Cinema.
Editor do Mosaico. Filme Santo Agostinho. Disponível no YouTube e NetFlix.
Santo Agostinho de Hipona (354-430), juntamente com São Clemente de Roma
(35-99), Inácio de Antióquia, Policarpo de Esmirna (69-155) e Orígenes de
Alexandria (185-254) dentre outros, são considerado Pais da Igreja. O filme
começa com o bispo Agostinho num alto forte, observando a revoada de cegonhas à
emigração. Se aproxima uma jovem, e, os dois conversam sobre os inimigos –
vândalos – que no mar cercam a cidade de Hipona, na atual Argélia, norte da
África. Isso no ano de 430. Um
destacamento legionário romano foi encarregado de proteger a cidade,
aproximadamente 6 mil homens. Agostinho teve uma criação difícil em relação ao
lado paterno. Seu pai não tinha compromisso familiar. Vivia em festas profanas
e constantemente traia sua esposa. Pouco senso moral e nada de espiritual. Já
sua mãe foi exemplo para ele. Cristã piedosa e obediente, se esforçava por
viver o evangelho de Cristo em sua vida. Mesmo na situação extrema do casal
preservava sua identidade de esposa fiel. Encorajou Agostinho, desde cedo, a seguir
uma vida voltada à contemplação e devoção. Mas o jovem tinha um gênio afeiçoado
ao mundanismo. Isso não a desencorajava a colocá-lo diante do altar de Deus em
suas preces e orações. Andando pela cidade, o jovem, viu um professor dando
aulas de oratória – arte de bem argumentar, eloquência na palavra. Falou com
sua mãe da possibilidade de ser aluno. Ao que ela prontamente aceitou. Só que
havia requisitos à admissão. Passou no teste tornando-se discípulo do orador.
Esse caminho levo-o a conhecer uma “seita” religiosa os maniqueístas. Fundada
por Manes ou Maniqueu filósofo do século III. Essa doutrina dividia o mundo em
dois reinos. O reino da luz – bem. E o reino do mal – sombras. Manes dizia que
Deus e o diabo estariam eternamente em combate. Falava que a natureza material
era perversa e má. Porém, a bondade presente no espírito e mundo espiritual é
boa e generosa. Tinha ideias sincretistas misturando elementos do hinduísmo,
budismo, zoroastrismo e cristianismo. Nesse período das aulas de oratória,
conheceu Valério, um romano com quem conviveu até sua conversão. Era um jovem
ambicioso e prepotente. Levando seus intentos as últimas consequência. Desde
que fosse o favorecido, usada até de trapaça. Um péssimo exemplo que
subliminarmente o influenciou. Nesse intervalo foi exposto o lado libidinoso do
jovem Agostinho. Morando numa residência romana com um centurião. Esse lhe
ofereceu uma escrava para que o cuidasse. Um pouco de suas paixões carnais,
foram expostas nesse relacionamento. Contudo seu lado devoto e solícito,
reverteu o quadro. Pelo bom senso e início de caridade espiritual casou-se com
ela tendo um filho. Todavia, para atingir seu objetivo na formação acadêmica.
Partiu em direção a Europa, deixando sua mulher e seu filho na casa de sua mãe.
Após os trâmites acadêmicos tornou-se advogado. Agostinho defendeu um cliente
acusado de crime ante o direito romano. Sua excelente argumentação livrou o
acusado da dura pena no tribunal. Contudo, em liberdade, o tal, assassinou o
pai de um conhecido seu. Que esperando-o nas escadarias do palácio da justiça,
onde funcionava o tribunal. Responsabilizou-o por ter liberto tal indivíduo.
Agostinho considerou profundamente este evento, que tornou uma avaliação
pessoal no percurso da vida. Cristãos e Maniqueus consideravam-se os detentores
da verdade. Nenhum dos grupos abriam mão de suas crenças absolutas. Nem estavam
dispostos à abertura de um espírito conciliador. A contenda foi instalada.
Resolveram levar o embate ao “parlamento”. Onde cada facção apresentaria sua
versão embasada em fatos do conceito de “verdade”. Coube ao orador Agostinho
por sua retórica e hermenêutica, agora reconhecido publicamente, o veredito do
conflito. Ele concluiu que os cristãos foram os vencedores, pois os argumentos
de “verdade” se conformavam com os fatos no universo dos acontecimentos. O pai
de Agostinho, acometido de uma doença grave, vendo-se a beira da morte,
resolveu se converter ao cristianismo. No leito, antes de receber a extrema
unção. Sua mãe avisou a Agostinho do ocorrido, que prontamente chega à casa da
família. O famoso orador, ainda com um coração endurecido, desacredita que o
pai havia se arrependido. Pensa que ele morrerá se auto enganando. Apesar de
sua mãe mostrar-lhe o poder transformador da vida em ressurreição dada por Jesus.
Segue incrédulo, não obstante o enterro do pai. Agostinho conhece o bispo
Ambrósio (? -397) em Milão – Itália. Esse questionava as “heresias” do
maniqueísmo. Professor de filosofia, retórica e teologia, Agostinho vai
completar seus estudos das disciplinas com o famoso bispo. Mesmo perdedor da
questão sobre a “verdade”. Os maniqueístas resolvem arregimentar uma luta
armada contra os cristãos em Milão. Agostinho tentou acalmar os ânimos.
Todavia, entraram em confronto. Mortos de ambos os lados chocaram a população.
O bispo Ambrósio foi salvo guardado do conflito. Entre os que perderam a vida
muitos eram conhecidos de Agostinho. Isso o consternou bastante, levando-o a
sentir-se parte daquele desfecho tão violento. Ele cai por terra, arrependido,
chorou, invoca o nome de Deus em espírito. Entregando sua vida nas mãos do
Cristo Filho de Deus. Iniciou estudos de filosofia, retórica e línguas – latim,
grego e hebraico com o bispo Ambrósio. Agora convertido a Cristo, vivia na
comunidade cristã dedicando-se aos estudos religiosos e leitura das Sagradas
Escrituras. Foi nessa época que escreveu suas mais importantes obras:
Confissões e A Cidade de Deus e a Cidade dos Homens. O primeiro conta detalhes
de sua vida, desordem e divergências humana e espiritual. Mostra a intensa
tristeza por seus pecados sexuais e a importância da moralidade, ética e
espiritualidade nos relacionamentos. O segundo “divide a cidade em dois
partidos opostos. A Cidade de Deus e a Cidade terrena. Ambas entre laçam-se e
fundem-se no século até que o juízo final as separe. Na Cidade de Deus
encontramos uma ordem de fé, para entendermos o mundo e a história do homem.
Tudo o que aparece no mundo e na história é pertencente a fé como também
pertencente a Providência Divina”. Essas duas obras são de enorme importância
em qualquer biblioteca de cristão, leigo ou clérigo. Agostinho, agora bispo de
Hipona. Conclama o povo a uma rendição aos Vândalos. Seriam uma maneira de
salvar milhares de vidas e poupar a destruição da cidade. A legião pretoriana
enviada por Roma para proteger e enfrentar os inimigos, se opõem a esse plano.
Achavam que tinham homens habilidosos e corajosos que juntamente com os que
seriam convocados dentre o povo, poderiam derrotar e expulsar os invasores
pagãos. Agostinho foi pessoalmente falar como o líder Gizerico (389-477)
comandante do exército opressor. Ficou acordado um salvo conduto nas
negociações. Um navio aportaria em Hipona para levar o maior número de pessoas,
que desejassem sair da cidade. Já que o acordo à rendição não teve unanimidade
entre os habitantes. Em maio de 430 a cidade foi cercada e caiu. Os exércitos
inimigos entraram, mataram milhares de pessoas. Incendiaram e destruíram
edifícios e casas. Santo Agostinho preferiu permanecer entre os que resistiram
a ocupação, sendo também morto. Os que sobreviveram tornaram-se cativos do
império Vândalo. Do alto mar, os que resolveram ir embora, viram a cidade em
chamas. Inclusive, fica implícito que, sua mulher e filho aceitaram a oferta de
abandonar a cidade com os demais. O filme passa a ideia da transformação pela
qual o jovem Agostinho atravessou. Nosso coração estará sempre disposto a
seguir pelo caminho da espiritualidade e devoção. Interesses outros, nesse
percurso, poderão mudar, obstruir ou adiar esta entrega. Porém, de acordo com a
Providência Divina, percorreremos essa estrada no tempo determinado. Romanos
8,28 diz: “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o
amam. Dos que foram chamados de acordo com seu propósito”. Assim, aconteceu com
Agostinho. Sua resistência ao chamado divino e foco apenas na dimensão humana.
Foram obstáculos, que vencidos, tornaram-se experiências úteis ao aprendizado
da humanidade. Sua obra Confissões expõe claramente esse aspecto. Nossos dois
lados, luz e sombra, não são perfeitamente discernidos em nossa experiência.
Isso não omite nossa culpa. Somos responsáveis pelos atos que praticamos. Sendo
penalizados naquilo que ofende a nós mesmos e nosso próximo. Contudo, quando a
luz divina nos alcança. Temos abertura a compreender, discernindo, o certo do
errado, o bem do mal, o claro do escuro. Assim, podemos desenvolver nossa
espiritualidade baseada numa humanidade fundada na moral, ética e bons
costumes. Tendo na devoção, oração e meditação nas Sagradas Escrituras,
companheiros inseparáveis a desenvolver nosso homem interior. Esse se manifesta
em nossa alma – emoções e sentimentos. E espírito – consciência, intuição e
comunhão com Deus. Partes que estarão conosco quando passarmos da morte para a
vida. O renascer da nova vida em ressurreição. Abraços. Davi
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