Teosofia. DOUTRINA
DAS EMANAÇÕES. Esse texto é uma reflexão baseada na Ciência Esotérica sobre a
doutrina da Trindade Divina e a Origem do Mundo em Gênesis. O livro Ísis Sem
Véu, volume III, de Helena P. Blavatsky (1831-1899) será nosso roteiro para
adentrarmos nessa abordagem. A partir daqui transcrição do livro citado. "Poderíamos
acreditar que os eventos dos primeiros séculos do Cristianismo foram apenas os
reflexos das imagens lançadas pelo espelho do futuro, ao tempo do Êxodo
bíblico. Durante a tempestuosa época de Irineu de Lyon (130-202), a Filosofia
Platônica, com a sua mística submersão na Divindade, não era tão odiosa à
nova doutrina ao ponto de impedir os cristãos de se apoiarem nela para a sua abstrusa
metafísica de todos os modos e maneiras. Aliando-se com os terapeutas
ascéticos, precursores e modelos dos monges e eremitas cristãos, foi em
Alexandria, não nos esqueçamos, que eles fincaram as primeiras fundações da
doutrina puramente platônica da Trindade. Esta se tornou mais tarde a doutrina
Platônico Filônica, tal como a encontramos hoje. (Filon de Alexandria (25 AC 50
DC). Platão (428-347) considerava a natureza divina sob uma tríplice
modificação da Causa Primeira, a razão ou o Logos, e a alma ou espírito do
universo. "Os três princípios árquicos ou originais", diz Edward E.
Gibbon (1737-1794). Eram representados no sistema platônico como três deuses,
unidos entre si por uma misteriosa e inefável geração. Unindo essa ideia
transcendental com a figura mais hipostática (teologia que forma uma só
pessoa; união hipostática do Verbo Divino com a natureza humana) do Logos de
Filon, cuja doutrina era a da antiga Cabala. Ela considerava o Rei Messias como
o Metatron, ou o Anjo do Senhor, o Legatus descido à carne, mas não o próprio
Ancião dos Dias. Os cristãos vestiram, com essa representação mística do
Mediador para a raça decaída de Adão, a Jesus, o filho de Maria. Sob essa
inesperada veste, sua personalidade se perdeu por completo. No moderno Jesus da
Igreja Cristã, encontramos o ideal do imaginativo Irineu, não o adepto dos
Essênios, o obscuro reformador da Galiléia. Nós o vemos sob a desfigurada
máscara Platônica Filônica. Não como os discípulos o ouviram sobre a montanha.
Assim veio a Filosofia Pagã em socorro da edificação do dogma principal. Mas
quando os Teurgistas da terceira Escola Neo Platônica, privados de seus antigos
mistérios, se esforçaram por unir as doutrinas de Platão com as de Aristóteles
(384 AC 322), e, combinando as duas Filosofias, acrescentaram à sua Teosofia as
doutrinas da Cabala Oriental, então os cristãos transformaram-se de rivais em
perseguidores. Assim que as alegorias metafísicas de Platão fossem discutidas
em público sob a forma de dialética grega, todo o elaborado sistema da Trindade
Cristã seria desvelado, e o seu prestígio divino ficaria completamente
transtornado. A Escola Eclética, alterando a ordem, adotou o método indutivo; e
esse método se tornou o seu dobre de finados. De todas as coisas do mundo, as
explicações lógicas e racionais tornaram-se as mais odiosas à nova religião de
mistério; pois elas ameaçavam revelar todo o pano de fundo da concepção
Trinitária, divulgar à multidão a Doutrina das Emanações, e assim destruir a
unidade do todo. Isto não podia ser permitido, e não o foi. A história nos
lembra dos meios cristãos a que se recorreu para tanto. A Doutrina Universal
das Emanações, adotada desde tempos imemoriais pelas maiores Escolas em que
ensinaram os filósofos cabalistas alexandrinos e orientais, explica o pânico
que instalou-se entre os padres cristãos. Esse espírito de astúcia jesuítica e
clerical, que induziu Parkhust, muitos séculos depois, a suprimir, em seu
Dicionário Hebraico Inglês, o verdadeiro significado das primeiras palavras do
Gênesis, tem sua origem nesses dias de guerra contra a agonizante Escola Neo
Platônica. Os padres tinham decidido adulterar o sentido da palavra
"Daimôn" e temeram, acima de tudo, que o verdadeiro sentido esotérico
da palavra Reshith fosse revelado às multidões, pois se o seu verdadeiro, assim
como o da palavra hebraica Ashdoth (traduzida na Septuagínta por
"anjos", quando significa emanações), fosse corretamente
compreendido, o mistério da Trindade Cristã se teria esfacelado, levando em sua
ruína a nova religião, juntamente com os escombros dos antigos mistérios. Essa
é a verdadeira razão pela qual os dialéticos, assim como o próprio Aristóteles,
o filósofo indagador, sempre foram odiosos à Teologia Cristã. Mesmo Lutero
(1483-1586), enquanto preparava sua obra de reforma, sentindo o chão inseguro
sob seus pés, não obstante tenha reduzido os dogmas à sua mais simples
expressão, deu plena vazão ao seu medo e ódio por Aristóteles. A quantidade de
ofensas que ela acumulou contra a memória do grande lógico só pode ser igualada,
jamais ultrapassada, aos anátemas e calúnias papais contra os liberais do
governo italiano. Compilando-as, elas encheriam todo um volume de uma nova
enciclopédia de modelos para as diatribes (crítica severa ou mordaz; escrito ou
discurso agressivo ou injurioso) monacais (que se relaciona com o gênero de
vida dos monges). É natural que o clero cristão jamais se tenha reconciliado
com uma doutrina baseada na aplicação da lógica estrita ao raciocínio
discursivo. O número daqueles que abandonaram a Teologia por essa razão jamais
se fez conhecer. Eles fizeram perguntas e foram proibidos de fazê-las; como
resultado, separação, ódio, e amiúde um mergulho desesperado nos abismos do
Ateísmo. A concepção órfica do éter como o principal meio entre Deus e a
matéria criada foi igualmente denunciada. O éter (na filosofia antiga foi
considerado após terra, água, fogo e ar, o quinto elemento da substância
primordial. Parmênides 540 AC 479 falou desse misterioso elemento em seus
aforismos) órfico lembrava por demais vivamente o Archaeus, a alma do mundo,
estando o segundo estreitamente relacionado em seu sentido metafísico com as
emanações, por ser a primeira manifestação, Sephirah, ou luz divina. Quando
então poderia ele inspirar maior medo, a não ser nesse momento crítico? Orígenes
(182-254), Clemente de Alexandria (150-215), Calcídio, Metódio (825-885) e o
Cabalista Maimônides (1138-1204), com base na autoridade do Targum de
Jerusalém, a maior autoridade ortodoxa dos judeus, afirmavam que as duas
primeiras palavras do Gênesis: BE - RESHITH, significam Sabedoria, ou
Princípio, e que a ideia de que tais palavra significam "no
princípio" jamais foi partilhada fora dos meios profanos, que não tinham
permissão para penetrar mais profundamente no sentido esotérico da sentença.
Isaac de Beausobre (1659-1738), e depois dele Godfrey Higgins (1772-1833),
demonstraram o fato. "Todas as Coisas", diz a Cabala, derivam, por
emanação, de um princípio; e esse princípio é o Deus (Desconhecido e
Invisível). DEle emana imediatamente um poder substancial que é a imagem de
Deus, e a fonte de todas as subsequentes emanações. Esse segundo princípio
produz, pela energia (ou vontade e força) da emanação, outras naturezas, que
são mais ou menos perfeitas, de acordo com seus diferentes graus de distância,
na escala da emanação, da Fonte Primeira de Existência, e que constitui
diferentes mundos, ou ordens de seres, todos unidos ao poder eterno de que
emanam. A matéria não é senão o efeito mais remoto da energia emanativa da
Divindade. O mundo material recebe sua forma da ação imediata dos poderes
bem abaixo da Fonte Primeira do Ser. Beausobre afirma ter Santo Agostinho
(354-430), o maniqueu, dito o seguinte: "E se por Reshith entendemos o
Princípio Ativo da Criação, e não o seu início, nesse caso perceberemos
claramente que Moisés jamais pretendeu dizer que o céu e a Terra por meio do
Princípio, que é Seu Filho. Não é ao tempo que ele se refere, mas ao autor
imediato da criação, os Anjos, segundo Agostinho, foram criados antes do
firmamento, e, de acordo com a interpretação esotérica, o céu e a Terra foram
criados depois deles, emanando do segundo Princípio, adotando assim o
sentido exotérico da palavra conferido às multidões. A Cabala, tanto a
Oriental, quanto a Judia, mostra que inúmeras emanações (as Sephiroth Judias)
originaram-se do Primeiro Princípio, o principal dos quais era a Sabedoria.
Essa Sabedoria é o Logos de Filon e Miguel, o chefe dos Aeons gnósticos; é o
Ormasde dos Persas; Minerva, deusa da sabedoria, dos gregos, que emanou da
cabeça de Júpiter; e a Segunda Pessoa da Trindade Cristã. Os primeiros padres
da Igreja não tiveram de quebrar a cabeça em demasia; eles encontraram uma
doutrina preparada que existia em todas as Teogonias (genealogia e filiação dos
deuses. Conjunto de divindades de um povo Politeísta) milhares de anos antes da
Era Cristã. Sua Trindade não é senão o Trio das Teogonias milhares de anos
antes da Era Cristã. Sua Trindade não é senão o Trio das Sephiroth, as
primeiras três luzes cabalísticas que, segundo Moisés Ben Nachman (1194-1270),
"jamais foram vistas por alguém, não havendo nenhum defeito nelas, nem
qualquer desunião". O primeiro número eterno é o Pai, ou o Caos Primitivo,
invisível e incompreensível dos Caldeus, do qual emana o Inteligível. O Phtah
(uma das pessoas da Trindade) egípcio, ou o Princípio de Luz, não a luz em si,
e o Princípio de Vida, embora não tenha em si nenhuma vida. A Sabedoria pela
qual o Pai criou os céus é o Filho, ou o andrógino cabalista Adão Cadmo. O
Filho é ao mesmo tempo o Râ Masculino, ou Luz da Sabedoria. Prudência ou
Inteligência, Sephirath, a sua parte feminina, e desse ser dual procede a
terceira emanação, Binah ou Razão, a segunda Inteligência, o Espírito Santo dos
cristãos. Por conseguinte, trata-se, estritamente falando de uma TETRAKTYS ou
quaternidade, consistindo da Primeira Mônada Ininteligível, e de sua tríplice
emanação, que constitui propriamente a nossa Trindade. Como então não constatar
de imediato que, se os cristãos não tivessem propositadamente desfigurado em
sua interpretação e tradução o texto do Gênesis Mosaico, para adaptá-lo às suas
próprias concepções, teria sido impossível sua religião com seus dogmas atuais.
Uma vez compreendida a palavra Reshith em seu novo sentido de Princípio e não
de Início, e aceita a doutrina anatematizada das emanações, a posição da
Segunda Pessoa da Trindade torna-se insustentável. Pois, se os anjos são as
primeiras emanações divinas oriundas da Substância Divina, que existiam antes
do Segundo Princípio, então o Filho antropomórfico (personalidade humana) é, na
melhor das hipóteses, uma emanação como aqueles, e pode tanto ser o Deus
hipostáticamente quanto nossas obras visíveis são nós mesmos. Que essas
sutilezas metafísicas jamais entraram na cabeça do honesto e sincero Apóstolo
Paulo é evidente; e tanto mais o é porque, como todos os judeus eruditos, ele
estava bem familiarizado com a doutrina das Emanações e jamais pensou em
deturpá-la. Como pode alguém imaginar que Paulo identificava o Filho como o
Pai, quando ele nos diz que Deus criou Jesus Hebreus 9:11 "um pouco menor
do que os anjos", e um pouco maior do que Moisés! Hebreus 3:3
"Pois esse Homem foi considerado de maior glória do que
Moisés". Ignoramos quais ou quantas falsidades foram interpoladas posteriormente
nos Atos dos Apóstolos pelos padres da Igreja; mas é evidente que Paulo sempre
considerou a Cristo como um homem "cheio do Espírito de Deus", eis um
ponto que não admite discussão: "No Arche era o Logos, e o Logos estava
com Theos". João 1:1 "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava
Deus, e o Verbo era Deus". A Sabedoria, a primeira emanação de Ain Soph; o
Protogonos, a Hipostasis; o Adão Cadmo dos Cabalistas, o Brahma dos hindus; o
Logos de Platão (428-347), e o Início de São João, são o Reshith, do livro do
Gênesis. Se corretamente interpretado, ele subverte, como assinalamos, o
elaborado sistema da Teologia Cristã, pois prova que atrás da Divindade
Criadora há um deus Superior; um planejador e arquiteto; e que o primeiro é
apenas o Seu agente executor, uma simples Força. Eles perseguiram os gnósticos,
assassinaram os filósofos e queimaram os Cabalistas e os Maçons; e quando o dia
do grande acerto chegar, e a luz Brilhar na escuridão, o que terão eles para
oferecer no lugar da fenecida religião? O que responderão, esses pretensos
monoteístas (Monoteísmo: crença em um só Deus. As três grandes religiões
monoteístas são o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, embora este último
negue a referida designação ao Cristianismo, por sua doutrina da Trindade.
Algumas seitas cristãs são exclusivamente monoteístas e negam o dogma da
Trindade, como os Monarquianos). O Monarquianismo era a doutrina cristã do
século III que negava a Trindade das Pessoas, para afirmar que a Única Verdade
era a Unidade Divina, na Pessoa do Pai; o chamado Patripassionismo. Esses
adoradores e pseudo servos do único Deus vivo, ao seu Criador? Como
justificarão a longa perseguição daqueles que eram os verdadeiros seguidores do
grande Megalistor, o supremo grande mestre dos Rosa Cruzes, o primeiro dos
Maçons? Pois ele é o Construtor e Arquiteto do Templo do universo; Ele é o
Verbum Sapienti. Todos sabem, escreveu Fausto, o grande líder da seita dos
Maniqueu no século IV, "que os Evangelhos não foram escritos por Jesus
Cristo, nem por seus apóstolos, mas muito tempo depois por algumas pessoas
desconhecidas, que, julgando com razão que não lhes dariam crédito quando
contassem coisas que não haviam testemunhado, encabeçaram suas narrativas com
os nomes dos apóstolos ou dos discípulos contemporâneos". Ao comentar o assunto,
A. Franck, o sábio erudito judeu do Instituto e tradutor da Cabala, expressa a
mesma ideia, "Não temos razão", pergunta ele, "em considerar a
Cabala como um precioso vestígio da filosofia religiosa do Oriente, que,
transportado para Alexandria, se misturou à doutrina de Platão, e sob o nome
usurpado de Dionísio, o Areopagita (Pseudo Dionísio é o nome pelo qual é
conhecido o autor de um conjunto de textos, Corpus Areopagiticum, que
exerceram, segundo os historiadores da filosofia e da arte, uma forte influência
em toda a mística cristã ocidental da Idade Média. Esses textos foram muito
lidos e admirados pelo Abade Suger (1081-1151) de Saint Denis - França,
construtor do primeiro grande exemplar de arquitetura gótica: A Basílica de
Saint Denis em Paris). O autor se apresenta como Dionísio, o ateniense membro
do Areópago, o único convertido por São Paulo em Atos 17:34 "Todavia,
chegando alguns homens a ele, creram; entre os quais Dionísio, areopagita, uma
mulher por nome Dâmaris, e com ele outros", no século I. Mas provavelmente
os textos foram escritos por um teólogo bizantino sírio do fim do século V ou
início do século VI, originalmente em grego, depois traduzidos para o latim por
João Escoto Erígena (815-877). Dionísio o Areopagita, foi bispo de Atenas, convertido
e consagrado por São Paulo, foi assim capaz de penetrar no misticismo da Idade
Média. Diz Louis Jacolliot (1837-1890): "O que é então essa filosofia
religiosa do Oriente, que penetrou no simbolismo místico da cristandade?
Respondemos: Essa filosofia, traços da qual encontramos entre os magos, os
caldeus, os egípcios, os cabalistas hebreus e os cristãos, não é outra senão a
dos brâmanes hindus, discípulo dos pitris, ou espíritos residentes nos mundos
invisíveis que nos cercam. Mas se os gnósticos foram destruídos pelas
perseguições, a Gnose, baseada na secreta ciência, ainda vive. Ela é a terra
que ajuda a mulher e está destinada a abrir sua boca para engolir o
Cristianismo medieval, o usurpador e assassino da doutrina do Grande Mestre. A
Cabala Antiga, a Gnose, ou o conhecimento tradicional secreto, jamais ficou sem
os seus representantes, em qualquer época ou país. As Trindades dos iniciados,
reveladas à história ou ocultadas sob o véu impenetrável do mistério, foram
preservadas e fixadas através das idades. Elas foram conhecidas como Moisés,
Aholiab e Bezaleel, o filho de Uri, o filho de Hur, como Platão, Filon e
Pitágoras, etc. Na transfiguração, vemo-las como Jesus, Moisés e Elias, os três
Trismegisti; e os três cabalistas Pedro, Tiago e João, cuja revelação é a chave
de toda a Sabedoria. Descobrimo-las no crepúsculo da história judia como
Zoroastro (630 AC 553), Abraão e Terah, e depois como Henoc, Ezequiel e Daniel.
Quem, dentre aqueles que sempre estudaram as filosofias antigas, que compreende
intuitivamente a grandeza de suas concepções, a infinita sublimidade de seus
conceitos sobre a Divindade Desconhecida, pode hesitar, por um instante, de dar
preferência às suas doutrinas sobre a Teologia incompreensível, dogmática e
contraditória das centenas de seitas cristãs? Quem, tendo uma vez lido Platão
(428 AC 347) e penetrado o seu Demiurgo "a quem ninguém jamais viu, exceto
o Filho", pode duvidar de que Jesus foi um discípulo da mesma doutrina
secreta que instruiu o grande filósofo? Pois, como já mostramos antes, Platão
nunca afirmou ser o criador de tudo que escreveu, mas deu todo o crédito a
Pitágoras (571 AC 495), que, por sua vez, assinalava o remoto Oriente como a
fonte de que derivaram sua informação e sua filosofia. Henry Thomas Colebrooke
(1765-1835) mostra que Platão o confessa em suas epístolas, e diz que ele
extraiu seus ensinamentos das doutrinas antigas e sagradas. Além disso, é
inegável que as Teologias de todas as grandes nações concordam em si e mostram
que cada uma é parte de um todo estupendo. Como os demais iniciados, vemos
Platão em grandes dificuldades para ocultar o verdadeiro significado de suas
alegorias. Toda vez que o assunto toca os maiores segredos da Cabala Oriental,
segredo da verdadeira, cosmogonia do universo e do mundo ideal preexistente,
Platão esconde sua filosofia na mais profunda escuridão. Seu Dialogo Timeu é
tão confuso que só um iniciado pode compreender-lhe o sentido secreto. E Johann
Lorenz von Mosheim (1693-1755) pensa que Filon de Alexandria (25 AC 50 DC)
encheu suas obras com passagens diretamente contraditórias com o único
propósito de ocultar a verdadeira doutrina. Pelo menos uma vez, vemos um
crítico na pista certa. E essa própria ideia da Trindade, assim como a doutrina
tão amargamente condenada das emanações, qual é a sua mais remota origem? A
resposta é fácil, e as provas estão agora às mãos. Na mais sublime e profunda
de todas as filosofias, a da universal Religião da Sabedoria, os primeiros
traços da qual a pesquisa histórica agora encontra na antiga religião pré
Védica da Índia. Como assinala o muito caluniado Jacolliot, "Não é nas
obras religiosas da Antiguidade, tais como os Vedas, o Zend Avesta, a Bíblia,
que temos de procurar a exata expressão das dignas e sublimes crenças daquelas
épocas". A sagrada sílaba primitiva, composta das três letra A U M, na
qual está contida a Trimurti (Trindade) Védica, deve ser mantida em segredo,
como outro triplo Veda, diz Manu no livro Sagrado Hindu. Svayambhú é a
Divindade não revelada; é o Ser que existe por si e de si; é o germe central e
imortal de tudo que existe no universo. Três Trindades emanam e nele se
confundem, formando uma unidade Suprema. Essas Trindades, ou a tríplice
Trimúrti, são: Nara, Nári e Viraj, a Tríada incial; Agni, Vayu e Surya, a
Tríada manifesta: Brahma, Vishnu e Shiva, a Tríada Criadora. Cada uma dessas
Tríadas torna-se menos metafísica e mais adaptada à inteligência vulgar à
medida em que desce. A última torna-se assim apenas o símbolo em sua expressão
concreta; conclusão necessária de uma concepção puramente metafísica. (A
Metafísica é uma das disciplinas fundamentais da filosofia. Os sistemas
metafísicos, em sua forma clássica, tratam de problemas centrais da filosofia
teórica. São tentativas de descrever os fundamentos, as condições, as leis, a
estrutura básica, as causas ou princípios; bem como o sentido e a finalidade da
realidade como um todo ou dos seres em geral. Um ramo central da metafísica é a
ontologia, a investigação sobre as categorias básicas do ser e como elas se
relacionam umas com as outras. outro ramo central da metafísica é a cosmologia,
o estudo da totalidade de todos os fenômenos no universo. Concretamente, isso
significa que a Metafísica Clássica ocupa-se das questões últimas da filosofia,
tais como: há um sentido último para a existência do mundo? A organização do
mundo é necessariamente essa com que deparamos, ou seriam possíveis outros
mundos? Existe um Deus? Se existe, como podemos conhecê-lo? Existe algo como um
espírito? Há uma diferença fundamental entre mente e matéria? Os seres humanos
são dotados de almas imortais? São dotados de livre arbítrio? Tudo está em
permanente mudança, ou há coisas e relações que, a despeito de todas as
mudanças aparente, permanecem sempre idênticas? O que diferencia a metafísica
das ciências particulares é que a metafísica considera o inteiro do ser
enquanto as ciência particulares estudam apenas partes específicas do ser). Ao
lado do Svayambhu, há as dez Sephiroth dos Cabalistas hebreus, os Prajapatis
hindus, o Ain Soph dos primeiros, que corresponde ao Grande Desconhecido,
expresso pelo A U M místico dos últimos. Diz A. Franck, o tradutor da Cabala:
Os dez Sephiroth ( ... ) dividem-se em três classes, cada uma das quais nos
apresenta a divindade sob um aspecto diferente, embora o todo permaneça uma
Trindade Indivisível. Os primeiros três Sephiroth são puramente intelectuais no
que concerne à Metafísica; expressam a identidade absoluta da existência e do
pensamento, e formam o que os modernos cabalistas chamam de mundo inteligível,
que é a primeira manifestação de Deus. Os três seguintes ( ... ) fazem-nos
conceber. Deus em um de seus aspectos, como a identidade entre bondade e
sabedoria, noutro aspecto, eles nos mostram, no Bem Supremo, a origem da beleza
e da magnificência (na criação). Por isso, eles se chamam virtudes, ou
constituem o mundo sensível. Finalmente, sabemos, pelo último desses atributos,
que a Providência Universal, o Artista Supremo, é também Força Absoluta, a
causa todo poderosa, e que, ao mesmo tempo, essa causa é o elemento gerador de
tudo que existe. São estes últimos Sephirot que constituem o mundo natural, ou
a natureza em sua essência e em seu princípio ativo, natura naturans. Essa
concepção cabalística revela-se assim idêntica à da filosofia hindu. Todo
aquele que ler Platão e seu Diálogo Timeu encontrará essas ideias fielmente
reproduzidas pelo filósofo grego. Timeu é um dos diálogos de Platão,
principalmente na forma de um longo monólogo do personagem título, escrito por
volta de 360 AC. O trabalho apresenta a especulação sobre a natureza do mundo
físico e os seres humanos. É seguido pelo Diálogo Críticas. Falantes do diálogo
são: Sócrates, Timeu de Locros, Hermócrates e Crítias. Alguns estudiosos
acreditam que Crítias que aparece no diálogo não é o mesmo Crítias da Tirania
dos Trinta, mas seu avô, que também era chamado Crítias. O diálogo ocorre um
dia após Sócrates descrever seu estado ideal. Nas obras de Platão tal discussão
ocorre em sua obra A República. Sócrates sente que sua descrição do estado
ideal não foi suficiente para fins de entretenimento e que "eu ficaria
feliz em ouvir um relato sobre a realização de operações com outros
estados". Hermócrates quer obrigar Sócrates e menciona que Crítias sabe
exatamente sobre isso para então fazê-lo. Crítias começa a história da viagem
de Sólon ao Egito, onde ouve a história de Atlântida e como Atenas costumava
ser um estado ideal que, posteriormente, travou uma guerra contra Atlântida.
Crítias acredita que se adiantando em suas explicações e menciona que Timeu
dirá parte da história da origem do Universo para o homem. A história de
Atlântida é adiada e escrita então por Crítias. O conteúdo principal do diálogo
segue-se pela exposição de Timeu. Timeu começa com uma distinção entre o
mundo físico e o mundo eterno. O mundo físico é o mundo que muda e perece; é o
objeto de parecer e de sensação irracional. O mundo eterno não muda nunca; por
isso é apreendido pela razão. Os discursos sobre os dois mundos são
condicionados pela natureza distinta de seus objetos. De fato, uma descrição do
que é imutável, fixo e claramente inteligível será imutável e fixo, enquanto
uma descrição do que muda, provavelmente, também vai mudar e ser apenas
provável. Timeu sugere que nada se torna ou muda sem causa, então a causa do
universo deve ser um Demiurgo ou um deus, uma figura que Timeu refere-se a
como o pai e criador do universo. E já que o universo é justo, o Demiurgo
deve ter olhado para o modelo eterno para transformá-lo e não à um modelo
perecível. Assim, usando o mundo eterno e perfeito de "formas" ou
ideais como um modelo, ele começou a criar o nosso mundo, que anteriormente só
existia em um estado de desordem. No Diálogo Timeu, Platão utiliza a noção de
Demiurgo como inteligência ordenadora do Universo, noção esta que Platão
recebeu de Anaxágoras (500 AC 428). Todavia, diferentemente deste Nous de
Anaxágoras, o Demiurgo em Platão não seria apenas inteligência, uma vez que
haveria nele um caráter artesanal, que constitui, ao lado da persuasão e da
ação ordenadora, a atividade prática desse artífice. O Demiurgo contempla e
produz, existindo nele atividades teóricas e prática inseparáveis. Ele não
seria um simples artesão, mas aquele que produz transferindo para as cópias as
virtudes de um modelo. No diálogo, há uma série de analogias ligadas ao
trabalho manual do artesão. De fato, o Demiurgo produz a Alma do Mundo, a Alma
Humana e a Alma Vegetativa, utilizando técnicas de metalurgia. Constitui o
corpo do mundo como uma construção semelhante a de um edifício; na produção da
esfericidade do corpo do mundo, na fabricação dos ossos e do esqueleto,
utilizando técnicas de cerâmica. Além disso, é qualificado de modelador de cera
e conhecedor da arte de entrançar. Além disso, no Timeu encontra-se a teoria
das formas inteligíveis, que explicaria a natureza do mundo sensível. Pelas
ideias poder-se-ia explicar a natureza do universo ou da totalidade das coisas
sensíveis. Estas estão sujeitas a geração e foram criadas de acordo com um
modelo (paradigma eterno). Assim, causas imutáveis seriam aplicadas ao que
é instável por natureza e as coisas sensíveis teriam nas formas
inteligíveis a própria possibilidade de existência. Além disso, a imposição do
segredo era tão escrita para os cabalistas, como o era para os iniciados de
Adyta e os Yogues hindus. "Fecha tua boca, para que não fales disso (os
mistérios), e teu coração, para que não penses em voz alta; e se teu coração
escapar, trá-lo de volta, pois tal é o objetivo de nossa aliança. Esse é o
segredo que dá morte; fecha tua boca para não revelá-lo ao vulgo; comprime teu
cérebro para que nada escape dele e caia noutra parte". Agrushada
Parikshai. Na verdade, o destino de muitas gerações futuras esteve
suspenso por um frágil fio, nos dias do terceiro e quarto século. Não tivesse o
Imperador enviado, em 389, a Alexandria (Egito), um edito, a que obrigaram os
cristãos, para a destruição de todos os ídolos, nosso próprio século jamais
teria tido um panteão mitológico de sua própria lavra. A Escola Neo Platônica
jamais atingiria tal profundidade filosófica como quando próxima de seu fim.
Unindo a Teosofia mística do velho Egito com a filosofia refinada dos gregos;
mais próximos dos antigos mistérios de Tebas e Mênfis como nunca o haviam sido;
versados na ciência da predição e da adivinhação, assim como na arte dos terapeutas;
amigos dos homens mais agudos da nação judia, que estavam profundamente
imbuídos das ideias zoroastrianas, os Neo Platônicos visavam amalgamar a antiga
sabedoria da Cabala Oriental com as concepções mais refinadas dos Teósofos
Ocidentais. Não obstante a tradição dos cristãos, que, por razões políticas,
houveram por bem repudiar, após os dias de Constantino II (316-340), os seus
tutores, a influência da nova filosofia platônica é visível na adoção
subsequente dos dogmas, cuja origem pode ser remontada com muita facilidade a
essa notável Escola. Embora mutilados e desfigurados, eles ainda preservam uma
forte semelhança familiar, que nada pode obliterar. Mas, se o conhecimento dos
poderes ocultos da Natureza abre a percepção espiritual do homem, alarga-lhe as
faculdades intelectuais, e o leva infalivelmente a uma veneração mais profunda
do Criador, por outro lado a ignorância, a estreiteza dogmática e um medo
infantil de contemplar o fundo das coisas levam invariavelmente ao fetichismo e
à superstição. Quando Cirilo (378-444), o Bispo de Alexandria abraçou
abertamente a causa de Ísis, a deusa egípcia, e a antropomorfizou em Maria, a
mãe de Deus, e a controvérsia Trinitária instalou-se, desde esse momento, a
doutrina egípcia da emanação do Deus criador oriundo de Emepht começou a ser
torturada de mil maneiras, até que o Concílio concordou com a sua adoção na
forma atual, que vem a ser o Ternário desfigurado dos cabalistas Salomão e
Filon! Mas como sua origem era ainda por demais evidente, deram o nome de
Cristo ao leste, ao Adão Cadmo, ao Verbo, ao Logos, identificando-o em essência
e existência com o Pai ou Ancião dos Dias. A Sabedora Oculta, segundo o dogma
cristão, tornou-se idêntica e coeterna com a sua emanação, o Pensamento
Divino". Abraço. Davi.
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