Budismo.
Livro A Vida de Compaixão. Autor Tenzin Gyatso (1935 - ). O Décimo Quarto
Dalai-Lama. Capítulo IB. NOSSA NECESSIDADE DE AMOR. Uma grande pergunta permeia
nossa experiência, quer pensemos nela de forma consciente ou não: qual o
sentido da vida? Acredito que o sentido de nossa vida seja ser feliz. Desde o
instante em que nasce, todo ser humano quer a felicidade e não o sofrimento.
Nem o condicionamento social, nem a educação, nem a ideologia afetam isso. No
âmago de nosso ser, simplesmente desejamos o contentamento. Não sei se o
universo, com suas incontáveis galáxias, estrelas e planetas. Tem ou não um
significado maior, mas pelo menos está claro que nós humanos, que vivemos nesta
Terra, temos a tarefa de criar uma vida feliz para nós mesmos. Não somos como
os objetos feitos por máquinas. Somos mais do que simplesmente matéria, temos
sentimentos e experiências. Se fossemos entidades meramente mecânicas, então as
próprias máquinas poderiam aliviar todo nosso sofrimento. Realizando todos os
nossos desejos. Mas o conforto material por si só não basta. Nenhum objeto
material por mais belo ou valioso, é capaz e fazer com que nos sintamos amados.
Precisamos de algo mais profundo, ao qual geralmente me refiro como afeição
humana. Com a afeição humana ou compaixão, todas as vantagens materiais que
temos à nossa disposição podem ser muito construtivas e produzir bons
resultados. Sem ela, no entanto, as vantagens materiais sozinhas não vão nos
satisfazer. Nem tampouco produzirão em nós qualquer tipo de paz ou felicidade
mental. Na verdade, vantagens materiais sem afeição humana podem até criar
problemas adicionais. Então, quando consideramos nossas origens e nossa
natureza, descobrimos que ninguém nasce livre da necessidade de amor. E, embora
algumas Escolas de pensamento procurem fazer isso, os seres humanos não podem
ser definidos como apenas físicos. Em última instância, a razão pela qual o
amor e a compaixão trazem a maior felicidade é simplesmente que nossa natureza
os valoriza mais do que tudo. Por mais capaz e habilidoso que seja um
indivíduo, caso seja deixado sozinho, não sobreviverá. Por mais vigorosos e
independentes que nos sintamos durante os períodos mais prósperos de nossas
vidas, quando ficamos doentes ou quando somos muito jovens ou muito velhos. Dependemos
do apoio de outras pessoas. Vamos observar mais de perto as maneiras como a
afeição e a compaixão nos ajudam em nossas vidas. Nossas crenças podem divergir
quando se trata de questões relativas à criação e à evolução de nosso universo.
Mas podemos pelo menos concordar que cada um de nós é produto de nossos país.
Em geral, nossa concepção aconteceu não apenas no contexto do desejo sexual.
Mas Também devido à decisão de nossos pais terem um filho. Tal decisão se
baseiam em responsabilidade e em altruísmo – no compromisso compassivo dos pais
de cuidar daquele filho até ele ser capaz de cuidar de si mesmo. Assim, desde o
instante de nossa concepção, o amor de nossos pais está diretamente envolvido
em nossa criação. Ao me encontrar com alguns cientistas, especialmente os que
trabalham na área da neurobiologia, aprendi que há fortes indícios científicos
de que. Mesmo durante a gravidez, o estado de espírito da mãe, seja ele calmo
ou agitado. Tem grande efeito sobre o bem-estar físico e mental da criança que
está para nascer. Parece vital a mãe manter um estado de espírito calmo e
relaxado. Depois do nascimento, as primeiras semanas são as mais cruciais ao
desenvolvimento saudável da criança. Durante esse período, segundo me disseram,
um dos fatores mais importantes para garantir um crescimento rápido e saudável
do cérebro do bebê é o toque físico constante da mãe. Se a criança for deixada
sozinha e sem cuidados durante essa fase crítica. Embora os efeitos em seu
bem-estar mental possam não ser imediatamente óbvios, os danos físicos que
podem ser causados por esse fato ficarão bastante visíveis mais tarde. A
importância central do amor e do carinho continua ao longo da infância. Quando
uma criança vê alguém com um comportamento aberto e carinhoso. Alguém que sorri
ou que tenha uma expressão de amor e carinho, ela se sente naturalmente feliz e
protegida. Por outro lado, se alguém tentar machucar a criança, ela será
dominada pelo medo, o que trará consequências prejudiciais para o seu
desenvolvimento. Hoje em dia, muitas crianças crescem em lares infelizes. Se
não receberem afeição adequada, mais tarde na vida raramente amarão seus pais
e, muitas vezes, terão dificuldades para amar outras pessoas. Isso, claro, é
muito triste. À medida que as crianças crescem e entram para a escola, sua
necessidade de apoio deve ser suprida por seus professores. Se um professor não
transmite apenas conhecimento pedagógico. Mas também assume a responsabilidade
de preparar os alunos para a vida. Seus alunos sentirão confiança e respeito
nele. E aquilo que foi ensinado deixará uma impressão indelével em suas mentes.
Por outro lado, matérias ensinadas por um professor que não demonstra uma
verdadeira preocupação com o bem-estar geral de seus alunos serão consideradas
temporárias. Não serão lembradas por muito tempo. Da mesma maneira, se alguém
está doente e recebe tratamento em um hospital de um médico que manifesta
sentimento de calor humano. A pessoa se sente tranquila, e o desejo do médico
de dispensar o melhor tratamento possível, por si só, já é curativo.
Independentemente de seu grau de conhecimento técnico. Por sua vez, se o médico
de alguém não tiver sentimento humano e exibir uma expressão pouco amistosa.
Demonstrar impaciência ou descaso casual. A pessoa se sentirá ansiosa, mesmo
que esteja diante do mais qualificado dos médicos, que sua doença tenha sido
corretamente diagnostica e que os remédios certos tenham sido prescritos.
Inevitavelmente, os sentimentos de um paciente fazem a diferença para a
qualidade e a perfeição de sua recuperação. Mesmo em conversas normais na vida
cotidiana, quando alguém fala com sentimento humano, gostamos de ouvir e
respondemos da mesma maneira. Toda a conversa se torna interessante, por mais
insignificante que seja o seu assunto. Por outro lado, se uma pessoa fala de
maneira fria ou ríspida. Ficamos pouco à vontade e desejamos terminar logo a
interação. Do acontecimento menos importante ao mais importante, a afeição e o
respeito dos outros são vitais para a nossa felicidade. Recentemente, encontrei
outro grupo de cientistas nos Estados Unidos da América que disseram que a taxa
de doenças mentais no seu país era bastante alta. Cerca de doze por cento da
população. Durante nossa conversa, ficou claro que a depressão não era causada
por uma falta de bens materiais. Mas mais por uma dificuldade de dar e receber
afeição. Assim, como você pode ver em todos esses exemplos, desde o dia em que
nascemos. A necessidade de afeição está em nosso sangue, quer estejamos
conscientes disso ou não. Mesmo que a afeição venha de um animal ou de alguém
que normalmente consideraríamos um inimigo. Tanto crianças como adultos vão
naturalmente gravitar em sua direção. Livro A Vida de Compaixão. Abraço, Davi
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