Religião Afro-brasileira. Umbanda. Por Rubens Saraceni (1951-2015). O VERDADEIRO SENTIDO DA UMBANDA. A Umbanda, ao contrário do que muitos imaginam, não é só trabalhos magísticos ou despachos na “encruza”. Como religião, ela possui todo um fundo magístico, mas que se desdobra em recursos acessíveis a todos que dela se aproximam. Muitos buscam na Umbanda a cura para seus espíritos enfraquecidos nas lides diárias, e muitos encontram nela uma via natural pela qual se religam espiritualmente com seus afins do plano astral. Esse religamento acelera a evolução espiritual de tal forma que, após alguns anos, o umbandista possui uma noção muito ampla do que seja o outro lado da vida. Como na Umbanda direita e esquerda se manifestam dentro de um equilíbrio regido pelo alto, mais fácil é a compreensão dos umbandistas a respeito das ações e reações, causas e efeitos e acerca do carma individual. Umbanda é religião, é conhecimento, é magia e espiritualização, animados pela fé interior de cada um que resulta no que chamamos de “religião umbandista”. Em que o socorro espiritual convive com o despertar da consciência para as verdades maiores. Por isso, temos assentado que o verdadeiro sentido da Umbanda é acelerar a evolução espiritual e o aperfeiçoamento consciencial e religioso dos seus praticantes. Se não, vejamos: 1. A Umbanda não recusa fiéis de outras religiões entre os consulentes que frequentam assiduamente suas tendas de trabalho. 2. A Umbanda não obriga ninguém a renegar sua religião para poder participar de suas engiras. 3. Todas as religiões estão representadas dentro do Ritual de Umbanda Sagrada, na qual linhas de ação e trabalhos cristãs, hinduístas, islâmicas, persas e egípcias atuam ocultadas por nomes simbólicos ainda não interpretados corretamente. Ou sequer apercebidas mesmo pelos médiuns que incorporam espíritos ligados a elas. Com isso, queremos dizer que a Umbanda Sagrada é o congraçamento de todos os espíritos e a reunião do que há de melhor em todas as religiões ainda ativas ou já adormecidas na mente dos espíritos encarnados que somos nós. Umbanda é fé, é caridade, é conhecimento, é magia e é ecumenismo religioso. Sob o teto de um templo de Umbanda manifesta-se o caboclo índio, o preto-velho, o mestre hindu, o sábio chines, o descontraído exu e a exuberante pombagira. Aí está sintetizado o verdadeiro sentido da Umbanda. União de todas as correntes astrais e de todas as linhas de pensamento que têm norteado a humanidade a harmonização do ser com todas as religiões. Os Rituais. Para que servem? Quando os utilizar? Até que ponto resolvem? Comecemos por definir o que seja ritual: Ritual é uma forma particular de se cultuar o alto do Altíssimo e cada religião possui seu ritual próprio, que a distingue de todas as outras. Proporcionando aos seus fiéis uma individualização quando se colocam em contato mental com a divindade maior que rege sua religião. Dentro do ritual de uma religião nós temos os subníveis, ou suas práticas religiosas. O ritual identificador de uma religião tem como função envolver, estimular e congraçar em um mesmo nível vibratório mental e religioso todos os seus fiéis. É quando todos os seres reunidos em num mesmo espaço desarmam seus emocionais. Anulam suas intolerâncias, animosidades, receios, medos e angústias e passam a vibrar num mesmo sentido a fé em Deus. Se nos fosse possível sintetizar o significado superior da palavra “ritual”, diríamos. É o ordenamento emocional, o direcionamento mental e a vibração consciente que nos colocam em sintonia direta com as divindades maiores. Quando utilizar. Como dissemos há pouco, temos os rituais utilizados no sentido de harmonização vibratória das pessoas reunidas num mesmo espaço e sob uma mesma irradiação religiosa, com as mesmas práticas sub rituais. As práticas sub rituais são utilizadas em muitas ocasiões. Citemos algumas: Encontro de fiéis de uma mesma religião, quando recorrem a um modo particular de cumprimento e saudação. Modo íntimo ou pessoal de se orar as divindades, nos espaços religiosos ou nos momentos de congraçamento familiar. Oferendas, rituais, votivas, propiciatórias, divinatórias, consagradas etc. Quando cada sub ritual, ainda que conserve em sua essência os fundamentos do ritual, tem seu modo e ritualística próprios para cada fim que se almeja alcançar. Até que ponto resolvem: Essa é a questão mais discutível. Mesmo realizando uma prática ritual com um fim específico, fatores imponderáveis podem alterar os resultados. Vamos imaginar um exemplo. 1º Um fiel de uma religião vai inaugurar uma loja ou casa de comércio. 2º Ele solicita ao seu sacerdote que realize um ritual propiciatório ao êxito e prosperidade de seu novo local, onde irá ganhar o seu pão abençoado. 3º o sacerdote recorre a uma prática sub ritual e consagra e abençoa o lugar em questão, tornando-o vibratoriamente positivo ao bom êxito e a prosperidade. 1ª ocorrência: o fiel em questão, movido pela sua fé religiosa e confiança no seu trabalho e na sua capacidade profissional, inaugura sua loja ... e prospera rapidamente. 2ª ocorrência: o local foi tornado positivo, mas o fiel, apesar de sua imensa fé, não é um bom profissional no trato dos seus clientes, na escolha das mercadorias a serem expostas, ou na obtenção do menor custo etc., e não prospera. Conclusão: Nos rituais propiciatórios, tanto o ritual utilizado quanto o santo invocado pouco resolvem se o beneficiário não merecer. A importância da educação mediúnica. A educação mediúnica é de suma importância para quem realiza práticas magísticas ou religiosas de fundo espiritual, espiritualista ou espiritualizador. Se não, vejamos: Quando alguém adentrar pela primeira vez em um templo de Umbanda, notará que os praticantes fazem certas saudações rituais de significado ou valor por ele desconhecidos. O comportamento exterior dos praticantes se altera. Eles se tornam diferentes dentro do recinto consagrado as práticas religiosas. Tudo isso faz parte da educação mediúnica e os comportamentos têm de estar afinizados com o que se realiza dentro de um espaço consagrado. Mas até aqui ainda estamos abordando aspectos exteriores da formação religiosa, pois ao nos voltarmos para o interior dela, deparamo-nos com a educação mediúnica. Para colocar o médium em sintonia com o mundo invisível, cria-se uma predisposição às manifestações espirituais e aos rituais magísticos. A educação mediúnica é muito importante, pois só se reeducando internamente é que um médium alcança níveis vibratórios mentais e conscienciais que lhe facultam os níveis espirituais superiores. A sintonização mental com seu mestre individual, a neutralização de possíveis vícios antagônicos com as práticas religiosas e a compreensão ou percepção do que acontece à sua volta. Mas não é visível, assim como do que está acontecendo dentro de seu campo mediúnico. Quando bem-educado mediunicamente, sua sensitividade é capaz de identificar presenças positivas ou negativas que adentrem em seus limites vibratórios. Aí temos, em poucas linhas, um apanhado de com a boa educação mediúnica auxilia os praticantes ou médiuns. Mitos. Os mitos sempre têm um pouco de verdade e um pouco de fantasia. É comum dizer que quem desenvolver sua mediunidade torna-se mais capaz do que quem não a desenvolver. Isso é uma verdade se quem se desenvolveu também compreendeu os compromissos que assumiu. Mas é pura fantasia se ele nada entendeu e logo começou a enfiar os pés pelas mãos. Se ele adquiriu um poder relativo, começa a se chocar com um poder absoluto: a Lei da Ação e da Reação. Assim, sua suposta superioridade logo o lança num sensível abismo consciencial. Portanto, tratando-se de mediunidade, todo cuidado é pouco e toda precaução não é o suficiente, se não estiver presente uma forte dose de humildade e compreensão. De que um médium não é um fim em si mesmo, mas sim e tão somente um meio. Preconceitos. Muitos são os preconceitos quanto à educação mediúnica. Muitas pessoas temem certas inverdades divulgadas à solapa por desconhecedores das religiões espiritualistas. Vamos a algumas colocações correntes que pululam no meio religioso: a mediunidade é uma provação, a mediunidade é uma punição cármica, a mediunidade escraviza os médiuns e a mediunidade limita o ser. Comecemos por desmentir estas colocações negativas: 1º a mediunidade não é uma provação, porém somente a exteriorização de um dom que aflorou no ser e que, se bem desenvolvida, irá acelerar sua evolução espiritual. 2º não é uma punição cármica, todavia um ótimo recurso que a Lei nos facultou para nos harmonizarmos com nossas ligações ancestrais. 3º não escraviza o médium, apenas exige dele uma conduta de acordo com o que esperam os espíritos que por intermédio dele atuam no plano material para socorrer os encarnados necessitados tanto de amparo espiritual como de uma palavra de consolo, conforto ou esclarecimento. 4º não limita o ser, pois é um sacerdócio. Ou é entendida como tal ou de nada adianta alguém ser médium e não assumir conscientemente sua mediunidade. Para concluir, podemos dizer que a mediunidade, por ser um dom, tem de ser praticada com fé, amor e caridade. Só assim nos mostramos dignos do Senhor de Todos os Dons: nosso Divino Criador ! Livro O Código de Umbanda. Abraço. Davi
Nenhum comentário:
Postar um comentário