sexta-feira, 22 de setembro de 2023

MEDITAÇÃO OU SUBJUGAÇÃO AO EU SUPERIOR

 

Bhagavad Gita. ATMA SANYAMA YOGA. Capítulo Seis. MEDITAÇÃO OU SUBJUGAÇÃO AO EU SUPERIOR. Neste capítulo se expõe como se realiza a união com o Ser Supremo, mediante a santificação interior, e a meditação.

 

1. O Verbo Divino: Ouve as minhas palavras, ó Arjuna! Quem cumpre honestamente o seu dever da melhor maneira que lhe é possível, sem nutrir desejos de ser recompensado é, ao mesmo tempo, um asceta e um homem de ação; não aquele que simplesmente prescinde de ritos e sacrifícios.

 

2. Sabe, ó príncipe, que a Reta Ação, praticada com o conhecimento da verdade, é a melhor renúncia, o melhor ascetismo. Porque este consiste em verdade só no desinteresse e, se a ação não é acompanhada pelo conhecimento inteligente da renúncia dos resultados, não merece o nome de Reta Ação.

 

3. Nos primeiros degraus do Caminho da Perfeição, ensina-se que o aspirante deve praticar a reta ação para ganhar os melhores méritos. Quando o discípulo atingiu a sabedoria e o conhecimento, e libertou-se do apego às obras, explica-se que a calma meditação e a paz serena da mente são os melhores para conduzi-lo ao alvo. A cada um dá-se conforme as necessidades e o grau de seu desenvolvimento.

 

4. Quando o homem está livre do apego aos frutos das ações, e à ação mesma, e aos objetos do mundo dos sentidos, então atingiu o mais alto grau da Reta Ação, e tornou-se um yogi perfeito.

 

5. Cada um deve elevar-se espiritualmente pela força que lhe dá o Espírito divino, e não inferioriza-se. O Eu Real, isto é, o Espírito do homem, é o amante do homem e o seu melhor amigo; mas ao ignorante pode parecer que é seu inimigo porque tende a aniquilar o seu sentimento de personalidade separada.

 

6. O Eu Real é o amigo daquele que domina o seu eu pessoal, inferior; porém, se a alma não alcançou ainda o Conhecimento, pode parecer-lhe que o Eu Real é o seu maior inimigo, porque quer libertar a alma ignorante das ilusões e dos erros que se lhe tornaram agradáveis.

 

7. A Alma do homem que chegou ao conhecimento do Eu Real em si mesmo permanece quieta e calma, contente e meiga, não se alterando pelo frio nem pelo calor, nem por sofrimento nem por prazer, nem por aquilo que o mundo chama honra ou desonra.

 

8. O sábio yogi contentá-se com a ciência e com o conhecimento da Humanidade Divina; ele dá igual apreço a um pedaço de barro como ao ouro ou a uma pedra preciosa.

 

9. É afável para com todos, com igual amor e fraternidade a todos trata, sejam amigos ou inimigos, parentes ou não, compatriotas ou estrangeiros, santos ou pecadores, bons ou maus.

 

10. O yogi senta-se num lugar isolado e entrega-se à meditação e a profundos pensamentos. Dominando a mente e o corpo pelo Eu Real, é livre de opiniões e de expectativas egoístas.

 

11. Senta-se num lugar limpo, nem demasiado alto, nem demasiado baixo; cinge-se com um pano ou como o couro de antílope preto, e repousa sobre verbenas (1)

(1). O plano é o símbolo da castidade, o antílope é o símbolo da delicadeza do sentimento; a verbena (erva "kusha") é o símbolo da firmeza. O yogi deve ser casto, delicado e firme.

 

12. Assim sentado, domina a sua mente e dirige o pensamento a um ponto de concentração, retendo, ao mesmo tempo, as impressões dos sentidos e não deixando entrar na mente pensamentos que vagueiam. Nessa posição, conservando calma e persistência, purifica a sua alma, dirigindo a consciência ao Eu Real, ao Absoluto, que é a base de todos os seres.

 

13. Tem sob domínio e imóveis a sua cabeça, a nuca e todo o corpo, de acordo com os costumes tradicionais dos yogis; fixa o olhar no Eterno e Infinito, não olhando para nada do mundo dos sentidos, que o rodeia.

 

14. Com o ânimo tranquilo o sereno, livre do medo, inabalável em seu propósito, refreando a sua vontade, em silêncio permanece, pensando em Mim e em Mim se imergindo.

 

15. O yogi que, desta maneira, se exercita em devoção e, praticando o domínio mental, une-se com o Eu Real, passa para o estado de Paz e Bem-aventurança que só em Mim se encontram.

 

16. A união mística com a Divindade não é atingível, porém, para aquele que é comilão, nem para quem jejua demasiadamente, nem para o dorminhoco, nem para quem se debilita por demasiadas vigílias. Quem quer ser yogi, há de evitar os extremos e seguir o dourado caminho do meio.

 

17. A ciência yogi, que destrói o sofrimento, é realizável para os que observam moderação e temperança em comida e recreio, em ação e descanso; par que aqueles que, fugindo do mal do excesso em ação, não caem no mal oposto do excesso em repressão.

 

18. Quando um homem tem o pleno domínio de si mesmo, e conserva a sua mente fixa no Eu Real, e não anseia nenhum objeto desejável, merece o nome de yukta, "cheio de graça".

 

19. A sua mente tornou-se estável e firme, como a chama da lâmpada que está colocada num lugar aonde não tem acesso o vento.

 

20. A mente do yogi se deleita na contemplação do Eu Real e acha no seu interior o contentamento e a felicidade.

 

21. Cheio de indizíveis delícias, inerentes às esferas espirituais que se estendem além dos sentidos, o yogi permanece firme na contemplação da Verdade.

 

22. Ele sabe que não há coisa melhor, nem maior satisfação, do que esse estado de Paz inabalável, que resulta do Conhecimento da Realidade; nada lhe pode perturbar essa Paz e esse contentamento, nem os maiores sofrimentos, dores e cuidados da vida mundana, porque está acima deles.

 

23. A ausência de sofrimentos, dores e cuidados chama-se Yoga, União Espiritual. Esta Yoga deve ser começada com firme convicção e praticada com alegre disposição mental.

 

24. Atirando longe de ti os vãos desejos da imaginação e dominando por meio da mente, iluminada e guiada pelo Espírito, as inclinações dos sentidos, chegarás, passo a passo, à tranquilidade e calma.

 

25. Quando a mente se fixou uma vez no Eu Real, acha insensato peregrinar em qualquer outra coisa

 

26. Se tua mente não atingiu ainda o necessário grau do domínio das paixões e impressões, anda para cá e para lá, desviando-se de seu Objetivo Supremo, sê vigilante e refreia-a pela força da vontade concentrada, reconduzindo-a sempre ao Alvo.

 

27. O homem, cujo coração encontrou a Paz que ão admite nenhum movimento de paixão, e tornou-se livre daquilo a que se chama "pecado", venceu os erros e entrou no reino da Verdade.

 

28. O yogi, que atingiu assim a Unidade Eterna e cessou de pecar, goza a harmonia da Vida Una e as delícias da união com Deus.

 

29. Ele, cuja alma se uniu assim a Deus, em Deus, e Deus em todas as almas, vê tudo em Deus.

 

30. Em verdade te digo que aquele que Me vê em tudo e todo o Universo em Mim, nunca me vê em tudo e todo o Universo em Mim, nunca Me abandonará e nunca será por Mim abandonado. Para sempre estará ligado a Mim, pelos laços preciosos do Amor.

 

31. Quem Me reconhece em todos os seres, ama-me e comigo se une, participa da vida eterna do meu ser, qualquer que seja o seu modo de vida exterior neste mundo.

 

32. O verdadeiro yogi, ó Arjuna! É aquele que chegou, pela iluminação interna, a saber que uma só Essência penetra toda a vida e todas as coisas, e conserva o ânimo igual em todas as vicissitudes da vida, reconhecendo a necessidade de equilíbrio entre o prazer e a dor na Natureza.

 

33. Arjuna: Eu não posso achar firmeza, ó Herói valente, nessa submissão, nessa resignação e nesse domínio da mente, de que falas. Eu sei que a mente e o coração são instáveis, inquietos, turbulentos, vacilantes, obstinados e insubmissos à vontade.

 

34. Parece que dominar o coração ou a mente em suas inclinações e seus pensamentos é tão difícil como reter um forte vento.

 

35. KRISHNA: Tens razão, dizendo que é muito difícil dominar a mente, porque é instável e inclina-se ora para um ora para outro objeto; entretanto, quem fortaleceu a sua vontade por meio de exercícios e disciplina, pode ser senhor de seu coração, senhor de sua mente.

 

36. É verdade que a Yoga (União Espiritual) é coisa dificílima para quem tem a mente descontrolada, mas é acessível para quem tenha a mente dominada.

 

37. Arjuna: Qual é, porém, a sorte daquele, ó Mestre, que está cheio de fé, mas não atinge a perfeição em Yoga, porque não domina a sua mente, que se afasta do caminho da disciplina?

 

38. Parecerá, talvez, como uma nuvem despedaçada pelos ventos? Será ele reduzido a nada, sendo repelido tanto deste mundo, como do mundo superior, porque caminha, incerto e inexperiente, pela senda que conduz ao Brahma, ao Absoluto!

 

39. Responde-me, ó Divino, porque tu, unicamente, podes dar-me explicação satisfatória e dissipar as minhas dúvidas.

 

40. KRISHNA: Não, meu caríssimo, não perecerá o homem em tais condições; não será aniquilado nem neste mundo, nem nos vindouros. A fé conserva-o vivo, a sua bondade preserva-o da aniquilação. Não se perde nunca quem vive honestamente e em Mim confia.

 

41. A Alma, cuja devoção é fé, acompanhadas de boas obras, carecem da aquisição da perfeita disciplina, depois da morte do corpo, vai habitar o céu dos justos que ainda não atingiram a Perfeição (1). Ali fica gozando felicidade por inúmeros anos, mas, depois, reencarna-se em casa de um homem bom e nobre, nas condições adaptadas ao seu desenvolvimento e adiantamento. (1). Os teósofos hindus chamam a esse céu - devachan ou morada dos deuses.

 

42. Pode nascer, nesta nova encarnação, como filho de um yogi adiantado, se bem que tal nascimento seja difícil obter-se neste mundo, atrasado moralmente.

 

43. Na sua nova existência, o homem recupera novamente toda a organização espiritual que tinha adquirido na vida passada, e, assim, fica preparado para continuar os estudos e as tarefas que conduzem à Perfeição.

 

44. Com a morte, não se perde nada daquilo que a alma adquiriu. As experiências que o homem fez nas vidas passadas tornam-se instintos e incitam-no ao progresso, até inconscientemente. Mesmo quem só tivesse desejado conhecer Yoga, recupera esse desejo, e com o decorrer do tempo transcende os liames da matéria.

 

45. Trabalhando com paciência, perseverança e aplicação, sendo livre dos erros e plenamente desenvolvido pelas experiências, ganhas em suas múltiplas encarnações, o yogi chega ao alvo procurado, à Paz e à Meta Suprema.

 

46. Como vês, yogi é aquele que procura a Verdade e, confiando na Justiça da Lei Absoluta, sempre faz o melhor que pode. É maior do que um asceta ou fanático que procura obter mérito, impondo-se penas e martírios voluntários a si mesmo. É superior aos eruditos e aos que praticam boas obras com desejo de recompensa. Sê, pois, ó Arjuna! também um yogi, cheio de fé e bondade!

 

47. De todos os yogis, eu prefiro, porém, aquele que me adora com fé e a mim dedica o interior da sua alma; aquele cujo coração transborda meu amor e cuja mente sempre sente a minha presença e, com ela, a Paz Suprema. Livro Bhagavad Gita - A Mensagem do Mestre. Abraço. Davi.

 

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