segunda-feira, 26 de setembro de 2022

BHAGAVAD GITA - INTRODUÇÃO

 

Bhagavad Gita – A Mensagem do Mestre. INTRODUÇÃO. O Bhagavad Gita (1), isto é, A Sublime Canção, também designada como a Canção do Senhor ou a Mensagem do Mestre, é uma das obras mais importantes que existem no mundo. Este livro é altamente prezado pelos budistas e venerado como Escritura Sagrada pelos brâmanes, que, frequentemente, o citam como autoridade no que se refere à religião hindu. A filosofia nele exposta é um conjunto harmonioso das doutrinas de Patanjali, Kapila e dos Vedas. O Bhavagad Gita é um episódio da grande e antiga epopeia hindu, intitulada Mahabharata (2), que contém 250.000 versos, descrevendo a grande guerra entre os Kurus e os Pandavas, que tinha por objetivo a posse de Hastinapura, um dos centros mais importantes da civilização ariana. Em sua forma literal, apresenta o Bhagavad Gita um interessante entre Krishna (3) e Arjuna (4), tratando de um fato histórico. Mas os Mestres hindus dizem que este livro maravilhoso tem sete sentidos, e aconselham ao leitor esforçar-se por penetrar no seu mais profundo sentido interior ou espiritual. A leitura desta sublime canção é útil para todos: cada um, porém, poderá assimilar e compreender só aquilo que estiver em harmonia com o desenvolvimento de suas faculdades psíquicas e espirituais. A nossa tradução, baseando-se na edição inglesa do Yogi (5) Ramacháraca, comparada com a edição em sânscrito e latim, publicada por August Welhelm Schlegel (1767-1845), e com a edição do doutor Franz Hartmann (1838-1912), tem por fim auxiliar os leitores nesse desenvolvimento, a que todo o ser pensante deve dedicar a sua vida. Não podemos desvendar totalmente o sentido esotérico deste precioso livro, porque – conforme as leis da natureza superior – cada um há de descobri-lo por si mesmo. Acrescentamos, entretanto, notas e observações que serão úteis para aqueles que aspiram à Iniciação. A cena da ação histórica do Bhagavad Gita transporta-nos à planície da Índia, entre os rios Jumma e Jheed. Na capital do país, chamada Hastinapura (6), reinava, em tempos remotos, o rei Vichitraviria (7). Casou-se com duas irmãs, mas faleceu sem deixar filhos. Conforme o costume dos antigos povos orientais, Vyasa (8), irmão do falecido, tomou essas viúvas por esposas e teve delas dois filhos: Dhritarasshtra (9) e Pandu (10). Dhritarasshtra, o mais velho, gerou cem filhos (simbólicos) dos quais o primogênito chamava-se Duryodhana (11). O mais moço, Pandu, teve cinco filhos, todos grandes guerreiros, conhecidos como os cinco principais Pandavas. Dhritarashtra perdeu a vista, e continuou a ser rei só nominalmente, entregando o poder real a seu filho Duryodhana. Este, com o consentimento do pai, baniu do país os cinco filhos de Pandu, seus primos, os quais, porém, depois de muitas vicissitudes, viagens e aventuras, voltaram à sua terra natal. Acompanhados de muitos amigos e partidários, e formaram um poderoso exército aproveitando os guerreiros que lhes forneceram os reis vizinhos. Com as suas forças, marcharam para o campo dos Kurus, empreendendo uma campanha contra o ramo mais velho da família, os partidários de Dhritarashtra, os quais se reuniram sob o comando de Duryodhana, que substituía o seu pai cego. E, em nome da família dos Kurus , começou o ramo mais velho a opor resistência à invasação e aos ataques dos Pandavas. O Bhagav Gita apresenta-nos esses dois exércitos, preparados para o combate. O comando ativo dos Kurus, cujo chefe é Duryodhana, está nas mãos do velho general Bhishma (12), ao passo que o supremo comando dos Pandavas é o famoso guerreiro Bhima (13). Arjuna, um dos cinco príncipes Pandavas e um dos principais caracteres desta história, estava presente, ao lado de seus irmãos e acompanhado em seu carro de guerra por Krishna, reputado pelos hindus como encarnação humana do Espírito Supemo. Krishna, amigo e companheiro de Arjuna, a quem amava por causa de sua nobre alma e a resignação, com que esse suportava as perseguições. A batalha começou, quando Bhishma, o comandante dos Kurus, deu o sinal, tocando a sua corneta ou concha, sendo seu toque imitado pelos seus partidários, e respondido pelos Pandavas. Arjuna pediu a Krishna, ao princípio da batalha, que deixasse parar o carro no meio do espaço entre os dois exércitos inimigos, para ver de perto as principais pessoas que tomavam parte na luta. Vendo, então, seus parentes e amigos, tanto de um como do outro lado, ficou horrorizado por constatar que se tratava de uma guerra fraticida, e declarou à Krishna que antes queria morrer inerme e sem se defender, do que matar seus parentes. Krishna respondeu-lhe com um notável discurso filosófico que a maior parte do Bhagavad Gita, fazendo Arjuna reconhecer a necessidade dessa luta, em que ele e os seus partidários, finalmente, alcançariam completa vitória sobre os Kurus. O autor põe a narração de tudo isso na boca de Sanjaya (14), fiel servidor do rei cego, Dhritarashtra. Como já dissemos, além do sentido histórico, material ou literal, tem o Bhagavad Gita (como toda Escritura Sagrada: a Bíblia, os Vedas, o Alcorão, etc). Ainda vários graus do sentido espiritual ou esotérico. E para que os nossos leitores possam, com facilidade, descobri-lo, lhes diremos que a luta aqui descrita é a que se trava no interior de cada homem, entre o “Bem” e o “Mal”. Arjuna, o homem, acha-se colocado no campo de suas ações, entre dois exércitos inimigos, dos quais os Pandavas representam as forças superiores, e os Kurus, as forças inferiores da alma. Ali está ARjuna, o filho de Kunti (isto é, da alma) contra os seus parentes, os filhos de Dhritarashtra (vida material) ameaçado pelo egoísmo, pelos seus prazeres e pelas suas paixões. Que formam um poderoso exército de ilusões: a sua tarefa é vencê-las, para chegar ao conhecimento de sua verdadeira essência divina. Mas, como muitas dessas ilusões se lhe tornaram agradáveis, acha difícil combate-las. A seu lado, entretanto, tem valentes guerreiros: a sua Consciência, o Amor do Bem e da Verdade, a Obediência à Lei Suprema, a Fé, a Convicção, etc. Krishna, que lhe explica a verdadeira natureza humana e a sua relação com Deus, é o Verbo de Deus, Logos ou Cristo em nós, o nosso Superior, Imortal Ego Divino. Livro Bhagavad Gita – A Mensagem do Mestre.

 

Referência: 1. Bhagavad, variação do bhagavant, em sânscrito significa sublime: Gita, pronuncie-se guitá – canção. Nota-se que, nas palavras sânscritas, g tem sempre o som gutural. H é aspirado, sh lê-se como o ch ou x chiante (em chá, xarope). Â, i, û têm o som prolongado, y é um i brevíssimo, ch soa tch. 2. Moha – grande; Bhârata – Índia. 3. Krishna (sh lê-se x) representa o Homem-Deus, o nosso Ego (ou Eu) Superior. 4. Arjuna representa o homem no estado evolutivo. 5. Yoga significa união; yogi é aquele que realizou a sua união consciente com a Alma Divina. 6. Cidade (pura) do Elefante (hastina). 7. Vichitra – multicor, de muitas espécies; virya – poder. 8. Agrado, prazer. 9. Representante da vida material; instinto. 10. Representante do elemento espiritual; intelecto. A palavra pandu significa claro, pálido. 11. Dificilmente vencível; obstinação. 12. Terror; egoísmo. 13. Terrível; a vontade espiritual. 14. Sanjaya – vitorioso.

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