terça-feira, 5 de setembro de 2023

NÓS OS FILHOS PRÓDIGOS

 

Teosofia. Editor do Mosaico. NÓS OS FILHOS PRÓDIGOS. São Lucas 15, 11-31 diz: "E disse um certo homem tinha dois filhos. E o mais moço deles disse ao Pai: Pai dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por ele a fazenda. E poucos dias depois o filho mais novo ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali desperdiçou os bens vivendo desregradamente. (...) E tornando em si disse: quantos jornaleiros de meu Pai tem abundância de pão e eu aqui pereço de fome. (...) E levantando foi-se para seu Pai, e quando ainda estava longe viu o seu Pai e moveu-se de íntima compaixão e correndo lançando ao pescoço e o beijou". A conhecida parábola do Filho Pródigo é apresentada sob várias interpretações e todas partem do princípio de que o filho que se afastou estava errado ao tomar essa decisão e não deveria sair da proteção da família e nem do regaço - abrigo - de seu pai. Mas nossa versão dessa narrativa tem o propósito de enfatizar a importância das experiências pessoais realizadas através de escolhas legítimas. Baseadas no livre arbítrio dado por Deus, tendo o propósito do crescimento e evolução espiritual. Onde a aprendizagem produz a maturidade humana e uma consciência em transformação aberta a interação com os diferentes reinos da natureza. Confúcio (551 AC 479) disse "Há três métodos para ganhar a sabedoria: primeiro por reflexão que é o mais nobre, segundo por imitação que é o mais fácil e terceiro por experiência que é o mais amargo". Vamos pensar em uma analogia para entendermos a Casa do Pai e o relacionamento com seus filhos. Assim a figura de um ninho de águia é bem recorrente como ilustração, pois os pais águias com seus filhotes vivem em harmonia e convivência. Estando com os olhos para o futuro dos filhotes quando esses terão condições de voar e caçar seu alimento através do esforço pessoal de cada um. Mas até lá muitas coisas irão acontecer que envolverão um treinamento e estágios de adaptação as inúmeras fases que deverão ser percorridas. Primeiro os pais águias fazem seus ninhos nos penhascos mais altos das montanhas. Sendo esse fato importante para a segurança e proteção dos filhotes contra os pássaros predadores que voam em altitudes acima da média. Esses adversários são os corvos, abutres, urubus e falcões. Mas um detalhe curioso e sabido entre os ornitólogos – os que estudam os pássaros - as mamães águias para guardarem seus ninhos voam e caçam em distâncias consideráveis. Elas veem no rochedo seus ninhos e geralmente perseguem suas presas em pleno voo. Deixando para os papais águias a responsabilidade de trazerem alimentos mais consistentes. Eles vão a regiões mais distantes avistando suas presas com suas apuradas visões das alturas. Numa precisão milimétrica dificilmente erram em seus ataques aos predadores voadores. Num certo momento da vida dos filhotes sua mãe começa as aulas de treinamento de voos havendo vários tipos deles como: o planado, o planado térmico e o planado aerodinâmico específicos para aves de grandes portes e avantajada envergadura de asas como as águias. Esse é um esforço na tentativas de erros e acertos para os frágeis filhotes. Nessas aulas, com suas mães, inauguram as aventuras pela existência de classe de animais vertebrados, bípedes, endotérmicos e ovíparos. O momento mais importante desse aprendizado é quando a mamãe águia coloca seu precioso filhote para dar um voo rasante em pleno ar. Vão à procura de uma pequena presa. Estando ela parada no ar como professora observando a performance de seu aluno. O filhote é aprovado no teste quando segura com firmeza o alimento levando-o para ser devorado no ninho. Estando assim apto para sair de casa e constituir sua própria família. Um princípio a destacar entre as águias é sua fidelidade – monogamia – para com seu companheiro. Isso acontecendo até a morte de um deles e não se sabe entre os ornitólogos se elas voltam a se acasalarem novamente. Ressaltando uma etapa fundamental entre essas aves é que num determinado período de suas vidas as garras e picos se fragilizam devido ao desgaste das caças, lutas, e intempéries da natureza. Assim o instinto de sobrevivência lhes ensinou que deveriam buscar refúgio no mais alto penhasco e lá sozinhas começarem o doloroso processo de transformação de suas garras, bicos e renovação de sua plumagem. Esse é realizado quando elas batem na rocha seus bicos até que eles soltem desgrudando de suas faces. As garras são friccionadas contra as pedras até que se despreguem de seus pés. Um sofrimento indescritível pra esses pássaros que voluntariamente se submetem a esse processo na solidão da montanha. Esperam pacientemente por novas e vigorosas garras, bicos e plumagem. Assim voltam aos ninhos renovados para continuarem suas vidas no reino animal. Essas aves são realmente misteriosas e dotadas de uma consciência perceptiva bem evoluída em comparação as demais espécies de pássaros existentes. Seu processo de morte é até hoje pouco explicado pelos entendidos e ninguém ainda encontrou um cadáver de águia por aí.  Quando sentem que chegou a hora de partir, elas não se lamentam e nem ficam com medo. Tiram as últimas forças de seu cansaço corporal voando aos picos mais altos quase inatingíveis. Esperando resignadamente o momento final, partindo para a outra vida heroicamente tendo cumprido sua missão aqui na terra. Isso mostra a importância da atitude do filho que saiu da Casa do Pai. O Pai ocultamente aprovou sua atitude sabendo que ele passaria por experiência que trariam sofrimento, medo, perigo, expectativa, escolha, risco, equilíbrio, bom senso, esperança, alegria e maturidade. O primeiro ponto percebido nesse jovem foi sua necessidade de conhecer novos ambientes, novas pessoas, sair do corriqueiro. Enfrentar a vida de peito aberto mostrava que tinha uma boa economia advinda da parte que lhe coube da herança. Porém isso representava apenas o motivo para viver a aventura da existência. Pelo seu próprio esforço e possibilidade se sentir dono de si e criar a esperança de novos caminhos pela tentativa do erro e acerto. Outro aspecto foi sua coragem e determinação numa situação desfavorável. Quando pensamos que ele sai de sua zona de conforto e lançando-se ao desconhecido sem segurança ou expectativa de uma situação cômoda a curto ou médio prazo. Seu desejo de ter experiências que evoluiriam sua espiritualidade dando-lhe o sabor de vencer ou o amargor de ser derrotado. Como precisamos viver essas duas situações reconhecendo a importância delas com diz Abraham Lincoln (1809-1865) "O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que tombaram antes de vencer". A princípio, o filho pródigo, teve experiências negativas gastando todo o dinheiro com futilidades e promiscuidade. Cogito  ficar claro a presença oculta do Eterno Mistério em cada situação que ele passou. Mesmo quando buscou as prostitutas para satisfazer seu desejo sexual. Na verdade, esotericamente pensando, não era isso o que ele queria. Tanto que seu carma foi cobrado logo a seguir quando esteve naquela deprimente situação de apascentar porcos. Comendo do que eles comiam. E vivendo naquele "ambiente". Ele tinha um coração simples e amava os animais, mesmo aqueles que a tradição religiosa considerava como imundos. Isso demonstra que percebia não haver no reino animal nenhuma imundície ou coisa parecida. Tão pouco no reino humano pessoas descriminadas inferiores ou desprezíveis por comportamentos tresloucados e não aceitos pela maioria. Esses estereótipos eram descabidos. Ele reconhecia Deus em Suma Bondade e Misericórdia como o Criador e também como a Criação. Sua prece manifestando o desejo de voltar ilustra bem seu coração compungido e contrito. Diz: "Levantar-me-ei e irei ter com meu Pai, e dir-lhe-ei Pai pequei contra os céus e perante Ti, já não sou digno de ser chamado seu filho faze-me como um dos teus jornaleiros". A experiência do perdão nos situa em no microcosmo como seres que dependemos uns dos outros. Estamos conectados pela vida e a consciência evoluída onde intuição, recordação, imaginação, cognição e abstração dão-nos o direito de escolher pelo livre arbítrio nosso destino. A divindade não impede que tomemos nossa decisão seja qual for se para o bem ou para o mal. Por isso a importância das circunstâncias vividas. Através delas saberemos distinguir o melhor do pior, o bom do ruim, o doce do amargo, a luz das trevas, a altura do cumprimento, a profundidade da largura. O reencontro com seu Pai é uma expressão do amor altruísta e incondicional. Esse aguardava a volta do filho desde o primeiro minutos que ele saiu de sua casa. Vendo nele aquele que "esteve morto e reviveu estava perdido e foi achado". Ocultamente pensando, ele passou dum processo natural humano à evolução espiritual de sua alma. Assim a roupa nova, o anel e as sandálias são símbolos de maturidade e idoneidade manifestados na festa que foi dada pelo seu retorno ao lar. Podemos cogitar esses fatos narrados acima pela filosofia esotérica (ocultismo) percebendo que nossa evolução deve passar por estágios. A princípio inferiores e experiências de sofrimentos, vergonhas, dores e humilhações. Ainda em um corpo físico e emocional se acentua a personalidade  presa ao mundanismo dos prazeres, desejos egoístas e narcisismos manifestados no nosso centralismo. Assim alguns de nós precisam passar um período no chiqueiro - porcos -  aprendendo com eles a necessidade de companheirismo e reciprocidade nos relacionamentos. Reconhecendo nossa real constituição viciosa e pecaminosa e percebendo que nossa consciência em muitos casos ainda continua instintiva como a dos animais. Podemos pela vivencia humana mudar essa situação. Evoluindo conscientemente nosso aparelho psíquico (alma) pela observação dos demais reinos da natureza.  Procurando no autoconhecimento, meditação, evocação, solitude e contemplação o sentido para nossa vida humana e espiritual. Saindo do nosso casulo podemos passar pelo processo da metamorfose de lagarta para borboleta. O filho prodigo foi ao fundo do poço. Talvez não precisemos experimentar tantos revezes e sofrimento para mudarmos nossa situação. Que atendamos ao clamor de nossa consciência antes. Uma nova perspectiva agora não mais como uma personalidade rastejante que presencia apenas as coisas superficiais do mundo palpável. Evoluindo, agora, numa consciência pré intuitiva, aquele que saiu do lar, iniciava numa individualidade superior. Podendo voar para conhecer novas espécies aéreas e flores com fragrâncias indescritíveis as begônias, hortências, lírios e orquídeas. Além de polimerizar outras espécies vegetais. Assim a vida evoluiu para um aspecto mais adiantado na cadeia do progresso existencial. Interagindo de forma orgânica pelos métodos de simbiose e comensalismo com vantagens para todos os integrantes dos níveis tróficos. O retorno a Casa Paterna é um percurso longo e demorado. Precisamos passar por inúmeras estações de tratamento de nossos pecados e iniquidades. São as rondas carmicas na vida atual e nas futuras encarnações que produzirão esse equilíbrio entre os nossos vícios e virtudes, méritos e deméritos, bondade e maldade praticados a favor ou contra nosso próximo. Sobressaindo nossa boa vontade, teremos um momento de gozo e consolo quando - entre vidas - desencarnarmos provavelmente num período de uns mil e quinhentos anos ou mais ou menos. Chamado na tradição budista de devachan que corresponde ao multiplicar do dom da vida dado a nós pelo Espírito Divino. Ou dependo da maldade existencial pratica uma parada, ou várias, na ronda das almas penadas. Deus em sua infinita compaixão nos livre de passar por esse temporário tormento que somos exclusivamente responsáveis. O filho que ficou na Casa do Pai optando pela segurança, comodidade e conforto de tudo que possuía era infeliz e entediado. Não compreendia o verdadeiro motivo da existência humana. Imaginando que uma vida tranquila e inalterada desprovida de experiência boa ou má eram suficientes para agradar o coração do Pai. Nessa condição ele retrocedeu espiritualmente, involuiu, impedindo que o progresso da existência fosse realizado. Custando uma fase de atraso em seu desenvolvimento que deveria ser restituído posteriormente. Ocultamente percebemos que o Pai queria também que esse filho tivesse suas próprias experiências para crescimento e evolução do seu Ego Inferior. Saindo de sua casa para ganhar a idoneidade moral, ética e espiritual pelo sofrimento e a dor de início. A aprendizagem como alvo produziria os "frutos do espírito que são amor, alegria, paz, longanimidade, bondade, fé, benignidade, domínio próprio". Esses são vistos apenas como atitudes do Ego Superior que compartilha com o Ego Divino as bem aventuranças destinadas a todos os seres minerais, vegetais, animais e humanos da natureza. Esses estão debaixo, sobre e acima da terra. A festa com vestes novas, anel no dedo e sandálias nos pés demonstra o último estágio da evolução da alma humana. Esse filho que saiu da Casa do Pai e retornou, esotéricamente podemos compará-lo ao próprio Pai - Deus - pois o longo processo evolutivo - homem, Mestre de Sabedoria, Homem Perfeito e Espírito Divino - o mesclara intrinsecamente  a Deidade. Assim estão no Nirvana a completude da consciência humana que viajando pelos vários reinos e planetas de nosso sistema solar chega a seu ponto de origem plenamente aperfeiçoada. Capacitada pelas sucessivas reencarnações vividas em seu processo de inteireza e perfeição cósmica. Isso é o que diz São Paulo em II Timóteo 4, 7,8 "Combati o bom combate acabei a carreira e guardei a fé. Desde agora a coroa da justiça me está guardada a qual o Senhor justo juiz me dará naquele dia, e não somente a mim mas a todos os que amaram a sua vinda". Seria bom se ganhássemos a sabedora pela reflexão ou imitação como disse Confúcio. Porém, sinto em meu caso, que necessito também do caminho amargo da experiência para alcançar esse propósito. Estritamente falando todos saímos da Casa do Pai. Foi o nosso primeiro ambiente de acomodação e suprimento. Tendo essa indestrutível partícula, centelha divina em nós, estamos prosseguindo nossa caminhada espiritual com muitos tropeços é claro. Também enfrentando e vencendo pequenos e grandes obstáculos. Assim chegaremos infalivelmente de volta como seres evoluídos e perfeitos para a Casa do Pai novamente. Abraço. Davi.

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