Judaísmo. I. LIVRO JUDAICO DOS PORQUÊS. Por Alfred J. Kolatch (1916-2007). 1. Por que os textos judaicos usam a.e.c. e e.c. em vez de A.C. e A.D. ou D.C. no seu sistema de datas? A.C., que significa antes de Cristo, A.D., depois de Cristo, são abreviaturas usadas pelos cristãos. O uso delas implica na aceitação de Jesus Cristo como divino. Um conceito negado pelos judeus. Portanto, adotou-se entre os estudiosos judeus as siglas a.e.c., antes da era comum, e.e.c., para fazer uma distinção entre as crenças cristãs e judaicas. 2. Por que os judeus não usam a designação Novo Testamento? Assim como ocorre com A.C. e D.C., descritos acima , alguns judeus acreditam que falar de um Novo Testamento seria dar crédito à ideia cristã de que o Novo Testamento é o cumprimento das promessas e ensinamentos da Bíblia judaica. Na verdade, os judeus em geral se abstêm de usar o termo “Antigo Testamento”, porque ele implica na existência de um Novo Testamento. 3. Introdução. O pecado original, a mãe virgem de Jesus, a Santíssima Trindade e a expiação vicária, são alguns dos conceitos que a doutrina cristã encerra e que não são aceitos pelo judaísmo. Através dos séculos e particularmente na Idade Média, a Igreja tratou de impor suas crenças aos judeus. Foram Instituídos debates aos quais os judeus deviam enviar seus mais ilustres estudiosos para discutir com estudiosos cristãos questões de teologia e de doutrina cristã. Era frequente que a Igreja fosse representada por Judeus apóstatas, os quais costumavam organizar tais debates com o único propósito de demostrar a superioridade do cristianismo e assim envergonhar a comunidade judaica. Um dos primeiros destes debates públicos foi instigado pelo judeu convertido ao cristianismo Nicolas Donin. Em 1239, denunciou as supostas “blasfêmias” do Talmud ao Papa Gregório IX, acrescentando que os rabinos haviam falseado os ensinamentos de Deus incluídos na Bíblia ao reinterpretá-los no Talmud. Foi ordenado ao Rabino Yechiel ben Iossef, de Paris, que encabeçasse uma delegação de quatro proeminentes estudiosos judeus franceses para debater o tema. Como era de se esperar, os rabinos foram derrotados no debate e, em consequência, os livros do Talmud foram queimados nas ruas de Paris em 1240. Em 1261, foi realizado um debate na presença do rei Jaime de Aragão (1208-1276) e sua corte. O apóstata judeu Pablo Cristiani, junto com outros renegados, fez a apresentação da tese cristã, enquanto Nachmânides era o único representante da parte judaica. Nachmânides foi tão convincente em sua apresentação, que a Igreja, temerosa de que ele pudesse influir sobre os cristãos e debilitar sua fé, resolveu forçá-lo a deixar a Espanha. O último grande debate público conhecido como o Debate de Tortosa – Espanha, prolongou-se durante dois anos (1413-1414). Muitos rabinos e estudiosos proeminentes foram obrigados a assisti-lo por ordem judicial. Esse debate foi organizado e encabeçado pelo apóstata Iehoshua Lorqui, também conhecido como Jerônimo de Santa Fé, e pelo antipapa Benedito XIII. A causa judaica foi apresentada por quatro sábios judeus, sendo o mais proeminente deles o filósofo espanhol Iossef Albo de Castela. Ele resumiu a posição adotada pela parte judaica no debate em sua famosa obra Sefer Haicarim (Livro dos Princípios). A atmosfera de hostilidade criada pelo Debate de Tortosa levou a muitos incidentes de antissemitismo e, nesta época, muitos judeus se submeteram ao batismo. Através destes debates públicos, a Igreja tentava demonstrar a validade de seus princípios teológicos e, como ela detinha o poder temporal em muitos países. Os debates em questão assumiram um caráter quase legal. Contudo, apesar da pressão exercida, a maioria dos judeus continuou apegada a suas próprias crenças. O doutor Otto Piper (1841-1921), professor de Teologia Sistemática do Princeton – Theological Seminary, em sua obra God in History (1939) justificou esta “obstinação dos judeus”, como a Igreja a caracterizava. Argumentou que “se os judeus tivessem reconhecido Jesus como seu Messias e Redentor, então teriam deixado de ser judeus”. Já Ludwig Lewisohn (1822-1955) estava convencido de que esta tenacidade era proveniente de uma “ilha interior”, um cerne de lealdade existente em cada judeu. Que o impele a “ser teimoso” perante aqueles que não lhe permitem a liberdade de tomar suas próprias decisões em questões de religião e consciência. Apesar da longa história de confrontação entre judeus e cristãos, os judeus continuaram procurando s formas de conviver em paz com as comunidades não judaicas. Permanecem sustentando que os homens justos de todos os povos, inclusive os cristãos, têm lugar no mundo vindouro. Os judeus creem na necessidade de manter relações de amizade e cordialidade com aqueles que são fundamentalmente diferentes. A convivência e a boa vontade não significam anular as diferenças, mas, sim, compreendê-las. Foi baseado nesse conceito que o grande crítico e poeta alemão Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781) escreveu seu famoso drama filosófico Natan, o Sábio (1779). O cristão Lessing tinha um bom amigo judeu chamado Moises Mendelssohn (1729-1786). Em um esforço para atenuar o ambiente de antissemitismo que prevalecia na Alemanha do século XVIII (1701-1800). Lessing, através de sua obra, fez um chamado ao entendimento e à tolerância. Seu amigo Mendelssohn foi seu arquétipo do judeu e assim, na cena mais significativa e dramática da peça teatral, um encontre entre Natan e um frade. Este último, emocionado ante o belo caráter de Natan, exclama “Natan, Natan. Tu es um cristão! Por Deus que és um cristão! Nunca existiu melhor cristão! E Natan responde: Estamos tão identificados que, aquilo que a teus olhos me torna um bom cristão, te faz a meus olhos, um judeu!”, Neste capítulo são apresentados algumas das maiores discrepâncias entre judeus e cristãos. Mas, no processo, igualmente ficam claros os valores comuns e o entendimento mútuo. Abraço. Davi
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