Yoga. www.yoganarayana.com.br. Por Jorge Bertolazzo
Stella. A BHAGAVAD GITA E O NOVO TESTAMENTO BÍBLICO. 1. A Bhagavad-Gītā compreende
os capítulos 23 a 41 do Bhiṣmāpavan, uma das seções da grande
epopeia de mais de 100.000 estâncias do Mahābhārata. É composta de 18
capítulos ou cantos, que somam 701 estrofes. A Bhagavad-Gītā é um
poema filosófico-religioso, chamado o Evangelho do Kṛṣnaísmo e denominado também o Evangelho da Índia. É o livro mais
lido, mais discutido e mais examinado de toda a literatura sânscrita.
A Bhagavad-Gītā constitui o famosíssimo e difundidíssimo texto
religioso do hinduísmo. Fala ao coração e à mente e corresponde às várias
aspirações da religiosidade humana. Parte alguma da grande epopeia, ou texto algum
da literatura sânscrita, foi, como este, lido e aprendido de memória, em toda a
Índia. Nenhum poema precioso foi tantas vezes copiado em delicados manuscritos,
adornado com tão delicadas miniaturas, provido de tal imensidão de comentários
e comentários de comentários, e traduzido em todos os dialetos modernos da
Índia. G Humboldt disse: “É o mais belo e talvez o único poema verdadeiramente
filosófico que a literatura nos possa oferecer (…). É a obra mais profunda e
mais sublime que o mundo já tem produzido”. Mahatma Gandhi (1869-1948) assim se
expressou: “O conhecimento do seu ensino conduz à realização de todas as
aspirações humanas”. Aldous Huxley (1894-1963): “A Gītā é um dos
resumos mais claros e mais completos da filosofia eterna que jamais se tem escrito”.
Eugene Burnouf (1801-1852): “É talvez o produto mais sublime do espírito
humano, provavelmente o mais belo que saiu das mãos dos homens”. É incerta a
data em que foi escrita a Bhagavad-Gītā, podendo ser fixada lá pela era
vulgar, provavelmente entre o 3° século AC e o 3° século da era cristã. Li
a Bhagavad-Gītā 50 vezes e 15 no texto sânscrito e, na minha
experiência, posso afirmar que, sob o aspecto religioso, filosófico e
literário, é uma obra instrutiva e confortadora. Várias são as opiniões sobre
a Bhagavad-Gītā ter recebido a influência do cristianismo ou ter sido
o cristianismo influenciado por ela. Sob o aspecto cronológico, o autor
ignorado da Bhagavad-Gītā teve o conhecimento das ideias cristãs.
Muitos estudiosos apresentam passagens paralelas entre a Bhagavad-Gītā e a
Bíblia, procurando mostrar a afinidade que existe entre esses dois livros
preciosos. A Bhagavad-Gītā é um livro religioso, sobremaneira
tolerante. Ela encara o indivíduo evoluído, superior, que pensa e conhece e,
para ele, tem conceitos próprios, consoante as suas estaturas morais, culturais
e espirituais. Porém, ela visa ainda os indivíduos que não possuem aquelas
qualidades, os quais, tendo uma religião popular, permanecem em plano inferior.
Para tais pessoas, ela tem, entre outros, estes preceitos: “Aqueles cujos
conhecimentos são ofuscados pelo desejo, se dirigem a outras divindades,
segundo esta ou aquela regra, determinada pela sua própria natureza”. “Qualquer
que seja a forma pela qual o devoto procura adorar com fé, sou eu quem lhe
inspira esta fé inabalável”. 7:20,21. A Bhagavad-Gītā reflete de modo
tolerante e compreensivo as ideias célebres, recomendadas pelo rei Açoka,
inscrição XII, na qual diz que se deve respeitar todas as religiões e enobrecer
a sua própria. Quem não respeita as outras religiões também não respeita sua
própria crença. 2. A
Bíblia toda é um livro precioso; porém, dela se destaca o Novo Testamento. Do
Novo Testamento destacam-se os Evangelhos e dos Evangelhos as palavras de
Jesus. Grande tem sido a influência do Novo Testamento no mundo. Foi traduzido
em 393 línguas e dialetos. As opiniões sobre ele são muito numerosas, fazendo
sentir sua influência social, moral, ética e religiosa. Sob um certo aspecto, é
o livro mais importante do mundo. Eu, que o li cerca de 150 vezes e o traduzi
muitas vezes do texto grego, conheço, por experiência própria, o seu valor
religioso. A sua leitura tem sido para mim um conforto precioso. O NOVO TESTAMENTO E A BÍBLIA. Crê-se
que o termo ātman, usado para a alma ou “ele mesmo”, tem origem na raiz
“na”- respirar, e daí o sopro da vida, a alma que faz o homem viver e lhe dá
consciência. Porém, é o termo usado em vários sentidos, e nem sempre é fácil
interpretá-lo. Indica o ego, ou mônade da vida, a alma imortal. É também usado
para indicar a alma inferior ou animal e, além disso, é, como pronome
reflexivo, usado para indicar “ele mesmo”. Observe-se
ainda: ātman e Brahman são usados como sinônimos um pelo
outro, e é claro que a alma universal é praticamente a alma individual. O
macrocosmo é o mesmo que o microcosmo. “No princípio o universo
era Brahman”, mas também no princípio o universo era a
alma, ātman, na forma de pessoa. E ainda “aquela grande alma, não nascida,
imortal, sem mancha, é Brahman. Quem conhece este,
torna-se Brahman sem mancha”. Brahman era no princípio e
tornou-se esse tudo; quem quer que o conheça como “Eu sou Brahman”
torna-se esse tudo. Bṛhad-āraṇyaka - Upaniṣada, 1.4.11; 4.4.25; 1.4.10. Brahman é também chamado o
absoluto e dizer que ātman é Brahman, quer dizer que dizer que a alma
individual é essencialmente idêntica ao absoluto. Há um progresso religioso
embora não apareça sempre claro, revelando uma certa distinção entre Deus e a
alma. A Bhagavad-Gītā é breve e complexa e o termo ātman ou “ele
mesmo” é usado de várias maneiras. No início do livro, o interesse principal é
a alma, e Ārjuna afirma que ela pode ser profanada ou destruída pela ação,
pois é necessariamente imortal. “ Eu e tu, e estes homens, sempre fomos e
sempre seremos “ (Bhagavad-Gītā, 2:15). O conhecimento da alma e da sua
natureza eterna, através da pratica do yoga, conduz à realização da unidade
através da Brahman. KṚṢṆĀ. Kṛṣṇā aparece na Bhagavad-Gītā como auriga de Ārjuna,
o guerreiro famoso, e responde às
suas perguntas, resolve suas dúvidas,
indicando-lhe o caminho da devoção.
Provavelmente Kṛṣṇā era uma antiga divindade não ariana. O termo Kṛṣṇā significa “preto”. Ele aparece como um avatāra, descida, “encarnação”
do védico Viṣṇu. Ele é
senhor de todas as criaturas, mas emana do mesmo modo através do poder da māyā, ou então
da justiça, dharma para proteger
o bem e destruir o mal. A doutrina do “avatār” é difundida contra a opinião de
alguns críticos, que não sabem que o Senhor revelado tem também a mais alta
natureza, e que é o sustentáculo de todas as coisas.
A Bhagavad-Gītā apresenta várias e importantes referencias mostrando
o poder de Kṛṣṇā, 4:6-8; 9:11 e, entre outros, este período: “governador da minha própria natureza, renasço pelo meu próprio
poder”.
No capítulo 11, ele revela a sua natureza divina a Ārjuna. Além de
outros, Kṛṣṇā tem os nomes
de Acyutah(infalível); Madhusūdana (vencedor do demônio Madhu); Arisūdana (conquistador
do inimigo);Govinda (pastor ou aquele que dá iluminação; filho de
Vasudeva; Yādava (descendente de Yadu); Keśava (da
bela cabeleira); Mādava (esposo de Lokasamī); Hṛṣīkeśa (mestre dos sentidos); Janārdana (libertador dos homens); e Vṛṣṇide (patronímico
de Kṛṣṇā).
Há certa semelhança entre Kṛṣṇā e Cristo. Na série da encarnação de Viṣṇu, que se assevera terem sido 10, Kṛṣṇā na
foi a oitava e uma das supremas. Ambos os redentores prometidos por Brahma e
por Jeová, depois da falta de Adima e Adão, foram anunciados por
muitos profetas. Ambos tiveram, por mãe, mulheres que permaneceram virgens
depois do parto. Os dois fugiram do massacre por parte de Kansa, tirano de
Madura na Índia, e Herodes, tetrarca da Judéia, e escaparam do massacre dos
inocentes. Ambos, com seus discípulos, pregaram a moral e se consideravam
enviados celestes. Os dois operaram milagres vários e ressuscitaram os mortos.
Ambos foram mortos vítimas da cegueira dos sacerdotes e levados ao céu após o
término da sua missão. Kṛṣṇā viu a luz do dia numa estrebaria, entre pastores. O CORPO. O
Corpo humano é o organismo mais perfeito da Natureza. É chamado cidade de Brahma.
Tem sete portas: dois olhos, duas narinas, a boca, os anus e o órgão genital.
Os outros dois são o umbigo e a união em forma de flecha em cima no crânio,
através do qual se crê que a alma sai no momento da morte. A alma reside nesta
cidade com um invólucro, mas não é tocada pelas suas ações, não opera nem força
a operar. Segundo os hindus, a mente tem três corpos: um grosseiro, outro sutil
e outro causal. No Novo Testamento, o corpo é de grande valia (I Coríntios 10:
1-31). É tal o lugar da sua projeção, que é chamado casa, templo, santuário de
Deus (I Coríntios 3:16; II Coríntios 6:16; Efésios 2:21,22; Hebreus 3:6; e I
Pedro 2:5). No Novo Testamento a mente tem dois corpos: um material e outro
espiritual. As referências ao corpo são realmente importantes. Nós não o
podemos trocar, substituir por outro. Ele nos acompanha até à morte, quando
então receberemos, em troca, o corpo espiritual, do qual o apóstolo Paulo fala.
O homem compreende três partes: a lama, o corpo e o espírito. Marcos 12:30. Esta
é a mais completa análise que se encontra na Bíblia. A FINALIDADE DO HOMEM. Segundo
a Bhagavad-Gītā, o verdadeiro fim do homem é a devoção, bhakti,
aquele que experimenta intenso amor (bhakti) a Deus. “Aquele que pelo yoga da
devoção me adora sem infidelidade, ele ultrapassou estes elementos, está apto a
tornar-se Brahman”. 14:26. Este é o fim de todos os seres, segundo os
Vedas se referia somente aos homens, e em particular somente àqueles que
pertenciam à classe mais elevada. O caminho da devoção se abria a todas as
classes. Eis o trecho: “aqueles que se refugiam em mim, sejam de nascimento
vil, mulheres, vaiśayas, também śūdras, chegam à meta suprema”,9:32.
O homem, segundo a Bíblia, foi criador “a imagem e semelhança de Deus” (Gênesis
1:26). Ele têm certa afinidade com o Criador, e o seu fim é adorá-lo em
espírito e verdade (João 4:24). O homem é, na terra, um prolongamento de Deus.
De todos os seres, é aquele que melhor reflete a imagem de Deus. E Deus mostra
amor às suas criaturas (João 3:16). Jesus também diz que somos filhos de Deus e
o invocamos como Pai, na celebre oração: “Pai nosso”, Mateus 6:9. A ALMA IMORTAL.
Alma e espírito, no Novo Testamento, parecem significar a mesma coisa. Ambos os
termos aparecem no começo do magnificat: “A minha alma engrandece ao Senhor e o
meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”, Lucas 1:46-47. No Evangelho de
São Marcos, lemos que se deve servir a Deus “de todo o coração, com toda a
alma, com toda a mente e com todas as nossas forças”. Marcos 12:30. Esta é a análise
mais completa do “eu mesmo”, que se pode encontrar na Bíblia. A Kata-Upaniṣad reza:
“Este
consciente não
nasce nem morre nunca, não
tem origem de coisa alguma e nunca deixou de ser incriado. Constante, eterno,
este antigo não é morto quando o corpo é morto”, 2:18. A imortalidade da alma é
inerente na sua relação com Deus, pois Brahman existia desde o
princípio, um só sem um outro. Kṛṣṇā, na Bhagavad-Gītā, assegura à Ārjuna, no campo de
batalha, que deve ferir os seus parentes, e diz estas palavras: “Quem conhece
como matador e quem conhece como morto, ambos não tem discernimento: este não
mata, nem é morto”, 2:19. No passo sucessivo, se faz sentir a relação da alma
imortal em sua relação com a série de corpos em que deve residir: “Como o homem
abandona as vestes velhas e toma outras novas, assim a alma abandona os velhos
corpos e se reveste de outros novos”, 2:22. Naciketas tinha a seguinte
pergunta a fazer ao deus da Morte, Yama: “Quando um homem morre, alguns
dizem que ele existe, outros, porém, que não existe. Qual é a verdade”? Depois
de muito custo, Yama respondeu, revelando o segredo: “A verdade é que
não se nasce e nunca se morre. Ele não é nascido, é eterno, permanente e
primeiro. Ele não morre quando o corpo é morto”. O Novo Testamento assevera que
a alma é imortal. Jesus, nos seus ensinamentos, deixa clara essa doutrina.
Entre outros fatos, na parábola do rico e Lázaro, Lucas 16:22-31 ele faz
referência a cada passo dos seus discípulos, antecipando se viverão ou estarão
com Ele depois da morte. O Mestre, referindo-se àqueles que morreram, no Velho
Testemunho, diz estas palavras memoráveis: “Deus não é Deus dos mortos, mas dos
vivos”. 22:32. NIRVĀṆA.
O vocábulo nirvāṇa è o mais conhecido na
terminologia budista e talvez seja o que oferece maior dificuldade quanto à sua
interpretação. Nirvāṇa é a palavra composta de nir
e va; nir é
partícula
negativa e primitiva, e va significa vento, sopro, movimento. O termo
significa, pois, não
movimento”,
cessação
de movimento, de vida, ou também “extinto por meio de um sopro”, como a chama
de uma candeia. Segundo Gogerly, a etimologia de nirvāṇa é ni-vāṇa,
devāṇa, desejo, e o sentido é “total
emancipação
dos desejos, total cessação
de existência”. Nirvāṇa, segundo alguns, é, portanto, o oposto de movimento, o oposto da vida, o oposto da
existência. Outros, como Melindapañha, afirmam que nirvāṇa é
felicidade pura e simples: “não há dor… tudo
é
felicidade”.
Buda não disse que o nirvāṇa fosse o nada, e declarou
culpável
de heresia quem afirmasse que depois da morte tudo acaba.
Na Bhagavad-Gītā o nirvāṇa é análogo a Deus: “assim o Yogi com a mente calma, sempre
harmonizado, chega à
paz, ao nirvāṇa supremo, que tem a
permanência em mim”, 6:15. Outro passo: “Este é o estado de Brahma, ó
filho de Partha; quem adquire isto não é confundido… quem nele perdura até o
fim, chega ao nirvāṇa em Brahma”, 2:72. E além de outras citações, apontamos estas: “aquele que tem dentro de si a
felicidade, que tem dentro de si o gozo e, igualmente dentro de si a luz, este
yogin chegou ao nirvāṇa Brahmanico, tornou-se
Brahma”.
5:24. Os ascetas chegam ao nirvāṇa Brahmanico, quando se
livram do desejo e da cólera
e dominam a mente conhecendo o eu, 5:26. São essas passagens de valor claro que
mostram a felicidade no além. No Novo Testamento e Jesus, nos Evangelhos,
deparamos com essa doutrina confortadora da vida feliz após a morte. Muitos são
os passos que atestam essa verdade; citamos este de Jesus: “Na verdade, na
verdade vos digo que aquele que crê em mim, tem a vida eterna”, João 6:47. MISTICISMO. Nas Upaniṣadas clássicas tem-se a ideia na libertação, na completa harmonia e
união,
como divina. Este é o
misticismo da absorção
na divindade. Há, porém, a segunda e grande corrente do pensamento hinduísta,
na qual um credo teísta se apresenta como crendo em um Deus pessoal, fonte de
todas as coisas e alvo de devoção. Na Taittirīya-Upaniṣada lê-se: “Possa eu entrar em ti, ó Gracioso Senhor (…).
Possa tu entrar em mim (…). Em ti eu me purifico… Tu és um refúgio. Resplandece
sobre mim. Vem em mim”. A Iśa, Kena, Kathā e Muṇḍaka-Upaniṣada, têm todas traços teístas e a Śvetāśvatara, 6:18, chega a
ensinar a devoção
a Deus: “Aquele
que de tempo em tempo cria Brahma e que, na verdade, a ele dedica os
Vedas, àquele Deus iluminado do seu próprio intelecto, eu, desejoso de
livramento, me dirijo para encontrar refúgio”. Na Bhagavad-Gītā “o
Misticismo clássico Devocional” tem origem na fé em Deus, pessoal, que revela a
sua graça aos seus adeptos fiéis. Este último elemento é importante, porque nos
tempos precedentes só se fazia referência ocasionalmente à graça de Deus.
A Bhagavad-Gītā, 9:11, desafia aqueles que não querem um culto ao Deus
pessoal, ou que não aceitavam o conceito de um “avatar”, “divindade encarnada”,
nestas palavras: “os loucos me desprezam quando assumo a forma humana;
desconhecem a minha essência suprema como Grande Senhor dos seres”. A graça de
Deus aos homens, que aparece veladamente nas Upaniṣads, resplandece como uma luz mais clara na Bhagavad-Gītā,
a ponto de revelar compaixão e amor. Ārjuna, vendo a terrível
manifestação de Deus, tomado de grande temor, disse: “(…). Sê indulgente para
comigo, como um pai para com o filho, como um amigo para com o amigo (…)”. A esta
súplica Kṛṣṇā responde: “Não temas”, e assume a forma da sua graça. Deus tem compaixão daqueles que Ele ama. “O devoto é
caro a Deus”. “Ele me é muito caro”.
A Bhagavad-Gītā ensina que existe uma terna relação com Deus. Depois
do livramento, a criatura chega a Deus, indo a Ele como um discípulo ao seu
mestre. Através do culto, ele se torna digno de participar de Deus, “torna-se
digno do meu estado”, “chega ao meu ser”. Enfim, o devoto entra em Deus; “o meu
devoto que sabe isto, chega a ser da minha essência”, 13:18. “Ele passa à minha
natureza”, 14:19. “Pela devoção ele me fica conhecendo tal qual sou, e quanto
sou verdadeiramente, e tendo-me conhecido verdadeiramente, entra imediatamente
em mim”. 18:55. A doutrina da encarnação no Novo Testamento mostra Deus
presente no homem; “Deus reconciliou o mundo em si por Cristo”. “O verbo se fez
carne e vimos a sua glória”. Ninguém viu a Deus, mas o Filho o revelou, João
1:18. Jesus disse estas significativas palavras: “Eu estou neles e tu estás em
mim”, João 17:23. O Novo Testamento se aproxima muito do misticismo devocional
do Hinduísmo. Tem-se dito que a doutrina de Paulo e de João é profundamente
mística; ela tem seu início nos Evangelhos Sinóticos: “Vinde a mim, disse
Jesus, todos vós que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei. Tomai
sobre vós o meu jugo e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e
encontrareis descanso para as vossas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu
fardo é leve”. Mateus 11:28-30. “O reino de Deus está em vós”. Há uma promessa
confortadora: “Eu estarei convosco todos os dias”. Segundo Mateus, a relação
entre Cristo e o Pai equivale à relação entre os discípulos e Jesus; esta ideia
se desenvolveu com João. Paulo tem este pensamento que fala da participação da
natureza divina, da verdadeira essência de Deus: “Que Cristo habite nos vossos
corações pela fé”, II Pedro 1:4. É bom notar que, embora o homem seja
semelhante a Deus, dada a sua natureza, pois a sua alma é o respiro imortal de
Deus, há no entanto uma grande distinção entre ele e Deus. Deus é onipotente,
onisciente e santíssimo e nenhum homem possui esses atributos. O PRÓXIMO. As Upaniṣadas ensinam
o interesse para com os outros, mas sempre em função da alma universal. “Um marido é
caro não
pelo amor que ele traz, mas pelo amor que tem pela alma (ātman). Uma mulher é
cara não pelo amor que ela tem, mas pelo amor que tem pela alma”.
A Bhagavad-Gītā diz que se deve ser imparcial com todos, amar o amigo
e também o inimigo: “Aquele que é o mesmo na honra ou na desonra; o mesmo para
com o amigo e o inimigo, que abandona toda a empresa, esse, se diz, superou os
elementos da matéria” 14:25. Um tal devoto não só se comporta parcialmente com
o amigo ou com o inimigo, mas, também renuncia a todo mal ao amigo e ao
inimigo: “Sem ódio a criatura alguma, amiga e compassiva, sem egoísmo e sem
sentimento do eu mesmo, igual à felicidade como à infelicidade, paciente”,
14:73. As leis de Manu recomendam norma de vida para as três classes
mais elevadas: brahmanes, governadores e guerreiros, mercadores e
agricultores. Ordena-se aos homens de casta honrar os próprios consanguíneos,
machos e fêmeas. Um chefe de família deve, cada dia, “pôr na terra alimento para
os cães, para os parias e para os doentes”, honrando todos os dias todas as
criaturas. Ordena-se aos reis ministrar a justiça a todos, pois a justiça se
protege com a justiça. O rei tem como dever providenciar o alimento para todas
as criaturas. Exorta-se aos ascetas “a suportar pacientemente as palavras
ásperas (…) não responder com ira a um homem irado, bendizer quando é
amaldiçoado”. Semelhantemente o Mahābhārata exorta “a acalmar a ira
dos outros com doçura; conquistar quem faz o mal com a santidade; conquistar os
miseráveis com dons; conquistar a falsidade com verdade”. Jesus recitou um
trecho, referente ao próximo, que por si só, diz tudo; Marcos 12:28-33; Mateus
22:34-40; Lucas 10:25-27: “amar o próximo como a ti mesmo”. Ele ensina que se
deve amar os inimigos: “amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem,
fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e vos
perseguem”, Mateus 5:44-48. O Novo Testamento está repleto de ensinamentos
sobre essa lei moral: amar a todos, indistintamente. NÃO FAZER MAL A NINGUÉM. Os
hindus têm um termo de grande valor – ahiṁsā,
que deriva da raiz han, que significa ferir, matar, causar dano. O desiderativo
sincopado de han é hins, isto é, desejar causar dano; daí o substantivo hiṁsā,
desejo de causar dano e finalmente, mediante o a inicial privativo ahiṁsā,
ausência
de desejo de causar dano. Da etimologia da palavra se conclui que todo o pecado
consiste na intenção, em querer fazer dano, e que se está má intenção não
existe, não existe também o pecado. A palavra ahiṁsā não encontra ainda lugar nas Upaniṣadas, embora haja algumas referências, como na Chāndogya-Upaniṣadas, 3:17 e 8:15. O poeta Hemacandra, (XII século AC),
compôs, a pedido do rei Kumārapāla, que se convertera à religião
de Jina, um poema didático sobre a ahiṁsā,
no qual celebra a não
violência
em versos magníficos:
“Como mãe amorosa para todos os seres, é ahiṁsā”.
No deserto do Sansara, ahiṁsā é rio de néctar.
A ahiṁsā é nuvem rica de chuva, na fornalha da dor.
A ahiṁsā é o maior remédio para os seres atormentados
Pelo mal que se chama eterna volta da existência “.
No deserto do Sansara, ahiṁsā é rio de néctar.
A ahiṁsā é nuvem rica de chuva, na fornalha da dor.
A ahiṁsā é o maior remédio para os seres atormentados
Pelo mal que se chama eterna volta da existência “.
A doutrina da ahiṁsā é
particularmente doutrina dos jainistas que floresceu no tempo das Upaniṣadas. Aahiṁsā era
baseada no credo da unidade da vida humana, animal, vegetal e também dos ātmos da
matéria.
A Bhagavad-Gītā se refere à ahiṁsā em
vários
lugares, como sendo uma virtude religiosa: “Honrar os deuses, os duas vezes
nascidos, os mestres e os sábios, ser puro, íntegro, contente e não fazer o
mal…” 17:14. “Não violência, verdade, ausência de cólera, renúncia, paz…”
(16:2). O célebre rei Açoka, 250 anos AC, foi famoso pela sua renuncia à
guerra, por ter proibido os sacrifícios de animais e comer carne de animal, por
ter construído hospitais para homens e animais, etc.; ele deu um belo exemplo
de amor ao próximo, pondo em prática aahiṁsā. Damos dois pensamentos importantes
concernentes ao ahiṁsā: “Não fazer mal ao ser algum vivente,
nem com ato, nem com o pensamento, nem com palavras; querer o bem e fazer a
caridade; eis a eterna lei dos bons”. Sentença de Subhrāśitānava. “Os
Homens que, semelhantes a si mesmos, defendem os animais e as plantas, vão à
excelsa sorte”.Subhrāśitānava. Quanto ao Novo Testamento, a não violência ou
não fazer mal a ninguém, prende-se ao amor (Marcos 12:30,31). O Sermão da
Montanha e outros ensinamentos de Cristo, revelam, que Ele recomendava o
respeito pela vida alheia e o modo de tratar a todos: “não resistais ao mal…”
(Mateus 5:39-41). Jesus, na cruz, deu o exemplo alto do amor aos inimigos: “Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem…” (Lucas 23:34). “Não te deixes
vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem”. E a regra de ouro do cristianismo
brilha neste versículo: “Todas as coisas que vós quereis que os homens vos
façam, fazei-as vós a eles”, Lucas 6:31; Mateus 7:12. O cristianismo e o
hinduísmo estão em relação intima, de modo a não se ignorar os seus
ensinamentos recíprocos. Mais este passo: “a renúncia e o yoga da ação; ambas
fazem a suprema felicidade; porém, das duas, o yoga da ação é superior à
renúncia da ação. Bhagavad-Gītā, 5:2. Na Bíblia, Velho e Novo Testamento,
encontramos indivíduos que procuravam o ermo, como Moisés e Elias. João Batista
era um homem do deserto. Jesus, depois de seu batismo, foi ao deserto por
quarenta dias (Mateus 4:1-11), e em outras ocasiões Ele ia às montanhas, à
noite, em busca do isolamento, para entrar em contato íntimo com o Pai. Lucas
6:12 traz este trecho: “E aconteceu naqueles dias, subiu ao monte a orar e
passou a noite em oração a Deus”. Paulo, depois da sua conversão, foi para o
deserto da Arábia, onde esteve três anos. Gálatas 1:17. No Novo Testamento
fala-se em jejum e oração para se progredir espiritualmente, mas em jejum
secreto (Mat. 6:16-19), segundo Jesus recomenda. A oração ocupa lugar alto. Jesus
não só orava noites inteiras, mas ensinou o “Pai Nosso”, (Mateus 6:9-13) e fez
uma recomendação notável, a oração secreta: “Mas tu, quando orares, entra no
teu aposento e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em oculto; e teu Pai,
que vê secretamente, te recompensará”. Mateus 6:6. Quanto ao corpo,
encontram-se recomendações interessantes no Novo Testamento. Paulo, por
exemplo, recomenda que se deve conservar o corpo puro, pois ele é o templo do
Espírito Santo. O termo yoga deriva da palavra sânscrita yuj, que significa
ligar, unir; daí jugo, ungir. A palavra é geralmente usada para indicar um
método ascético qualquer ou uma técnica de meditação e concentração. Existe um
yoga clássico preso ao sistema filosófico Sāṁkhya;
porém,
existem outras formas populares e algumas fora do Hinduísmo, tais como no
budismo e na religião
de Jina. Há
outros sistemas yoga populares e essencialmente mágicos e “místicos”, cujos
adeptos procuram o siddhi: poderes sobrenaturais, telepatia, iluminação
intima, controle da respiração e da digestão, elevação ao ar, esconjuros,
enterrar-se vivo, etc. O yoga é uma prática antiga na Índia, conforme indica a
grande variedade dos sistemas. Uma das mais importantes descobertas das
escavações no Vale do Indus, foi um selo que trazia esculpida uma figura
sentada na posição de yoga. A prática de yoga era conhecida, pela civilização
indiana 2.500-1.500 AC. Na Bhagavad-Gītā yoga tem lugar de destaque e
grande é a sua importância. A Bhagavad-Gītā é chamada “a escritura do
yoga”, yoga-śāstra. Desde o segundo capitulo expõe “a sabedoria do yoga”,
que auxilia aquele que pretende livrar-se dos liames das obras, Karma. Eis um
passo: “Fundado no yoga, o Dhanaṁjaya pratica as obras,
abandonado o apego, sendo o mesmo no sucesso e no insucesso: a indiferença é chamada yoga”.
“Presta gloria a Deus no teu corpo”. Exorta aos homens: “apresentai os vossos
corpos como hóstia viva a Deus (Romanos 12:1) e cita o exemplo dos atletas que
se controlavam continuamente (I Coríntios 9:24-27). O apostolo diz, ele mesmo,
estes pensamentos interessantes: “Antes subjugo o meu corpo e o reduzo à
servidão…” I Coríntios 9:27. E, adiante, escreve: “Trazendo sempre por toda
parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo para que a vida de Jesus se
manifeste também em nossos corpos”, II Coríntios 4:10. Não há propriamente um
yoga cristão, claramente exposto. Jesus disse estas memoráveis palavras: “Tomai
sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e
encontrareis descanso para as vossas almas”. “Porque o meu jugo é suave e
o meu fardo é leve”. Mateus 11:29-30. Somos exortados por Jesus com esta frase:
“Toma o meu jugo sobre ti”; tem-se por vezes sugerido que a versão original das
palavras “leva a tua cruz”, poderia ter sido: “carrega o teu jugo”. CONCLUSÃO. Queremos notar, por fim, que
a Bhagavad-Gītā é contraria ao “panteísmo” e ao “imanentismo”, nestes
passos: “Este mundo é todo permeado por mim de forma imperceptível; todos os
seres estão em mim, mas eu não estou colocado neles. E nem em mim estão os
seres; vê a minha magia do Supremo Senhor, sustentador dos seres, sem estar nos
seres; o meu eu, é a causa do sustento dos seres”. 9:4.5. Existem certas
semelhanças interessantes entre a Bhagavad-Gītā e o Novo Testamento,
quanto à Jerusalém celeste. Eis os trechos: “É necessário então procurar o
lugar para qual aqueles que vão não voltam mais, dizendo: procuro refúgio no
Ser primordial de que provém o curso antigo do mundo; nem sol, nem lua, nem
fogo ilumina o lugar em que aqueles que vão não voltam, essa é a minha morada
suprema”, 15:4.6. “E esta cidade não necessita de sol, nem de lua, para que
nela resplandeçam, porque a gloria de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua
lâmpada”, Apocalipse 21:23. www.yoganarayana.com.br.
Abraço. Davi
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