quarta-feira, 16 de junho de 2021

APRESENTAÇÃO VI

 

Religião Afro-brasileira. Candomblé. Livro O Candomblé da Bahia – Rito Nagô. Tradução de Maria Isaura Pereira de Queiroz (1918-2018). Capítulo I. APRESENTAÇÃO VI. Entre os privilégios deste posto, podemos citar o direito de agitar o axé ou cabaça de Xangô e, depois da morte, o de voltar sete dias após, em forma de Egun, para ditar as últimas vontades. Cada um dos oba da direita possui um substituto, ou segundo, que lhe toma o lugar em caso de impedimento, sucedendo-lhe após a morte. Mas os diversos postos que acabamos de nomear não esgotam de modo algum a riqueza e a complexidade do sacerdócio baiano. Só falamos até agora dos postos regulares, indispensáveis ao bom funcionamento do culto, e que por esta razão são encontrados mais ou menos por toda a parte. Mas, ao lado destes, há outros cargos ou títulos sacerdotais, que, porém, só aparecem nos candomblés mais puros, nos mais rigorosamente tradicionais. Não podemos saber, todavia, se têm ou não sempre titulares. Nossa impressão é de que os postos a que correspondem podem ficar anos sem titular, esperando a boa vontade dos deuses ou o acaso da sorte. Citamos entre outros o de Qjuoba "olho do rei", que está ligado a Xangô e que tem também o privilégio de agitar o xerê. Um outro mais importante, wessa (principalmente nos terreiros dirigidos por mulheres), que saúda as divindades, canta-lhes os louvores (devendo, então, conhecer os oriki, que são os cânticos de louvor africanos dos Orixá) e que preside aos sacrifícios. E o de iyanaso que dirige o culto especial de Xangô. A primeira íyanaso que se conheceu na Bahia ocupava já o mesmo posto no palácio de Alafin em Oyo. Reduzida à escravidão, trazida para o Brasil, aqui fundou o candomblé do Engenho Velho. Acima de todos se encontra o babalorixá, ou pai de santo, sacerdote supremo se a seita é dirigida por homem - ou a ialorixá, a mãe de santo, sacerdotisa suprema se a seita é dirigida por mulher. O babalorixá é o chefe do culto; tem por conseguinte toda autoridade sobre o conjunto dos fiéis, indo até à possibilidade de açoitá-los se faltam com seus deveres. É quem prepara os objetos sagrados, quem dirige as festas públicas ou privadas, quem identifica as divindades que então se manifestam, quem controla os sacrifícios e as iniciações, quem consulta os obi (e algumas vezes os búzios) para conhecer a vontade dos Orixá. Se as filhas de santo brigam umas com as outras, deve restabelecer a ordem e a boa harmonia entre elas; se têm aborrecimentos, dá-lhes conselhos, orienta-as. Dessa maneira, embora não seja senão o chefe espiritual das yauó, insinua-se também em sua vida privada, graças à autoridade moral que possui, e dirige-lhes amigavelmente os negócios. Pode mesmo, em certos casos, assumir o papel de curandeiro, sobretudo quando a doença tem origem mística ou sobrenatural. Quando por exemplo é consequência da violação de um tabu, ou quando é "mau-olhado" atirado por macumbeiro ou feiticeiro; é preciso então, conforme o caso, proceder a um bori para "fortificar a cabeça", ou a uma "troca de cabeças", que é rito de contra magia. Consistindo em fazer a doença passar para um animal, que, esfregado no próprio corpo do paciente, é em seguida atirado fora como uma espécie de bode expiatório. Embora os babalorixá, sejam mais numerosos do que as ialorixá, na Bahia, dominam principalmente nas seitas banto. Nas seitas que nos interessam, as yoruba, são ao contrário as ialorixá que presidem à vida do candomblé. Suas funções são idênticas às dos babalorixá, mas, todavia, não podem executar certos gestos puramente masculinos, têm de conservar a seu lado um pégi-gã ou wêssa. Se, por um lado, os sacerdotes ou sacerdotisas supremas têm autoridade absoluta sobre os membros da confraria religiosa que dirigem, por outro lado têm também obrigações para com eles, tanto de assistência pecuniária quanto moral. O que, em plena cidade da Bahia, torna os candomblés verdadeiras sociedades de socorro mútuo de auxílio fraterno, que mantém o espírito comunitário africano. O termo convento que às vezes é dado a tais agrupamentos convém-lhes perfeitamente. Babalorixá ou ialorixá são escolhidos obrigatoriamente entre os ebômin, ou filhos de santo que têm pelo menos sete anos de permanência no candomblé. Desde a iniciação; recebem eles também os Orixá, portanto, caem também em transe, o que os distingue dos ogan, oba e outros funcionários do culto, além do posto que ocupam. Mas não se sucedem de pai a filho ou de mãe a filha, no interior de uma mesma linhagem familiar. São ou as divindades que os designam por intermédio de Ifa, ou é o sacerdote morto, retornando sete anos depois sob a forma de Egun, que indica seu sucessor. Durante o tempo de espera, o culto fica sob a direção da "mãe pequena". Babaforixá e ialorixá gozam, e com razão, de grande prestígio na sociedade africana, o qual vai crescendo com a idade, o número de anos de serviço, o conhecimento mais perfeito dos mitos ou dos ritos, e também às vezes com a pureza de sua ascendência africana. De sua ligação, através da tradição oral, com os templos africanos de que saíram os primeiros sacerdotes introduzidos no Brasil, seus predecessores. O que quer dizer que a ascensão na hierarquia depende, em última instância, da participação mais ou menos completa à civilização africana, do tesouro de conhecimentos reunidos no decorrer dos anos, e que, para descobrir a metafísica yoruba, é àqueles que ocupam os graus mais elevados da seita que devemos nos dirigir. São em geral pessoas extremamente inteligentes, perspicazes, de uma polidez consumada, de extraordinária memória, e que sempre nos acolheram como a um "filho". Mas justamente devido a tudo isto, a transferência de conhecimentos obedece forçosamente à lei africana. Primeiramente, a isso já fizemos alusão, a transferência só pode se fazer progressivamente e dentro dos limites do posto ocupado dentro do candomblé pelo pesquisador. Cada conhecimento novo obriga forçosamente seu possuidor a novos encargos ou, o que é melhor, a novos deveres que podem ser financeiros, e chegamos assim a uma segunda lei. A vida religiosa é dominada pela reciprocidade e pela troca. Há brancos que não o compreendem e que consideram o babalorixá e a ialorixá como pessoas hábeis que aproveitam da superstição popular para enriquecer. Não negamos que o caso pode se produzir em certos terreiros bantos ou candombles de caboclo, mas trata-se de seitas em franca desagregação, repudiadas com violência pelos verdadeiros "africanos". A informação é um dom que, como todos os outros, necessita um contradom, sem o qual haveria uma ruptura nas relações sociais e até mesmo no mundo. O contra dom, que nestes candomblés, não é quase nunca dinheiro propriamente dito, mas um pedaço ele fazenda, um animal que será oferecido em sacrifício, um colar, etc. Compensa a perda de substância, se assim se pode dizer, daquele que ofertou uma parte do "segredo" e restabelece o equilíbrio perdido. Porém, se o contra dom é um animal, o pesquisador fica ligado ao Orixá, que pode então puni-lo se empregar mal o conhecimento obtido, ou que pode lhe dar a permissão de utilizar este conhecimento (uma vez que ele, Orixá, recebeu com o sacrifício o seu contra dom). O contra dom pode ser um colar, um pedaço de fazenda que serão utilizados pelas yauô, de qualquer modo o pesquisador entra assim em união mais estreita com a comunidade religiosa e a transmissão oral se justifica, por isso mesmo que se tornou parte desta saciedade. Estamos, como se vê, muito longe das interpretações dos brancos, que julgam as coisas com sua mentalidade ocidental, modelada pela lei do lucro e da venda de tipo capitalista. A necessidade de compensação na transferência de conhecimentos prova, por outro lado, que esta pesquisa, cujo fim é descobrir a África no Brasil, começou bem, pois desde seus primórdios, imediatamente deparamos com um traço da mentalidade africana. Somente a morte virá romper a dupla solidariedade, de indivíduo com seu Orixá e com a sociedade africana. É evidente que as cerimonias são diferentes conforme o grau da pessoa defunta; mas contrariamente, ao que parecem sugerir as narrativas de tipo jornalístico sobre os enterros, a pompa não é simples homenagem, que seria tanto maior quanto mais estimado e mais célebre fosse o morto; a complexidade do ritual, a importância dos elementos aparentemente decorativos, a duração das cerimônias são uma imposição do estatuto religioso. Quanto mais profundos os laços que prendem o indivíduo ao Orixá, mais dificilmente serão quebrados depois. Os tambores, por exemplo, não acompanham o enterro de uma yauô. Mas sim o de uma ialorixá, pois neste último caso é o santuário inteiro que está de luto, instrumentos musicais, objetos rituais, seres vivos. No primeiro caso, a cerimônia fúnebre durará três dias; noutro caso, sete; é possível também que, noutras circunstâncias, a diversidade se prenda à origem étnica do candomblé, conforme a "nação" a que pertence, ijexá, quetu, gêge. Neste trabalho, nossa tarefa não é descrever o cerimonial com todos os detalhes; já o fizemos noutro, e tão minuciosamente quanto possível. Queremos somente indicar o significado do ponto de vista da vida do candomblé e de seus membros. Quando a morte se aproxima do indivíduo, o Orixá a que pertence a cabeça foge espavorido, pois os deuses temem Iku, a selvagem ceifadora de homens. A impossibilidade de cair em transe é, com efeito, sinal de próximo desaparecimento. Mas a partida do Orixá não impede que a divindade ronde pelas vizinhanças, e no fim da vigília fúnebre, quando o caixão sair da casa aos ombros dos que o carregam, pode acontecer que uma das assistentes desabe violentamente por terra, presa de uma crise de santo bruto. E o "santo" da morta que, para continuar a ser adorado e servido, escolheu para si novo cavalo. Alguns autores afirmam que esta troca de cabeça, no momento da partida do cortejo fúnebre não se produz mais hoje; mas tal opinião é contrariada por outros informantes; digamos, pois, que é possível, mas não obrigatório que se dê o fato. Tudo depende sem dúvida do estado de espírito do Orixá, tomado de dois sentimentos contraditórios: de um lado, o medo da morte que o faz fugir para o mais longe possível; de outro lado, o desejo de possuir novo cavalo que continue seu culto; não se pode saber de antemão qual das tendências acabará por arrastá-lo. O defunto, porém, não estava somente ligado à divindade pelo fenômeno da possessão, como também, de modo certamente menos espetacular embora mais contínuo e mais eficaz, através da pedra, dos objetos sagrados do pegi pessoal, diversos objetos que só para ele tinham valor. Em trecho anterior, insistimos suficientemente sobre esta participação alcançada através da lavagem e do sangue, não sendo necessário voltar a ela. Tais objetos serão então colocados no caixão ao lado do corpo, e é o que explica frases no gênero desta, de Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906): "No cemitério das quintas dos Lázaros, preferido pelas pessoas pobres, encontram-se comumente, por ocasião de serem revolvidas as sepulturas antigas, de envolta com os esqueletos, inúmeros fetiches e ídolos africanos". Mas o morto deixou outros objetos ainda, que não estão em sua casa, mas se encontram no próprio recinto do candomblé. Não podem servir a nenhuma outra pessoa, pois foram ligados unicamente àquele que acabou de morrer; constituem de certo modo seus “pertences", são elementos constitutivos de sua personalidade. Far-se-á, pois, um despacho com tais elementos litúrgicos; depois de ter perguntado aos Orixá ou a Ifa, com o auxílio dos búzios, o lugar onde as vestes, as insígnias, etc., devem ser abandonadas, mar, água doce, floresta - os filhos do terreiro se dirigem ao lugar designado para tudo ali atirar, e em seguida regressam sem olhar para trás nem uma vez. No caso do sacerdote ou da sacerdotisa suprema, teoricamente seria o pegi todo inteiro que deveria ser assim "despachado". Eis talvez o que explica a descoberta, no início do século XIX, de admiráveis esculturas africanas jogadas à praia pelo mar; na realidade, hoje, também neste caso são apenas os bens pessoais ou os "pertences" particulares que são eliminados, de modo idêntico aos das filhas de santo. Nina Rodrigues afirma que se o Orixá encontra novo cavalo no dia do enterro, este toma os instrumentos litúrgicos do defunto, o despacho tendo lugar somente quando tal não se verifica: "Se o orixá não encontra quem aceite as responsabilidades de prosseguir no culto que dirigia o morto; ou se não acha nos presentes algum digno dessa honra, as insígnias e ornamentos, os ídolos e seus altares são levados, às horas mortas, em misteriosa procissão, a uma água corrente, a fim de que o regato, o rio ou a maré vazante os conduzam à África, onde, estão certos os negros, infalivelmente irão ter". Nada nos permite endossar esta conclusão; o despacho aparece como parte obrigatória de todo cerimonial fúnebre, tenha ou não o Orixá do morto uma cabeça que o substitua. Em si mesmo, não apresenta o enterro nada de muito interessante para nosso objetivo, embora conserve ainda certos traços africanos. O morto impõe aos que o carregam uma marcha hesitante, com um passo para a frente e outro para trás, mas tal ritmo titubeante não está ligado a nenhum rito divinatório, como acontece na África ou entre os negros da Guiana, onde constitui a procura daquele que atirou a morte sobre o defunto. Cenas de dor podem ter lugar, pessoas podem chorar; mas em conjunto não se trata de cerimônia triste, pois é somente o corpo que se enterra. O ori ou espírito permanece, e é preciso proceder em seguida à sua expulsão. Não tem outra finalidade o ritual do axêxê. Não é destituído de perigos e aqueles que a ele assistem são obrigados a tomar precauções especiais para não serem possuídos pela alma do morto. Usam, por exemplo, um bracelete de palha em torno do pulso. Não podem também sair do candomblé funerário enquanto não estiver terminada a expulsão, sob pena de levarem consigo a morte a outras casas. Uma vez que o ori partiu para se tornar Egun, resta fixá-lo à casa dos Eguns do terreiro, para que daí por diante possam lhe ser prestadas as honras necessárias. Mas já aqui intervém novo sacerdócio, que ultrapassa os limites deste ou daquele candomblé; teremos, pois, de voltar mais tarde ao problema. Se o morto é um babalorixá ou uma ialorixá, o cerimonial fúnebre ainda não está terminado. Pois no decorrer de sua vida, tanto um quanto outro iniciaram grande número de yauô, que assim ficaram a eles ligadas. Existe, pois, uma última participação a ser rompida, além da que liga o Orixá à cabeça e que se desfez por si mesma durante a agonia, pela própria vontade do deus espavorido. Além da que unia os objetos litúrgicos ao defunto; além da conexão entre o ori e o corpo: é a participação social entre o sacerdote e sua confraria. O sacerdote impôs sua mão à cabeça das iniciadas para ali colocar o deus; é preciso agora "tirar a mão da cabeça", pois tendo-se ela tornado defunta e tendo os Orixá medo da morte, talvez as yauô não voltem mais a cair em transe. Em todo o caso, devem estas pertencer a uma autoridade viva, não podem permanecer filhas de um Egun! Infelizmente ainda nos falta uma boa descrição desta cerimônia. Não temos sobre o assunto senão as informações muito insuficientes de Manuel Querino; seja-nos, porém, permitindo citá-las, uma vez que não dispomos de outras: "Por falecimento da mãe ou pai do terreiro, uma das primeiras cerimônias em homenagem à memória do extinto consiste em tirar a mão da cabeça. Quem assumiu a direção do candomblé designa um dia, de ordinário depois dos sufrágios pela alma do antecessor, para realização daquele ato. Cada pessoa feita contribui com a quantia de cinco mil réis, e mais uma navalha nova, pombos, galinhas, patos, etc .. No dia marcado reúnem-se todos na casa do candomblé. Aí o indivíduo mais idoso toma da navalha que traz um dos presentes, e com ela procede à depilação da cabeça. À medida que se vai concluindo esta operação sacrifica-se uma das aves e o sangue é derramado na cabeça depilada, sendo que as mulheres o conservam coagulado até o dia seguinte, quando procedem à lavagem da cabeça. Este preceito é de rigor e tem por fim obstar a que seja vítima de algum malefício a pessoa que o deixar de observar. Certo número de conclusões se desprende, todavia, deste texto. Notamos primeiramente que o rito é necessário; não porque a yauô que o deixe de seguir corra o risco de um malefício qualquer, como pensa Querino; mas porque de outra maneira ela pertenceria a um Egun. Esta situação lhe traria desgraça, pois imediata e diretamente dela resultaria a morte que visaria reunir a filha de santo em questão a seu chefe espiritual. Verificamos em seguida que a sequência dos ritos obedece à ordem inversa da iniciação. A lavagem com sangue precede a lavagem com as ervas. Um de meus informantes fez o reparo, seguindo idêntica orientação de pensamento, que o desaparecimento do Orixá se processa na ordem inversa de sua criação ou fixação no decorrer da iniciação. Mas é evidente que o cerimonial deve ser infinitamente mais complexo ainda do que aquele que o texto nos sugere, e que as diversas espécies de participação da yauô e do babalorixá devem ser cortadas umas após as outras, começando pelas mais fortes para terminar pelas mais fracas. A iniciação tem por fim fazer o indivíduo entrar no candomblé. Os ritos funerários têm por missão fazê-lo sair, ou mais exatamente, visam outra entronização, agora sob a forma de Egun. Pois, se me permitem utilizar a ·expressão cristã, o candomblé é também uma comunhão de santos, e não unicamente de vivos. Quem estuda os candomblés não deixa de se impressionar pela falta de ligação orgânica entre eles. Cada seita ou terreiro é autônoma, sob a dependência de um pai ou mãe de santo que não reconhece nenhuma autoridade superior à sua. Constituem mundos à parte, espécies de ilhas africanas no meio de um oceano de civilização ocidental, e não continente ou bloco aglutinado. É possível que os membros de um candombé vizinho ou amigo venham assistir às cerimônias, por ocasião de festas públicas; e neste caso presta-lhes homenagem. Os tambores, por exemplo, mudam de música para tocar os ritmos da "nação" do visitante; as filhas de santo em êxtase vêm abraçá-lo num rito especial de polidez. Mas trata-se de simples relações de vizinhança, que não ultrapassam o plano das homenagens mútuas, e que não impedem, subjacentes, conflitos entre babalorixás, ciúmes, rivalidades entre candomblés. É certo, também, que os candomblés tradicionais nasceram por cissiparidade, a partir de uma célula única. O mais antigo de todos é o do Engenho Velho, que deu nascimento depois ao do Gantois, e mais tarde ao de Opô Afonjá. Mas estes novos terreiros, uma vez formados, tornam-se inteiramente independentes das células-mãe de que derivaram, e com o decorrer dos anos a rivalidade pode até suceder à primitiva amizade. É verdade que todos estes grupos se organizaram, em 1937, numa União das Seitas Afro-brasileiras da Bahia. Mas trata-se de instituição artificial, de defesa coletiva, segundo o modelo dos sindicatos, e que nada têm absolutamente de africano, nem em suas origens, nem em sua constituição, deixando além disso a cada candomblé autonomia total. Esta autonomia, que de modo nenhum negamos, não deve encobrir, porém, outro fenômeno - a existência, fora dos candomblés propriamente ditos, embora ligados a eles, de sacerdotes que de certa maneira recobrem o conjunto do sistema, ou pelo menos recobrem os terreiros de uma mesma "nação". Livro O Candomblé na Bahia – Rito Nagô. Abraço. Davi. 

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