Livro Apócrifo. O
que são livros apócrifos? Há livros apócrifos referentes ao Novo Testamento e
Antigo Testamento na Bíblia Sagrada. Apócrifos são os livros que foram escritos
pelo povo de Deus, mas não foram considerados pelo Magistério da Igreja como revelados
pelo Espírito Santo, portanto, não são canônicos, isto é, não fazem parte do
cânon (índice) da Bíblia. As razões que levaram a Igreja a não considerá-los
como Palavra de Deus é que muitos são fantasiosos sobre a Pessoa de Jesus e
sobre outros personagens bíblicos. Além disso, muitos destes possuem até
heresias (interpretação, doutrina ou sistema teológico rejeitado como falso
pela Igreja) como o gnosticismo (movimento religioso de caráter sincrético e
esotérico, desenvolvido nos primeiros séculos da nossa Era a margem do
cristianismo institucionalizado, combinando misticismo e especulação
filosófica). No entanto, neles há algumas verdades históricas, e isso faz a
Igreja Católica considerá-los importantes nos estudos. www.formacao.cancaonova.com.
I. Livro Apócrifo do
EVANGELHO ÁRABE DA INFÂNCIA DE JESUS
Capítulo 1
EM NOME do Pai, e
do Filho, e do Espírito Santo, Deus único. Começamos, com
o auxílio e a ajuda do Deus todo-poderoso, a escrever o livro dos milagres de
nosso Salvador, Mestre e Senhor Jesus Cristo, que se intitula o Evangelho da
Infância, na paz do Salvador. Que assim seja. Encontramos no
livro do grande sacerdote Josefo que viveu no tempo de Jesus Cristo (e que
alguns chamam de Caifás), que Jesus falou quando estava no berço e que disse a
sua mãe Maria: “Eu, que nasci de ti, sou Jesus, o Filho de Deus, o Verbo, como
te anunciou o anjo Gabriel, e meu Pai me enviou para a salvação do mundo”.
Capítulo 2
No ano 309 da era
de Alexandre, Augusto ordenara que todos fossem recenseados em sua cidade
natal. José partiu então e conduzindo Maria, sua esposa, veio a Jerusalém, de
onde ele se dirigiu a Belém para inscrever-se, junto com sua família, no local
onde ele havia nascido; quando estavam próximos a uma caverna, Maria disse a
José que sua hora havia chegado e que não poderia ir até a cidade, “mas, disse
ela, entremos nesta caverna”. O sol estava começando a se pôr. José apressou-se
em procurar uma mulher que assistisse Maria no parto, e ele encontrou uma anciã
que vinha de Jerusalém, e, saudando-a, disse-lhe: “Entra na caverna onde
encontrarás uma mulher em trabalho de parto.”
Capítulo 3
E após o
pôr-do-sol, José chegou com a anciã à caverna e eles entraram. E eis que a
caverna estava resplandecente com uma claridade que superava a de uma
infinidade de labaredas, e que brilhava mais do que o sol do meio-dia. A
criança, enrolada em fraldas e deitada numa manjedoura, mamava no seio de sua
mãe Maria. Ambos ficaram surpresos com o aspecto daquela claridade, e a anciã
disse a Maria: “Es tu a mãe desta criança?” Ao responder afirmativamente Maria,
disse-lhe: “Não és semelhante às filhas de Eva”, e Maria respondeu: “Assim como
entre as crianças dos homens não há nenhuma que seja semelhante ao meu filho,
assim também sua mãe não tem par entre todas as mulheres”. A anciã disse então:
“Senhora e ama, vim para receber uma recompensa que perdurará para todo o
sempre”. E Maria lhe respondeu: “Põe tuas mãos sobre a criança”. Quando a anciã
o fez, ela foi purificada, e quando saiu, ela disse: “A partir deste momento,
eu serei a serva desta criança, e eu quero consagrar-me a seu serviço, por
todos os dias da minha vida”.
Capítulo 4
Em seguida, quando
os pastores chegaram e acenderam o fogo, entregando-se à alegria, as cortes
celestes apareceram, louvando e celebrando o Senhor: a caverna parecia-se com
um templo augusto, onde reis celestiais e terrestres celebravam a glória e os
louvores de Deus por causa da natividade do Senhor Jesus Cristo. E esta anciã
hebreia, vendo estes milagres resplandecentes, rendia graças a Deus, dizendo:
“Eu te rendo graças, ó Deus, Deus de Israel, porque os meus olhos viram a
natividade do Salvador do mundo”.
Capítulo 5
Quando chegou o
tempo da circuncisão, isto é, o oitavo dia, época na qual o recém-nascido deve
ser circuncidado segundo a lei, eles o circuncidaram na caverna, e a velha
anciã recolheu o prepúcio e colocou-o em um vaso de alabastro cheio de óleo de
nardo velho. Como tivesse um filho que comercializava perfumes, Maria deu-lhe o
vaso, dizendo: “Muito cuidado para não vender este vaso cheio de perfume de
nardo, mesmo que te ofereçam trezentos dinares”. E este é o vaso que Maria, a
pecadora, comprou e que ela derramou sobre a cabeça e sobre os pés de Nosso
Senhor Jesus Cristo, enxugando-os com seus cabelos. Quando dez dias se haviam
passado, eles levaram a criança para Jerusalém, e, ao término da quarentena,
eles o apresentaram no templo, ao Senhor, oferecendo por ele as oferendas
prescritas pela lei de, Moisés, que diz: “Toda criança do sexo masculino que
sair de sua mãe será chamada O santo de Deus”.
Capítulo 6
O velho Simeão viu
o menino Jesus resplandecente de claridade como um facho de luz, quando a
Virgem Maria, cheia de alegrias, entrou com ele em seus braços. E uma multidão
de anjos rodeava-o, louvando-o e acompanhando-o, assim como os satélites de
honra seguem seu rei. Simeão, pois, aproximando-se rapidamente de Maria e
estendendo suas mãos para ela, disse ao Senhor Jesus: Agora, Senhor, teu servo
pode retirar-se em paz, segundo tua promessa, pois meus olhos viram tua
misericórdia e o que preparaste para a salvação que todas as nações; luz de
todos os povos e a glória de teu povo de Israel”. A profetisa Ana também estava
presente, e ela rendia graças a Deus, e celebrava a felicidade de Maria.
Capítulo 7
E eis o que
aconteceu enquanto o Senhor vinha ao mundo em Belém, cidade da Judéia, no tempo
do rei Herodes: magos vieram de países do Oriente a Jerusalém, tal como havia
predito Zoroastro, e traziam com eles presentes, ouro, incenso e mirra, e
adoraram a criança, e renderam-lhe homenagem com seus presentes. Então Maria
pegou uma das faixas nas quais a criança estava envolvida e deu-a aos magos que
receberam-na como uma dádiva de valor inestimável. E nesta mesma hora,
apareceu-lhes um anjo sob a forma de uma estrela que já lhes havia servido de
guia, e eles partiram, seguindo sua luz, até que estivessem de volta a sua
pátria.
Capítulo 8
Os reis e os
príncipes apressaram-se em se reunir em torno dos magos, perguntando-lhes o que
haviam visto e o que haviam feito, como haviam ido e como haviam voltado, e que
companheiros eles haviam tido então durante a viagem. Os magos mostraram-lhes a
faixa que Maria lhes havia dado; em seguida, eles celebraram uma festa,
acenderam o fogo segundo seus costumes, e adoraram a faixa, e a jogaram nas
chamas, e as chamas envolveram-na. Ao apagar-se o fogo, eles retiraram o pano e
viram que as chamas não haviam deixado sobre ele nenhum vestígio. Eles se
puseram então a beijá-lo e a colocá-lo sobre suas cabeças e sobre seus olhos,
dizendo: “Eis certa-mente a verdade! Qual é pois o preço deste objeto que o
fogo não pode nem consumir nem danificar?” E pegando-o, depositaram-no com
grande veneração entre seus tesouros.
Capítulo 9
Herodes, vendo que
os magos não retornavam a visitá-lo, reuniu os sacerdotes e os doutores e
disse-lhes: “Mostrai-me onde deve nascer o Cristo. ”E quando responderam que
era em Belém, cidade da Judéia, Herodes pôs-se a tramar, em seu espírito, o
assassinato do Senhor Jesus. Então um anjo apareceu a José durante o sono e
disse-lhe: “Levanta-te, pega a criança e sua mãe, e foge para o Egito”. E
quando o galo cantou, José levantou-se e partiu.
Capítulo 10
E enquanto ele
refletia sobre o caminho que ele devia seguir, a aurora o surpreendeu: a
correia da sela se havia rompido ao se aproximarem de uma grande cidade, onde
havia um ídolo ao qual os outros ídolos e divindades do Egito rendiam homenagem
e ofereciam presentes; sempre — que Satanás falava pela boca do ídolo, os
sacerdotes relatavam o que ele dizia aos habitantes do Egito e de suas margens.
Ora, este sacerdote tinha um filho de três anos que estava possuído por um
grande número de demônios; ele profetizava e anunciava muitas coisas, e quando
os demônios se apossavam dele, rasgavam suas roupas e ele corria nu pela
cidade, jogando pedras nos homens. A hospedaria desta cidade ficava perto deste
ídolo; quando José e Maria lá chegaram e se hospedaram, os habitantes ficaram
profundamente perturbados, e todos os príncipes e sacerdotes dos ídolos se
reuniram ao redor deste ídolo, perguntando-lhe: “Donde vem essa agitação
universal, e qual é a causa deste pavor que se apoderou de nosso país?” E o ídolo
respondeu: “Esse assombro foi trazido por um Deus desconhecido que é o Deus
verdadeiro, e ninguém a não ser ele é digno das honras divinas, pois ele é o
verdadeiro Filho de Deus. A sua aproximação, esta região tremeu; ela se
emocionou e se assombrou, e nós sentimos um grande temor por causa do seu
poder”. E neste momento este ídolo caiu e quebrou-se, tal como os outros ídolos
que estavam no país, e sua queda fez acorrerem todos os habitantes do Egito.
Capítulo 11
Mas o filho do
sacerdote, acometido do mal que o afligia, entrou no albergue insultando José e
Maria, dos quais os outros haviam fugido, e como Maria havia lavado as fraldas
do Senhor Jesus e as estendera sobre umas madeiras, o menino possuído pegou uma
das fraldas e colocou-a sobre sua cabeça. Imediatamente os demônios fugiram,
saindo pela sua boca, e foram vistos sob a forma de corvos e serpentes. O
menino foi curado instantaneamente pelo poder de Jesus Cristo, e ele se pôs a
louvar o Senhor que o havia libertado e rendeu-lhe mil ações de graça. E quando
seu pai viu que ele havia recobrado a saúde, exclamou, admirado: “Meu filho,
mas o que te aconteceu, e como foste tu curado?” E o filho respondeu: “No
momento em que me atormentavam, eu entrei na hospedaria e lá encontrei uma
mulher de grande beleza que estava com uma criança, e ela estendia sobre umas
madeiras as fraldas que acabara de lavar; eu peguei uma delas e coloquei-a
sobre minha cabeça e os demônios fugiram imediatamente e me abandonaram”. O
pai, cheio de alegria, exclamou: “Meu filho, é possível que essa criança seja o
Filho do Deus vivo que criou o céu e a terra, e, assim que passou perto de nós,
o ídolo partiu-se e os simulacros de todos os nossos deuses caíram, e uma força
superior à deles destruiu-os”.
Capítulo 12
Assim se cumpriu a
profecia que diz: “Chamei o meu filho do Egito” (I). Quando José e Maria
souberam que este ídolo se havia quebrado, foram tomados de medo e de espanto,
e diziam: “Quando estávamos na terra de Israel, Herodes queria que Jesus
morresse e, com esta intenção, ele ordenou o massacre de todas as crianças de
Belém e das vizinhanças, e é de se temer que os egípcios nos queimem vivos, se
eles souberem que este ídolo caiu”.
Capítulo 13
Eles então partiram
e passaram nas proximidades do covil de ladrões que despojavam de suas roupas e
pertences os viajantes que por ali passavam e, após tê-los amarrado, os
arrastavam pelo deserto. Estes ladrões ouviram um forte ruído, semelhante ao do
rei que sai de sua capital ao som dos instrumentos musicais, escoltado por
grande exército e por uma numerosa cavalaria; apavorados, então, deixaram ali
“todo o seu saque e apressaram-se em fugir. Os cativos, levantando-se, cortaram
as cordas que os prendiam e, tendo retomado sua bagagem, iam retirar-se quando
viram José e Maria que se aproximavam e perguntaram-lhes: “Onde está este rei
cujo cortejo, com seu barulho, assustou os ladrões a ponto de eles terem fugido
e nos libertado?” E José respondeu: “Ele nos segue”.
Capítulo 14
Chegaram em seguida
em outra cidade onde havia uma mulher endemoninhada, e quando ela ia buscar
água no poço durante a noite o espírito rebelde e impuro apossava-se dela. Ela
não podia suportar nenhuma roupa, nem morar em uma casa, e todas as vezes que a
amarravam com cordas ou correntes, ela as partia e fugia nua para locais
desertos; e ficava nas estradas e perto de sepulturas, e perseguia,
apedrejando, aqueles que encontrava no caminho, de forma que ela era, para seus
pais, motivo de luto. Maria viu-a e foi tomada de compaixão, e imediata-mente Satanás
a deixou e fugiu sob a forma de um jovem rapaz, dizendo: “Infeliz de mim, por
tua causa, Maria, e por causa de teu filho!” Quando esta mulher foi libertada
da causa de seu tormento, olhou ao seu redor e corando por sua nudez procurou
seus pais, evitando encontrar as pessoas; após haver vestido suas roupas, ela
contou ao seu pai e aos seus o que lhe havia acontecido. Como eles fizessem
parte dos habitantes mais distintos da cidade, hospedaram em sua casa José e
Maria, demonstrando por eles um grande respeito.
Capítulo 15
No dia seguinte,
José e Maria prosseguiram sua viagem, e à noite chegaram a uma cidade onde
estava sendo celebrado um casamento; mas, em decorrência das ciladas do
espírito maligno e dos encantamentos de alguns feiticeiros, a esposa ficara
muda, de forma que ela não podia mais falar. Quando Maria entrou na cidade
trazendo nos braços o filho, o Senhor Jesus, aquela que havia perdido o uso da
palavra avistou-o e imediatamente pegou-o em seus braços, abraçou-o e apertou-o
junto ao seu seio e cobriu-o de carinho. Imediatamente o laço que travava sua
língua partiu-se e seus ouvidos se abriram, e ela começou a glorificar e a
agradecer a Deus que a havia curado. E houve naquela noite uma grande alegria
entre os habitantes desta cidade, pois acreditavam todos que Deus e seus anjos
haviam descido no meio deles.
Capítulo 16
José e Maria
passaram três dias nesse lugar, onde foram recebidos com grande veneração e
esplendidamente tratados. Munidos de provisões para a viagem, partiram dali e
chegaram em uma outra cidade. Como ela era próspera e seus habitantes tinham
boa reputação, eles pernoitaram lá. Ora, havia nesta cidade uma boa mulher, e
um dia em que ela havia descido até o rio para lavar-se, eis que o espírito
mal-dito, assumindo a forma de uma serpente, se havia jogado sobre ela e
cingido o seu ventre; e todas as noites estendia-se sobre ela. Ora, quando esta
mulher viu Maria e o Senhor Jesus que ela trazia contra o seu seio, rogou à
Santa Virgem que lhe permitisse segurar e beijar a criança. Maria consentiu, e
assim que a mulher tocou a criança, Satanás abandonou-a e fugiu, e desde então
ela não mais o viu. Todos os vizinhos louvaram o Senhor e a mulher
recompensou-os com grande generosidade.
Capítulo 17
No dia seguinte,
esta mesma mulher preparou água perfumada para lavar o menino Jesus e após o
haver lavado, guardou esta água. E havia lá uma jovem cujo corpo estava coberto
pela lepra branca; lavou-se ela com esta água e foi imediatamente curada. O
povo dizia então: “Não resta dúvida de que José e Maria e esta criança sejam
Deuses, pois eles não podem ser simples mortais”. Quando eles se preparavam
para partir, esta jovem que havia sido curada da lepra aproximou-se deles e
rogou-lhes que lhe permitissem acompanhá-los.
Capítulo 18
Eles consentiram e
ela se foi com eles; chegaram a uma cidade onde havia o castelo de um poderoso
príncipe; foram até lá e se hospedaram nele. A jovem, aproximando-se da esposa
do príncipe, encontrou-a triste, a chorar; então, perguntou-lhe qual a causa
daquele pesar. E ela respondeu-lhe: “Não te espantes de me ver entregue à
aflição; estou em meio a uma grande calamidade, que eu não ouso contar a
ninguém”. A jovem tornou: “Se me confessares qual é teu mal, talvez encontres
remédio junto a mim”. A esposa do príncipe disse-lhe: “Não revelarás este
segredo a ninguém. Casei-me com um príncipe cujo império, semelhante a um
império de um rei, estende-se por vastos estados, e, após haver vivido por
muito tempo com ele, ele não teve de mim nenhum descendente. Finalmente, eu
concebi, mas trouxe ao mundo uma criança leprosa; após havê-lo visto, ele não
quis reconhecê-lo como seu filho, e me disse: `Mata esta criança ou entrega-a a
uma ama que a crie num local tão afastado que jamais voltemos a ouvir dela. E
pega o que é teu, pois não te verei nunca mais’. Eis porque me entrego à dor,
deplorando a calamidade que sobre mim se abateu, e choro por meu marido e por
meu filho”. A jovem respondeu-lhe: “Pois não te disse que eu tenho para ti o
remédio que te havia prometido? Eu também fui atingida pela lepra, mas fui
curada por uma graça de Deus, que é Jesus, o filho de Maria”. A mulher
perguntou-lhe então onde estava este Deus do qual ela falava. A jovem
respondeu-lhe: “Ele está bem aqui, nesta casa.” Perguntou a princesa: “Como
pode ser isso, onde está ele?”. A jovem respondeu: “Aqui estão José e Maria, e
a criança que está com eles é Jesus, e foi ele quem me curou dos meus
sofrimentos”. “E por que meio, disse a mulher, pode ele te curar? Não vais me
contar?” A jovem respondeu: “Recebi de sua mãe a água na qual ele havia sido
lavado, e espalhei-a então sobre meu corpo, e minha lepra desapareceu”. A
esposa do príncipe ergueu-se então e recebeu José e Maria, e preparou para José
um magnífico festim, para o qual muitas pessoas foram convidadas. No dia
seguinte, ela pegou água perfumada a fim de lavar o Senhor Jesus, e ela lavou
com esta mesma água o seu filho, que ela havia trazido consigo, e logo ele se
curou da lepra. Então, ela pôs-se a cantar louvores a Deus e a render-lhe
graças, dizendo-lhe: “Feliz da mãe que te gerou, ó Jesus! A água com a qual o
teu corpo foi lavado cura os homens que têm tua natureza.” Ela ofereceu
presentes a Maria e dela despediu-se, tratando-a com grande deferência.
Capítulo 19
Em seguida,
chegaram a outra cidade onde deviam pernoitar. Foram à casa de um homem
recém-casado mas que, atingido por um malefício, não podia desfrutar sua
esposa; mas após haverem eles passado a noite perto do homem, o encantamento
quebrou-se. Quando o dia amanheceu, preparavam-se para prosseguir a viagem,
porém, o esposo impediu-os de partir e preparou-lhes um grande banquete.
Capítulo 20
No dia seguinte
partiram, e ao se aproximarem de uma outra cidade, viram três mulheres que se
afastavam de um túmulo, a verter muitas lágrimas. Maria, tendo-as visto, disse
à jovem que os acompanhava “Pergunta-lhes quem são elas e qual a desgraça que
se lhes abateu”. Elas não responderam mas puseram-se a interrogá-la dizendo:
“Quem sois vós, e para onde ides? Pois o dia está terminando e a noite se
aproxima”. E a moça respondeu: “Somos viajantes e procuramos uma hospedaria
para passar a noite”. As mulheres responderam: “Acompanhai-nos e passai a noite
em nossa casa.” Eles seguiram portanto essas mulheres, e foram levados a uma
casa nova, ornada e decorada por diversos móveis. Ora, era inverno, e a jovem
moça, tendo entrado no quarto destas mulheres, encontrou-as ainda chorando e se
lamentando. Ao lado delas, coberta por uma manta de seda, encontrava-se um mulo
com forragem à sua frente. E elas davam-lhe de comer e o beijavam. A jovem
disse então: “O minha senhora, como é belo este mulo!” ao que elas responderam
chorando: “Este mulo que estás vendo é nosso irmão que nasceu de nossa mãe.
Nosso pai deixou-nos com sua morte grandes riquezas, e nós só tínhamos este irmão,
para quem tentávamos encontrar um casamento conveniente. Porém, mulheres
dominadas pelo espírito da inveja, lançaram sobre ele, sem que soubéssemos,
encantamentos. E uma certa noite, um pouco antes do amanhecer, estando fechadas
as portas da nossa casa, encontramos nosso irmão transformado em mulo, tal qual
o vês hoje. Entregamo-nos à tristeza, visto que não tínhamos mais nosso pai
para consolar-nos; consultamos todos os sábios do mundo, todos os magos, os
feiticeiros, tentamos de tudo, mas nenhum deles nada pôde fazer por nós. Eis
porque sempre que nosso coração está a ponto de explodir de tristeza, nós nos
levantamos e vamos junto com a nossa mãe que aqui está, ao túmulo de meu pai e,
após haver chorado, retornamos para cá.
Capítulo 21
Ao ouvir tais coisas,
a jovem disse: “Tende coragem e parai de chorar, pois a cura de vossos males
está próxima, está convosco muito próxima, em vossa morada; eu era leprosa, mas
após haver visto esta mulher e a criança que está com ela e que se chama Jesus,
e após haver derramado sobre meu corpo a água com a qual a sua mãe o havia
lavado, eu me curei. Eu sei que ele pode pôr um fim à vossa desgraça;
levantai-vos, aproximai-vos de Maria, conduzi-o aos vossos aposentos, e então
revelai-lhe o segredo que acabais de me contar, e suplicai-lhe piedade”. Ao
ouvirem tais palavras proferidas pela jovem, elas se apressaram em ter com
Maria, e o levaram até o quarto e lhe disseram, chorando: “Maria, Nossa
Senhora, tem compaixão de tuas servas, pois nossa família está desprovida de seu
chefe e não temos um pai ou um irmão que nos proteja. Este mulo que aqui vês é
nosso irmão, e algumas mulheres, com seus encanta-mentos, reduziram-no a este
estado. Rogamos-te, pois, que tenhas piedade de nós”. Então Maria, comovida e
chorando como as mulheres, ergueu o menino Jesus e colocou-o sobre o dorso do
mulo, dizendo: “Meu filho, cura este mulo através do teu grande poder e faze
com que este homem recobre a razão, da qual foi privado”. Nem bem estas
palavras haviam saído dos lábios de Maria e o mulo já havia retomado a forma
humana. E mostrou-se sob os traços de um belo rapaz, e não lhe restava nenhuma
deformidade. E ele e sua mãe e suas irmãs adoraram Maria e, erguendo o menino
acima de suas cabeças, o beijavam, dizendo: “Feliz de tua mãe, ó Jesus, Salvador
do mundo! Felizes os olhos que gozam da felicidade da tua presença”. www.astrologosastrologia.com.pt. Abraço. Davi
Nenhum comentário:
Postar um comentário