Budismo.
Livro Budismo Moderno. O Caminho de Compaixão e Sabedoria. Por Venerável Geshe
Kelsang. Gyatso Rinpoche. A FÉ BUDISTA. Para os budistas, ter fé em Buda
Shakyamuni é sua vida espiritual: é a raiz de todas as realizações de Dharma.
Se tivermos profunda fé em Buda, naturalmente desenvolveremos o forte desejo de
praticar seus ensinamentos. Com esse desejo, com certeza aplicaremos esforço em
nossa prática de Dharma e, com forte esforço, conquistaremos a libertação
permanente do sofrimento desta vida e das incontáveis vidas futuras. A
conquista da libertação permanente do sofrimento depende de colocarmos esforço
em nossa prática de Dharma, que depende do forte desejo de praticar o Dharma, e
que, por sua vez, depende de termos profunda fé em Buda. Por essa razão,
podemos compreender que, se quisermos verdadeiramente experienciar grande
benefício da nossa prática do Budismo, precisamos desenvolver e manter profunda
fé em Buda. Como desenvolvemos e mantemos essa fé? Em primeiro lugar, devemos
saber por que precisamos obter libertação permanente do sofrimento. Não é
suficiente experienciar apenas libertação temporária de um sofrimento
específico: todos os seres vivos, incluindo os animais, experienciam libertação
temporária de sofrimentos. específicos. Os animais experienciam libertação
temporária do sofrimento humano; e os humanos experienciam libertação
temporária do sofrimento animal. Podemos estar, neste momento, livres de
sofrimento físico e de dor mental, mas isso é apenas temporário. Mais tarde,
nesta vida e em nossas incontáveis vidas futuras, teremos de experienciar
insuportável sofrimento físico e dor mental muitas vezes, sem-fim. No ciclo de
vida impura, o samsara, ninguém tem libertação permanente; todos têm de
experienciar continuamente os sofrimentos da doença, envelhecimento, morte e
renascimento descontrolado, vida após vida, sem-fim. Nesse ciclo de vida impura
há vários reinos, ou mundos, impuros nos quais podemos renascer: os três reinos
inferiores (o reino animal, o reino dos fantasmas famintos e o reino do
inferno) e os três reinos superiores (o reino dos deuses, o reino dos
semideuses e o reino humano). De todos os mundos impuros, o inferno é o pior: é
o mundo que aparece para o pior de todos os tipos de mente. O mundo de um
animal é menos impuro, e o mundo que aparece para os seres humanos é menos
impuro do que o mundo que aparece aos animais. No entanto, existe sofrimento em
todos os reinos. Quando renascemos como um ser humano, temos de experienciar
sofrimento humano; quando renascemos como um animal, temos de experienciar
sofrimento animal; e quando renascemos como um ser-do-inferno, temos de experienciar
o sofrimento de um ser-do-inferno. Contemplando isso, realizaremos que apenas
experienciar libertação temporária de sofrimentos específicos não é bom o
bastante: precisamos, definitivamente, obter libertação permanente dos
sofrimentos desta vida e de todas as nossas incontáveis vidas futuras. Como
podemos realizar isso? Somente colocando os ensinamentos de Buda em prática. O
motivo é que somente os ensinamentos de Buda são os métodos verdadeiros para
abandonar a nossa ignorância do agarramento ao em-si, a fonte de todo o nosso
sofrimento. Em seu ensinamento intitulado Sutra Rei da Concentração, Buda diz:
Um mágico cria várias coisas Como cavalos, elefantes e assim por diante. Suas
criações não existem verdadeiramente; Deves conhecer todas as coisas do mesmo
modo. Esse ensinamento, por si só, tem o poder de libertar todos os seres vivos
permanentemente de seus sofrimentos. Por meio de praticar e realizar esse
ensinamento, que é explicado em detalhe no capítulo Treinar a Bodhichitta
Última, podemos erradicar permanentemente a raiz de todo o nosso sofrimento, a
nossa ignorância do agarramento ao em-si. Quando isso acontecer,
experienciaremos a suprema paz mental permanente, conhecida como “nirvana”, a
libertação permanente do sofrimento, que é o nosso desejo mais profundo e o
verdadeiro sentido da vida humana. Esse é o principal objetivo dos ensinamentos
de Buda. Entendendo isso, apreciaremos profundamente a grande bondade de Buda
para com todos os seres vivos, ao dar métodos profundos para conquistar a liberdade
permanente do ciclo de sofrimento da doença, envelhecimento, morte e
renascimento. Nem mesmo nossa própria mãe possui a compaixão que deseja nos
libertar desses sofrimentos; somente Buda tem essa compaixão por todos os seres
vivos, sem exceção. Na verdade, Buda já está nos libertando quando revela o
caminho da sabedoria que nos conduz à meta suprema da vida humana. Precisamos
contemplar esse ponto muitas vezes, até desenvolvermos profunda fé em Buda.
Essa fé é o objeto da nossa meditação; devemos transformar nossa mente em uma
mente de fé em Buda e mantê-la estritamente focada pelo maior tempo possível.
Praticando continuamente essa contemplação e meditação, manteremos profunda fé
em Buda dia e noite, por toda a nossa vida. Uma das principais maneiras como
Buda atua é concedendo paz mental para todos e cada um dos seres vivos,
dando-lhes bênçãos – essa é a função de um Buda. Os seres vivos, por si sós,
são incapazes de cultivar uma mente pacífica; é somente por receber as bênçãos
de Buda em seu continuum mental que os seres vivos, incluindo até mesmo os
animais, podem experienciar paz mental. Quando suas mentes estão pacíficas e
calmas, eles se sentem verdadeiramente felizes; mas, se suas mentes não estão
em paz, eles não se sentem felizes, mesmo que suas condições exteriores sejam
perfeitas. Isso prova que a felicidade depende de paz mental, e já que paz
mental depende das bênçãos de Buda, Buda é, por esta razão, a fonte de toda a
felicidade. Entendendo e contemplando isso, desenvolveremos e manteremos profunda
fé em Buda e iremos gerar o forte desejo de praticar seus ensinamentos, em
geral, e o Lamrim Kadam, em particular. O QUE É A MENTE ? Embora falemos com
frequência sobre a nossa mente, se alguém nos perguntasse “o que é a mente?”,
não teríamos uma resposta clara. Algumas pessoas dizem que o nosso cérebro é a
mente, mas isso é incorreto. O cérebro não pode ser a mente, porque o cérebro
é, apenas, uma parte do corpo – podemos ver o cérebro diretamente com os nossos
olhos e podemos, até mesmo, fotografá-lo. Porém, a mente não é uma parte do
corpo – ela não pode ser vista com os nossos olhos e não pode ser fotografada.
Portanto, fica claro que o cérebro não é a mente. É apenas nos ensinamentos de
Buda que podemos encontrar uma resposta clara para a pergunta: “o que é a
mente?”. Buda deu explicações claras e detalhadas sobre a mente, que podemos
ler a seguir. A mente é algo cuja natureza é vazia, semelhante ao espaço; a
mente nunca teve características físicas, formato ou cor; e a mente atua
percebendo e compreendendo objetos – essa é a sua função. A mente tem três
níveis diferentes: denso, sutil e muito sutil. Durante nossos sonhos, temos uma
consciência onírica, por meio da qual vários tipos de coisas sonhadas aparecem
para nós. Essa consciência é uma mente sutil, porque é difícil de ser
identificada, ou reconhecida. Durante o sono profundo, temos apenas consciência
mental, que percebe vacuidade, unicamente. Essa consciência é denominada
“clara- -luz do sono” e é a mente muito sutil, o que significa que essa mente é
extremamente difícil de ser identificada, ou reconhecida. Durante o período em
que estamos acordados, temos uma consciência do estado acordado (ou da
vigília); por meio dela, vários tipos de coisas do estado da vigília aparecem
para nós. Essa consciência é a mente densa, o que significa que ela não é
difícil de ser identificada. Quando dormimos, nossa mente densa (a consciência
do estado da vigília) dissolve-se em nossa mente sutil do sono. Ao mesmo tempo,
todas as nossas aparências do mundo do estado acordado tornam-se não
existentes; e, quando experienciamos o sono profundo, nossa mente sutil do sono
dissolve- -se em nossa mente muito sutil do sono: a clara-luz do sono. Nessa
etapa, ficamos parecidos com uma pessoa que morreu. Então, porque nossa conexão
cármica com esta vida é mantida, nossa mente densa (a consciência do estado da
vigília) surge novamente a partir da clara-luz do sono, e as várias coisas do
estado da vigília aparecem de novo para nós. O processo de dormir é muito
parecido com o processo de morrer. A diferença entre eles é que, quando estamos
morrendo, nossas mentes densas e sutil se dissolvem na nossa mente muito sutil
da morte, conhecida como “a clara-luz da morte”. Depois, porque nossa conexão
cármica com esta vida chegou ao fim, nossa mente muito sutil deixa este corpo,
vai para a próxima vida e ingressa em um novo corpo; então, todos os diversos
tipos de coisas da próxima vida irão aparecer para nós. Tudo será totalmente
novo. Com essa explicação sobre a mente podemos compreender, de modo bastante
claro, a existência de nossas vidas futuras, de maneira que podemos preparar, a
partir de agora, a felicidade e a liberdade de nossas incontáveis vidas futuras
por meio de praticarmos os ensinamentos de Buda – o Dharma. Não há nada mais
significativo do que isso. Nossa vida atual é apenas uma única vida, mas nossas
vidas futuras são incontáveis. Portanto, não há dúvida de que as vidas futuras
são mais importantes que esta vida. Livro Budismo Moderno. O Caminho de
Compaixão e Sabedoria.
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