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Mosaico. OS HINDÚS ACREDITAM NO DIABO ? Bem, vou tentar fazer uma breve
exposição desse tema. Até onde compreendo das leituras que tenho feito nesse
assunto. Os hinduístas têm (verdades) opiniões diferentes das nossas quanto a
muitos conceitos espirituais. Eles têm aproximadamente 330 milhões (politeísmo)
de divindades. Este é um ponto importante, pois essa tradição vê
"deuses" em quase tudo. Um panteísmo, crença de que Deus e todo o
Universo estão entre mesclados. E que Deus não existe como um Espírito separado,
onde uma força cósmica rege, controla e harmoniza o Universo. Uma ideia de que
homens e "deuses" coexistem neste mundo e em outros possíveis. Bem parecidos com o panteão de deuses gregos que habitavam o monte Olimpo. Perceba que segundo este conceito não há um antropomorfismo (conceber atributos
humanos a divindades) que tutela e assemelha em graus de afinidades homens e
"deuses". Tanto que animais como vaca, macaco, elefante e algumas
aves que voam são consideradas sagradas. Nossa tradição cristã para compreender
a divindade (Trindade Divina - Pai, Filho e Espírito Santo) os assemelha as
qualidades humanas. Os Católicos romanos e Ortodoxos tem na Virgem Maria –
Imaculada Conceição a Mãe de Deus, a Santíssima Intercessora. Que "roga
por nós na hora de nossa morte", fazendo parte da divindade cristã. Compartilho
dessa crença. Interessante esse arquétipo, corroborado pela maioria das
religiões universais que também têm suas divindades femininas. Isso insere a
Santíssima Virgem no seio da família como exemplo de pureza, santidade e amor.
A mãe é um protótipo essencial na harmonia e equilíbrio dos relacionamentos
humanos saudáveis. Símbolo positivo que ama, nutre, cuida e aperfeiçoa os seus
filhos. Os orientais não entendem a Divindade assumindo vícios e virtudes
humanas; como se estivesse sob a influência do bem e do mal. A visão
heteromorfa – o deus que se manifesta em tudo e em todos é em sua cultural
lógica, plausível e mais bem compreendida por todos. Nesse ponto de vista a
partícula divina está em todo Ser e Ente para passar pelo processo contínuo e
inevitável da evolução. Desde elementais, minerais, vegetais, animais e os
humanos. Isso dá aos hindus uma volatilidade – imaterial e incorpóreo.
Flexibilizando em relação a assuntos como esse que estamos abordando. Desse
modo, eles não têm o diabo como opositor de Deus; lutando em pé de igualdade
com Ele. Até em alguns casos o vencendo, ideia que é passada na cultura cristã.
Que por sinal é absurda e ridícula, sem nenhuma razão lógica que a justifique.
A divindade suprema dos hindus, Brahma, que podemos chamar de outros nomes
como: Consciência Cósmica, Logos Divino, Espírito Eterno é o ponto de
equilíbrio do Universo. Com sua infinitude e completude sustenta e rege com
poder e autoridade todas as forças negativas e positivas que atuam no
microcosmo (homem) e no macrocosmo (Universo). Contudo, a divindade suprema do
hinduísmo é composta de três deuses. Shiva é o deus da transformação. Uma força
superior intangível que age no Universo. Não aquela figura medonha idealizada
com chifres, rabo pontiagudo e tridente na mão. Shiva é considerado o criador
da Yoga, por causa de seu enorme poder em transformar sentimentos e situações
ruins em boas. Devido a sua forte energia que emana positividade e
tranquilidade. As entidades, negativas, os seres que não são iluminados, ao
entrar em contato com Shiva. Passam a receber sua luz, tornando-se divindades
generosas, assim como ele. Shiva age em nosso quaternário inferior,
representado pelo corpo físico, éterico, emocional e mental. Impedindo que
nossa personalidade, que é apegada aos prazeres, desejos e vontades terrenas,
não alcance a virtude e bem-aventurança. Praticando atos humanitários, o
estágio da individualidade, que segundo a filosofia espiritual, evolui nosso
ser produzindo emoção e sentimento de fraternidade humana. O problema de
personalizar o diabo é que, atribuímos a ele o que ele não tem e não é. Um
casuísmo que chegamos ao absurdo de confrontá-lo ao Logos Divino. Oportuno
lembrar que estes povos, não tem conceito de inferno eterno, onde as pessoas
más ou aquelas que não aceitaram Jesus serão lançadas para sempre no Lago de
Fogo. Marcos 9, 47-48 " ... sereis lançados no fogo do inferno. Onde o seu
bicho não morre e, o fogo nunca se apaga". Um versículo terrível e
desumano. Não mais acredito num Deus cruel e impiedoso, sadomasoquista como
este. Isso é ilógico e incompreensível quando pensamos em seu amor e na sua
graça. Os dois últimos deuses – Vishnu e Brahma, cooperaram um com o outro.
Vishnu vêm ao mundo de diversas formas chamadas de avatares; podendo ser
humanas, animais ou a combinação dos dois. Todos esses aparecem ao mundo quando
um grande mal ameaça a Terra. No total existem dez avatares de Vishnu, dos
quais nove já se manifestaram no mundo. Sendo Rama e Krishna os mais
conhecidos, e outros ainda estão por aparecer. São eles: Matsya o Peixe. Kurma
a Tartaruga. Varaha o Javali. Nahasimha o Homem-Leão. Vamana o Anão.
Parashurama o Homem com o Machado. Rama o arqueiro. KRISHNA. Budha o Iluminado.
Kalki o Espadachim montado ao cavalo que ainda está por vir. Vishnu é o poder
de manutenção do Universo. Sua natureza é lila, ou a representação. Assume
diferentes formas a sua vontade. Ele está em pé sobre um lótus de mil pétalas,
com uma concha, um disco, uma massa e um lótus na mão. Esses quatro
instrumentos são essenciais para a diversão da vida. A concha é o instrumento
que devolve a união de todos os sons da criação, representando o som puro OM.
Que traz a liberação para os seres humanos. O disco ou chackra é o anel de luz
que rodopia no dedo indicador de Vishnu. Ele é o símbolo do Dharma. O dever de
fazer o que é certo e correto, também representa a roda do tempo. A massa ou
clava é um instrumento para atacar os desejos, fonte de todo o sofrimento e
insegurança. O lótus é mostrado para que não esqueçamos a nossa meta que é
encontrar a nós mesmo. O lótus cresce no lodo e continua luminosos, radiante,
não contaminado pelo ambiente. Abre suas pétalas ao primeiro raio de sol,
fechando com o último raio de sol. Krishna tem semelhança
mitológica com o Cristo. Basta dizer que ele foi gerado por Vishnu no ventre de
sua mãe. Quando criança, já mostrava habilidade intelectual ao conversar com os
sábios no templo. Tinha um extremo amor pelo próximo e por muitas vezes era
cercado pelas crianças. Costumava ser visto com os animais, feras e aves do
campo. Esteve acompanhado por um grupo de discípulos em seu ministério. Morreu
injustamente pelos seus algozes ao lado de uma árvore, traspassado por flechas
e uma cravou-lhe o coração. Brahma é a Consciência Universal, o Princípio de
Tudo. A razão do eterno ser, e onde tudo e todos um dia convergirão para um
nirvana – iluminação e despertar divinos. No budismo, última etapa da
contemplação, esse aspecto é caracterizado pela ausência da dor e pela posse da
verdade. Ela, que é tão almejada por todas as religiões. O nirvana é
decorrência da integração do espírito universal no seio da divindade suprema.
Brahma é o criador do Universo, a inteligência criadora, representando a mente
cósmica. Os Purunas, livro sagrado, dizem que ele criou Sarasvati - sua consorte
- a deusa do conhecimento. Ela corria de um lado para o outro, e para cada lado
que ela corria nascia uma cabeça. Assim Brahma é representado com quatro
cabeças, significando os quatro Vedas e todas as direções do conhecimento. A
base de Brahma é Sarasvati, o conhecimento. Assim Brahma está sentado num
cisne. O cisne tem a capacidade de separar o leite da água, de igual modo, o
conhecimento é a capacidade de separar o real do não real. Em suas quatro mãos
Brahma sustenta um lótus, os vedas, um vaso contendo amrita e abaya mudrã. O
lótus representa o símbolo da pureza. Os vedas são as escrituras sagradas
contendo todo o conhecimento da criação e o meio para ele. O amrita é o néctar
da imortalidade e o abaya mudrã abençoa com destemor. A doutrina do inferno eterno
é substituída pela lei da retribuição ou carma. O carma é a lei que afirma a
sujeição humana à causalidade moral, de tal forma que toda ação – boa ou má –
gera uma reação. Essa retorna com a mesma qualidade e intensidade a quem a
realizou, nesta ou em encarnação futura. A transformação pode dar-se em direção
ao aperfeiçoamento. Esse, é chamado mocsa em sânscrito – o fim do ciclo das
reencarnações ou de forma regressiva o renascimento como animal, vegetal ou
mineral. Resultado de atos maldosos e desvalorativos a vida que porventura
pratiquemos. Regredimos na escala evolucionária que tem no homem virtuoso o
nível encarnatório mais elevado. O que Jesus disse em Mateus 5,48 “Portanto,
sede vós perfeitos, como perfeito é vosso Pai Celeste”. Esse alcançará a
plenitude da perfeição. Como um Budha, Krishna, Muhammad ou Jesus. Essa lei é
mais justa, pois somos cobrados pelos erros e pecados que praticamos na
proporção das vidas que teremos. Os vários renascimentos são para pagar os
deméritos e os vícios praticados, além de retribuir os atos virtuosos e
meritórios. Não há uma punição eterna objetiva como afirma o cristianismo. O
mérito e as virtudes pelas obras de amor e fraternidade executados, serão
recompensados post mortem, num lugar chamado devachan, algo semelhante ao
paraíso cristão. Ou exemplificando podemos comparar ao texto de Lucas 16, 22
"o mendigo morreu e, foi levado pelos anjos para o seio de Abraão".
Segundo os livros sagrados do hinduísmo Veda, Upanishad, Bhagavad Gita,
Mahabharata, Purunas, Yoga Sutras e outros. O devachan provavelmente seria um
tempo de 10 a 15 séculos de gozo e consolo na outra vida. No cristianismo temos
a ideia de que somos redimidos pela morte de Cristo, que pagou o preço e quitou
nossa dívida para com Deus. Ato realizado através de um sacrifício exterior – a
morte vicária na cruz do Calvário. Essa é uma realidade inquestionável para
você e eu, contudo, eles os hindus têm outra verdade. A redenção é um processo
individual. Começando do interior do homem, passando pelo princípio da
consciência universal Brahma, que está no homem. Ele é desenvolvido através de
boas atitudes morais e éticas, que o indivíduo, vivendo um cooperativismo e
companheirismo aperfeiçoa seu ser interior. Neste contexto da redenção de
dentro para fora está as iniciativas de meditação, contemplação e orações.
Também os estudos dos livros sagrados e das tradições culturais. Esse assunto
precisa ser mais detalhado para que alcance uma compreensão lógica e racional.
Ainda não estamos acostumados aos conceitos da filosofia oriental. Assim os
argumentos e suas premissas ficam obscurecidos pela pouca experiência com a
espiritualidade hindu. Concluindo entendo que o confronto com outras verdades
nos ajuda a entender o mundo e as pessoas. Criando um ambiente de tolerância,
respeito e valorização que outras verdades. Acho interessante um olhar através
de outras janelas. Isso mostra que O ETERNO, tem variadas formas de se manifestar aos homens. Precisamos
aprender a considerar os argumentos e as opiniões daqueles que não tem o mesmo
ponto de vista que os nossos em questões de espiritualidades. Abraço. Davi.
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