Islamismo. A RELIGIÃO DO ISLÂ. PARTE IX. Manual para o Novo Muçulmano. Por Jamaal Zarabozo (1961 - ). O banho completo: existem quatro opiniões entre os sábios a respeito do banho completo quando da conversão ao Islam. Sem entrar em maiores detalhes, as opiniões podem ser resumidas da seguinte maneira: Uma delas é que o banho é obrigatório para toda pessoa que adote o Islam. Essa é a opinião da escola Malik e a opinião reconhecida da escola Hanbali. Outra opinião é que este banho não é obrigatório sob nenhuma circunstância. E esta opinião é apoiada por alguns membros da escola Hanbali. Uma terceira opinião diz que o banho é recomendado para qualquer pessoa que abrace o Islam. Assim opinam as escolas Hanafi, Malik e Hanbali. Por último, há uma opinião que diz que o banho é recomendado, a menos que a pessoa se encontre em estado de impureza sexual ou se a mulher estiver no período menstrual ou pós-parto, em cujos casos é obrigatório. Em ditos casos, o banho é exigido para poder alcançar o estado de pureza ritualístico necessário para realizar as orações. Parte da razão destas diferenças de opinião sobre o tema é a existência de alguns ahaadith em que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse a algumas pessoas que haviam abraçado o Islam que tomassem o banho completo. Sem dúvidas, como foi mencionado antes, para que ditos relatos (ahaadith) sejam considerados como provas para a Lei Islâmica, devem satisfazer estritas condições. Os relatos em questão têm alguns defeitos menores e são considerados fracos por muitos estudiosos de hadith. Além disso, alguns estudiosos advertem que muitas pessoas entraram no Islam, nos tempos do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) e não existem registros de que havia uma ordem ou noção geral de que ditas pessoas se banhavam como parte do processo de conversão. Inclusive, dado este argumento, os relatos que dizem que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) dizia a algumas pessoas que se banhassem, pode ser um sinal de que esse banho é recomendado, mas não obrigatório. Certamente, o novo muçulmano deve também realizar as orações. O requisito para realização da oração é que a pessoa esteja em um estado de pureza física e que o banho seja realizado com o intuito de entrar neste estado de pureza, não simplesmente com finalidade higiênica. Alguns sábios sustentam que o estado anterior da pessoa é ignorado pelo Islam, mas esse não parece ser um argumento de peso neste ponto. Se a pessoa está impura por haver mantido relações sexuais ou se uma mulher esta com hemorragias menstruais pós-parto, então deverá realizar o banho completo antes de realizar suas orações. Em resumo, e segundo evidência geral, pode-se dizer que o banho depois de realizar a declaração de fé é, em suma, um ato recomendado, mas não obrigatório. Não deve ser visto como um mero ritual sem significado algum. A pessoa que adota o Islam de maneira definitiva passa por um renascimento espiritual e empreende uma transformação de sua vida. De fato, para a maioria dos convertidos, o Islam é uma transformação que faz com que sua vida seja muito diferente à que tinha até então. Portanto, deve se preparar mental, emocional e fisicamente. Este banho elimina, metaforicamente, todos os tipos de impurezas que possam permanecer na pessoa. Assim, ele se torna pronto para empreender novos caminhos. Em todo caso, e ao menos para segurança, antes de se rezar, deve-se estar em um estado de pureza física, o qual requer um banho completo daqueles que se encontravam sexualmente impuros, mulheres em fim de período menstrual ou após hemorragia pós-parto. Eliminar todo o pelo dos dias anteriores ao Islam: Esta ação também se baseia em um hadith que a grande maioria dos estudiosos refuta e denomina como fraco. É um hadith em que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) haveria dito a um homem que acabava de informar que tinha se convertido ao Islam: “Elimina de teu corpo o pelo [dos tempos] da incredulidade.” Novamente, ainda se o hadith fosse aceito como autêntico, não se trata de uma prática muito comum nos tempos do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele), nem posteriormente. Por isso, alguns sábios entendem que este hadith se aplica somente àqueles que deixam crescem o pelo com fins religiosos. Nesse caso, devem tirá-lo ao se converterem muçulmanos. Por exemplo, nos tempos de hoje, é de conhecimento geral que os Shaikhs não tiram nenhum pelo de sua cabeça ou corpo como ato religioso. Sem dúvidas, não há nada explícito no texto que apóie esta interpretação. Mais uma vez, o hadith é fraco e, se aceito, pode-se entender como um ato recomendável, mas não obrigatório. Igual ao caso do banho, é um ato por meio do qual a pessoa elimina os restos de sua vida pré-islâmica para assim poder empreender sua nova vida como muçulmano e servo de Allah. Circuncisão: Em alguns do relatos que mencionam que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) dizia aos novos muçulmanos que se livra-se dos pelos dos dias anteriores ao Islam, também dizia que deveriam circuncidar-se. Também há outro relato que diz: “Todo aquele que adote o Islam deve estar circuncidado, ainda que seja um homem adulto.” Mas este relato nem pode ser confirmado como uma afirmação do Profeta. Não há dúvidas que a circuncisão é uma prática estabelecida no Islam. Pode ser obrigatória ou fortemente recomendada. Com certeza, não há evidências que demonstrem que se deva cumprir estes requisitos imediatamente à conversão. Existem algumas exceções que podem ser aplicadas à algumas pessoas. No passado, os sábios mencionaram, por exemplo, um adulto que abraça o Islam e teme consequências negativas devido ao processo de circuncisão. Desde então, nos tempos modernos, esta possibilidade foi reduzida, pois a circuncisão é, hoje em dia, um procedimento cirúrgico preciso e seguro. Ao mesmo tempo, em algumas partes do mundo é um pouco caro, especialmente se é considerada uma prática opcional. Esta carga financeira pode ser muito pesada para alguns convertidos, neste caso, poderiam adiar a realização até que possam custeá-la. E Allah sabe mais! As recompensas e circunstâncias especiais para o convertido Existem alguns ditos do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) que demonstram que há algumas recompensas e circunstâncias específicas para a pessoa que abraça o Islam. Em geral, a pessoa entra no islam e deixa atrás um passado cheio de boas e más ações. O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) explicou o que acontecerá à pessoa em relação às suas ações anteriores. Al Bukhari registrou em sua coleção de ahaadith autênticos: Hakim Ibn Hicham disse: “Ó Mensageiro de Allah, que pensas sobre os atos de adoração que costumava realizar nos meus dias anteriores ao Islam, como libertar escravos, manter os laços de parentesco e dar em caridade? Receberei recompensa por eles?” O Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse: “Já tens adotado o Islam sobre as coisas boas que tinhas em seu passado.” Uma possível interpretação deste hadith é que a pessoa será recompensada pelo bem que fez no passado e esta recompensa se deve à sua conversão ao Islam. De qualquer forma, há que se clarificar que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) não disse explicitamente que a pessoa seria recompensada por aquelas ações que tenha praticado antes de abraçar o Islam. Para que uma ação seja aceita por Allah, deve ser realizada com a intenção de agradar a Allah e com a certeza de que está dentro do limite das leis de Allah. Obviamente, essas duas condições não se cumprem quando se fala das ações dos incrédulos. Também há quem interprete este hadith de outras maneiras. Uma explicação é que essas boas ações desenvolvem um bom caráter na pessoa e esta, por sua vez, demonstra uma tendência a fazer o bem, o qual o beneficiará enormemente na hora que se converter muçulmano. Esta tendência a fazer o bem pode ser a razão que a leva a somar-se ao islam. De fato, pode ser que as ações, através das quais Allah abençoou a pessoa, guiaram-na ao Islam. O hadith também pode significar que a pessoa será recompensada também por estas ações, mas neste mundo. Essa é a grande misericórdia e justiça do Islam, ou seja, Allah não permite que nenhuma boa ação fique sem recompensa. Da mesma forma, pode acontecer das boas ações praticadas por não muçulmanos não serem recompensadas por Allah na próxima vida por não reunirem condições para tal, neste caso elas são recompensadas nesta vida, entretanto Allah não as ignora. Sobre isso o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse: “O incrédulo é recompensado nesta vida com provisões pelas boas ações que pratica.” (Muslim). Há outra narração do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) que diz claramente que se uma pessoa se converte ao Islam e se empenha para aperfeiçoar e completar sua fé, certamente será recompensada pelas ações realizadas antes de sua conversão. Este parece ser um presente especial que Allah concedeu a estas pessoas e Allah dá Seus agrados a quem deseja. O texto deste hadith diz: “Se um servo aceita e completa seu Islam, Allah registrará para ele todas as boas ações realizadas antes [de sua conversão] e Allah apagará todas as más ações realizadas antes [de sua conversão]. Logo, tudo que venha depois será segundo a retribuição. Por cada boa ação, receberá uma recompensa entre dez e setecentas vezes maior. E por cada má ação, registrar-se-á uma similar, a menos que Allah deixe passar. Este hadith mostra que uma pessoa será recompensada pelas boas ações realizadas antes de se converter muçulmano. Suas más ações também serão apagadas ao se converter à religião. Sem dúvidas, é algo condicional. Depende da pessoa, se ela busca a perfeição e completude em sua opção de fé. Quer dizer, é condição que se mantenha afastada das más ações depois de se converter ao Islam. Dita postura é apoiada por um hadith do Sahih al Bukhari e Sahih Muslim em que Ibn Mass’ud perguntou ao Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) se prestariam contas pelas ações realizadas antes da conversão ao Islam. O Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse: “Aquele que seja excelente no Islam não deverá prestar contas por isso. Ao passo que aquele que faz o mal [no que concerne ao Islam] deverá prestar contas pelo que fez antes de se converter ao Islam e depois também.” Também há um hadith no Musnad Ahmad que diz: Enquanto o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) falava com Amr Ibn al As disse: “Ó Amr, acaso não sabias que o islam apaga todos os pecados cometidos anteriormente?” Este hadith deve ser analisado sob a luz do hadith anterior: Se uma pessoa completa seu Islam com excelência, então, todos os seus pecados anteriores serão apagados e relevados. Do contrário, se a pessoa continua realizando más ações no Islam, não serão relevados os pecados anteriores. Sem dúvidas, isto só se aplica aos pecados e às más ações com respeito a Allah. Não inclui as obrigações de um modo geral, como as dívidas ou os delitos que são punidos neste mundo. Além disso, há uma passagem no Qur’an muito contundente em que Allah diz: “São aqueles que, quando gastam, não se excedem nem são mesquinhos, colocando-se no meio-termo. (Igualmente o são) aqueles que não invocam, com Deus, outra divindade, nem matam nenhum ser que Deus proibiu matar, senão legitimamente, nem fornicam; (pois sabem que) quem assim proceder, receberão a sua punição: No Dia da Ressurreição ser-lhes-á duplicado o castigo; então, aviltados, se eternizarão (nesse estado). Salvo aqueles que se arrependerem, crerem e praticarem o bem; a estes, Deus computará as más ações como boas, porque Deus é Indulgente, Misericordioso.” (25:67-70). Alguns sábios opinam que este versículo indica que as más ações prévias se transformarão em boas ações. Certamente, para outros, significa que a pessoa praticará boas ações que vão substituir as outras. E há outros que interpretam que na próxima vida as más ações se transformarão e a pessoa será recompensada por elas devido à preocupação e o remorso sofrido por causa delas depois de sua conversão ao Islam. Definitivamente, o novo muçulmano convertido está frente a uma oportunidade muito grande. É-lhe dada a oportunidade de que todos os seus erros e pecados anteriores sejam cancelados imediatamente e, ao mesmo tempo, continuar sendo recompensado pelo bem praticado antes de adotar o Islam. Isso é a graça e misericórdia de Allah. Mas, é condicional. O convertido deve tomar seu Islam com seriedade, praticá-lo corretamente e ser um verdadeiro muçulmano, abstendo-se de praticar os maus atos que praticava antes de sua conversão. Se, de alguma forma, volta a cair em tentação e praticar as más ações habituais do passado, perderá uma grande oportunidade que Allah o ofereceu. Por último, existe um versículo do Qur’an e outro hadith que tratam especificamente dos membros do Povo do Livro que se converteram ao Islam. Essas pessoas acreditavam nos livros e profetas anteriores e logo deram o passo necessário para crer também no último Profeta e no último Livro – que seus próprios profetas e livros mencionavam. Allah disse sobre eles: “Eis que lhes fizemos chegar, sucessivamente, a Palavra, para que refletissem. (São) aqueles a quem concedemos o Livro, antes, e nele crêem. E quando lhes é recitado (o Alcorão), dizem: Cremos nele, porque é a verdade, emanada do nosso Senhor. Em verdade, já éramos muçulmanos, antes disso. A estes lhes será duplicada caridade daquilo com que os agraciamos.” (28:51-54). O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) também disse: “São três os que receberam recompensas duas vezes. [um deles] Um crente do Povo do Livro que creu em seu profeta e também creu em Muhammad. Ele receberá duas recompensas...” (Bukhari e Muslim). A riqueza ganha por um convertido ao Islam Quando alguém adota o Islam, é muito provável que parte de sua riqueza provenha de fontes que o Islam considera ilegítimas. Por exemplo, o convertido pode possuir dinheiro proveniente de operações que implicaram cobrança de juros, venda de álcool e outras. O que o novo muçulmano deve fazer com tal riqueza que já está em suas posses? A regra geral é que toda a riqueza que já esteja em posse da pessoa, no momento da conversão ao Islam, é propriedade dela, não importando como foi adquirida – desde que tenha sido obtida de maneira legal segundo as leis sob as quais vivia a pessoa. Não se aplicam, então, os princípios islâmicos naquela riqueza obtida antes da conversão ao Islam. Assim, por exemplo, disse Allah: “Os que praticam a usura só serão ressuscitados como aquele que foi perturbado por Satanás; isso, porque disseram que a usura é o mesmo que o comércio; no entanto, Deus consente o comércio e veda a usura. Mas, quem tiver recebido uma exortação do seu Senhor e se abstiver, será absolvido pelo passado, e seu julgamento só caberá a Deus. Por outro lado, aqueles que reincidirem, serão condenados ao inferno, onde permanecerão eternamente.” (2:275). Este versículo demonstra que Allah releva as ações realizadas antes que as normas alcancem a pessoa que as pratica, ou seja, antes que ela seja obrigada a seguir tais regras. Muitas pessoas adotaram o Islam durante a vida do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele), mas não existem registros de que suas riquezas tivessem sido apreendidas, ou, sequer, que aquelas pessoas tenham sido questionadas a respeito da origem de suas riquezas. Inclusive os matrimônios celebrados antes da conversão não eram questionados, nem examinados para ver se cumpriam com os requisitos islâmicos. Com efeito, existem vários relatos que demonstram que o Profeta, explicitamente, estava de acordo com que os novos convertidos mantivessem sua riqueza. Na realidade, a pessoa obteve tais riquezas crendo que não havia nada de mal no que fazia. Portanto, é-lhes permitido manter tais riquezas. Esse caso é diferente de um muçulmano que vende álcool, por exemplo. Este muçulmano, mesmo depois de se arrepender desse mau ato, não deve manter esta riqueza obtida de forma ilícita. Sem dúvidas, a situação é diferente se um convertido, no momento da conversão, não recebeu ainda o dinheiro proveniente de uma fonte que o Islam considera ilícita. Por exemplo, a pessoa pode ter vendido e distribuído álcool no dia primeiro de Julho, mas cobrará este dinheiro apenas em primeiro de Dezembro. Digamos que em Setembro a pessoa que vendeu estas bebidas se converte ao Islam. É possível analisar esta situação e dizer que, como o contrato havia se encerrado antes da conversão, continua tendo validade e há o direito de se receber este dinheiro, trata-se de uma riqueza obtida antes da pessoa se converter muçulmana. Não há dúvidas que a maioria dos sábios opina que esta pessoa não tem o direito de receber o dinheiro. Citam o seguinte versículo: “...Mas, quem tiver recebido uma exortação do seu Senhor e se abstiver, será absolvido pelo passado, e seu julgamento só caberá a Deus...” (2:275). A advertência já foi dada e só se pode conservar o dinheiro recebido antes, desfazendo-se dos juros. Allah também disse: Porém se vos arrependerdes, reavereis o vosso capital. Página 91. Abraços
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