Judaísmo. www.morasha.com.br. A SEFIROT E O HOMEM. Ao centro de Sua Criação, Du’s colocou o homem,
insuflando-lhe uma centelha Divina, que se constitui na essência de sua vida
interior. Apesar de ser o homem composto de matéria e espírito, seu corpo é
somente o invólucro material dessa faísca Divina. Criando o homem apenas à Sua
imagem, D's deixou-o livre para escolher caminhos e para transcender a si
mesmo, a suas contradições internas, suas inclinações, sendo capaz de atingir
as alturas e as profundezas espirituais. Deixou-o livre para se afastar ou se
aproximar Dele. No homem, a busca de si mesmo, de seu "eu
verdadeiro", inicia-se com o primeiro vislumbre de consciência e perdura
até o último fôlego. Todo homem anseia imbuir sua existência de sentido
objetivo, mas a realidade em sua volta, bem como seus medos e desejos, interfere
em sua percepção. Às vezes, ao acelerar o ritmo de sua vida para obter as
coisas que deseja, acaba relegando para um segundo plano a procura do eu
verdadeiro. A Cabalá é uma doutrina de unidade através da qual o homem pode
aprender que a realidade é um todo no qual o visível e o invisível, o material
e o espiritual se misturam e se unem. Segundo o Talmud, antes de vir para o
mundo nosso saber é ilimitado. Nossa alma é repleta de sabedoria. Mas, ao
nascimento, um anjo "arquiva" todo esse conhecimento em nosso inconsciente.
E, assim, no decorrer da vida devemos "reaprender" esta sabedoria,
transformando-a em realizações. A Cabalá ensina que o homem criado à
"imagem de D’us" é um microcosmo de Seus poderes, e as qualidades
básicas da mente e da emoção humana são o reflexo das "Qualidades"
usadas por D’us para criar e governar Sua criação. As faculdades mentais do
homem refletem o Intelecto que D's usou para criar o mundo e, desta forma, o
homem tem a capacidade de compreender as leis e a lógica da Criação. A Cabalá ensina
que a busca do "eu verdadeiro" deve trilhar o caminho da alma, pois
esta é a verdadeira essência do homem, sua parte infinita, seu eu
inapreensível. É quem nos dá a vida. É o centro espiri-tual, a parte do ser que
ama, sente, percebe. É a fonte de energia inesgotável que permite criar,
verbalizar, conectar-se com os outros em nossa volta e se manifesta através da
mente, das emoções e dos atos. Segundo a Cabalá o homem é composto das mesmas
"forças fundamentais", da mesma "matéria prima" através das
quais D's deu forma e conteúdo à Sua Criação: as Dez Sefirot. Estas se originam
no Infinito do Ein Sof e emanam através dos mundos, olamot, criando uma
"corrente espiritual" que liga e vivifica todas as coisas. É através
das Sefirot que a Energia Divina flui, permeia e se torna parte de cada coisa
vivente. A alma do homem - a Centelha Divina, a neshamá - é o "cordão
umbilical" que transcende todos os universos, olamot, e nos liga ao
Infinito, o Ein Sof, a D's. Sendo composta da essência interior das Sefirot, a
alma humana manifesta os atributos ou qualidades das mesmas. Portanto, pode-se
dizer que a alma do homem é o "cabo condutor" através do qual fluem e
se individualizam as Dez Sefirot, enraizadas no mundo espiritual, tornando-se
as bases de nossas personalidades. A maneira pela qual cada um de nós se
relaciona com o seu meio é "produto" das possíveis combinações de
Sefirot. Nos textos cabalísticos a configuração das Sefirot é descrita
graficamente como um arranjo vertical ao longo de três eixos paralelos, ou
kavin, numa alusão ao corpo humano. Consequentemente, cada Sefirá é associada a
um membro específico. No homem, as Dez Sefirot podem ser divididas em dois
grupos. O primeiro, chamado de Sêchel, é composto das Sefirot Chochmá, Biná e
Da'at, e representa os processos internos mentais. O segundo, composto das
outras sete Sefirot, é chamado de Midot e representa o coração e as emoções
humanas. É atributo da mente o direcionamento, enquanto o sentimento não tem
direção. Mas, acima de todas as Sefirot está Keter. No homem, esta é a
verdadeira essência do ser criado à imagem de D's. Superior ao próprio
pensamento, Keter é fonte da vontade, do querer, do livre arbítrio. É através
de sua vontade que o homem consegue se elevar acima de todas as pressões
externas ou internas e tomar suas decisões, independentemente de todas as
considerações. E é o arrependimento o que faz o homem se conectar com Keter. As
Sefirot da mente. Chochmá - Sabedoria. É o fluxo de energia responsável pela
inspiração e criatividade, a base da percepção intuitiva. É o pensamento em seu
estado mais puro; aquele que não emana de um processo racional. É a "alma
da idéia", o estalo subconsciente que desencadeia o raciocínio. Esta
Sefirá é também chamada de mochá setumá, "a mente oculta", uma
metáfora para definir o subconsciente. Chochmá contém os elementos básicos de
nossa personalidade, é a base sobre a qual a construímos. Segundo o Zohar, é a
"totalidade de toda a individualização", pois nela estão
incorporados, ao nascer, os axiomas fundamentais do conhecimento e da
sabedoria. Chochmá é também a capacidade que o ser humano tem de aprender com
os outros. Quem tem Chochmá, perguntam nossos sábios no Pirkei Avot, a Ética
dos Pais. É aquele que aprende com todas as pessoas. No corpo 'sefirótico' é a
parte direita do cérebro. Biná - Entendimento. É a compreensão, o raciocínio
dedutivo. É o sistema lógico através do qual o fluxo de pensamento proveniente
de Chochmá é delineado e definido. Esta Sefirá direciona o primeiro
"estalo" momentâneo e ainda sem forma, tornando-o tangível. É a
habilidade inerente a cada ser humano de sintetizar, racionalizar, fazer
distinções lógicas e desenvolver mentalmente uma ideia. Em Biná é estabelecida
a linha de pensamento. Considera-se como sendo uma Sefirá feminina se comparada
à Chochmá masculina. A Cabalá usa a metáfora literária de "pai" e
"mãe" para descrever a relação que existe entre a ideia embrionária e
a já desenvolvida, entre Chochmá e Biná. No corpo “sefirótico”, é a parte
esquerda do cérebro. Os estudos científicos recentes sobre as funções cerebrais
humanas têm associado a criatividade com a parte direita do cérebro e a lógica
e a racionalização com a esquerda. Exatamente como o faz a Cabalá. Da'at -
Conhecimento. É a lógica aplicada, a verificação abstrata dos fatos, a
cristalização da consciência em termos de conclusões. Da'at assegura a
continuidade do pensamento pois cria uma ponte entre as atividades cerebrais
Chochmá e Biná. A habilidade que temos de expressar nossa inteligência, de
comunicar nossos pensamentos, de desenvolver um tipo de relacionamento
inteligente com o mundo se resume em Da'at. Os processos mentais só tomam forma
quando são externalizados pelas Sefirot da emoção e Da'at é responsável pela
conexão entre a mente e as emoções. As Sefirot da emoção humana. Estas são
divididas em dois grupos. As primeiras três Sefirot - Chessed, Guevurá e
Tiferet - representam as relações que envolvem o dar, num sentido
unidirecional. Neste nível ainda não há reciprocidade nos relacionamentos. As
três seguintes - Netzach, Hod e Yessod - agem diretamente no mundo real e
representam relacionamentos onde há reciprocidade e "concretização"
dos sentimentos. Chessed - Graça, amor. É o altruísmo, o compartilhar, o dar
incondicional, a bondade, a mão estendida para o outro. A Torá nos ensina que
Criação foi imbuída de altruísmo e o amor é a emoção mais básica no ser humano.
Orientada para os outros, Chessed é a primeira das Sefirot de ação responsável
pelo início da interação, a primeira centelha que inicia a ação. Representa a
extroversão, o fluxo de energia que nos abre para o mundo. Quando estendemos
nossa mão para o outro é o fluxo de Chessed que se manifesta. O homem de
Chessed é aquele que dá de si mesmo, seja em termos de vontade, afeição ou
relação. Abraão é o patriarca que representa este atributo Divino. Mas Chessed
é um sentimento e sentimentos internos não possuem uma direção. O dar de si sem
limites ou direção, o dar indisciplinado, pode levar ao esgotamento. Por isso
mesmo, o fluxo da bondade e altruísmo deve ser guiado pelas Sefirot da mente.
Segundo os ensinamentos místicos, a maneira fundamental de penetrar no mistério
da Chessed é amando D's ao extremo. Consequentemente, amando todas as Suas
criaturas. O que é um Chassid, perguntam nossos sábios. Alguém que age por amor
a D's. No corpo sefirótico, Chessed é o braço direito. Guevurá - Poder, força.
É o recuo das forças para dentro de si, a autocontenção. O fluxo de Guevurá é a
fonte de energia para a justiça, o controle, o domínio sobre os impulsos. Na
Guevurá o ser humano encontra a força e a habilidade de superar sua natureza,
suas contradições e conflitos. Perguntam nossos sábios, na Éticas dos Pais:
'Quem é forte? Aquele que controla seus impulsos', pois é mais difícil refrear
seus próprios impulsos do que resistir a um perigo externo. Isaac é o patriarca
símbolo da Guevurá, pois ao ser atado tinha controle total sobre si próprio, ao
ponto de anular sua própria vontade. Não controlada, esta Sefirá pode levar o
homem a uma situação em que não consegue dar nem receber, uma retração total em
si mesmo, podendo ser fonte de energia para o ódio e o medo. No corpo
sefirótico, é o braço esquerdo. O Talmud aponta-nos algo essencial sobre as
relações humanas: devemos aproximar as pessoas em nossa volta com a mão direita;
mas, ao mesmo tempo, mantê-las à distância com a esquerda. Só assim o homem
poderá manter em cada relacionamento sua própria identidade. Tiferet - Beleza e
harmonia. Esta Sefirá também é chamada de Rachamim, compaixão. Tiferet
equilibra os fluxos de Chessed e Guevurá. É o dar equilibrado, o julgamento
atenuado pelo amor. A habilidade de harmonizar e integrar os dois extremos.
Representa o desenvolvimento do ser humano até seu maior potencial. Os sábios
nos ensinam que nossa compaixão deve estender-se sobre todas as criaturas, não
desprezando nem destruindo nenhuma delas. Tiferet representa também a verdade,
pois a pessoa só pode ser verdadeira se estiver equilibrada e somente estando
ela mesma equilibrada poderá ter relações equilibradas. Jacob é o patriarca que
simboliza a Tiferet. Ele é exemplo daquilo que o Talmud define como uma pessoa
verdadeira: "aquele que é por fora aquilo que é por dentro". No corpo
sefirótico, é o tronco. Netzach - Eternidade. É a vontade de vencer,
conquistar; o impulso profundo de realização. À medida em que surgem os
sentimentos, devem ser realizados através de relacionamentos. Netzach é
primeira Sefirá onde há reciprocidade. Ensinam nos nossos sábios que "mais
que o discípulo quer aprender, o mestre quer dar". Esta Sefirá é responsável
pela necessidade que cada homem tem de se relacionar com o "outro". E
isto pode ser participar de numa conversa, estender a mão ou simplesmente
praticar qualquer ação que toque o outro. Netzach significa vitória; conseguir
sair das limitações do nosso próprio ser para entrar no mundo do outro. É o dar
de acordo com as necessidades de quem esta dando. Moshé Rabeinu representa o
fluxo de Netzach. Este atributo é a perna direita do corpo sefirótico. Hod -
Esplendor. É a sinceridade, o zelo. Na luta para o cumprimento das
responsabilidades ou atingir o que se deseja, é o poder de rechaçar os
obstáculos que surgem e perseverar. Relacionamentos sinceros ou duradouros não
resultam de um simples alcançar o outro. Dependem também de nossa habilidade de
criar um espaço interno para aceitar o outro. É o dar de acordo com as
necessidades de quem recebe. É estar em total conformidade com a identidade do
outro. Hod restringe e contém o fluxo de Netzach para que o relacionamento não
se torne dominador. Aarão é o símbolo de Netzach. No corpo sefirótico, é a
perna esquerda. Yessod - Fundamento. Representa o poder da conexão, a força
vital procriadora. Yessod é o pilar cósmico, o eixo do mundo. Esta Sefirá
representa o tipo de relação recíproca onde todo o ser está envolvido, é o
estreito vínculo entre dois entes. A capacidade de fazer contatos e se
relacionar com os outros. É também o poder de comunicação e a habilidade de se
concentrar na pessoa com quem estamos comunicando-nos. A luz e o poder das
Sefirot são canalizados por Yessod e através deste chega-se a Malkut. José,
filho de Jacob, representa Yessod. Malkut - Reinado. É a vivência, a realização
do potencial no homem. É a transição da alma para a existência externa; do
pensamento para o fato. Assim como um ângulo define o encontro de duas ou mais
linhas, Malkut define o ponto de encontro de todas as Sefirot, sua expressão
final. Representa a coesão final em um relacionamento. O Rei David representa
esta Sefirá. Conclusão. O homem está ligado a um sistema de mundos superiores,
apesar de este sistema não lhe estar revelado. Cada um de nós é composto por
fluxos espirituais de energia que definem nossa personalidade. Através de
nossas ações e como resposta a estas, que estabelecemos (ou não) um equilíbrio
entre o espiritual e o material nossa mente e nossas emoções, assim como entre
nós e o mundo que nos cerca. A jornada mística da busca do “eu verdadeiro” se
inicia com a conscientização deste fato espiritual da vida. Para a Cabalá, as
Sefirot não são um sistema teológico abstrato, mas sim um mapa da consciência
humana através do qual poderão ser descobertas as dimensões do ser, pois a
totalidade espiritual e psicológica do ser humano pode ser obtida pela
meditação nas qualidades de cada Sefirá e pela imitação dos atributos Divinos.
Estas descobertas poderão levar a uma revolução na percepção do sentido da
vida. Um dos preceitos básicos do Judaísmo é que a vida tem sentido, e a meta
do homem é se aperfeiçoar e aperfeiçoar ao mesmo tempo o mundo à sua volta. A
Cabalá nos ensina que o homem é a única criatura que tem como superar sua
natureza interna, suas inclinações, aperfeiçoar-se espiritualmente
aproximando-se desta forma de seu Criador. D's disse a Abraão: "Vai".
Segundo nossos sábios, este versículo tem uma mensagem que se destina a todas
as pessoas (...). "Vai para dentro de ti mesmo; conhece-te e
completa-te". Terminando, deixamos com os leitores de Morashá, para
reflexão, este pensamento do Rav Abraham Kook (1865-1935), erudito deste século
que ora termina: "Quanto mais forte és, mais precisas procurar-te". www.morasha.com.br.
Abraço. Davi
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