Islamismo. www.ccib.org.br. II. O ALCORÃO SAGRADO. O
Califa Ômar sentiu a necessidade de enviar cópias do texto autêntico aos
centros provincianos, a fim de evitar as divergências; mas foi deixado a seu
sucessor, Otman, continuar com a tarefa. Um de seus comandantes, Huzaifa Al
Yaman, havendo voltado de uma viagem pelas vastas terras conquistadas pelos
muçulmanos, relatou que havia encontrado divergentes cópias do Alcorão e que
havia, às vezes, desentendimento entre os diferentes mestres do Livro,
concernente a isso. Otman fez imediatamente com que a cópia preparada para Abu
Bakr fosse confiada a uma comissão presidida pelo acima mencionado Zaid Ibn
Sábet para a reprodução de sete cópias; ele autorizou a revisão da pronúncia,
se necessário. Quando a tarefa foi concluída, o Califa efetuou uma recitação
pública da nova edição perante os doutos presentes na capital, perante os
companheiros do Profeta, e então enviou estas cópias aos diferentes centros do
vasto Mundo Islâmico, ordenando que dali por diante todas as cópias fossem
baseadas na edição autêntica. Ele ordenou a destruição das cópias que, de algum
modo, se desviassem do texto assim oficialmente estabelecido. É concebível que
as grandes conquistas militares dos primeiros muçulmanos induzissem alguns
espíritos hipócritas a proclamarem sua impulsiva conversão ao Islam por motivos
materiais, e para tentar danificá-lo de maneira clandestina. Eles fabricaram
versões do Alcorão com interpolações. As "lágrimas de crocodilo", que
foram derramadas pela destruição das cópias não autenticadas do Alcorão, por
ordem do Califa Otman somente poderiam ter sido de tais hipócritas. É sabido
que o Profeta às vezes ab-rogava certos versículos que haviam sido comunicados
previamente ao povo, e isso era feito para fortificar as novas Revelações
Divinas. Houve Companheiros que aprenderam a primeira versão, sem, contudo,
estarem cientes das últimas modificações, tanto por causa da morte do Profeta
como por suas residências fora de Madina. Eles devem ter deixado cópias a seus
descendentes, as quais, embora autênticas, estavam ultrapassadas. Ainda, alguns
muçulmanos tinham o hábito de pedir ao Profeta que explicasse certos termos
empregados no texto sagrado e anotar tais explicações nas margens de suas
cópias do Alcorão, a fim de não se esquecerem delas. As cópias feitas mais
tarde, com base nesses textos anotados, iriam causar confusões na questão do
texto e do glossário. A despeito da ordem do Califa Otman, para que se
destruíssem os textos inexatos, existia, nos séculos III e IV da Hégira,
assunto bastante para a compilação de volumosas obras, constituindo as
"variações do Alcorão." Estas chegaram até nós, mas um apurado estudo
mostra-nos que tais variantes eram devidas tanto à aparência falsa, como aos
enganos no decifrar-se a velha escrita arábica, que não possuía vogais, nem se
podia distinguir entre as letras semelhantes, nem davam idéia das mesmas, sendo
meros pontos, como é feito agora. Além disso existiam diferentes dialetos em
diferentes regiões, e o Profeta havia permitido aos muçulmanos de tais regiões
recitarem de acordo com suas algaravias, e mesmo substituir as palavras que
estavam além de sua argúcia, por sinônimos que conhecessem melhor. Esta foi uma
medida imergente de graça e clemência. No tempo do Califa Otman, contudo, a
instrução pública havia-se desenvolvido suficientemente, e fez-se necessário
que aquelas concessões não fossem mais toleradas, pois o Texto Sagrado seria
afetado, e as variantes da leitura se radicariam. As cópias do Alcorão enviadas
por Otman aos chefes das províncias gradualmente desapareceram, nos séculos
subsequentes; apenas uma delas, que presentemente se encontra em Tashkent,
chegou até nós. O governo czarista da Rússia havia-a publicado em uma
reprodução fac-símile; constata-se haver uma completa identidade entre essa
cópia e o texto em uso noutras ocasiões. Ela é cópia fiel do manuscrito
existente do Alcorão, tanto completo como fragmentado, datando do primeiro
século da Hégira. O Alcorão é dirigido a toda a humanidade, sem distinção de
raça, cor, região ou tempo. Ainda mais, ele procura guiar a humanidade em todas
as sendas da vida: espirituais, materiais, individuais e coletivas. Ele contém
diretrizes para a conduta do chefe de Estado, bem como do homem comum; do rico,
bem como do pobre; diretrizes para a paz, bem como para a guerra; tanto para a
cultura espiritual como para o comércio e bem-estar material. O Alcorão busca
principalmente desenvolver a personalidade do indivíduo: Cada ser será
pessoalmente responsável perante seu Criador. Para tal propósito, o Alcorão não
somente fornece ordens, porém tenta ainda convencer. Ele apela para a razão do
homem e relata histórias, parábolas e metáforas. Descreve os atributos de Allah
(swt), que é Um, Criador de tudo, Onisciente, Onipotente, Ressuscitador dos
mortos e Observador de nosso comportamento terreno; é Justo, Clemente (Vide
nota da 7ª Surata, versículo 180). O Alcorão indica ainda o modo de aprazermos
a Allah (swt), apontando quais as melhores orações, quais os deveres do homem
com respeito a Ele, a seus semelhantes e a seu próprio ser; ele dá destaque ao
fato de que não nos pertencemos, outrossim, pertencemos a Allah (swt). O
Alcorão fala das melhores normas relacionadas com a vida social, comercial,
matrimonial, como a heranca, o direito penal, o direito internacional, e assim
por diante. Todavia, o Alcorão não é um livro, no senso comum; é a coleção das
palavras de Allah (swt), reveladas de tempos em tempos, durante vinte e três
anos, a Seu Mensageiro, escolhido entre os seres humanos. O Soberano dá Suas
instruções a Seu vassalo; portanto, há certas nuanças compreendidas e
implícitas; há repetições, e mesmo mudanças nas formas de expressão. Deste
modo, Allah (swt) fala às vezes na primeira pessoa e às vezes na terceira. Ele
diz "Eu", bem como "Nós" e "Ele", porém, jamais
"Eles". É uma coleção de revelações enviadas de ocasiões em ocasiões;
e devemos, por isso, lê-lo mais e mais, a fim de melhor avaliarmos os seus
significados. Ele possui diretrizes para todos, em todos os lugares e para
todos os tempos. O estilo e a dicção do Alcorão são magníficos e apropriados
para a sua qualidade Divina. Sua recitação comove o espírito até daqueles que
apenas o ouvem sem entendê-lo. Com o passar do tempo, o Alcorão tem, em virtude
de sua reivindicação de origem divina, desafiado a todos a criarem,
conjuntamente, mesmo uns poucos versículos iguais aos que ele contém. Tal
desafio, porém tem permanecido sem resposta até aos nossos dias. Há algumas
diferenças intrínsecas entre o Alcorão e os livros precedentes. Tais diferenças
podem ser sucintamente estipuladas, como se segue: 1. Os textos originais da
maior parte dos primitivos Livros Divinos foram em sua quase totalidade
perdidos, sendo que somente as suas traduções existem hoje. O Alcorão, por
outro lado, existe hoje exatamente como foi revelado ao Profeta; nem uma
palavra - mais ainda, nem uma letra sequer - foi trocada. Encontra-se à
disposição, em seu texto original, fazendo com que a Palavra de Allah (swt)
seja preservada agora, bem como por todo o porvir. 2. Nos primitivos Livros
Divinos os homens mesclaram suas palavras com as palavras de Allah (swt);
porém, no Alcorão encontram-se apenas as palavras de Allah (swt) - em suas
prístinas purezas. Isto é admitido, mesmo pelos oponentes ao Islam. 3. Não se
pode dizer, com base na autêntica evidência histórica, em relação a nenhum
outro Livro Sagrado, possuído por diferentes povos, que ele realmente pertence
ao mesmo profeta a quem é atribuído. No caso de alguns deles, mesmo isto não é
sabido. Em que época e a que profeta eles foram revelados? Quanto ao Alcorão,
as evidências que existem de que foi revelado a Muhammad (saws)são tão
vultosas, tão convincentes, tão sólidas e completivas, que mesmo o mais
ferrenho crítico do Islam não pode lançar dúvidas sobre isso. Tais evidências
são tão vastas e detalhadas, que sobre muitos versículos do Alcorão, mesmo a
ocasião e o local de suas revelações, podem ser conhecidos com exatidão. 4. Os
primitivos Livros Divinos foram revelados em línguas que estão mortas desde há
muito tempo. Na era presente, nação ou comunidade alguma fala tais línguas e há
apenas umas poucas pessoas que se jactam de compreendê-las. Destarte, mesmo que
tais Livros existissem hoje em suas formas originais e inalteradas, seria
virtualmente impossível, em nossa era, compreendermos e interpretarmos
corretamente suas injunções, bem como pormos em prática em sua forma requerida.
A língua do Alcorão, por outro lado, é uma língua viva; milhões de pessoas
falam-na e outro tanto a compreende. Ela está sendo ensinada e aprendida em
quase todas as universidades do mundo; todas as pessoas podem aprendê-la, e
aquele que não tem tempo para isso pode, em qualquer parte, deparar com quem
conheça a língua, que lhe explique o significado do Alcorão. 5. Cada um dos
Livros Sagrados existentes, encontrados entre as diferentes nações do mundo, foi
dirigido a um povo em particular. Cada um deles contém um número de ditames que
parece ter sido dirigido a um período da história em particular e que supria
apenas as necessidades daquela era. Tais necessidades não são válidas hoje, nem
tampouco podem ser aplainadas e propiciamente vertidas para a prática.
Depreende-se disto que tais livros eram dirigidos àqueles povos em particular e
nenhum deles para o mundo. Ademais, eles não foram revelados para serem
seguidos permanentemente, mesmo pelo povo para o qual foram revelados;
restringiam-se a influenciar somente sobre um certo período. Em contraste a
isso, o Alcorão é dirigido a toda a humanidade; não se pode suspeitar que
injunção alguma tenha sido dirigida a um povo em especial. Do mesmo modo, todos
os ditames e injunções no Alcorão são os mesmos que podem ser aplicados em
todos os lugares e em todas as épocas. Este fato vem provar que o Alcorão é
dirigido ao mundo inteiro, constituindo-se em eterno código para a vida humana.
6. Não há negar o fato de que os precedentes Livros Divinos cultuavam o bem e a
virtude, ensinavam também os princípios da moralidade e da veracidade, e
apresentavam uma maneira de viver consentânea com a vontade de Allah (swt).
Contudo, nenhum deles era suficientemente compreensivo para englobar tudo
quanto fosse necessário para uma vida humana virtuosa, sem nada supérfluo, sem
nada carente. Alguns deles excediam-se em um aspecto, alguns em outros. É o
Alcorão, e apenas o Alcorão, que cultua não apenas tudo o que havia de
magnífico nos livros precedentes, mas, ainda, aperfeiçoa os desígnios de Allah
(swt) e os apresenta em sua totalidade, delineando uma norma de vida que
compreende tudo o que é necessário para o homem, nesta terra. Os pensamentos se
renovam e as culturas se proliferam; a vida evolui e a colheita intelectual da
humanidade aumenta a cada dia; e quanto mais a humanidade evolui, mais unida e
mais mesclada fica. Os veículos de comunicação em muito ajudam nisso, como se
quisessem corroborar as palavras do Alcorão: "Ó humanos, em verdade, nós
vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em povos e tribos para
reconhecerdes uns aos outros." (49ª Surata, versículo 13). Samir El
Hayek. www.ccib.org.br.
Abraço. Davi.
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