sexta-feira, 8 de março de 2019

O CRISTO MÍTICO E O CRISTO MÍSTICO


Teosofia. Livro As Revelações Secretas da Religião Cristã. Autora Anne Besant (1847-1933). O CRISTO MÍTICO E O CRISTO MÍSTICO. Ela faz uma reflexão sobre O Cristo Místico. Segue o texto. "Chegamos, agora, ao sentido mais profundo da história do Cristo, sentido que lhe dá o verdadeiro poder sobre o coração humano. Aproximamo-nos desta inesgotável vida que brota das profundezas de invisível manancial, cuja esplêndida corrente se origina daquele que a representa e, pela virtude deste batismo, todos os corações procuram pelo Cristo e sentem mais fácil rejeitar os fatos históricos do que negar o que reconhecemos intuitivamente como uma verdade essencial e suprema de sua vida divina. Vamos transpor o pórtico sagrado que dá acesso aos Mistérios, e assim podemos levantar uma ponta do véu que oculta o santuário aos nossos olhos. Como já vimos, encontramos por toda a parte, mesmo nas épocas remotas, a existência de uma doutrina secreta que é transmitida a candidatos aceitos, sob condições severas, pelos Mestres de Sabedoria. Eram estes candidatos iniciados nos Mistérios, nome que compreendia, na antiguidade, tudo o que há de mais espiritual em religião, de mais profundo em filosofia, de mais precioso em ciência. Por estes Mistérios, passaram todos os grandes Instrutores dos tempos antigos, entre os quais os maiores foram os Hierofantes. Os que se destinavam a falar à humanidade dos mundos invisíveis, já tinham passado o limiar da Iniciação e aprendido o segredo dos lábios dos Santos Seres; todos vinham acompanhados da mesma história, traziam as mesmas versões dos mitos solares, idênticos em sua Essência, embora diferentes pela cor local. Esta narração é, em princípio, a descida do Logos ao seio da matéria. É com razão que o Logos tem por símbolo o Deus Sol, porque o Sol é seu corpo e Ele é, muitas vezes, chamado "O que habita no Sol". Sob um destes aspectos, o Cristo dos Mistérios é o Logos descendo à matéria, e o grande Mito do Sol é esta suprema verdade sob a forma do ensinamento popular. Como sempre acontece, Instrutor Divino, que traz a Sabedoria Antiga e novamente a proclama ao mundo, é considerado como uma manifestação especial do Logos, e o Jesus das Igrejas torna-se gradualmente o centro das narrações que pertencem a este Ser Sublime. Jesus identificou-se assim, na nomenclatura cristã, com a Segunda Pessoa da Trindade, o Logos ou Verbo Divino, e as grandes datas de que fala o Mito do Deus Sol tornaram-se datas da história de Jesus, considerado como a Divindade Encarnada, como o Cristo Místico. Assim como, no universo, ou macrocosmo, o Cristo dos Mistérios representa o Logos, a Segunda Pessoa da Trindade, também, no homem, ou microcosmo, Ele representa o segundo aspecto do Espírito Divino no homem, chamado, por esta razão, o Cristo. O segundo aspecto do Cristo dos Mistérios é, portanto, a vida o Iniciado, a vida que se abre ao postulante, após a primeira grande Iniciação que assinala o nascimento do Cristo no homem. No decorrer dela, o Cristo nasce no homem, e, mais tarde, nele se desenvolve. Para tornar isto mais inteligível, é necessário considerar as condições impostas ao candidato que se apresenta à Iniciação e também a natureza do espírito no homem. Somente os bons, humanamente falando, os que se conformam com a lei de amor de uma maneira absoluta, poderiam ser considerados como candidatos à Iniciação. Puros, santos, sem mancha, sem pecado, vivendo sem transgressão, tais são os diversos nomes que lhes eram aplicados. Além disso, deviam ser inteligentes, com faculdades mentais bem desenvolvidas e exercitadas. A evolução que, nas vidas sucessivas, tem por teatro o mundo; o desenvolvimento e a submissão das faculdades intelectuais, das emoções, do senso moral; as lições das religiões exotéricas; o cumprimento dos deveres como meio de aperfeiçoamento; os esforços para ajudar e elevar o próximo, tudo isto constitui a vida ordinária do homem que evolui. Quando já executou tudo isto, tornou-se "bom", o Christos dos gregos, e esta qualidade deve ser adquirida antes de poder tornar-se o Christos, o Ungido. Depois de ter chegado a viver uma vida virtuosamente exotérica, está em condições de ser candidato à eotérica, para começar a preparar-se à Iniciação, isto é, a satisfazer determinadas condições. Estas condições mostram as qualidades que devemos adquirir e, enquanto lutamos para incorporá-las em nós, já pisamos, conforme uma expressão empregada, no Caminho da Provação, a Senda que leva a Porta Estreita, que dá acesso ao Caminho Estreito, ao Caminho da Santidade, ao Caminho da Cruz. Não é indispensável que o candidato desenvolva estas qualidades de um modo perfeito, mas deve tê-la bastante adiantadas antes que o Cristo possa nascer em si, preparando, assim, a morada pura desta Criança Divina que vai crescer dentre dele. A primeira destas qualidades, todas mentais e morais, é o Discernimento. O Discernimento significa a distinção entre o Eterno e o Temporário, entre o Real e o Ilusório, entre o Celeste e o Terrestre. As coisas visíveis são por pouco tempo, mas as invisíveis são eternas, diz o apóstolo (II Coríntios 4:18). Os homens são vítimas de uma ilusão permanente causada pelo mundo visível que os impede de perceber o invisível. O postulante deve aprender a distinguir entre estes dois mundos; o que é irreal, para o mundo, deve tornar-se real para ele, porque é a única maneira de caminhar pela fé e não com a vista (II Coríntios 5:7). É assim, ainda, que o homem se torna um daqueles de quem fala o apóstolo neste versículo " o alimento sólido é para os homens feitos, por terem na prática exercitado as faculdades de discernir o que é bom e mau (Hebreus 5:14). O sentimento da falta de realidade deve produzir nele o Desgosto pelo ilusório e passageiro, estes ranços da existência, impróprios para satisfazerem a fome senão dos porcos (Lucas 15:16). Este estágio é descrito por Jesus em termos enérgicos: Se alguém vier a mim e não aborrecer seu pai, sua mãe, sua mulher, filhas e irmãos, e ainda também sua própria vida, não pode ser meu discípulo (Lucas 14:16). Dura é, na verdade, está sentença, mas deste aborrecimento nascerá um amor mais profundo, mais verdadeiro; é necessário passar por ele para atingir a Porta Estreita. O postulante deve, em seguida, aprender a dominar seus pensamentos e, por eles, fazer-se senhor das suas ações, pois que, com a visão interior, o pensamento e a ação fazem um só todo. Quem olhar para uma mulher com desejo, já cometeu com ela o adultério em seu coração (Mateus 5:28). É necessário adquirir a faculdade de suportar o mal com resignação, porque os que aspiram seguir o Caminho da Cruz deverão afrontar longas e amargas decepções e sofrimentos, suportando-os como se eles vissem aquele que é invisível (Hebreus 11:27). As qualidades que precedem, devemos juntar a Tolerância, para ser filhos daquele que faz nascer o Sol sobre os maus como sobre os bons, fazendo cair a chuva sobre justos e injustos (Mateus 5:45), discípulo Daquele que pediu aos apóstolos que não impedissem de fazer uso do seu nome, mesmo a quem não o tomasse como Mestre (Lucas 9:49,60). O postulante deve ainda adquirir a Fé, para a qual nada é impossível (Mateus 17:20) e o Equilíbrio descrito pelo apóstolo (II Coríntios 6:8-10). Deve enfim desejar as coisas que estão no; João alto (Colossenses 3:1) e ansiar com ardor pela felicidade de ver Deus e de se unir a Ele (Mateus 5:8; João 17:21). Quando já fez entrar estas qualidades em seu caráter, a pessoa é considerada prestes à Iniciação, e os Guardiães dos Mistérios lhe abrirão a Porta Estreita. É assim, mas unicamente assim, que ela se torna candidato pronto para ser aceito.  O Espírito que habita o homem é o dom do Deus Supremo, que em si contém os três aspectos da Vida Divina (Inteligência, Amor e Verdade) por ser a imagem de Deus. No curso de sua evolução, começa por desenvolver o aspecto Inteligência, isto é, suas faculdades mentais, e esta evolução se executa na vida diária. Este desenvolvimento, levado a um alto grau e paralelamente ao desenvolvimento moral, conduz o homem à condição de candidato. O segundo aspecto do Espírito é o Amor; sua evolução é a do Cristo. Nos verdadeiros Mistérios é que se pode obter esta evolução; a vida do discípulo é o Drama dos Mistérios, e as frases são assinaladas pelas Grandes Iniciações. Para mostrar os Mistérios no plano físico, costumava-se representá-lo de um modo dramático, e as cerimônias copiavam, sob diferentes aspectos, o modelo sempre seguido sobre a Montanha, porque elas eram sombras, numa época de decadência, das formidáveis Rivalidades do mundo espiritual. O Cristo Místico é, portanto, duplo, a princípio o Logos, Segunda Pessoa da Trindade, que desce à matéria, em seguida, o Amor ou segundo aspecto do Espírito Divino evoluindo no homem. Um representava os processos cósmicos executados outrora; é a raiz do Mito Solar; o outro representa um processo que se passa no indivíduo, fase última da evolução humana, que determinou a aparição, no mito, de novos, e numerosos detalhes; ambos se encontram na narração dos Evangelhos, sua união nos apresenta a Imagem do Cristo Místico. Consideremos, primeiro, o Cristo Cósmico, isto é, a Divindade que se envolve de matéria, a encarnação do Logos, o Deus feito carne. A matéria destinada a formar nosso sistema solar, tendo sido separada da que enche o oceano incomensurável do espaço, recebe, da Terceira Pessoa da Trindade, o Espírito Santo, sua vida que a anima e lhe permite tomar forma. A matéria, condensada, é, em seguida, modelada pela vida do Segundo Logos ou Segunda Pessoa da Trindade que se sacrifica, encerrando-se nos limites materiais e assim se tornando o Homem Celeste, em Seu Corpo todas as formas existem, de Seu Corpo, todas as formas fazem parte. Tal é o processo cósmico representado dramaticamente nos Mistérios; nos verdadeiros Mistérios é mostrado tal como se deu no espaço; nos Mistérios; nos verdadeiros Mistérios é mostrado tal como se deu no espaço; nos Mistérios do plano físico é representado por meio de métodos mágico ou outros, e para certos detalhes mesmo por atores. Os processos são claramente indicados na Bíblia. Quando o Espírito de Deus se movia sobre as águas, nas trevas que estavam na face do abismo (Gênesis 1:1,2), o imenso abismo da matéria não tinha forma alguma, estava vazio no princípio. A forma lhe foi dada pelo Logos, a Palavra, da qual se escreveu: Todas as coisas foram feitas por Ela, e nada foi feito sem Ela (João 1:3). Como disse Charles Webster Leadbeater (1854-1934) em termos admiráveis: "O resultado desta primeira grande emanação é o aceleramento dessa admirável e gloriosa vitalidade, que interpenetra toda matéria, por mais inerte que ela apareça aos nossos imperfeitos olhos físicos. Eletrizados por essa vitalidade, os átomos dos diversos planos desenvolvem toda espécie de atrações e repulsões, até então atentes, e entram em combinações mais variadas". Só quando termina o trabalho do Espírito, o Logos, o Cristo Cósmico Místico, pode revestir-se de matéria; entra, então verdadeiramente, no cio da Virgem, no seio da Matéria ainda virgem e improdutiva. Esta matéria fora vivificada pelo Espírito Santo, que, pairando acima da Virgem, nela verteu sua vida, preparando-a, assim, para receber a vida do Segundo Logos. Este toma-a, então, para veículo de Sua energia. É assim que o Cristo se encarna e se faz carne, "Você não desprezou o seio da Virgem". Nas traduções latina e inglesa do texto original grego do Símbolo de Niceia, na passagem que exprime o período da descida do Cristo, as preposições foram trocadas e, com elas, o próprio sentido. O texto original diz: "e foi encarnado do Espírito Santo e da Virgem Maria, enquanto que a tradução diz: "e foi encarnado pelo Espírito Santo, da Virgem Maria". O Cristo não se reveste apenas da matéria virgem, mas também da matéria já impregnada, palpitante de vida do Terceiro Logos (o Espírito Santo); e de tal forma que a vida e a matéria o envolvem como de uma dupla vestimenta. Tal é a descida do Logos na  matéria, descrita como o nascimento do Cristo de uma Virgem; ela se torna, no Mito Solar, o nascimento do Deus Sol, no momento em que se levanta o signo Virgo. Então começa a ação do Logos sobre a matéria. No Mito, o símbolo deste período primitivo é a infância do Herói. O majestoso poder do Logos curva-se a todas as debilidades da infância, manifestando-se quase nada nas formas frágeis de que ela é a alma. A matéria aprisiona e parece querer sufocar seu Rei criança, cuja glória é velada pelos limites impostos por Ele mesmo. Lentamente, Ele a modela para um destino sublime. Ele a conduz à maturidade e estende-se sobre a cruz da matéria, a fim de poder derramar, da cruz, todas as energias da Sua vida sacrificada. Eis o Logos do qual Platão (428 AC 347) diz que é como uma cruz estendida sobre o universo; o Homem Celeste de pé no espaço, os braços abertos para abençoar; o Cristo crucificado, cuja morte na cruz da matéria impregna toda a matéria de Sua Vida. Parece morto e sepultado, mas se levanta, revestido da própria matéria no seio da qual parecia ter sucumbido, e transporta ao céu Seu corpo material, agora radioso, onde recebe a vida que emana do Pai, tornando-se o veículo das vidas humanas imortais. É a vida do Logos que forma a vestimenta da alma humana; esta vestimenta lhe é dada para que o homem viva através das idades e alcance "o estado de homem feito", atinja a Sua própria estatura. Somos, na verdade, revestido por Ele, a princípio materialmente, depois espiritualmente. Ele sacrificou-se para levar muitos dos seus filhos à glória e, por isso, está sempre conosco até o fim das idades. A crucificação de Cristo é, portanto, uma parte do grande sacrifício cósmico. A representação alegórica desta crucificação, nos mistérios do plano físico, e o símbolo sagrado do homem crucificado no espaço, se materializam a ponto de tornar-se uma verdadeira morte sofrida na cruz e em um crucifixo trazendo um ser humano expirando. Foi então que esta história, hoje a de um homem, foi aplicada ao Instrutor Divino, Jesus, e se tornou a história de sua morte física, enquanto que o nascimento da criança de uma virgem, a infância cercada de perigos, a ressurreição e ascensão tornaram-se igualmente incidentes de Sua vida humana. Os Mistérios desapareceram, mas suas representações grandiosas e empolgantes da obra cósmica executada pelo Logos realçaram a figura venerada do Instrutor da Judeia; O Cristo Cósmico dos Mistérios fica, assim, sob os traços do Jesus Histórico, a Figura Central da Igreja Cristã. Há outro fato dá a História do Cristo um caráter de fascinação Suprema; é que, nos Mistérios, Ele é ainda um Cristo, intimamente ligado ao coração humano, O Cristo do Espírito humano, o Cristo que existe em cada um de nós, que aí nasce e ai vive, é crucificado, ressuscita dentre os mortos e sobe ao céu, no meio dos sofrimentos e do triunfo de todo o "Filho  no Homem". A vida de todo o Iniciado nos verdadeiros Mistérios, nos Mistérios Celestes, está consignada, em suas grandes linhas, na biografia dos evangelhos. Eis porque São Paulo fala, como já vimos, do nascimento, da evolução e da completa maturidade do Cristo no discípulo. Todo homem é potencialmente um Cristo; e o desenvolvimento, nele, da vida do Cristo, segue, de um modo geral, a narração dos Evangelhos nos incidentes principais, mas estes, com vimos, têm um caráter universal e não particular. Cinco grandes Iniciações se sucedem na vida de um Cristo; cada uma arca um grau atingido, em seu desenvolvimento, pela Vida do Amor. Estas Iniciações são ainda hoje concedidas como o foram no passado; a última indica o triunfo final do Homem que, atingindo a Divindade, já ultrapassou o nível da humanidade, tornando-se um Salvador do Mundo. Acompanhemos a história desta carreira ou curso que, sem cessar, se repete no domínio das experiências espirituais e contemplemos o Iniciado reproduzindo em sua própria vida a existência do Cristo. A primeira grande Iniciação marca o nascimento do Cristo no discípulo, que realiza pela primeira vez, em si mesmo, a efusão do Amor Divino e experimenta esta transformação, estranhamente maravilhosa, na qual ele se sente um com tudo o que vive. É o segundo nascimento com o qual se regozijam as hostes celestiais, pois o discípulo nasce no "Reino de Deus" com uma criancinha. Tais são os nomes sempre dados aos novos Iniciados. Assim o entendia Jesus, quando dizia: Se vocês não se tornarem criancinhas, não irão entrar no Reino dos Céus (Mateus 18:3). Certos autores cristãos do começo de nossa era dizem, em termos significativos, que Jesus "nasceu em uma caverna", o estábulo dos Evangelhos. Ora, a "Caverna da Iniciação" é um termo antigo bastante conhecido, e é sempre lá que nasce o Iniciado. Acima da caverna, onde está a criancinha, brilha a Estrela da Iniciação, esta estrela que resplandece sempre no Oriente quando nasce um Cristo criança. Cada uma destas crianças está cercada de perigos e ameaças, perigos estranhos aos quais não estão sujeitas as outras crianças, porque ela é ungida pela confirmação do novo nascimento e por isso as Potências Tenebrosas do mundo invisível procuram sua perda. Apesar destas provações, atinge a idade viril, porque o Cristo, tendo nascido, não pode morrer, tendo que terminar sua evolução. Sua vida se expande em beleza e força, crescendo em sabedoria e espiritualidade, até o momento da segunda grande Iniciação, o Batismo do Cristo pela água e pelo Espírito, que lhe confere os poderes necessários a um Instrutor destinado a percorrer o mundo e a executar a tarefa do "Filho Bem Amado". Então, o Espírito divino desce, em ondas, sobre ele e a glória do Pai invisível o ilumina com sua pura luz. Mas, ao deixar este lugar bendito, é conduzido pelo Espírito ao deserto e de novo exposto à prova de tentações terríveis. Os poderes do Espírito, ao se desenvolverem nele, despertam os Setes Tenebrosos que se esforçam em lhe dificultar o caminho: eles empregam, para isto, estes mesmos poderes, convidando-o a servi-los para sua própria salvação, em lugar de repousar em seu Pai com paciente confiança. Nestas transições rápidas e bruscas que as provas trazem, sua fé e sua força não vacilam e, ao sussurro malicioso do Tentador encarnado, sucede sempre a voz consoladora do Pai. Vencedor destas tentações, volta ao seio dos homens, a fim de consagrar seus poderes ao serviço dos que sofrem, poderes que não quis empregar em seu próprio benefício, recusando-se em mudar em pão a pedra bruta para vencer a própria fome, antes alimentando com alguns pães a cinco mil homens sem contar mulheres e crianças. Sua vida de incessante serviço atravessa, então novamente, um curto período de glória, ao galgar uma montanha, a Montanha Sagrada da Iniciação. Lá é transfigurado e encontra alguns dos seus predecessores, Seres poderosos que outrora tinha trilhado o mesmo caminho. Recebe, assim, a terceira grande Iniciação, e, logo em seguida, a sombra da sua Paixão se aproxima, estendendo sobre ele o seu manto doloroso; mas ele volta resolutamente sua face para Jerusalém e, repelindo as palavras tentadoras dos seus discípulo, vai a Jerusalém, onde o espera o batismo do Espírito Santo e do Fogo. Após a Natividade, a perseguição de Herodes; após o batismo, a tentação no deserto; após a Transfiguração, a entrada na última etapa do Caminho da Crus. É assim que a provocação sempre sucedeu ao Triunfo, até o fim a ser atingido. A vida de amor não cessa de crescer, sempre mais rica e mais perfeita, até que a presença luminosa do Filho de Deus se revele no Filho do Homem; e, ao aproximar-se o momento da batalha, a quarta Iniciação o leva em triunfo a Jerusalém, de onde Ele contempla o Getsêmani e o Calvário. Neste instante, está o Cristo pronto a se oferecer no sacrifício da cruz, prestes a afrontar a agonia do Jardim, onde adormecem aqueles que escolheu, enquanto ele se debate na mais terrível angústia. Pede, um instante, que o copo se afaste, mas sua vontade poderosa triunfa. Estende a mão, toma o copo e bebe, enquanto o anjo o fortifica e consola, como fazem os anjos quando veem o filho do Homem curvado sob a dor. bebe o copo amargo da traição, do abandono, renegado de todos, escarnecido e só, no meio de seus inimigos que o insultam. Caminha para a suprema prova. Torturado pela dor física, ferido pelo espinho cruel da dúvida, despojado de suas imaculadas vestes, atirado às mãos dos seus inimigos, desprezado, aparentemente, por Deus e pelos homens, suporta tudo com paciência e, na angustia máxima, espera resignado o socorro no último transe. Mas ainda lhe resta o sacrifício da cruz, em que morre a vida da forma, onde renuncia inteiramente à vida do mundo inferior. Cercado de inimigos triunfantes e zombadores, sentindo o horror da grande obscuridade que o envolve, sofre o assalto de todas as forças do mal, e sua visão interior se vela. Encontra-se, neste momento supremo, só, inteiramente só. Finalmente, seu coração heroico, esmagado pelo desespero, lança um grito para o Pai que parece tê-lo abandonado. A alma humana afronta, na solidão absoluta, a intolerável tortura de uma aparente derrota. Mas, fazendo apelo a toda a sua força indomável, fazendo o sacrifício da vida inferior, aceitando a morte voluntariamente, abandonando o corpo dos desejos, o Iniciado desce aos infernos para que possa conhecer todas as regiões do Universo, onde existem almas pedindo auxílio; os mais deserdados devem ser atingidos por seu amor infinito. Surgindo, então, do seio das trevas, ele revê a luz, sentindo-se de novo o Filho, inseparável do Pai. Levanta-se para a vida que não tem fim, irradiando alegria, com a certeza de ter afrontado e vencido a morte, sentindo-se bastante forte para prestar a toda a criatura um socorro infinito, capas de derramar sua vida em toda a alma que luta. Permanece algum tempo ainda com os discípulos, instruindo-os, explicando-lhes os mistérios dos mundos espirituais, preparando-os a seguir o caminho que acaba de percorrer; depois, terminada sua vida terrestre, sobe ao Pai e, por meio da quinta Grande Iniciação, torna-se o Mestre Triunfante, o traço de união entre Deus e o home. Tal era a história, vivida nos verdadeiros Mistérios Antigos, como nos de hoje, história representada sob forma dramática e simbólica nos Mistérios do plano físico, que apenas levantam uma ponta do véu. Tal é o Cristo dos Mistérios sob seu duplo aspecto, Logos e homem, cósmico e individual. Como nos admirar que essa história, vagamente compreendida pelos místicos, sem que eles a conhecessem, esteja intimamente unida ao coração humano e seja a inspiração das vidas nobres? O Cristo do coração humano é, quase sempre, Jesus considerado como o Cristo místico e humano, que luta, sofre, morre e, finalmente, triunfa. O Homem em quem a humanidade se vê crucificada e ressuscitada, cuja vitória promete a vitória a todos os que, semelhantes a ele, sejam fiéis na morte e mais além, o Cristo que jamais será esquecido enquanto o mundo tiver necessidade de Salvadores e os Salvadores se sacrificarem pela Humanidade. Ora, nos planos superiores, os símbolos representam igualmente os objetos e formam um alfabeto pitoresco empregado por todos os autores de mitos, cada um possuindo um sentido determinado. Um símbolo serve para representar certo objeto, assim coma as palavras servem para distinguir os objetos entre si. O conhecimento dos símbolos é, portanto, necessário para ler um mito, pois os primeiros autores dos grandes mitos foram sempre iniciados habituados a empregar a língua simbólica, usando símbolos fixo e convenciona. Um símbolo oferece um sentido principal e diferentes sentidos secundários que se ligam ao primeiro. O Sol, por exemplo, é o símbolo do Logos, eis um sentido principal. Mas o Sol assinala também uma encarnação do Logos, ou ainda um qualquer dos grandes Enviados que o representam momentaneamente, como um embaixador representa seu Rei. Os grandes Iniciados, encarregados de missões especiais, que se encarnam entre os homens e com eles vivem durante algum tempo, como Reis e Instrutores, seriam designados pelos símbolos do Sol. Individualmente falando, este símbolo não lhes pertence, mas lhes é conferido por sua dignidade. Todos os que são representados por esse símbolo oferecem certas particularidades, e se encontram em certas situações conforme seu modo de atividade no decurso de suas vidas terrestres. O Sol é a sombra física ou, como é chamado, o corpo do Logos; por consequência, o seu curso anual representa a atividade dele, embora de modo imperfeito: tal uma sombra que representa os movimentos do objeto que a produz. O Logos, o Filho de Deus baixando ao plano material, tem por sombra o curso anual do Sol e está verdade representa o Mito Solar. Assim, também uma encarnação do Logos, ou de um dos seus grandes embaixadores, se representará com uma sombra em seu corpo mortal, esta atividade do Logos. As biografias destes enviados oferecem, então, forçosamente, pontos idênticos e, ainda mais, a ausência destes pontos indicaria imediatamente que a pessoa em questão não é um embaixador com plenos poderes, mas de caráter menos importante. Assim, portanto, o Mito Solar é uma encarnação onde aparece, em primeiro lugar, a atividade do Logos ou Verbo no Cosmos e, em seguida, os fatos da vida de um Ser que é, ou uma encarnação do Logos ou de um dos Seus embaixadores. O Herói do mito é, geralmente, representado como um Deus ou semideus, e sua carreira será determinada pelo curso do Sol, por ser este astro a sombra do Logos. A parte do trajeto percorrida durante a vida humana é a que cai entre o solstício (direção do sol no espaço quando ele aparece em seu ponto mais distante norte ou sul entre as estrelas) de inverno, morre no equinócio (época do ano em que o Sol, em seu movimento próprio aparente na eclíptica, corta o Equador Celeste, correspondendo a igualdade de duração dos dias e das noites) da primavera e, vencedor da morte, sobe ao céu. A este respeito é interessante citar o seguinte fragmento em que o autor, colocando-se no ponto de vista mais geral, encara o mito como uma alegoria que traduz verdades internas. "A lenda diz Alfredo de Vigny (1797-1863), é, na maioria das vezes, mais verdadeira que a história, porque não refere contos incompletos e abortivos, mas o próprio gênio dos grandes homens e de grandes Nações". Este belo pensamento pode -se aplicar admiravelmente ao Evangelho, que não é apenas a narração do passado, mas a verdade de tudo o que existe e existirá eternamente. O Salvador do Mundo será sempre adorado pelos reis da inteligência, representados pelos Magos. Sempre Ele multiplicará o pão Eucarístico para alimentar e reconfortar as almas; sempre, quando O Invocarmos, à noite e no meio da tormenta, Ele virá a nós, andando sobre as águas, sempre estenderá sua mão para nos ajudar a transpor a crista das vagas; sempre há de curar nossos males e nos encher de luz; sempre, para seus fiéis, aparecerá luminoso e transfigurado, sobre o monte Tabor (em Israel), interpretando a lei de Moisés e moderando o zelo de Elias. Como veremos, os Mitos estão intimamente ligados aos Mistérios, os quais consistiam, parcialmente, em mostrar em quadros animados os acontecimentos dos mundos superiores, que terminam tomando corpo nos Mitos. Nos pseudo (falso) mistérios, as reproduções incompletas dos quadros animados dos verdadeiros mistérios eram mesmo representados em um drama e em cenas, por autores. E muitos mitos secundários são precisamente estes dramas postos em palavras. Nada de mais claro, nestas linhas, do que a história do Deus Solar; sua vida laboriosa ocupa os seis primeiros meses do ano solar, sendo os seis últimos um período de proteção e de conservação gerais; nasce sempre no solstício do inverno, depois do dia mais curto do ano, à meia noite, 24 de dezembro, quando o signo da Virgem se eleva acima do horizonte e, nascendo no momento em que surge este signo, ele é sempre posto no mundo por uma virgem que conserva sua virgindade após o nascimento da Criança Solar, como a Virgo celeste permanece intacta e pura, quando, nos céus, dá nascimento ao Sol. A criança é fraca e débil como um recém nascidos, vindo ao mundo quando os dias são mais curtos e as noites mais longas(ao norte do Equador); a sua infância é rodeada de perigos, pois neste instante o reino das trevas é mais longo do que o seu; sobrevive, contudo, a todos os perigos que a ameaçam, e o dia se alonga a medida que se aproxima o equinócio da primavera; finalmente, chega o momento de sua passagem, a crucificação cuja, data varia cada ano. Certas esculturas representam o Deus Solar rodeado pelo círculo do horizonte; sua cabeça e seus pés tocam o círculo ao norte, e ao sul, suas mãos estendidas alcançam a leste e a oeste. "Ele foi crucificado". Em seguida, eleva-se triunfante e sobe ao céu; amadurece a espiga e a uva, dando sua própria vida para formar sua substância e, por eles, o corpo dos seus adoradores. O Deus, nascido no alvorecer de 25 de dezembro, é sempre crucificado no equinócio vernal (diz das plantas cujas flores desabrocham na primavera) dando sua vida para alimentar seus adoradores. Tais são os caracteres mais importantes do Deus Solar. A data do nascimento é fixa, a da morte é variável, e este fato torna-se dos mais significativos, quando nos lembramos que a primeira responde a uma posição solar fixa e a segunda a uma posição variável. A Páscoa é uma festa variável, calculada segundo as posições relativas do Sol e da Lua. Isto seria um modo impossível de fixar cada ano o aniversário de um acontecimento histórico, enquanto que é um modo muito natural, ou melhor, inevitável, de calcular uma festa solar. Estas datas mudáveis não se referem a história de um homem, mas ao Herói do Mito Solar. Os mesmos acontecimentos se encontram na vida dos diferentes Deuses Solares, e a antiguidade nos dá inumeráveis exemplos. A Ísis egípcia, como Maria de Belém, era Nossa Senhora Imaculada, Estrela do Mar, Rainha do Céu, Mãe de Deus; nós a vemos representada de pé sobre o crescente, coroada de estrelas; alimenta o jovem Hórus (na mitologia é considerado o deus dos céus. Possuía cabeça de falcão e corpo de humano, simbolizando a luz o poder e a realiza), e a cadeira em que está assentada, com o Filho sobre os joelhos, traz uma cruz no encosto. A Virgo do Zodíaco (relacionado aos signos Escorpião e Leão na cadeia astrológica) é representada, em certos desenhos antigos, por uma mulher amamentando uma criança, o que representa o tipo de todas as Madonas futuras com seus divinos filhos, e de onde se originou o símbolo; essa mulher, igualmente, é representada tendo em seus braços o divino Krishna (é uma figura mitológica central do Hinduísmo. Aparece em um amplo espectro de tradições filosóficas e teológicas hindus, sendo retratado em várias perspectivas: como um deus do panteão hindu, como uma encarnação de Vishnu ou ainda como a forma original e suprema de Deus. Krishna é o oitavo Avatar de Vishnu), como também Milita ou Istar em Babilônia, sempre com a coroa de estrelas, e seu filho Tamuz nos joelhos. Mercúrio, Hércules, Perseias, os Diosouros, Mitras e Zaratustra eram todos de nascimento tanto divino como humano. A relação entre o solstício de inverno e Jesus é igualmente significativo O nascimento de Mitras (ou amigo é o deus sol, da sabedoria e da guerra na mitologia Persa) era celebrado, no solstício de inverno, com grandes regozijos. Hórus também nasceu nesta data. "Seu nascimento é um dos grandes mistérios da religião egípcia. Naqueles tempos, encontram-se pinturas murais que o representam. Era filho da Divindade. Pelo natal, exatamente correspondendo a nossa festa, sua imagem era levada fora do santuário com cerimônias especiais, como em Roma a imagem do Bambino (criança) é ainda conduzida fora das igrejas, Williamson exprime-se nesses termos: "Todos os cristãos sabem que 25 de dezembro é, agora, (convencionou-se) a festa do nascimento de Jesus, mas poucas pessoas sabem que nem sempre foi assim. Cento e trinta e seis datas diferentes foram escolhidas por diversas seitas (esse termo é hoje emprego em sentido geral conotativo e não mais no aspecto estrito denotativo, estando em desuso pela linguagem culta de tradição ocidental, pois o vocábulo traz insinuação pejorativa e discriminatória) cristãs. Joseph Barber Lighfoot (1828-1889) coloca este acontecimento a 15 de setembro, outro em fevereiro ou agosto. Epifânio de Salamina (310-403) menciona duas seitas, sendo que uma celebrava o Natal em junho, a outra em julho. A questão foi definitivamente resolvida pelo Papa Júlio I (280-352), em 337, e São Crisóstomo (347-407), escrevendo em 390, diz: "Este dia, 25 de dezembro, em Roma, acaba de ser escolhido como o do nascimento de Cristo, a fim de que os pagãos, ocupados com suas cerimônias (as brumélias, em honra de Baco), deixem os cristãos celebrarem seus próprios ritos sem serem molestados". Edward Gibbon (1737-1794), na Decadência e Queda do Império Romano, diz também: "Os romanos (cristãos), tão ignorantes como seus irmãos com relação a data do nascimento do Cristo, escolheram, para festejá-la, o 25 de dezembro, no momento das brumélias do solstício de inverno, nas quais os pagãos celebram cada ano o nascimento do Sol". Charles William King (1818-1888), em Gnostic and Their Remains, diz também: "A antiga festa celebrada a 25 de dezembro, em honra do nascimento do Ser Invencível, e assinalada por grandes jogos no Circo, foi, depois, transferida para comemorar o nascimento do Cristo, cuja data certa, como confessam numerosos Padres da Igreja, era então, como hoje, desconhecida". Em nossos dias, segundo o Cônego Farrar: "Todo o esforço para descobrir o mês e o dia da Natividade tem sido inútil. Não existem dados que nos permitam determiná-los, mesmo, de maneira aproximada". Podemos concluir, do que precede, que a festa do solstício de inverno foi, na antiguidade, celebrada nos países mais afastados uns dos outros, em honra do nascimento de um Deus que se chama, quase invariavelmente, um Salvador e cuja mãe é chamada Virgem Imaculada. Enfim, as notáveis semelhanças de que demos exemplo, não só entre os nascimentos, como também entre as vidas desses Deuses Salvadores, são muito mais numerosas para se explicar por uma simples coincidência". No que concerne ao Buda (563 AC 483), é possível verificar a maneira pela qual a um Mito se liga um personagem histórico. A história de sua vida é bastante conhecida e, na maioria das narrações indianas, seu nascimento é simplesmente o de um homem; mas, segundo a versão chinesa, Ele (Buda) nasceu de uma Virgem, chamada Maiadevi, como o Mito arcaico fez dele um novo Herói. Conta-nos Williamson que, entre os povos célticos, se acendem fogueiras sobre as colinas; estes fogos, que os irlandeses e os montanheses da Escócia chamam Bheil ou Baaltine, trazem, assim, o nome de Bel, Bal ou Baal, a antiga divindade dos Celtas (atual França, Itália, Portugal, Espanha e Reino Unido), o Deus Sol, embora eles sejam, agora, dedicados ao Cristo. Sob este ponto de vista, a festa do Natal não poderia senão apresentar novos motivos de regozijo e um caráter mais sagrado, já que os servidores do Cristo, vendo nela a reprodução de antiga solenidade, a encontrariam no mundo inteiro, desde os tempos mais remotos. Os sinos de Natal ressoam através da história da humanidade, e a noite dos tempos nos envia o eco das suas harmonias vibrantes. Não é a posse exclusiva, mas a aceitação universal que dá o sinal que dá o sinal distintivo da verdade. A data da morte, como já dissemos, não é fixa como a do nascimento. A primeira é calculada segundo as posições relativas do Sol e da Lua no equinócio da primavera, que varia cada ano, e a morte de todos os Heróis Solares é celebrada nesta época. O animal que simboliza o Herói é o signo do Zodíaco, no qual o Sol atinge o equinócio vernal; ora este varia conforme a precessão dos equinócios. Na Assíria, Oanes tinha por signo Pisces, o Peixe; era considerado por esta forma. Mitra coincide  com Tauro. Osíris era adorado sob a forma de Osíris Ápis ou Serápis, o Touro. Na Babilônia, Merodache era adoraedeo sob a forma de um Touro, como o era Astarteia, na Síria. Quando o Sol está em Áries, o Carneiro ou Cordeiro, Osíris é representado sob a forma do Cordeiro; assim também  Astarteia e Júpiter Ámnon, e é ainda o mesmo animal que se torna o símbolo de Jesus, o Cordeiro de Deus. Encontra-se por toda a parte esculpido, nas catacumbas (edificação subterrânea utilizada como sepultura ou depósito de ossos de pessoas mortas), o Cordeiro como símbolo de Jesus; Ele é quase sempre assim representado apoiando-se na cruz. Williamson diz a este respeito: "O Cordeiro acabou por ser representado na cruz, mas foi durante o sexto sínodo de Constantinopla, reunido em 680, que se decidiu substituir o símbolo primitivo por uma figura humana crucificada. Este decreto foi confirmado pelo Papa Adriano I (700-795). O Peixe, símbolo dos mais antigos, é igualmente aplicado a Jesus, e assim Ele é representado nas catacumbas. A morte e a ressurreição do Herói Solar no equinócio da primavera, ou perto dele, se encontram tão amplamente difundidas como seu nascimento no solstício do inverno. É o momento em que Osíris , abatido por Tifon, é representado no círculo do horizonte, os braços estendidos, como um crucificado. Esta atitude indicava primitivamente não o sofrimento, mas a bênção. Cada ano, no equinócio da primavera, a morte de Tamuz é chorada na Babilônia e na Síria; igualmente, na Síria e na Grécia para Adônis, na Frígia para Átis, representado sob a forma de um homem cravado com um cordeiro aos pés. A morte de Mitra era celebrada e maneira semelhante na Pérsia, e a de baco e Dionísio, um só e mesmo herói, na Grécia. No México, encontramos a mesma ideia, como de ordinário, acompanhada da cruz. Em todos estes países, ao luto pela morte, sucedem-se imediatamente os regozijo pela ressurreição pela ressurreição. Notemos, a propósito, o interessante fato que a palavra "Easter" (páscoa em inglês), como verificaram os investigadores, se deriva de istar, virgem e mãe de Tamuz imolado. É igualmente significativo observar que o jejum que precede a morte, no equinócio vernal, a quaresma, se encontra no México, em Babilônia, na Assíria, no Egito, na Pérsia, na Ásia Menor (Turquia); em certos casos, a sua duração é igualmente de quarenta dias. Nos pseudos mistérios, a história do Sol era representada sob a forma de um drama; nos antigos Mistérios, o Iniciado a reproduzia em sua própria vida; eis por que os Mitos Solares e os grandes fatos da Iniciação se encontram enlaçados e confundidos. Eis por que, quando Cristo, o Messias, se torna o Cristo dos Mistérios, se ligam a Ele, renovando, assim, as velhas narrações, e que os mais recentes Instrutores Divinos  representam mais uma vez o Logos Solar. Então a festa de Sua Natividade torna-se a data imemorial em que o Sol nasceu de uma Virgem, e a alegria dos exércitos celestes enche o céu da meia noite , cantando: "Muito cedo, muito cedo, Cristo nasceu ( ... )". Trata-se de um verso do cântico de coral Christ Was Born on Christmas Day (Cristo Nasceu no Dia de Natal) de John Mason Heale.  A grande lenda do Sol tendo-se ligado a pessoa do Cristo, o signo do Cordeiro torna-se o da Sua crucificação, como o da Virgem ficou sendo o da uSua Natividade. Vimos que, se o Touro era consagrado a Mitra e o Peixe a Oanes, o Cordeiro o era ao Cristo. A razão é sempre a mesma: o Cordeiro era o signo do equinócio vernal, na época histórica em que Ele transpôs o grande círculo do horizonte e foi crucificado no espaço. Esses Mitos Solares, que se repetem através  das idades, cada vez com um herói de nome diferente, não podem ser ignorados pelo adorador. E quando são empregados como armas para destruir a majestosa figura do Cristo, é necessário não negar o fato, mas fazer compreender o sentido profundo dessas narrações e verdades espirituais, expressas veladamente por estas legendas. Por que  se combinam essas lendas com a história de Jesus? Por que se condensam em torno dele, personagem histórico? Essas narrações não se referem de modo particular a um indivíduo chamado Jesus, mas ao Cristo Universal, o homem simbolizando um Ser Divino e representando uma verdade natural fundamental, a um homem investido de uma certa função gloriosa, colocado diante da humanidade em certas condições características, tendo com ela relações particulares que se renovem de idade em idade, à medida que as gerações se sucedem e as raças se renovam. Jesus é, portanto, como todos os Seus Predecessores, o Filho do Homem, título particular  e distintivo, o de um ofício e não o de um indivíduo. O Cristo do Mito Solar era o Cristo dos Mistérios, e nós encontramos no Cristo Mítico o segredo do Cristo Místico". Livro As Revelações Secretas da Religião Cristã. Abraço. Davi.

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