreja defende firmemente que os quatro Evangelhos, cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente aquilo que Jesus, Filho de Deus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para a eterna salvação deles. Até o dia em que foi elevado. B. A tradição oral. O que o Senhor dissera e fizera, os Apóstolos, após a ascensão do senhor, transmitiram aos ouvintes, com àquela compreensão mais plena de que desfrutavam, instruídos que foram pelos gloriosos acontecimentos de Cristo e esclarecidos pela Luz do Espírito de Verdade. Os Evangelhos escritos. Os autores sagrados escreveram os quatro Evangelhos, escolhendo certas coisas das muitas transmitidas, ou oralmente ou já por escrito, fazendo síntese de outras ou as explanando com vistas à situação das Igrejas. Conservando, enfim, a forma de pregação, sempre de maneira a nos transmitir, a respeito de Jesus, coisas verdadeiras e sinceras. O Evangelho quadriforme ocupa, na Igreja, um lugar único, como atestam a veneração que lhe tributa a liturgia e o atrativo incomparável que, desde sempre, tem exercido sobre os santos. Não existe nenhuma doutrina que seja melhor, mais preciosa e mais esplêndida que o texto do Evangelho. Vede e retende o que nosso Senhor e Mestre, Cristo, ensinou com suas palavras e realizou com seus atos. É acima de tudo o Evangelho que me ocupa durante as minhas orações, nele encontro tudo que é necessário para minha pobre alma. Descubro nele sempre novas luzes, sentidos escondidos e misteriosos. A unidade entre o Antigo e o Novo Testamento. A Igreja, já nos tempos apostólicos, e depois constantemente em sua Tradição, iluminou a unidade do plano divino nos dois Testamentos graças a tipologia. Esta percebe, nas obras de Deus contidas na Antiga Aliança, prefigurações daquilo que Deus realizou na plenitude dos tempos, na pessoa de seu Filho encarnado. Por isso os cristãos leem o Antigo Testamento a luz de Cristo morto e ressuscitado. Esta leitura tipológica manifesta o conteúdo inesgotável do Antigo Testamento. Ela não deve levar ao esquecimento de que esta conserva seu valor próprio de revelação, que Nosso Senhor mesmo reafirmou. Igualmente, o Novo Testamento exige ser lido à luz do Antigo. A catequese cristã primitiva recorre constantemente a ele. Segundo um adágio antigo, o Novo Testamento está escondido no Antigo, ao passo que o Antigo é desvendado no Novo. A tipologia exprime o dinamismo em direção ao cumprimento do plano divino, quando” Deus seja tudo em todos” I Coríntios 15,18. Assim a vocação dos patriarcas e o Êxodo do Egito, por exemplo, não perdem seu valor próprio no plano de Deus, pelo fato de serem, ao mesmo tempo, etapas intermediárias deste plano. 5. A Sagrada Escritura na vida da Igreja. São tão grandes o poder e a eficácia contidos na Palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo e vigor pra a Igreja, e, para seus filhos, firmeza da fé, alimento da alma, pura e perene fonte da vida espiritual. É preciso que os fiéis tenham amplo acesso a Sagrada Escritura. Que o estudo da Sagrada Escritura seja, portanto, como a alma da sagrada teologia. Da mesma palavra da Sagrada Escritura também se nutre salutarmente e santamente floresce o ministério da palavra. A saber, a pregação pastoral, a catequese e toda a instrução cristã, na qual deve ocupar lugar de destaque a homilia litúrgica. A Igreja exorta com veemência e de modo peculiar todos os fiéis cristãos (...) a que, pela frequente leitura das divinas Escrituras, aprendam o conhecimento de Cristo Jesus. Com efeito, ignorar as Escrituras é ignorar Cristo. Resumo. Toda a Escritura divina é um único livro. Este livro único é Cristo, já que toda Escritura divina fala de Cristo, e se cumpre em Cristo. As Sagradas Escrituras contêm a Palavra de Deus e, por serem inspiradas, são verdadeiramente Palavra de Deus. Deus é o autor da Sagrada Escritura e, ao inspirar seus autores humanos, age neles e por meio deles. Fornece assim a garantia de que seus escritos ensinem, sem erro, a verdade salvífica. A interpretação das Escrituras inspiradas deve, antes de tudo, estar atenta aquilo que Deus quer revelar por intermédio dos autores sagrados para nossa salvação. O que vem do Espírito só é plenamente entendido pela ação do Espírito. A Igreja recebe e venera como inspirados os 46 livros do Antigo Testamento e os 27 livros do Novo Testamento. Os quatro Evangelhos ocupam lugar central, já que Cristo Jesus é seu centro. A unidade dos dois Testamentos decorre da unidade do projeto de Deus e de sua revelação. O Antigo Testamento prepara o Novo enquanto o Novo cumpre o Antigo. Os dois Testamentos iluminam-se reciprocamente. Os dois são verdadeira Palavra de Deus. A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras da mesma forma com o próprio Corpo do Senhor. Ambos alimentam e dirigem toda a vida cristã. “Lâmpada para meus passos é tua palavra, e luz no meu caminho” Salmos 119,105. Abraço. Davi.
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