Budismo Nitiren
Daishonin. Por Daisaku Ikeda (1928 - ). PENSANDO SOBRE A PAZ. Algumas
pessoas que veem cenas de guerra no cinema ou televisão podem ficar
impressionadas, e de certa forma, chegam a apreciam a valentia dos atores. Entretanto, a realidade da guerra é
completamente diferente. É cruel e cheia de tristeza e miséria. Ninguém que
realmente tenha passado por esta experiência, deseja que se repita. Eu já
presenciei mais do que o suficiente sobre os horrores da guerra quando era
jovem, vivendo sobre bombardeios aéreos na qual explosivos e bombas
incendiárias caiam como chuva. Mergulhado num mar de fogo, preocupado com a minha
família, sentindo uma terrível tristeza e abandono quando presenciava pessoas
morrendo ao meu redor. Não importa que tipo de justificativa possa ser oferecida, no meu ponto
de vista, não há absolutamente algo como uma guerra justa e correta. A guerra
trata a vida humana como um meio para se alcançar um fim e somente traz
sofrimento e miséria para as pessoas comuns, para as mães de família. Cada
pessoa que falece na guerra é insubstituível e preciosa – quer seja o pai, o
filho ou amigo de alguém. Esta é a razão para que sejamos contra a guerra.
Todas as rivalidades e conflitos devem ser resolvidas, não pelo poder, mas pela
sabedoria e diálogo contínuo. É tentador pensar que as guerras são iniciadas pelo Estado ou por uma
aliança de países. Entretanto, de fato, as guerras têm início no coração de
cada ser humano. O budismo ensina que a guerra é resultado do ódio e egoísmo.
Para sobrepujá-la, nós devemos conquistar e sub julgar a natureza egoísta que
reside em cada ser humano. Os desastres naturais como inundações ou terremotos não podem ser
prevenidos pela razão humana ou sabedoria. Mas, os problemas causados pelos
próprios seres humanos podem ser resolvidos por nós mesmos. Linus Pauling (1901-1994), ganhador de dois
prêmios Nobel, escreveu no seu livro No More War"(Guerra Nunca Mais). Eu
acredito que há um poder maior no mundo do que o maléfico poder da força
militar ou das bombas nucleares – há o poder da bondade, da moralidade, do
humanismo. Eu acredito no poder do espírito humano. Eu também acredito que uma mudança interior nas
profundezas da vida humana possa transformar o egoísmo e substituí-lo com um
dedicado humanismo que busca a paz e a coexistência entre todos os povos. O que detém este "poder da bondade" de
possuir um impacto maior no mundo? O que impede o progresso do movimento em
prol da paz? Numa única palavra é a desconfiança. É o preconceito que cresce da
desconfiança. Geralmente, há raízes em conflitos ou rivalidades passadas e sem
a remoção desta muralha de desconfiança e sem o esforço em descobrir a bondade
que brilha em cada ser humano, nenhum progresso com relação a paz será
possível. Quando eu visitei
a União Soviética pela primeira vez, no início da década de 70, as pessoas
perguntaram a razão de um líder religioso querer visitar um país comunista que
não reconhece a religião? Eu respondi: Porque os cidadãos da União Soviética
são pessoas, seres humanos como eu. Eu estava buscando algum meio de criar um
novo caminho de transformar a desconfiança em confiança, o medo em segurança,
um doentio olhar pelo passado em um comprometimento em prol do futuro. Em cada
país que visitei eu sempre senti o quanto as pessoas buscavam pela paz. A primeira condição para a paz mundial é que as
pessoas devem realmente aprender uma com as outras. Devem começar a realmente
entender e apreciar uma às outras. O caminho seguro para se derreter o
"gelo" da desconfiança é promovendo a interação entre pessoas comuns
através de reuniões, visitas, e intercâmbios culturais e educacionais. Os
jovens que não são conduzidos pelas experiências do passado podem promover este
movimento. Há muitos anos,
era tradição entre os índios no Canadá, promover uma grande celebração quando
uma filha alcançava a maioridade. As duas filhas de um grande chefe haviam alcançado a maioridade e uma
grande festa estava sendo preparada. Mas surgiram notícias de que os inimigos
do norte estavam se preparando para a guerra. As filhas prontamente foram
conversar com o pai e disseram: Querido pai! Algum dia nós iremos ser mães e
daremos nascimento a uma criança que irá crescer para se tornar fortes chefes
como o senhor. Por favor, em prol delas, convide o povo do norte para nossa
celebração. O chefe não podia
recusar o pedido de suas filhas e embora relutante enviou uma mensagem para os
inimigos de longa data, convidando-os. Eles vieram em grande número, trazendo
suas esposas e filhos e muitos presentes. Os sons da guerra se transformaram em
sons de alegria. Posteriormente,
ambas as irmãs deram luz a um filho e eles se tornaram dois chefes chamados Paz
e Amor Fraternal. Perto da cidade de Vancouver, na costa leste do Canadá, há
uma bela montanha com dois picos e de acordo com a lenda, as duas irmãs que
amavam a paz tornaram-se estes picos e até hoje observam a cidade. Mesmo o
coração pacífico de uma única mulher é poderoso podendo mudar a sociedade e
transformar a história. É muito arriscado deixar o futuro do mundo nas mãos dos políticos. O
povo deve ser sábio e tomar suas próprias decisões para se criar a paz. Devemos
nos unir ultrapassando as fronteiras: uma união que rejeite terminantemente a
própria guerra. Quando o povo de um determinado país se comunica com
outros povos, poderão criar uma corrente de paz. É vital o estabelecimento de
uma rede de pessoas que transcendam as fronteiras nacionais para que um pequeno
número de líderes corruptos não possa romper a malha de solidariedade e amizade
que os une. A paz nunca
poderá ser atingida se houver uma atitude passiva de somente aguardar pelo
futuro. É necessária a participação de todos - não importando o quão fraco
possamos pensar que somos - para se construir um profundo alicerce pela paz em
nossos corações que possa perdurar e posteriormente silenciar os incessantes
chamados para a guerra. Como a escritora chilena Gabriela Mistral (1889-1957) escreveu: Tenha
coragem, meus amigos, pois o pacifismo não é tão doce o quanto alguns possam
dizer (...). Continue bradando pela paz, contra os ventos e as ondas (...). O
pacifismo não é algo fácil. Ninguém deve enfrentar a injustiça com o silêncio.
Meus amigos, continuem a bradar, até que o círculo de paz seja expandido. A paz verdadeira somente poderá ser encontrada
na realidade da vida diária. Nós devemos plantar as sementes da paz fundamental
nas vidas diárias de cada indivíduo, em nossos corações e em nossa vida
interior. Nós devemos proteger e cuidar destas sementes até que cresçam numa
firme realidade para todos. Assim, depende de nós construir um mundo sem guerras. Nós iremos
desistir deste objetivo ou iremos continuar o desafio mesmo que haja grandes
dificuldades? Neste sentido, o destino do século XXI está em nossas mãos.
Fonte: Daily Mirror, 28 de dezembro de 1998. http://www.maisbelashistoriasbudistas.com.br.
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