Espiritualidade. www.osho.com.br. A ARTE DE VIVER. Escrito por Osho (1931-1990). "O homem
nasce para atingir a vida, mas tudo depende dele. Ele pode perdê-la. Ele pode
seguir respirando, ele pode seguir comendo, ele pode seguir envelhecendo, ele
pode seguir se movendo em direção ao túmulo – mas isso não é vida. Isso é morte
gradual, do berço ao túmulo, uma morte gradual com a duração de setenta anos. E
porque milhões de pessoas ao redor de você estão morrendo essa morte lenta e
gradual, você também começa a imitá-los. As crianças aprendem tudo
daqueles que estão em volta delas e nós estamos rodeados pelos mortos. Então
temos que entender primeiro o que eu entendo por “vida”. Ela não deve ser
simplesmente envelhecer. Ela deve ser desenvolver-se. E isso são duas coisas
diferentes. Envelhecer, qualquer animal é capaz. Desenvolver-se é prerrogativa
dos seres humanos. Somente uns poucos reivindicam esse
direito. Desenvolver-se significa mover-se a cada momento mais profundamente
no princípio da vida; significa afastar-se da morte – não ir na direção da
morte. Quanto mais profundo você vai para dentro da vida, mais entende a
imortalidade dentro de você. Você está se afastando da morte: chega a um
momento em que você pode ver que a morte não é nada, apenas um trocar de roupas
ou trocar de casas, trocar de formas – nada morre, nada pode morrer. A morte é
a maior ilusão que existe. Como desenvolver-se? Simplesmente observe uma
árvore. Enquanto a árvore cresce, suas raízes crescem para baixo, tornam-se
mais profundas. Existe um equilíbrio; quanto mais alto a árvore vai, mais fundo
as raízes vão. Na vida, desenvolver-se significa crescer profundamente para
dentro de si mesmo – que é onde suas raízes estão. Para mim o primeiro princípio
da vida é meditação. Tudo o mais vem em segundo lugar. E a infância é o melhor
momento. À medida que você envelhece, significa que você está chegando mais
perto da morte, e se torna mais e mais difícil entrar em meditação. Meditação
significa entrar na sua imortalidade, entrar na sua eternidade, entrar na sua
divindade. E a criança é a pessoa mais qualificada porque ela ainda está sem a
carga da educação, sem a carga de todo o tipo de lixo. Ela é inocente.
Mas infelizmente a sua inocência está sendo considerada como ignorância.
Ignorância e inocência tem uma similaridade, mas elas não são a mesma coisa.
Ignorância também é um estado de não conhecimento, tanto quanto a inocência é.
Mas também existe uma grande diferença que passou despercebida por toda a
humanidade até agora. A inocência não é instruída – mas também não é desejosa
de ser instruída. Ela é totalmente contente, preenchida (...). O primeiro passo
na arte de viver será criar uma linha de demarcação entre ignorância e
inocência. Inocência tem que ser apoiada, protegida – porque a criança trouxe
com ela o maior tesouro, o tesouro que os sábios encontram depois de esforços
árduos. Os sábios têm dito que se tornaram crianças novamente, que eles
renasceram (...). Sempre que você perceber que perdeu a oportunidade da vida, o
primeiro princípio a ser trazido de volta é a inocência. Abandone o seu
conhecimento, esqueça as suas escrituras, esqueça as suas religiões, suas
teologias, suas filosofias. Nasça novamente, torne-se inocente – e a possibilidade
está em suas mãos. Limpe a sua mente de todo conhecimento que não foi
descoberto por você mesmo, de todo conhecimento que foi tomado emprestado dos
outros, tudo o que veio pela tradição, convenção, tudo o que lhe foi dado pelos
outros – pais, professores, universidades. Simplesmente desfaça-se disso.
Novamente seja simples, mais uma vez seja uma criança. E esse milagre é
possível pela meditação. Meditação é
apenas um método cirúrgico não convencional que corta tudo aquilo que não é seu
e só preserva aquilo que é o seu autêntico ser. Ela queima tudo o mais e o
deixa nu, sozinho embaixo do sol, no vento. É como se você fosse o primeiro
homem que tivesse descido na Terra – que nada sabe e que tem que descobrir
tudo, que tem que ser um buscador, que tem que ir em peregrinação. O segundo princípio é a peregrinação. A vida
deve ser uma busca – não um desejo, mas uma pesquisa: não uma ambição para
tornar-se isso, para tornar-se aquilo, um presidente de um país, ou um
primeiro-ministro, mas uma pesquisa para encontrar “Quem sou eu?”. É muito
estranho que as pessoas que não sabem quem elas são, estão tentando se tornar
alguém. Elas nem mesmo sabem quem elas são neste momento! Elas não conhecem os
seus seres – mas elas têm um objetivo de vir a ser. Vir a ser é a doença da
alma. O ser é você e descobrir o seu ser é o começo da vida. Então cada momento
é uma nova descoberta, cada momento traz uma alegria. Um novo mistério abre as
suas portas, um novo amor começa a crescer em você, uma nova compaixão que você
nunca sentiu antes, uma nova sensibilidade a respeito da beleza, a respeito da
bondade. Você se torna
tão sensível que até a menor folha de grama passa a ter uma importância imensa
para você. Sua sensibilidade torna claro para você que essa pequena folha de
grama é tão importante para a existência quanto a maior estrela; sem essa folha
de grama, a existência seria menos do que é. E essa pequena folha de grama é
única, ela é insubstituível, ela tem a sua própria individualidade. E essa sensibilidade criará novas amizades para
você – amizades com árvores, com pássaros, com animais, com montanhas, com
rios, com oceanos, com as estrelas. A vida se torna mais rica enquanto o amor
cresce, enquanto a amizade cresce (...). Quando você se torna mais sensível, a
vida se torna maior. Ela não é um pequeno poço, ela se torna oceânica. Ela não
está confinada a você, sua esposa e seus filhos – ela não é confinada de jeito
algum. Toda essa existência se torna a sua família e a não ser que toda essa
existência seja a sua família, você não conheceu o que é a vida – por que homem
algum é uma ilha, nós estamos todos conectados. Nós somos um vasto continente,
unidos de mil maneiras. E se o nosso coração não está cheio de amor pelo todo,
na mesma proporção a nossa vida é diminuída. A meditação lhe traz
sensibilidade, uma grande sensação de pertencer ao mundo. Este é o nosso mundo
- as estrelas são nossas e nós não somos estrangeiros aqui. Nós pertencemos
intrinsecamente à existência. Nós somos parte dela, nós somos o coração dela.
Em segundo lugar, a meditação irá lhe trazer um grande silêncio – porque todo o
lixo do conhecimento foi embora, pensamentos que são partes do conhecimento
foram embora também (...). Um imenso silêncio e você é surpreendido – esse
silêncio é a única música que existe. Toda música é um esforço para manifestar
esse silêncio de algum modo. Os videntes do antigo oriente foram muito
enfáticos a respeito da questão de que todas as grandes artes – música, poesia,
dança, pintura, escultura – são todas nascidas da meditação. Elas são um
esforço para, de algum modo, trazer o incompreensível para o mundo do
conhecimento, para aqueles que não estão prontos para a peregrinação –
presentes para aqueles que ainda não estão prontos para partirem na
peregrinação. Talvez uma canção possa despertar um desejo de ir em busca da
fonte, talvez uma estátua. Na próxima vez que em você entrar em um templo
de Gautama Budha ou de Mahavira, sente-se silenciosamente e olhe a estátua
(...) porque a estátua foi feita de tal forma, em tal proporção que se você
olhá-la, você cairá em silêncio. É uma estátua de meditação; não é a respeito
de Gautama Budha ou de Mahavira (...). Naquele estado oceânico, o corpo toma uma certa postura. Você próprio
já observou isso, mas não estava alerta. Quando você está com raiva, você
observou? seu corpo tomou uma certa postura. Na raiva você não pode manter as
suas mãos abertas: na raiva, a mão se fecha. Na raiva você não pode sorrir ou
você pode? Com uma certa emoção, o corpo tem que seguir uma certa postura.
Pequenas coisas estão profundamente relacionadas no interior (...). Uma certa ciência secreta foi usada por séculos,
de modo que as gerações futuras pudessem entrar em contato com as experiências
das gerações mais velhas – não através de livros, não através de palavras, mas
através de algo que vai mais profundo – através do silêncio, através da
meditação, através da paz. À medida que seu silêncio cresce, sua amizade
cresce, seu amor cresce; sua vida se torna uma dança, momento a momento, uma
alegria, uma celebração. Você já pensou
sobre o porquê, em todo o mundo, em toda cultura, em toda sociedade, existem
uns poucos dias no ano para a celebração? Esses poucos dias para a celebração
são apenas uma compensação – porque essas sociedades tiraram toda a celebração
de sua vida e se nada é dado para você em compensação, sua vida pode tornar-se
um perigo para a cultura. Toda cultura criou alguma compensação e assim você
não se sentirá completamente perdido na miséria, na tristeza (...). Mas essas
compensações são falsas. Mas no seu mundo interior pode existir uma
continuidade de luz, canções, alegria. Sempre lembre-se que a sociedade o compensa quando ela sente que a
repressão pode explodir em uma situação perigosa se não for compensada. A
sociedade encontra algum jeito de lhe permitir soltar a repressão. Mas isso não
é a verdadeira celebração, e não pode ser verdadeira. A verdadeira celebração
deveria vir de sua vida, na sua vida. E a celebração não pode estar de acordo com o calendário, que no
primeiro dia de novembro você irá celebrar. Estranho, o ano todo você é
miserável e no primeiro dia de novembro, de repente, você sai da miséria,
dançando. Ou a miséria era falsa ou o primeiro de novembro é falso; ambos não
podem ser verdadeiros. E uma vez que o primeiro de novembro se vai, você está
de volta em seu buraco negro, todo mundo em sua miséria, todo mundo em sua
ansiedade. A vida deveria ser uma celebração contínua, um festival de
luzes por todo o ano. Somente então você pode se desenvolver, você pode florir.
Transforme pequenas coisas em celebração (...). Tudo o que você faz deveria
expressar a si próprio; deveria ter a sua assinatura. Então a vida se torna uma
celebração contínua. Inclusive se você adoece e você está deitado na cama,
você fará daqueles momentos de repouso, momentos de beleza e alegria, momentos
de relaxamento e descanso, momentos de meditação, momentos para ouvir música ou
poesia. Não há necessidade de ficar triste porque você está doente. Você
deveria estar feliz porque todo mundo está no escritório e você está na cama
como um rei, relaxando - alguém está preparando chá para você, o samovar está
cantando uma canção, um amigo se oferece para vir e tocar flauta para você.
Essas coisas são mais importantes do que qualquer remédio. Quando você está
doente, chame um médico. Mas, mais importante, chame aqueles que o amam porque
não existe remédio mais importante que o amor. Chame aqueles que podem criar
beleza, música, poesia à sua volta, porque não existe nada que cure como uma
atmosfera de celebração. O medicamento é
o mais baixo tipo de tratamento. Mas parece que nós esquecemos tudo, assim nós
temos que depender dos medicamentos e ficar rabugentos e tristes – como se você
estivesse perdendo uma grande alegria que havia quando você estava no
escritório! No escritório você era miserável – simplesmente um dia de folga,
mas você também se agarra à miséria, você não a deixa ir. Faça todas as
coisas criativas, faça o melhor a partir do pior – isso é o que eu chamo de
arte. E se um homem viveu toda a vida fazendo a todo momento uma beleza, um
amor, um desfrute, naturalmente a sua morte será o supremo pico no empenho de
toda a sua vida. Os últimos
toques (...) sua morte não será feia como ordinariamente acontece todo dia com
todo mundo. Se a morte é feia, isso significa que toda a sua vida foi um
desperdício. A morte deveria ser uma aceitação pacífica, uma entrada amorosa no
desconhecido, um alegre despedir-se dos velhos amigos, do velho mundo (...).
Comece com a meditação e muitas coisas crescerão em você – silêncio, serenidade,
êxtase, sensibilidade. E o que quer que venha com a meditação, tente trazer
para a sua vida. Compartilhe isso, porque tudo o que é compartilhado cresce
mais rápido. E quando você atingir o momento da morte, você saberá que não
existe morte. Você pode dizer adeus, não existe nenhuma necessidade de lágrima
de tristeza – talvez lágrimas de felicidade, mas não de tristeza”. www.oshobrasil.com.br.
Abraço. Davi.
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