Judaísmo. www.blog.sefer.com.br. O DOCE SABOR DE
UMA PARÁBOLA SOBRE ISRAEL, OS JUDEUS E A HUMANIDADE. Segundo o Aurélio,
parábola é uma “narração alegórica na qual o conjunto de elementos evoca, por
comparação, outras realidades de ordem superior”. Em sua obra Na Espiral do Tempo, o mestre David Gorodovits nos presenteia com várias, e hoje presenteamos
os leitores com uma das mais emotivas e atuais e que versa sobre Israel, os
judeus e a humanidade. Deleitem-se! A torre do relógio. Conta-se que existiu,
outrora, um país muito pequeno. Tão pequeno que poucos conseguiam localizá-lo
nos mapas… Seu rei, depois de muito pensar sobre como mudar a situação de seu
país, para que deixasse de ser um recanto insignificante da Terra, teve um dia
uma inspiração, que logo procurou pôr em prática. Ele decidiu construir uma
torre de grande altura, sobre a qual um relógio de muitas faces permitiria a
todos os seus súditos acompanhar a marcação do tempo e, talvez, dessa forma,
eles se motivassem a usá-lo com melhor proveito. Ele anunciou seu intento e buscou
um construtor que aceitasse realizar a obra que imaginara, mas todos se
recusavam, alegando as imensas dificuldades técnicas que teriam de enfrentar.
Apresentou-se então um anão, pronto a aceitar a empreitada, pois, segundo
dizia, um gênio o ajudava a realizar qualquer tarefa. Impunha, porém, uma
condição: haveria de morar na torre para assegurar permanentemente o perfeito
funcionamento do relógio. Aceita sua condição, pôs-se a trabalhar, recebendo
logo a ajuda de muitas pessoas, entusiasmadas com a diligência de seu labor.
Lentamente, a torre começou a tomar forma, cada vez mais e mais alta, até o
ponto julgado suficiente pelo anão, que se dedicou então à construção de um
relógio multifacetado como ainda não se vira igual. Ele concluiu a tarefa e, no
dia seguinte, ao acordar, todos naquele país se sentiram irresistivelmente
atraídos a observar com atenção o relógio. Admiravam o deslocar contínuo dos
grandes ponteiros, a marcar o passar de segundos, minutos e horas. A percepção
da irreversibilidade daquele movimento os levou a compreender que o tempo
passado era algo irrecuperável. Ante essa compreensão, decidiram utilizar da
maneira mais completa esse bem precioso, que escoava sem possibilidades de ser
guardado e estocado. Primeiro, dedicaram o tempo a melhorar suas próprias
aparências; depois, suas casas, seus jardins, suas ruas, e por fim,
empenharam-se com tal afinco em todas as suas tarefas, que tudo que fabricavam
passou a ter um toque de perfeição. No mundo inteiro passou a ser comentado
aquele país, tão reduzido em território, com tão poucos habitantes, e, no
entanto, capaz de produzir tantas coisas maravilhosas. Muitos para lá
resolveram se mudar. Entretanto, havia aqueles que invejavam o desenvolvimento
do país e as honras dispensadas ao anão, e começaram a tecer intrigas, levando
palavras maldosas aos ouvidos do rei. Diziam: “Não foi para beneficiar a todos
que o anão aceitou a tarefa, mas, sim, para tomar o lugar do rei.” A princípio,
as calúnias não mereceram crédito do rei, mas, de tão repetidas, acabaram por
lhe parecer verdadeiras e o levaram a ordenar o fuzilamento do anão. Os
soldados, entretanto, não tiveram coragem de cumprir a ordem real. Conduziram o
anão à fronteira e lhe disseram: “Vá embora! Vá embora e nunca mais volte, pois
se o fizer, seremos obrigados a matá-lo.” Ele obedeceu, mas, quando o anão foi
embora, o relógio parou. No dia seguinte, ao acordar, quando cada um se voltou
para a torre e percebeu a imobilidade dos ponteiros, sentiu como se o próprio
tempo tivesse parado de se escoar. E, se o tempo havia parado, nada mais
parecia ter significado, nem sua aparência, nem a beleza de suas casas, as
flores dos jardins ou a dedicação ao trabalho. A indolência e o descaso tomaram
conta de todos. Ervas daninhas começaram a se proliferar nos jardins, muros
desmoronaram. Areia, poeira e toda sorte de sujeiras cobriram as ruas. E o que
ainda se produzia no país passou a ser defeituoso, mal-acabado e feio. Foram
embora todos aqueles que tinham vindo de outras terras, não vendo mais motivos para
querer ali viver. E o rei se lamentava: “Por que dei ouvidos aos maledicentes?
Por que ordenei a execução do anão?” Mas, como nós sabemos, o anão não morrera.
Mesmo envolvido pela tristeza de ter deixado o país onde construíra sua
obra-prima, ele não perdeu sua capacidade criadora. Dirigiu-se a outro país e
dedicou-se a criar algo, belo e significativo, trazendo desenvolvimento e
progresso ao novo país escolhido para se tornar seu lar, até que foi obrigado a
parar, expulso, mais uma vez, por aqueles que viam nele um estranho, cuja
diligência e dedicação ao trabalho invejavam e temiam. Partiu outra vez, e mais
outra, e muitas outras mais, trazendo sempre progresso e bem-estar aonde quer
que fosse, apenas para se ver, após algum tempo, novamente expulso, sendo
destruídos os vestígios de sua passagem, enquanto era obrigado a buscar novo
pouso. Até que um dia. Um dia, decidiu que, mesmo se fosse a última coisa que
viesse a fazer em sua vida, voltaria ao país bem-amado, onde erguera a torre do
relógio. O caminho de volta foi longo e penoso. Parecia que todas as forças da
natureza – chuva e sol, tempestades e calmarias, neve e furacões – haviam se
unido para impedir seu caminho, mas, resolutamente, continuou sua marcha. E eis
que, finalmente, do topo de uma montanha, avistou as fronteiras de seu país e o
brilho dos reflexos do sol no relógio da torre. Desceu correndo e, assim que
seus pés tocaram o solo, tão longamente ansiado, um milagre aconteceu: o
relógio novamente começou a andar… Essa história nos traz à mente um quadro da
história da humana. Dentre os povos, construtores de gigantescas obras, cujas
ruínas nos são reveladas pelos arqueólogos, sobrevive através dos tempos, pleno
de esperanças, fé e realizações criativas, um povo, um pequeno povo, que não
ergueu pirâmides nem estátuas de granito, e nem mesmo uma torre com um relógio,
mas cujo monumento é a Torá, a revelação Divina. Ela não marca o passar do
tempo, mas nos ensina a tornar significativo cada momento de nossa existência.
Conduzido à terra do leite e do mel, por aquele que recebera do Eterno a
mensagem a ser transcrita na Torá, nosso povo lutou para, por meio dela,
construir as bases de uma sociedade em que imperasse um sentimento de
fraternidade entre todos os seres humanos. A marcha da história o dispersou
pelos recantos mais longínquos… E para a terra do leite e do mel, a partida do
povo que a recebera como dádiva do Eterno, significou a paralisação do fluxo do
tempo. As cidades se tornaram ruínas, os pomares se transformaram em desertos,
e os jardins, em pântanos. Levada consigo a iluminá-lo, qual potente farol, a
Torá eterna peregrinou por toda a Terra, levando a toda parte o brilho de suas
criações, o produto de seu labor incansável, a reflexão humanitária de sua fé.
O povo judeu trouxe progresso e bem-estar a todos os lugares aonde foi, mas
sofreu perseguições, expulsões e martírios, provocados pela inveja e pelo ódio
dos intolerantes. Um sonho o acompanhava e a grandeza de sua fé mantinha acesas
suas esperanças, mesmo nos momentos mais terríveis. Há cerca de um século,
Theodor Herzl (1850-1904) proclamou: “Se quiserdes, não será apenas um sonho.”.
E o povo judeu concentrou seus esforços na realização do sonho. Os obstáculos e
o sofrimento foram imensos, mas sua perseverança e a força de sua fé foram
ainda maiores. Com a graça do Eterno, o sacrifício de muitos de seus filhos e
uma luta que ainda continua, realizou-se o milagre do século 20 – o surgimento
de Israel. E o relógio começou novamente a funcionar… As ruínas cederam lugar a
cidades cheias de vida. Os desertos, foram transformados em pomares; os
pântanos, drenados e transformados em jardins, e, novamente, pode-se escutar
nas cidades de Iehudá e nas ruas de Ierushaláyim, vozes de alegria e júbilo, o
cantar dos noivos e das noivas, salmos de louvor e agradecimento ao Eterno. Que
a luz da Torá ilumine a cada um de nós e que se cumpra em nossos dias: Ki mitsion tetsê Torá udvar Hashem mirushaláyim!
Pois de Tsión emanará o ensinamento da Torá, e de Jerusalém, a palavra do
Eterno. www.blog.sefer.com.br.
Abraço. Davi
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