segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

III. O LIVRO JUDAÍCO DOS PORQUÊ

Judaísmo. Por Alfred J. Kolatch (1916-2007). III. O LIVRO JUDAÍCO DOS PORQUÊ. 8. Por que a acusação de que os judeus mataram Jesus não tem fundamento histórico? A crucificação era um costume persa depois aplicado também pelos romanos. O ritual de crucificação dos romanos começava com uma severa surra. Após a qual a pessoa, a quem se cravavam pregos nas mãos e pés, era pendurada em dois pedaços da madeira cruzados. Não era permitido que o corpo da vítima tocasse o solo. O historiador judeu Flávio Josefo (37-100 d.C.) que viveu nos tempos de Jesus, relata sobre milhares de judeus crucificados pelos romanos. É fato, pois, que a crucificação era um procedimento usual dos romanos para executar os criminosos . A acusação dos cristãos de que os judeus crucificaram Jesus pode ser refutada com base nos seguintes pontos: 1. Na época em que Jesus apareceu em cena, o Sanhedrin, o tribunal máximo de justiça dos judeus, havia perdido toda autoridade para ditar sentenças em casos de pena capital. Esta autoridade era detida de forma absoluta pelos romanos. Portanto, a ordem de executar a Jesus só podia provir de uma suprema autoridade romana, especificamente Pôncio Pilatos. 2. De acordo com os relatos de Marcos 14,54 e Mateus 26,57, o Sanhedrin foi convocado para uma sessão na mesma noite em que Jesus foi preso. Tratava-se da véspera de Pêssach, Páscoa, que, nesta ocasião caiu no Shabat, Sábado. Segundo o Talmud, o Sanhedrin não poderia ter debatido esta sentença já que a. os casos de pena capital eram vistos durante o dia e b. por certo que o Sanhedrin não se reuniria para ver uma causa penal em um dia de festa e certamente não no Shabat. O Evangelho segundo Lucas 22,54-66, discorda de Marcos e Mateus neste ponto e afirma que o Sanhedrin se reuniu na manhã daquele dia. 3. Não existe evidência de que a crucificação era uma forma de pena capital usada pelos judeus. Os métodos de execução judaicos eram o apedrejamento, a queima, o estrangulamento e a morte pela espada. Os primeiros três métodos são mencionados na Bíblia e o quarto no Talmud. 9. Por que, através dos séculos, os judeus foram estigmatizados como “assassinos de Cristo”? Pôncio Pilatos, o governador romano da Terra de Israel nos tempos de Jesus, é descrito no Novo Testamento como um líder sem controle algum sobre o que sucedia a seu redor. Ainda que o Evangelho segundo Mateus o registre acusando Jesus de ser o “rei dos judeus” e, portanto, como uma ameaça ao poder romano, Pilatos é apresentado como alguém pouco desejoso de condenar Jesus a pena capital. Os responsáveis pela crucificação seriam “os principais sacerdotes e os anciãos”, que clamavam: “Seja crucificado!”, Mateus 27,11-25. Pôncio Pilatos então “lava as mãos” em público e diz: “Sou inocente do sangue deste justo”, enquanto os judeus respondem: “Que seja seu sangue sobre nós e nossos filhos”. Aqui Mateus transfere a responsabilidade pela crucificação dos romanos aos judeus. Este relato dos Evangelhos provocou durante 20 séculos o estigma dos judeus como “assassinos de Cristo”. Alguns estudiosos cristãos do Novo Testamento se compraziam em apresentar Pôncio Pilatos como uma vítima das circunstâncias e não como o impiedoso governante responsável pela morte de Jesus. Quando os Evangelhos foram elaborados, segundo dizem estes mesmos estudiosos, as relações entre a Igreja emergente e a comunidade judaica eram muito tensas. Os novos cristãos ansiavam por apresentar uma imagem altamente desfavorável dos judeus. 10. Por que o episódio de Judas tem tons marcadamente antissemitas? Conforme o Evangelho segundo Mateus, Judas Iscariotes, um dos discípulos de Jesus, apontou para os representantes da comunidade judaica que o procuravam “para prendê-lo com malícia ... e matá-lo”, Mateus 26,4. Por esta traição, Judas foi recompensado com trinta peças de prata, as quais, mais tarde, ao arrepender-se de seu ato, entregou ao tesouro do Templo. Os sacerdotes do Templo utilizaram este dinheiro para comprar um lugar para enterrar Jesus. Alguns especialistas em Bíblia afirmam que o excesso destaque que a Teologia Cristã concedeu ao incidente de Judas através dos séculos faria parte de um esforço consciente para atribuir aos judeus a responsabilidade pela morte de Jesus. O nome Judas soa tão parecido com judeus, que quando os cristãos condenaram a judas como o traidor de Jesus, conseguiram o efeito de condenar os judeus por igual. Na linguagem comum, Judas se integrou como sinônimo de traidor, avarento, e de alguém disposto a vender sua alma por dinheiro. Intencional ou não, quando alguém escuta o nome Judas, costuma associá-lo aos judeus. 11. Por que os judeus não aceitam que Jesus era alguém que fazia milagres? O Evangelho segundo João sustenta que os milagres realizados por Jesus são prova de sua natureza Divina. Quando Jesus cura os incuráveis, ressuscita os mortos , caminha sobre as águas, transforma água em vinho. Dá de comer a uma multidão de cinco mil pessoas, faz com que seu amigo Lázaro se levante da tumba. Realiza alguns dos outros 40 milagres que se lhe atribuem no Novo Testamento, ele está demonstrando que é “Deus Encarnado”. João cita Jesus dizendo: “... ainda que não creias em mim, crede nas obras, milagres, para que conheçais e creias que o Pai está em mim, e eu no Pai”, 10,38. O judaísmo nega a ideia de que as leis da natureza possam ser contrariadas. Já nos tempos talmúdicos, os rabinos expressaram que os milagres da Bíblia não eram violações das leis naturais. Mas sim eventos programados no momento da Criação. Segundo a interpretação tradicional das Escrituras, ainda que a Bíblia descreva certo número de fatos miraculosos, estes não foram considerados sobrenaturais já que Deus não estaria disposto a violar as leis da natureza que Ele mesmo estabeleceu. Este ponto de vista sobre os milagres tem regido o pensamento judaico através dos tempos. É por isto que os “fazedores de milagres” que aparecem em cena de tempos em tempos, nunca foram aceitos por qualquer corrente majoritária do judaísmo. Abraço. Davi.

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