sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

A BELEZA DA VIRTUDE. Parte I

Espiritualidade. Livro em Busca da Sabedoria. Por N. Sri Ham (1889-1973). A BELEZA DA VIRTUDE. Parte I. Existem determinadas palavras na língua inglesa, e em outra língua, cujo significado nos é apenas parcialmente conhecido porque precisa ser descoberto através da nossa própria vida e ação. “Sabedoria” é uma palavra assim. Podemos ter um determinado conceito do que ela significa, porém este conceito, mesmo que esteja vago e falho, provavelmente será parcial em sua verdade. Podemos não saber o que é sabedoria em sua verdadeira natureza, sua qualidade, beleza e ação. Virtude é outra palavra assim. Às vezes usamos a forma singular “virtude” para abranger tudo daquela natureza. As vezes falamos sobre “as virtudes” para alcançar tudo daquela natureza. Às vezes falamos sobre “as virtudes” no plural, distinguindo uma da outra. As virtudes, assim divididas, tem sido classificada de formas diferentes. Por exemplo, no pensamento grego clássico, consideravam justiça, temperança, coragem e prudência como as virtudes principais. Essas palavras, sendo traduções do grego original, podem não transmitir exatamente o sentido em que eram entendidas naquele tempo. Mas, usando as palavras para referir-se ao seu significado atual comum, não parece claro o porquê dessas virtudes especificas terem sido consideradas fundamentais, sendo outras presumivelmente adicionais ou subsidiárias. Por mais excelentes que possam ser quando exibem a qualidade correta e indispensável como base para a conduta individual e coletiva da sociedade. São virtudes que pertencem ao campo da razão onde se precisa partir das premissas corretas. Qualquer homem inteligente pode ver que a prudência, por exemplo, é necessária para proteger os seus interesses, a temperança ou a moderação, para assegurar o seu próprio bem-estar. Juntamente com a coragem e a justiça, elas seriam aceitáveis para qualquer homem médio, em conformidade com a sua sabedoria mundana. Todavia, auto interesse e virtude, em seus aspectos superiores, podem não combinar. Quando a influência do Cristianismo se espalhou pela Europa, outras virtudes de um caráter predominantemente não mundano como humildade, caridade, amor e fé assumiram uma posição de importância. Foram consideradas como as mais próximas do coração de Deus ou da natureza divina. Na Escola de pensamento Mahayana do Budismo setentrional, o caminho da virtude era identificado com a verdadeira sabedoria. Bem como a ação de autos sacrifício, foi concebido com sendo marcado por sete portais, cada um dos quais exigia determinado tipo de desenvolvimento. Representando um aspecto da perfeição humana e tendo suas raízes em uma natureza incorrupta e incorruptível presente no âmago de cada ser humano. A chave para o primeiro portal, conforme é explicado na obra A Voz do Silêncio, de Helena Petrovna Blavatsky (1931-1891), é Dana, uma palavra sânscrita, traduzida por ela como “caridade e amor imortal”. Literalmente a palavra significa doação, mas é uma doação sem reservas, com o coração e com as mãos. A menos que a viagem seja realizada a partir de uma motivação pura de altruísmo, do desejo de devotar-se a felicidade e a iluminação de cada ser humano. Ao bem de cada criatura viva, não poderá ser empreendida de forma alguma. O coração e a mente da pessoa precisam primeiramente sintonizar-se com o coração e a mente de todos os seres vivos. O segundo portal representa Shila, todos eles com nomes em sânscrito ou páli, idiomas hindus, geralmente compreendidos como o viver limpo e reto em todos os aspectos da vida e conduta da pessoa. H.P. Blavatsky, o traduz como “harmonia em ato é palavra”, visto que a harmonia no interior da pessoa, inseparável do viver correto, manifesta-se como harmonia em ato e palavra. O terceiro portal significa Kshanti, que ela descreve como “doce paciência que nada pode perturbar”. O significado dicionarizado da comum da palavra inclui tolerância e perdão. As próximas duas virtudes são Vairagya ou imparcialidade e Virya ou energia. Blavatsky traduz Vairagya como “indiferença ao prazer e à dor, conquista sobre a ilusão, percepção somente da verdade”. Virya como a “energia intrépida que vence seu caminho para a verdade suprema” Não é o tipo de energia que pertence às coisas da matéria, mas a energia da vida ou Espírito que surge de um estado puro incondicionado. Portanto, pode manifestar o ardor ou paixão máximos e mesmo assim permanecer desapegada, não se envolvendo nas coisas por entre as quais se movimenta. Os dois últimos portais designados, Dhyana, significando contemplação ou estado meditativo. Prajna, compreensão perfeita, realmente são condições de existência em que podem estar presentes as qualidades de qualquer uma ou de todas as virtudes. Quando usamos a palavra “virtude”, qual é nosso conceito a seu respeito? Comumente nos ocorre uma fórmula, princípio ou preceito ao qual precisamos adaptar-nos. Ao procedermos desta maneira, sempre há uma lacuna entre aquela fórmula, que é o ideal, e a realidade, e isso a ser uma causa de conflito para a pessoa. O ideal pode ser verdadeiro, não apenas em palavras, mas também em conduta e pensamento. Se não se consegue alcançá-lo, a menos que se ame a verdade pelo que em si significa, sem um eu na busca do êxito. Um sentido de realização e boa opinião de si mesmo, certamente haverá insatisfação, e isso poderá ser até mesmo transferido ao ideal. Tal insatisfação poderá conduzir a um questionamento do próprio ideal, resultando em uma revolta contra ele. Podemos notar este tipo de reação no caso de uma pessoa que deseja abrir mão de algo a que se sente fortemente vinculado, mas acha difícil fazê-lo. Depois de algum tempo, poderá até parecer-lhe que é bom entregar-se a fraqueza em determinada medida, pois alivia tensões, conduz a boas reações e assim por diante. A virtude pode ser considerada sob outro prisma, não como conformação a uma regra ou princípio que é colocado diante de nós, que aceitamos por uma ou outra razão. Contudo como a expressão espontânea e livre de uma natureza ou ser básico puro que se encontra em cada homem. Uma natureza que é incorrupta e, de fato, incorruptível. Quando aquela natureza passa a agir, a forma pela qual age é em si mesma o caminho da virtude. É esta virtude que Lao Tsé (571 a.C.), o grande filósofo chines, expõe em seu famoso clássico, porém ela requer um claro insight para que seja vista como um fato. Para nós a questão é a seguinte: Será que vislumbramos a existência de uma tal natureza em nós próprios como uma possibilidade? Se esta contingência existe, referindo-nos a virtude em geral ou às virtudes, todas elas são caminhos ou formas de ação. Assumidas pela energia que se origina daquela natureza pura, para sempre incondicionada, não modificada por qualquer influência exterior. Na nobre óctupla senda, ensinada pelo Buda, o primeiro de todos os passos é o “discernimento” e não a fé, como é tão frequentemente mal traduzida a palavra páli. Constitui um discernimento para dentro de si a maneira com que a pessoa é afetada por todas as coisas que a rodeia. Como ela reage, as suas próprias ações e reações, que a colocam no caminho da sabedoria. Então, poderá haver reto pensar, reto falar, reto agir assim por diante, que são os outros passos. Mas deve-se ter a capacidade de ver aquilo que está certo e aquilo que não está em todas as formas da própria ação, incluindo o pensamento e o discurso. Quando a virtude for assim compreendida, como uma expressão totalmente livre e espontânea de uma natureza existente em todos nós, ao menos potencialmente não haverá vontade envolvida. A vontade somente surge quando a ação da pessoa precisar estar direcionada de acordo com determinado conceito ou imagem. Esta vontade surge do próprio condicionamento e inclinações. Não se trata de vontade livre no real sentido. Pode tornar-se em formas de auto asserção e teimosia egoístas. Com frequência trata-se apenas de insistência e obstinação cegas. Não é a vontade inata nos movimentos livres da vida. A energia que surge de qualquer forma de condicionamento é mecânica em sua ação e uma resultante de forças induzidas. Não é a energia da natureza espiritual, sempre original e incondicionada, agindo de forma total e não parcial. Livre ou espontaneamente, e inteligentemente, porque não atua de acordo com um padrão mecânico. A virtude em ação, sem ação não há virtude, não erra nem por excesso ou defeito. É por isso que se tem falado de sua senda como o justo meio termo. A natureza que é incorrupta sabe por instinto aquilo que é certo em ação e pensamento, agindo de acordo, como um mestre em artes sabe como formar uma curva de beleza e o faz com um instinto certeiro. Ele sabe exatamente onde a linha deve ser colocada, quais os pontos que ela terá de atravessar. Na natureza pura incondicionada existe tal instinto, que se revela na maneira de sua ação, bem como na natureza dos resultados atingidos. A maneira é tão importante, e pode ser até mais importante do que o resultado concreto perceptível. Porque a maneira como a pessoa age transmite a maneira como sente. Ela irradia uma determinada qualidade, como o tom e a inflexão da voz ao produzir uma música em compasso que deve permanecer sem falhas até o fim. A energia da natureza incondicionada age livremente, e ao fazê-lo, cria um padrão ou forma que é sempre uma forma de harmonia, e podem existir inúmeras formas assim. Não age de acordo com algum padrão impositivo, não haverá liberdade em tal ação, mas a sua livre ação assume a forma que expressa a qualidade de harmonia inata naquela natureza que sempre age como um todo, jamais perdendo sua unidade. Todas essas formas que surgem da mesma base, isto é, daquela natureza unificada, deverão estar em harmonia reciprocamente. Assim como todas as leis da natureza harmonizam-se reciprocamente. Juntos constituiriam umas sínteses perfeitas que é a virtude em um sentido geral e abrangente, representando a harmonia total daquela natureza como um todo. Abraço. Davi

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