domingo, 17 de agosto de 2025

O CAMINHO DO DISCERNIMENTO

Hinduismo. Srimad Bhagavad Gita - O Canto do Senhor. Por Swami Vijoyananda. Capítulo II. O CAMINHO DO DISCERNIMENTO. 1- Disse Sanjaya: A ele, que estava assim abatido pelo pesar e compaixão, com os olhos cheios de lágrimas e com a mente confusa, Madhusudana (Krishna) disse o seguinte: 2– Disse o BENDITO SENHOR: Neste momento crítico, ó Arjuna, de onde vem esta tua indigna debilidade, não-ariana, baixa e contrária ao logro da vida celestial? 3– Não te portes como um eunuco (carente de masculinidade), ó Partha, isto é indigno de ti, afasta esta debilidade de coração e ergue-te, ó destruidor dos inimigos! 4– Disse Arjuna: Mas, ó Madhusudana, ó destruidor dos inimigos, como queres que combata com flechas a Bhisma e Drona, merecedores de toda a veneração? 5– Sem dúvida seria melhor para mim viver mendigando, do que matar a estes nobres senhores. Mas se chegar a matar-lhes, então todos os nossos bens e prazeres neste mundo estariam manchados com seu sangue. 6– Não sabemos o que seria melhor, vencer ou sermos vencidos. Estes filhos de Dhritarashtra, a cuja destruição não queremos sobreviver, aí estão diante de nós. 7– Minha própria natureza está esmagada pela compaixão; a mente está perplexa com respeito ao dever. Diga-me, te suplico, o que seria definitivamente bom para mim; tomei refúgio em Ti, sou teu discípulo, instrua-me. 8– Ainda que eu fosse um rei próspero neste mundo, sem rivais e dominasse os seres celestiais, não vejo realmente o que poderia quitar este pesar que está consumindo meus sentidos. 9– Disse Sanjaya: Falando desta maneira a Hrishikesha, Gudakesha (o que domina o sono: Arjuna), o vencedor dos inimigos, disse de novo: “Ó Govinda, não vou lutar” e ficou em silêncio. 10– Ó Bhárata, então Hrishikesha, sorrindo, disse o seguinte ao que se lamentava entre ambos os exércitos. 11– Disse o BENDITO SENHOR: Estás te lamentando pelos que não o merecem e, no entanto, falas como um sábio. Os verdadeiros sábios não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos. 12– Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem tu, nem esses reis, nem deixaremos de existir no futuro. 13– Assim como o ser encarnado tem sua infância, juventude e velhice, assim também ele toma outro corpo. Os sábios jamais se confundem sobre este ponto. 14– Ó Kounteya (Arjuna), as noções de calor e frio, de prazer e dor, nascem do contato dos sentidos com os objetos; tem origem e fim e são transitórias. Suporte-as, Ó Bhárata! 15– Ó tu, o melhor dos homens, só aquele que não se aflige por estas modificações e é equânime no prazer e na dor, logra a imortalidade. 16– O irreal jamais existe, o real nunca é inexistente. Os sábios conhecem esta verdade. 17– Saiba que é imortal Aquele que interpenetra tudo isto (o universo). Ninguém pode destruir este princípio imutável. 18– Estes corpos, em que mora o eterno, imortal e incomensurável Ser, têm fim, portanto luta, ó Bhárata! 19– Aquele que pensa que este Ser mata e aquele que pensa que este Ser morre, os dois são ignorantes; o Ser não mata nem morre. 20– O Ser não nasce, nem morre, nem se reencarna, não tem origem, é eterno, imutável, o primeiro de todos e não morre quando matam o corpo. 21– Aquele que sabe que o Ser é imortal, eterno, sem nascimento e imutável, como pode matar ou ser morto? 22– Como alguém deixa suas vestes gastas e coloca outras novas, assim o Ser corpóreo, deixa seu corpo gasto e entra em outros novos. 23– As armas não o cortam, o fogo não o queima, a água não o molha e o vento não o seca. 24– A este Ser não se pode cortar, nem queimar, nem molhar, nem secar, é eterno, onipresente, estável, imóvel e primordial. 1525– Se diz que este Ser é não-manifestável, impensável e imutável; sabendo que é assim, não deves lamentar-te. 26-27– Mas, ó tu de braços poderosos, se pensas que este Ser sempre nasce e morre, ainda assim não deves afligir-te por ele, porque o que nasce, morre e o que morre, renasce com certeza. Portanto não deves sofrer pelo inevitável. 28– Ó Bhárata! Os seres ao princípio não são manifestados; no meio, se manifestam e por último, permanecem não-manifestados. Então por que te afliges por eles? 29– Ao Ser, alguém o considera como algo maravilhoso, outro fala dele maravilhado; um terceiro ouve dele com maravilha, e há quem mesmo ouvindo sobre ele, o desconhece. 30– Ó Bhárata! Este Ser que mora em todos os corpos é sempre indestrutível, portanto não deves lamentar-te por nenhuma criatura. 31– Considerando teu dever, tampouco deverias vacilar, porque para um kshatriya (da casta guerreira) não há melhor sorte que lutar por uma causa justa. 32– Ó Partha! (Arjuna), são realmente afortunados aqueles kshatriyas, a quem se apresenta a grande oportunidade de lutar em uma guerra semelhante, que lhes abre as portas do céu. 33– Mas, se tu não lutares nesta guerra justa, não farás jus a tua reputação, faltarás a teu dever e cometerás um pecado. 34– Além disso, as pessoas falarão de tua eterna desgraça, o que para um fidalgo é pior que a morte. 35-36– Estes grandes guerreiros que estão em seus carros, considerarão que tu, por medo, te retiraste da batalha; eles te estimam muito e agora cairás em desgraça. Teus inimigos falarão de ti em termos pouco lisonjeiros. Há algo mais lamentável que isto? 37– Se morres na batalha ganharás o céu; se consegues a vitória, desfrutarás da terra. Assim que, levanta-te, decidido a lutar. 38– Considerando igual ao prazer e a dor, a vitória e a derrota, preparate para lutar e assim não pecarás. 1639– Já lhe ensinei a atitude necessária com relação ao conhecimento do Ser; agora ouve sobre a atitude com relação ao caminho da ação, dotado da qual, ó Partha, te libertarás das amarras. 40– Neste (caminho da ação) não se perde nenhum esforço por mais incompleto que seja, nem se produzem resultados contraditórios. Mesmo um pouco desta disciplina salva a uma pessoa de grande risco. 41– Neste caminho, ó Kourava (descendente de Kurú), existe uma só determinação que se dirige ao objetivo único. Os propósitos dos indecisos são inumeráveis e de formas diversas. 42-44– Ó Partha, os néscios, cujas mentes estão cheias de desejos, que consideram a vida celestial como sua meta mais elevada, que estão enamorados pelos panegíricos védicos, que consideram como algo muito superior, estes ignorantes falam em conhecidos termos floridos com relação a diversos tipos de cultos védicos que originam os nascimentos, ações e seus resultados, como meios para o prazer e o poder. Aqueles que estão atados a eles e se deixam levar por estas frases floridas, jamais logram a determinação única, que conduz o homem ao samadhi (absorção espiritual). 45– Os Vedas tratam os temas relacionados aos três gunas (aspectos ou qualidades). São a pureza, a ação e a inércia (componentes da natureza psicofísica). Mantendo-se equilibrado, ó Arjuna, libere-se da trindade dos gunas, dos pares de opostos (frio e calor, prazer e dor, etc.), de adquirir e conservar e estabelece-te no Atman (Ser). 46– Como o propósito de regar por várias fontes torna-se sem efeito quando chega a inundação, assim se alcança o propósito de estudar os Vedas pela realização íntima do Ser. 47– Só tens direito ao trabalho, não aos seus frutos. Que estes frutos jamais sejam o motivo de seus atos, nem fiques preso na inação. 48– Ó Dhananjaia, estabelece-te neste yoga, renuncia ao apego, seja indiferente ao êxito e ao fracasso e assim faça tudo. Esta equanimidade é o yoga. 49- Ó Dhananjaia, qualquer trabalho que se faça motivado pelo desejo é muito inferior ao que se faz com a mente não perturbada pelos resultados esperados. Refugia-te nesta tranqüilidade. Infelizes são os que trabalham ansiando os resultados. 50– Quando se tem esta tranqüilidade mental se libera, mesmo nesta mesma vida, do bem e do mal. Assim que, dedique-se a prática deste yoga. Karma Yoga significa a habilidade na ação. 1751– O sábio que possui esta tranqüilidade e se afasta dos frutos de suas ações, se libera das amarras do nascimento, crescimento, etc., e alcança um estado no qual não existe nenhum mal. 52– Quando tua compreensão ultrapassar os conceitos ilusórios, irás adquirir a indiferença com relação ao que ouviste e ao que deves ouvir. 53– Quando se aclarar tua compreensão perplexa por causa das diferentes opiniões e te estabeleças no samadhi (absorção espiritual), então lograrás o yoga. 54– Disse Arjuna: Ó Keshava, como defines ao homem de conhecimento firme e estabelecido no samadhi? Como fala, como caminha, como se senta o homem de conhecimento firme? 55- Disse o BENDITO SENHOR: Ó Partha, aquele que renuncia a todos os desejos e permanece satisfeito em seu próprio Ser, é considerado um homem de conhecimento firme. 56– Aquele que permanece imperturbável na adversidade e não anela a felicidade, que não tem apego, nem medo, nem ira, é um muni de sabedoria firme. (Muni significa: sábio que guarda silêncio.) 57– É permanente a sabedoria daquele que se mantêm desapegado em todas as situações, que não se regozija no bem-estar, nem se sente molestado no mal-estar. 58– E quando ele retira completamente os sentidos dos respectivos objetos, como a tartaruga oculta os membros do corpo em sua carapaça, então seu conhecimento se consolida. 59– Os objetos se desprendem do abstinente, porém não o desejo de gozo. Aquele que realiza o Ser Supremo se libera até deste desejo. 60– Ó Kouteya, os turbulentos sentidos forçam a ir pelo mau caminho, a mente daquele que está lutando para chegar à perfeição. 61– Controlando-os, o homem de conhecimento firme deve meditar em Mim. Sem dúvida, a sabedoria daquele que controlou seus sentidos não vacila mais. 62-63– Naquele que pensa nos objetos, nasce o apego, do apego nasce o desejo, do desejo (frustrado) nasce a ira, da ira nasce a ofuscação, da ofuscação nasce a confusão da memória, em seguida a vontade se destrói e então o homem perece. 1864– Mas o homem controlado, com seus sentidos restringidos, livre da atração e aversão, ainda que se mova entre os objetos, alcança a paz. 65– Ao alcançar a paz, todos seus pesares desaparecem. Na verdade, logo se manifesta a sabedoria do homem sereno. 66– Em troca, para aquele sem controle, não existe a sabedoria nem a meditação. Aquele que não medita não tem paz e sem a paz, como se pode lograr a felicidade? 67– Como o vento leva ao barco para fora de sua rota, assim perde-se a consciência quando a mente é levada pelos intranqüilos sentidos. 68– Por isso, ó tu de poderosos braços, aquele cujos sentidos diante dos objetos são bem controlados, alcançou o conhecimento firme. 69– O que é noite para os seres comuns, é dia para o homem de autocontrole e o que é dia para aqueles é noite para o conhecedor do Ser. (O homem comum é ignorante do supremo conhecimento, o qual é logrado pelo homem de autocontrole. A consciência do homem comum, que está sempre intranqüila, é puramente sensória; o sábio é indiferente a este tipo de consciência.) 70- Só alcança a paz o muni (sábio silencioso ou quem sempre pensa em Deus) em quem entram os desejos do mesmo modo que os rios no pleno e plácido oceano, sem perturbá-lo e não aquele que deseja os prazeres. 71– Aquele que vive desapegado, que abandona todos os desejos e que não tem noção alguma de ‘eu’ e ‘meu’, alcança a paz. 72– Ó Partha, este é o estado de estabelecer-se em Brahman, alcançando o qual não permanecem mais as ilusões. Mesmo que se consiga este estado no momento da morte, o homem alcança BrahmaNirvana e se identifica com o Supremo. Abraço. Davi

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