Continuamos o
assunto da II. CRENÇA NA PESSOALIDADE DO DIABO. Como falei estou transcrevendo
da obra de Helena P. Blavatsky (1831-1899) usando o livro Ísis Sem Véu, volume
IV páginas 135-140. "Deus ordena a ela, (a serpente no jardim do Éden),
arrastar-se eternamente sobre seu ventre, e comer a poeira do chão. "Uma
sentença", observa Eliphas Levi (1810-1875), "que em nada se parece
às tradicionais chamas do inferno". Não levaram em consideração os autores
dessa alegoria que a serpente zoológica real, criada antes de Adão e Eva,
arrastava-se sobre seu ventre e comia a poeira do chão, antes que existisse
qualquer pecado original. Por outro lado, não foi Ophion, o Daimôn ou diabo,
como Deus, chamado Dominus? A palavra Deus (deidade0 deriva da palavra
sânscrita Deva, e diabo provém do persa daêva, palavra substancialmente
semelhantes. Hércules, filho de Jove e de Alcmena, um dos deuses sóis mais
elevados e também o Logos manifesto, e, não obstante. representado numa
natureza dupla, como todos os outros. O Agathodimôn, o daêmon beneficente, o
mesmo que encontramos posteriormente entre os ofitas com a denominação de
Logos, ou sabedoria divina, era representado por uma serpente que se mantinha
ereta sobre uma vara, nos mistérios das bacanais. A serpente com cabeça de
falção está entre os emblemas egípcios mais antigos e representa a mente
divina, diz Deane. Azâzel é Moloch e Samuel, diz Movers, e Aaron, o irmão do
grande legislador Moisés, faz sacrifícios idênticos a Jeová e Azâzel. "E a
Aarão deita sortes sobre os dois bodes, uma para o Senhor (Toth no original) e
outra para o bode emissário (Azâzel). No Velho Testamento, Jeová exibe todos os
atributos do velho saturno, apesar de suas metamorfoses de Aoni em Elói e em
Deus dos deuses, Senhor dos senhores. Jesus é tentado na montanha pelo diabo,
que lhe promete reino e glória se se prostrasse e o adorasse (Mateus 4: 8,9),
Buda (563 AC 483) é tentado pelo demônio Wasawartti-Mâra, que lhe diz, no
momento em que deixava o palácio de seu pai: "Fica, que possuíras as
honras que estiverem ao teu alcance. Não vás, não vás". E com a recusa de
Gautama em aceitar suas oferendas, rangeu seus dentes com raiva e prometeu
vingar´se. Como Cristo, buda triunfa sobre o diabo. Nos mistérios báquicos, um
cálice consagrado, chamado cálice de Agathodaimôn, passava de mão em mão entre
os fiéis após o jantar. O rito ofita de mesma descrição foi evidentemente
tomado desses mistérios. A comunhão, que consistia de pão e vinho, foi usada na
adoração de quase todas as divindades importantes. Em relação com o sacramento
semi mítrico adotado pelos marcosianos, uma outra seita gnóstica, totalmente
cabalística e teúrgica, há uma estranha história oferecida por Epifânio como
uma ilustração das artimanhas do diabo. Na celebração da sua Eucaristia,
os marcosianos traziam traziam três grandes vasos do cristal mais fino e
mais claro para o meio da congregação e os enchiam de vinho branco. No
transcorrer da cerimônia, à vista de todos, esse vinho era instantaneamente
mudado para vermelho sangue, para púrpura e depois para azul celeste.
"Então o Mago", diz Epifânio, "entrega um desses vasos para uma
mulher da congregação e lhe pede que o abençoe. Feito isso, o mago despeja o
seu conteúdo num vaso de maior capacidade, formulando o seguinte pedido:
"Possa a graça de Deus, que está acima de tudo, é inconcebível e
inexplicável, preencher o teu interior e aumentar o conhecimento daquele que
está dentro de ti semeando o grão de mostarda em terreno fértil, Depois disso o
licor do vaso maior aumenta e aumenta até chegar à borda. Em relação com muitas
divindades pagâs que, após a morte, e antes de sua ressurreição, descem ao
inferno, seria útil comparar as narrativas pré cristãs com as pós cristãs.
Orfeu fez a sua viagem, e Cristo foi o último desses viajantes subterrâneos. No
Credo dos Apóstolos, que está dividido em doze frases ou artigos, que foram
inseridos cada um por um apóstolo em particular, segundo Santo Agostinho
(354-430), a frase "Desceu ao inferno, no terceiro dia ressurgiu dos mortos"
é atribuída a Tomé, talvez como uma expiação da sua incredulidade. Seja como
for, diz-se que a frase é uma falsificação e não há evidencia "De que esse
Credo tenha sido modelado pelos apóstolos, ou pelo menos que existisse como
credo em sua época. Trata-se da adição mais importante que foi efetuada no
Credo dos Apóstolos e data do ano 600. Esse artigo não era conhecido na época
de Eusébio. O bispo J. Pearson diz que ele não fazia parte dos credos antigos
ou das regras de fé. Irineu de Lyon (130-202), Orígenes de Alexandria (182-254)
e Tertuliano (160-220) não parecem conhecê-lo. Não é mencionado em nenhum dos
Concílios realizados antes do século VII. Theodoreto (393-457), Epifânio
(310-403) e Sócrates (469-399) silenciam-se a seu respeito. Difere do credo de
Santo Agostinho. Rufino afirma que, em sua época, ele não constava nem dos
credos romanos nem dos orientais. Mas o problema se resolve quando lemos que
séculos atrás Hermes falou da seguinte maneira a Prometeu, acorrentado no
rochedo árido do Cáucaso. "Teu tormento não cessará até que Deus o
substitua em tua aflição e desça ao lúgubre hades e às profundezas sombrias do
tártaro. Esse deus era Hérculaes, o "Unigênito", e o salvador. E é
ele que foi escolhido como modelo pelos padres engenhosos. Hércules, chamado
Alexikakos porque converteu os malvados à virtude, Soter, ou Salvador, também
chamado Neulos Eumélos, o Bom Pastor, astrochitón, o vestido de estrelas, e o
senhor do fogo. "Ele não sujeitou as nações pela força, mas pela sabedoria
divina e pela persuasão", diz Luciano. "Hércules disseminou cultura e
uma religião suave e destruiu a doutrina da punição eterna expulsando Cérbero
(demônio do poço - era um monstruoso cão de múltiplas cabeças e pescoço, que
guardava a entrada do inferno - mundo inferior. O reino subterrâneo dos mortos,
deixando as almas entrarem, mas jamais saírem e despedaçando os mortais que por
lá se aventurassem). E, como vemos, foi também Hércules quem libertou Prometeu
(o Adão dos pagãos), pondo um fim à tortuta infligida a ele por suas
transgressões, descendo ao hades e ao tártaro. Como cristo, ele apareceu como
um substituto para as aflições da humanidade, oferecendo-se em sacríficio numa
pira funerária. "Sua imolação voluntária", diz Bart, "augurou o
novo nascimento etêreo dos homens, ( ... ). Com a libertação de Prometeu, e a
ereção de altares, vemos nele um mediador entre os credos antigos e os novos, (
... ). Ele aboliu o sacrifício humano onde quer que fosse praticado. Desceu ao
reino sombrio de Plutão, como uma sombra ( ... ) ascendeu como espírito a seu
pai, Zeus, no Olimpo. A antiguidade estava tão marcada pela lenda de Hércules,
que até mesmo os judeus monteístas daquela época, para não serem ultrapassados
pelos seus contemporâneos, utilizaram-na na manufatura das fábulas originais.
Hércules é acusado, em sua mito biografia, de uma tentativa de roubo do oráculo
de Delfos. No Sepher Toledoth Yeshu, os rabinos acusam Jesus de roubar do seu
santuário o Nome Inefável! Portanto, nada há de estranho em suas numerosas
aventuras, mundanas e religiosas, tão fielmente espelhadas na Descida do
Inferno. Por uma extraordinária ousadia de embuste e um plágio despudorado, o
Evangelho de Nicodemo, só agora proclamado apócrifo, ultrapassa tudo que já
lemos. Que o leitor julgue. No começo do capítulo XVI, Satã e o "Príncipe
do Inferno" são apresentados conversando, amigavelmente. De repente, ambos
são colhidos por "uma voz como de trovão" e pelo assalto dos ventos,
que lhes ordenam abrir as portas para que "O Rei da Glória possa
entrar". Logo após o Príncipe do Inferno ter ouvido esta ordem,
"começa a discutir com Satã por não ter sido prevenido para tomar as
precauções necessárias contra essa visita". A discussão termina como o
príncipe lançando Satã "para fora de seu inferno", ordenando ao mesmo
tempo que seus oficiais impiedosos "cerrassem as portas brônzeas da
crueldade e as aferrolhassem com barras de ferro e lutassem corajosamente para
não sermos tomados como prisioneiro". Mas "quando toda a companhia de
santos( no inferno?) ouviu isto, todos eles disseram com voz encolerizada ao
príncipe do inferno "Abre as portas, deixa O Rei da Glória entrar",
provando que o príncipe precisava de arautos. "E o profeta Davi gritou:
"Acaso não profetizei em verdade quando estava na terra?" Após isso,
outro profeta, chamado Isaías, falou da mesma: "Não profetizei eu em
verdade?", etc. Então, a companhia dos santos e profetas, deposi de se
jactar por um capítulo inteiro e de comparar as notas de suas profecias,
iniciou um tumulto, o que fez o príncipe do inferno, observar que "os
mortos nunca se comportaram tão insolentemente, fingindo ignorar sobre quem
estava pedindo admissão". Paramos por aqui quanto a transcrição do livro
Ísis Sem Véu. Lembrando aos leitores que devem fazer seus juízos particulares
dentro de suas perspectivas religiosas e espirituais. Não tenho a pretensão de
formar opiniões com meus argumentos e nem influenciar nenhum de vocês.
Considero-os corajosos por lerem alguns artigos do Mosaico, como esse, que
desmistifica alguns dogmas milenares impostos pela Igreja para em muitos casos
oficializar e fundamentar doutrinas baseadas em superstições e crendices. Aos
amigos de outros países, no Brasil temos enormes problemas com esse tema
específico, pois vemos em Igrejas Cristãs Protestante, shows com a invocação de
espírito dos mundos inferiores. Onde eles se manifestam e criam um ambiente de
engano e subordinação de todos os participantes, desde os líderes (pastores)
que supostamente praticam o exorcismo, até os simples do povo que vão em busca
de curas, alívio para suas dores, benção materiais e felicidade eterna. Assim,
podemos tristemente assistir esses espetáculos na TV, nos cultos presenciais,
e, campanhas missionárias organizadas por Igrejas Neo Pentecostais que usam
mais esse tipo de artifício para atrair multidões necessitadas de refrigério
para seus sofrimentos. O que é dito no texto com outras palavras "o diabo
toma o lugar de Deus" é verdadeiro quando observamos os rituais de
expulsão de demônios nesses ambientes carregados de emocionalismos e
sensacionalismos exacerbados. Outro aspecto da demonização é culpar o demônio
por todas as coisas negativas que nos acontecem, e creditar a Deus os sucessos
que obtivemos em nossas convivências sociais, profissionais e espirituais. Isso
representa nossa covardia e pulsilanimidade, pois não querendo assumir nossas
escolhas certas ou erradas e nossas decisões em igual valor, jogamos a culpa no
demônio que não tem nada haver com nossa maneira desidiosa de expressar nosso
comportamento estereotipado. Assim descumprimos as Escrituras quando dizem:
"O reino de Deus não é comida e nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria
no Espírito Santo". Essas coisa são sutil e precisamos da intuição vinda
dO Inefável para abarcarmos seu sentido completo. Não tendo medo de encarar de
frente a questão e dando um basta nesse codinome, disfarçado de santo, com a
essência e substância de demônio dos mundos inferiores. A pessoalidade desses
seres (vulgarmente chamados de demônios) que habitam os mundos inferiores,
divididos em hierarquias são representações de nosso inconsciente, vindas das
correntes dos mundos das ideias e pensamentos. Tomo esse argumento da filosofia
de Platão (428 AC 347) que baseia-se no mundo ideal e real. O real é esse mundo
físico, material, grosseiro, enquanto que o mundo ideal é justamente o mundo
dos pensamentos, das ideias, das coisas abstratas. Para Platão o corpo é o
cárcere da alma que precisa se libertar para alcançar seu "eu" ideal,
de modo a possuir seu verdadeiro conhecimento. Então, enquanto estivermos
presos ao corpo (mundo real, físico) veremos demônios agindo por todos os lados
e supostamente influenciando nossa vida, pois em uma condição corrupta seremos
tendentes a negociar nossa culpa e ressentimento, como os demônios ou outros
seres que nos iludam com suas dissimulações. Precisamos transcender para
o mundo ideal, dos pensamentos com nossa alma migrando das coisas fúteis e
ilusórias da vida para uma dimensão de fraternidade e amor ao próximo.
Assim seremos nós mesmos no mundo, evoluindo com o que temos e somos. As vezes
involuindo devido aos vícios e deméritos, mas conscientes que o processo de
desenvolvimento da divindade em nosso ser é nossa total responsabilidade e
somos o auto fiador desse sistema de completude cósmica. Abraço. Davi.
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