segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

DOUTRINA DAS EMANAÇÕES

 

Teosofia. DOUTRINA DAS EMANAÇÕES. Esse texto é uma reflexão baseada na Ciência Esotérica sobre a doutrina da Trindade Divina e a Origem do Mundo em Gênesis. O livro Ísis Sem Véu, volume III, de Helena P. Blavatsky (1831-1899) será nosso roteiro para adentrarmos nessa abordagem. A partir daqui transcrição do livro citado. "Poderíamos acreditar que os eventos dos primeiros séculos do Cristianismo foram apenas os reflexos das imagens lançadas pelo espelho do futuro, ao tempo do Êxodo bíblico. Durante a tempestuosa época de Irineu de Lyon (130-202), a Filosofia Platônica, com a sua mística  submersão na Divindade, não era tão odiosa à nova doutrina ao ponto de impedir os cristãos de se apoiarem nela para a sua abstrusa metafísica de todos os modos e maneiras. Aliando-se com os terapeutas ascéticos, precursores e modelos dos monges e eremitas cristãos, foi em Alexandria, não nos esqueçamos, que eles fincaram as primeiras fundações da doutrina puramente platônica da Trindade. Esta se tornou mais tarde a doutrina Platônico Filônica, tal como a encontramos hoje. (Filon de Alexandria (25 AC 50 DC). Platão (428-347) considerava a natureza divina sob uma tríplice modificação da Causa Primeira, a razão ou o Logos, e a alma ou espírito do universo. "Os três princípios árquicos ou originais", diz Edward E. Gibbon (1737-1794). Eram representados no sistema platônico como três deuses, unidos entre si por uma misteriosa e inefável geração. Unindo essa ideia transcendental com a figura  mais hipostática (teologia que forma uma só pessoa; união hipostática do Verbo Divino com a natureza humana) do Logos de Filon, cuja doutrina era a da antiga Cabala. Ela considerava o Rei Messias como o Metatron, ou o Anjo do Senhor, o Legatus descido à carne, mas não o próprio Ancião dos Dias. Os cristãos vestiram, com essa representação mística do Mediador para a raça decaída de Adão, a Jesus, o filho de Maria. Sob essa inesperada veste, sua personalidade se perdeu por completo. No moderno Jesus da Igreja Cristã, encontramos o ideal do imaginativo Irineu, não o adepto dos Essênios, o obscuro reformador da Galiléia. Nós o vemos sob a desfigurada máscara Platônica Filônica. Não como os discípulos o ouviram sobre a montanha. Assim veio a Filosofia Pagã em socorro da edificação do dogma principal. Mas quando os Teurgistas da terceira Escola Neo Platônica, privados de seus antigos mistérios, se esforçaram por unir as doutrinas de Platão com as de Aristóteles (384 AC 322), e, combinando as duas Filosofias, acrescentaram à sua Teosofia as doutrinas da Cabala Oriental, então os cristãos transformaram-se de rivais em perseguidores. Assim que as alegorias metafísicas de Platão fossem discutidas em público sob a forma de dialética grega, todo o elaborado sistema da Trindade Cristã seria desvelado, e o seu prestígio divino ficaria completamente transtornado. A Escola Eclética, alterando a ordem, adotou o método indutivo; e esse método se tornou o seu dobre de finados. De todas as coisas do mundo, as explicações lógicas e racionais tornaram-se as mais odiosas à nova religião de mistério; pois elas ameaçavam revelar todo o pano de fundo da concepção Trinitária, divulgar à multidão a Doutrina das Emanações, e assim destruir a unidade do todo. Isto não podia ser permitido, e não o foi. A história nos lembra dos meios cristãos a que se recorreu para tanto. A Doutrina Universal das Emanações, adotada desde tempos imemoriais pelas maiores Escolas em que ensinaram os filósofos cabalistas alexandrinos e orientais, explica o pânico que instalou-se entre os padres cristãos. Esse espírito de astúcia jesuítica e clerical, que induziu Parkhust, muitos séculos depois, a suprimir, em seu Dicionário Hebraico Inglês, o verdadeiro significado das primeiras palavras do Gênesis, tem sua origem nesses dias de guerra contra a agonizante Escola Neo Platônica. Os padres tinham decidido adulterar o sentido da palavra  "Daimôn" e temeram, acima de tudo, que o verdadeiro sentido esotérico da palavra Reshith fosse revelado às multidões, pois se o seu verdadeiro, assim como o da palavra hebraica Ashdoth (traduzida na Septuagínta por "anjos", quando significa emanações), fosse corretamente compreendido, o mistério da Trindade Cristã se teria esfacelado, levando em sua ruína a nova religião, juntamente com os escombros dos antigos mistérios. Essa é a verdadeira razão pela qual os dialéticos, assim como o próprio Aristóteles, o filósofo indagador, sempre foram odiosos à Teologia Cristã. Mesmo Lutero (1483-1586), enquanto preparava sua obra de reforma, sentindo o chão inseguro sob seus pés, não obstante tenha reduzido os dogmas à sua mais simples expressão, deu plena vazão ao seu medo e ódio por Aristóteles. A quantidade de ofensas que ela acumulou contra a memória  do grande lógico só pode ser igualada, jamais ultrapassada, aos anátemas e calúnias papais contra os liberais do governo italiano. Compilando-as, elas encheriam todo um volume de uma nova enciclopédia de modelos para as diatribes (crítica severa ou mordaz; escrito ou discurso agressivo ou injurioso) monacais (que se relaciona com o gênero de vida dos monges). É natural que o clero cristão jamais se tenha reconciliado com uma doutrina baseada na aplicação da lógica estrita ao raciocínio discursivo. O número daqueles que abandonaram a Teologia por essa razão jamais se fez conhecer. Eles fizeram perguntas e foram proibidos de fazê-las; como resultado, separação, ódio, e amiúde um mergulho desesperado nos abismos do Ateísmo. A concepção órfica do éter como o principal meio entre Deus e a matéria criada foi igualmente denunciada. O éter (na filosofia antiga foi considerado após terra, água, fogo e ar, o quinto elemento da substância primordial. Parmênides 540 AC 479 falou desse misterioso elemento em seus aforismos) órfico lembrava por demais vivamente o Archaeus, a alma do mundo, estando o segundo estreitamente relacionado em seu sentido metafísico com as emanações, por ser a primeira manifestação, Sephirah, ou luz divina. Quando então poderia ele inspirar maior medo, a não ser nesse momento crítico? Orígenes (182-254), Clemente de Alexandria (150-215), Calcídio, Metódio (825-885) e o Cabalista Maimônides (1138-1204), com base na autoridade do Targum de Jerusalém, a maior autoridade ortodoxa dos judeus, afirmavam que as duas primeiras palavras do Gênesis: BE - RESHITH, significam Sabedoria, ou Princípio, e que a ideia de que tais palavra significam "no princípio" jamais foi partilhada fora dos meios profanos, que não tinham permissão para penetrar mais profundamente no sentido esotérico da sentença. Isaac de Beausobre (1659-1738), e depois dele Godfrey Higgins (1772-1833), demonstraram o fato. "Todas as Coisas", diz a Cabala, derivam, por emanação, de um princípio; e esse princípio é o Deus (Desconhecido e Invisível). DEle emana imediatamente um poder substancial que é a imagem de Deus, e a fonte de todas as subsequentes emanações. Esse segundo princípio produz, pela energia (ou vontade e força) da emanação, outras naturezas, que são mais ou menos perfeitas, de acordo com seus diferentes graus de distância, na escala da emanação, da Fonte Primeira de Existência, e que constitui diferentes mundos, ou ordens de seres, todos unidos ao poder eterno de que emanam. A matéria não é senão o efeito mais remoto da energia emanativa da Divindade. O mundo material recebe  sua forma da ação imediata dos poderes bem abaixo da Fonte Primeira do Ser. Beausobre afirma ter Santo Agostinho (354-430), o maniqueu, dito o seguinte: "E se por Reshith entendemos o Princípio Ativo da Criação, e não o seu início, nesse caso perceberemos claramente que Moisés jamais pretendeu dizer que o céu e a Terra por meio do Princípio, que é Seu Filho. Não é ao tempo que ele se refere, mas ao autor imediato da criação, os Anjos, segundo Agostinho, foram criados antes do firmamento, e, de acordo com a interpretação esotérica, o céu e a Terra foram criados depois deles, emanando  do segundo Princípio, adotando assim o sentido exotérico da palavra conferido às multidões. A Cabala, tanto a Oriental, quanto a Judia, mostra que inúmeras emanações (as Sephiroth Judias) originaram-se do Primeiro Princípio, o principal dos quais era a Sabedoria. Essa Sabedoria é o Logos de Filon e Miguel, o chefe dos Aeons gnósticos; é o Ormasde dos Persas; Minerva, deusa da sabedoria, dos gregos, que emanou da cabeça de Júpiter; e a Segunda Pessoa da Trindade Cristã. Os primeiros padres da Igreja não tiveram de quebrar a cabeça em demasia; eles encontraram uma doutrina preparada que existia em todas as Teogonias (genealogia e filiação dos deuses. Conjunto de divindades de um povo Politeísta) milhares de anos antes da Era Cristã. Sua Trindade não é senão o Trio das Teogonias milhares de anos antes da Era Cristã. Sua Trindade não é senão o Trio das Sephiroth, as primeiras três luzes cabalísticas que, segundo Moisés Ben Nachman (1194-1270), "jamais foram vistas por alguém, não havendo nenhum defeito nelas, nem qualquer desunião". O primeiro número eterno é o Pai, ou o Caos Primitivo, invisível e incompreensível dos Caldeus, do qual emana o Inteligível. O Phtah (uma das pessoas da Trindade) egípcio, ou o Princípio de Luz, não a luz em si, e o Princípio de Vida, embora não tenha em si nenhuma vida. A Sabedoria pela qual o Pai criou os céus é o Filho, ou o andrógino cabalista Adão Cadmo. O Filho é ao mesmo tempo o Râ Masculino, ou Luz da Sabedoria. Prudência ou Inteligência, Sephirath, a sua parte feminina, e desse ser dual procede a terceira emanação, Binah ou Razão, a segunda Inteligência, o Espírito Santo dos cristãos. Por conseguinte, trata-se, estritamente falando de uma TETRAKTYS ou quaternidade, consistindo da Primeira Mônada Ininteligível, e de sua tríplice emanação, que constitui propriamente a nossa Trindade. Como então não constatar de imediato que, se os cristãos não tivessem propositadamente desfigurado em sua interpretação e tradução o texto do Gênesis Mosaico, para adaptá-lo às suas próprias concepções, teria sido impossível sua religião com seus dogmas atuais. Uma vez compreendida a palavra Reshith em seu novo sentido de Princípio e não de Início, e aceita a doutrina anatematizada das emanações, a posição da Segunda Pessoa da Trindade torna-se insustentável. Pois, se os anjos são as primeiras emanações divinas oriundas da Substância Divina, que existiam antes do Segundo Princípio, então o Filho antropomórfico (personalidade humana) é, na melhor das hipóteses, uma emanação como aqueles, e pode tanto ser o Deus hipostáticamente quanto nossas obras visíveis são nós mesmos. Que essas sutilezas metafísicas jamais entraram na cabeça do honesto e sincero Apóstolo Paulo é evidente; e tanto mais o é porque, como todos os judeus eruditos, ele estava bem familiarizado com a doutrina das Emanações e jamais pensou em deturpá-la. Como pode alguém imaginar que Paulo identificava o Filho como o Pai, quando ele nos diz que Deus criou Jesus Hebreus 9:11 "um pouco menor do que os anjos", e um pouco maior do que Moisés!  Hebreus 3:3 "Pois  esse Homem foi considerado de maior glória do que Moisés". Ignoramos quais ou quantas falsidades foram interpoladas posteriormente nos Atos dos Apóstolos pelos padres da Igreja; mas é evidente que Paulo sempre considerou a Cristo como um homem "cheio do Espírito de Deus", eis um ponto que não admite discussão: "No Arche era o Logos, e o Logos estava com Theos". João 1:1 "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava Deus, e o Verbo era Deus". A Sabedoria, a primeira emanação de Ain Soph; o Protogonos, a Hipostasis; o Adão Cadmo dos Cabalistas, o Brahma dos hindus; o Logos de Platão (428-347), e o Início de São João, são o Reshith, do livro do Gênesis. Se corretamente interpretado, ele subverte, como assinalamos, o elaborado sistema da Teologia Cristã, pois prova que atrás da Divindade Criadora há um deus Superior; um planejador e arquiteto; e que o primeiro é apenas o Seu agente executor, uma simples Força. Eles perseguiram os gnósticos, assassinaram os filósofos e queimaram os Cabalistas e os Maçons; e quando o dia do grande acerto chegar, e a luz Brilhar na escuridão, o que terão eles para oferecer no lugar da fenecida religião? O que responderão, esses pretensos monoteístas (Monoteísmo: crença em um só Deus. As três grandes religiões monoteístas são o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, embora este último negue a referida designação ao Cristianismo, por sua doutrina da Trindade. Algumas seitas cristãs são exclusivamente monoteístas e negam o dogma da Trindade, como os Monarquianos). O Monarquianismo era a doutrina cristã do século III que negava a Trindade das Pessoas, para afirmar que a Única Verdade era a Unidade Divina, na Pessoa do Pai; o chamado Patripassionismo. Esses adoradores e pseudo servos do único Deus vivo, ao seu Criador? Como  justificarão a longa perseguição daqueles que eram os verdadeiros seguidores do grande Megalistor, o supremo grande mestre dos Rosa Cruzes, o primeiro dos Maçons? Pois ele é o Construtor e Arquiteto do Templo do universo; Ele é o Verbum Sapienti. Todos sabem, escreveu Fausto, o grande líder da seita dos Maniqueu no século IV, "que os Evangelhos não foram escritos por Jesus Cristo, nem por seus apóstolos, mas muito tempo depois por algumas pessoas desconhecidas, que, julgando com razão que não lhes dariam crédito quando contassem coisas que não haviam testemunhado, encabeçaram suas narrativas com os nomes dos apóstolos ou dos discípulos contemporâneos". Ao comentar o assunto, A. Franck, o sábio erudito judeu do Instituto e tradutor da Cabala, expressa a mesma ideia, "Não temos razão", pergunta ele, "em considerar a Cabala como um precioso vestígio da filosofia religiosa do Oriente, que, transportado para Alexandria, se misturou à doutrina de Platão, e sob o nome usurpado de Dionísio, o Areopagita (Pseudo Dionísio é o nome pelo qual é conhecido o autor de um conjunto de textos, Corpus Areopagiticum, que exerceram, segundo os historiadores da filosofia e da arte, uma forte influência em toda a mística cristã ocidental da Idade Média. Esses textos foram muito lidos e admirados pelo Abade Suger (1081-1151) de Saint Denis - França, construtor do primeiro grande exemplar de arquitetura gótica: A Basílica de Saint Denis em Paris). O autor se apresenta como Dionísio, o ateniense membro do Areópago, o único convertido por São Paulo em Atos 17:34 "Todavia, chegando alguns homens a ele, creram; entre os quais Dionísio, areopagita, uma mulher por nome Dâmaris, e com ele outros", no século I. Mas provavelmente os textos foram escritos por um teólogo bizantino sírio do fim do século V ou início do século VI, originalmente em grego, depois traduzidos para o latim por João Escoto Erígena (815-877). Dionísio o Areopagita, foi bispo de Atenas, convertido e consagrado por São Paulo, foi assim capaz de penetrar no misticismo da Idade Média. Diz Louis Jacolliot (1837-1890): "O que é então essa filosofia religiosa do Oriente, que penetrou no simbolismo místico da cristandade? Respondemos: Essa filosofia, traços da qual encontramos entre os magos, os caldeus, os egípcios, os cabalistas hebreus e os cristãos, não é outra senão a dos brâmanes hindus, discípulo dos pitris, ou espíritos residentes nos mundos invisíveis que nos cercam. Mas se os gnósticos foram destruídos pelas perseguições, a Gnose, baseada na secreta ciência, ainda vive. Ela é a terra que ajuda a mulher e está destinada a abrir sua boca para engolir o Cristianismo medieval, o usurpador e assassino da doutrina do Grande Mestre. A Cabala Antiga, a Gnose, ou o conhecimento tradicional secreto, jamais ficou sem os seus representantes, em qualquer época ou país. As Trindades dos iniciados, reveladas à história ou ocultadas sob o véu impenetrável do mistério, foram preservadas e fixadas através das idades. Elas foram conhecidas como Moisés, Aholiab e Bezaleel, o filho de Uri, o filho de Hur, como Platão, Filon e Pitágoras, etc. Na transfiguração, vemo-las como Jesus, Moisés e Elias, os três Trismegisti; e os três cabalistas Pedro, Tiago e João, cuja revelação é a chave de toda a Sabedoria. Descobrimo-las no crepúsculo da história judia como Zoroastro (630 AC 553), Abraão e Terah, e depois como Henoc, Ezequiel e Daniel. Quem, dentre aqueles que sempre estudaram as filosofias antigas, que compreende intuitivamente a grandeza de suas concepções, a infinita sublimidade de seus conceitos sobre a Divindade Desconhecida, pode hesitar, por um instante, de dar preferência às suas doutrinas sobre a Teologia incompreensível, dogmática e contraditória das centenas de seitas cristãs? Quem, tendo uma vez lido Platão (428 AC 347) e penetrado o seu Demiurgo "a quem ninguém jamais viu, exceto o Filho", pode duvidar de que Jesus foi um discípulo da mesma doutrina secreta que instruiu o grande filósofo? Pois, como já mostramos antes, Platão nunca afirmou ser o criador de tudo que escreveu, mas deu todo o crédito a Pitágoras (571 AC 495), que, por sua vez, assinalava o remoto Oriente como a fonte de que derivaram sua informação e sua filosofia. Henry Thomas Colebrooke (1765-1835) mostra que Platão o confessa em suas epístolas, e diz que ele extraiu seus ensinamentos das doutrinas antigas e sagradas. Além disso, é inegável que as Teologias de todas as grandes nações concordam em si e mostram que cada uma é parte de um todo estupendo. Como os demais iniciados, vemos Platão em grandes dificuldades para ocultar o verdadeiro significado de suas alegorias. Toda vez que o assunto toca os maiores segredos da Cabala Oriental, segredo da verdadeira, cosmogonia do universo e do mundo ideal preexistente, Platão esconde sua filosofia na mais profunda escuridão. Seu Dialogo Timeu é tão confuso que só um iniciado pode compreender-lhe o sentido secreto. E Johann Lorenz von Mosheim (1693-1755) pensa que Filon de Alexandria (25 AC 50 DC) encheu suas obras com passagens diretamente contraditórias com o único propósito de ocultar a verdadeira doutrina. Pelo menos uma vez, vemos um crítico na pista certa. E essa própria ideia da Trindade, assim como a doutrina tão amargamente condenada das emanações, qual é a sua mais remota origem? A resposta é fácil, e as provas estão agora às mãos. Na mais sublime e profunda de todas as filosofias, a da universal Religião da Sabedoria, os primeiros traços da qual a pesquisa histórica agora encontra na antiga religião pré Védica da Índia. Como assinala o muito caluniado Jacolliot, "Não é nas obras religiosas da Antiguidade, tais como os Vedas, o Zend Avesta, a Bíblia, que temos de procurar a exata expressão das dignas e sublimes crenças daquelas épocas". A sagrada sílaba primitiva, composta das três letra A U M, na qual está contida a Trimurti (Trindade) Védica, deve ser mantida em segredo, como outro triplo Veda, diz Manu no livro Sagrado Hindu. Svayambhú é a Divindade não revelada; é o Ser que existe por si e de si; é o germe central e imortal de tudo que existe no universo. Três Trindades emanam e nele se confundem, formando uma unidade Suprema. Essas Trindades, ou a tríplice Trimúrti, são: Nara, Nári e Viraj, a Tríada incial; Agni, Vayu e Surya, a Tríada manifesta: Brahma, Vishnu e Shiva, a Tríada Criadora. Cada uma dessas Tríadas torna-se menos metafísica e mais adaptada à inteligência vulgar à medida em que desce. A última torna-se assim apenas o símbolo em sua expressão concreta; conclusão necessária de uma concepção puramente metafísica. (A Metafísica é uma das disciplinas fundamentais da filosofia. Os sistemas metafísicos, em sua forma clássica, tratam de problemas centrais da filosofia teórica. São tentativas de descrever os fundamentos, as condições, as leis, a estrutura básica, as causas ou princípios; bem como o sentido e a finalidade da realidade como um todo ou dos seres em geral. Um ramo central da metafísica é a ontologia, a investigação sobre as categorias básicas do ser e como elas se relacionam umas com as outras. outro ramo central da metafísica é a cosmologia, o estudo da totalidade de todos os fenômenos no universo. Concretamente, isso significa que a Metafísica Clássica ocupa-se das questões últimas da filosofia, tais como: há um sentido último para a existência do mundo? A organização do mundo é necessariamente essa com que deparamos, ou seriam possíveis outros mundos? Existe um Deus? Se existe, como podemos conhecê-lo? Existe algo como um espírito? Há uma diferença fundamental entre mente e matéria? Os seres humanos são dotados de almas imortais? São dotados de livre arbítrio? Tudo está em permanente mudança, ou há coisas e relações que, a despeito de todas as mudanças aparente, permanecem sempre idênticas? O que diferencia a metafísica das ciências particulares é que a metafísica considera o inteiro do ser enquanto as ciência particulares estudam apenas partes específicas do ser). Ao lado do Svayambhu, há as dez Sephiroth dos Cabalistas hebreus, os Prajapatis hindus, o Ain Soph dos primeiros, que corresponde ao Grande Desconhecido, expresso pelo A U M místico dos últimos. Diz A. Franck, o tradutor da Cabala: Os dez Sephiroth ( ... ) dividem-se em três classes, cada uma das quais nos apresenta a divindade sob um aspecto diferente, embora o todo permaneça uma Trindade Indivisível. Os primeiros três Sephiroth são puramente intelectuais no que concerne à Metafísica; expressam a identidade absoluta da existência e do pensamento, e formam o que os modernos cabalistas chamam de mundo inteligível, que é a primeira manifestação de Deus. Os três seguintes ( ... ) fazem-nos conceber. Deus em um de seus aspectos, como a identidade entre bondade e sabedoria, noutro aspecto, eles nos mostram, no Bem Supremo, a origem da beleza e da magnificência (na criação). Por isso, eles se chamam virtudes, ou constituem o mundo sensível. Finalmente, sabemos, pelo último desses atributos, que a Providência Universal, o Artista Supremo, é também Força Absoluta, a causa todo poderosa, e que, ao mesmo tempo, essa causa é o elemento gerador de tudo que existe. São estes últimos Sephirot que constituem o mundo natural, ou a natureza em sua essência e em seu princípio ativo, natura naturans. Essa concepção cabalística revela-se assim idêntica à da filosofia hindu. Todo aquele que ler Platão e seu Diálogo Timeu encontrará essas ideias fielmente reproduzidas pelo filósofo grego. Timeu é um dos diálogos de Platão, principalmente na forma de um longo monólogo do personagem título, escrito por volta de 360 AC. O trabalho apresenta a especulação sobre a natureza do mundo físico e os seres humanos. É seguido pelo Diálogo Críticas. Falantes do diálogo são: Sócrates, Timeu de Locros, Hermócrates e Crítias. Alguns estudiosos acreditam que Crítias que aparece no diálogo não é o mesmo Crítias da Tirania dos Trinta, mas seu avô, que também era chamado Crítias. O diálogo ocorre um dia após Sócrates descrever seu estado ideal. Nas obras de Platão tal discussão ocorre em sua obra A República. Sócrates sente que sua descrição do estado ideal não foi suficiente para fins de entretenimento e que "eu ficaria feliz em ouvir um relato sobre a realização de operações com outros estados". Hermócrates quer obrigar Sócrates e menciona que Crítias sabe exatamente sobre isso para então fazê-lo. Crítias começa a história da viagem de Sólon ao Egito, onde ouve a história de Atlântida e como Atenas costumava ser um estado ideal que, posteriormente, travou uma guerra contra Atlântida. Crítias acredita que se adiantando em suas explicações e menciona que Timeu dirá parte da história da origem do Universo para o homem. A história de Atlântida é adiada e escrita então por Crítias. O conteúdo principal do diálogo segue-se pela exposição de Timeu.  Timeu começa com uma distinção entre o mundo físico e o mundo eterno. O mundo físico é o mundo que muda e perece; é o objeto de parecer e de sensação irracional. O mundo eterno não muda nunca; por isso é apreendido pela razão. Os discursos sobre os dois mundos são condicionados pela natureza distinta de seus objetos. De fato, uma descrição do que é imutável, fixo e claramente inteligível será imutável e fixo, enquanto uma descrição do que muda, provavelmente, também vai mudar e ser apenas provável. Timeu sugere que nada se torna ou muda sem causa, então a causa do universo deve ser um Demiurgo ou um deus, uma figura que Timeu refere-se a como  o pai e criador do universo. E já que o universo é justo, o Demiurgo deve ter olhado para o modelo eterno para transformá-lo e não à um modelo perecível. Assim, usando o mundo eterno e perfeito de "formas" ou ideais como um modelo, ele começou a criar o nosso mundo, que anteriormente só existia em um estado de desordem. No Diálogo Timeu, Platão utiliza a noção de Demiurgo  como inteligência ordenadora do Universo, noção esta que Platão recebeu de Anaxágoras (500 AC 428). Todavia, diferentemente deste Nous de Anaxágoras, o Demiurgo em Platão não seria apenas inteligência, uma vez que haveria nele um caráter artesanal, que constitui, ao lado da persuasão e da ação ordenadora, a atividade prática desse artífice. O Demiurgo contempla e produz, existindo nele atividades teóricas e prática inseparáveis. Ele não seria um simples artesão, mas aquele que produz transferindo para as cópias as virtudes de um modelo. No diálogo, há uma série de analogias ligadas ao trabalho manual do artesão. De fato, o Demiurgo produz a Alma do Mundo, a Alma Humana e a Alma Vegetativa, utilizando técnicas de metalurgia. Constitui o corpo do mundo como uma construção semelhante a de um edifício; na produção da esfericidade do corpo do mundo, na fabricação dos ossos e do esqueleto, utilizando técnicas de cerâmica. Além disso, é qualificado de modelador de cera e conhecedor da arte de entrançar. Além disso, no Timeu encontra-se a teoria das formas inteligíveis, que explicaria a natureza do mundo sensível. Pelas ideias poder-se-ia explicar a natureza do universo ou da totalidade das coisas sensíveis. Estas estão sujeitas a geração e foram criadas de acordo com um modelo (paradigma eterno). Assim, causas imutáveis seriam aplicadas ao que é  instável por natureza e as coisas sensíveis teriam nas formas inteligíveis a própria possibilidade de existência. Além disso, a imposição do segredo era tão escrita para os cabalistas, como o era para os iniciados de Adyta e os Yogues hindus. "Fecha tua boca, para que não fales disso (os mistérios), e teu coração, para que não penses em voz alta; e se teu coração escapar, trá-lo de volta, pois tal é o objetivo de nossa aliança. Esse é o segredo que dá morte; fecha tua boca para não revelá-lo ao vulgo; comprime teu cérebro para que nada escape dele e caia noutra parte". Agrushada Parikshai.  Na verdade, o destino de muitas gerações futuras esteve suspenso por um frágil fio, nos dias do terceiro e quarto século. Não tivesse o Imperador enviado, em 389, a Alexandria (Egito), um edito, a que obrigaram os cristãos, para a destruição de todos os ídolos, nosso próprio século jamais teria tido um panteão mitológico de sua própria lavra. A Escola Neo Platônica jamais atingiria tal profundidade filosófica como quando próxima de seu fim. Unindo a Teosofia mística do velho Egito com a filosofia refinada dos gregos; mais próximos dos antigos mistérios de Tebas e Mênfis como nunca o haviam sido; versados na ciência da predição e da adivinhação, assim como na arte dos terapeutas; amigos dos homens mais agudos da nação judia, que estavam profundamente imbuídos das ideias zoroastrianas, os Neo Platônicos visavam amalgamar a antiga sabedoria da Cabala Oriental com as concepções mais refinadas dos Teósofos Ocidentais. Não obstante a tradição dos cristãos, que, por razões políticas, houveram por bem repudiar, após os dias de Constantino II (316-340), os seus tutores, a influência da nova filosofia platônica é visível na adoção subsequente dos dogmas, cuja origem pode ser remontada com muita facilidade a essa notável Escola. Embora mutilados e desfigurados, eles ainda preservam uma forte semelhança familiar, que nada pode obliterar. Mas, se o conhecimento dos poderes ocultos da Natureza abre a percepção espiritual do homem, alarga-lhe as faculdades intelectuais, e o leva infalivelmente a uma veneração mais profunda do Criador, por outro lado a ignorância, a estreiteza dogmática e um medo infantil de contemplar o fundo das coisas levam invariavelmente ao fetichismo e à superstição. Quando Cirilo (378-444), o Bispo de Alexandria abraçou abertamente a causa de Ísis, a deusa egípcia, e a antropomorfizou em Maria, a mãe de Deus, e a controvérsia Trinitária instalou-se, desde esse momento, a doutrina egípcia da emanação do Deus criador oriundo de Emepht começou a ser torturada de mil maneiras, até que o Concílio concordou com a sua adoção na forma atual, que vem a ser o Ternário desfigurado dos cabalistas Salomão e Filon! Mas como sua origem era ainda por demais evidente, deram o nome de Cristo ao leste, ao Adão Cadmo, ao Verbo, ao Logos, identificando-o em essência e existência com o Pai ou Ancião dos Dias. A Sabedora Oculta, segundo o dogma cristão, tornou-se idêntica e coeterna com a sua emanação, o Pensamento Divino". Abraço. Davi.

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