terça-feira, 21 de novembro de 2023

EXISTE A VERDADE. PARTE III

Filosofia. Texto escrito por Ubaldo Nicola. Livro Antologia Ilustrada de Filosofia – Das Origens a Idade Moderna. EXISTE A VERDADE. PARTE III. Demócrito (460 AC 360). Conhecemos apenas duzentos curtos fragmentos dos escritos de Demócrito, mas isso basta para provar que foi um dos pensadores mais versáteis da história, a partir dos títulos de suas obras (cerca de setenta) nota-se o seu interesse por música, matemática, astronomia, geometria, geografia, meteorologia, linguística e arte da guerra, além da filosofia, naturalmente. Com efeito, é mais fácil citar as duas únicas disciplinas que negligenciou: política e religião. A amplitude desse programa de investigação levou o filósofo a realizar numerosas viagens ao Egito e a Pérsia, talvez até mesmo a Etiópia e a Índia. Com certeza também esteve em Atenas, mas é igualmente certo que a sua presença passou despercebida. Aristóteles (384 AC 322) e o médico Hipócrates (460 AC 370) citaram-no várias vezes, mas Platão (428 AC 347), seu contemporâneo, jamais falou a seu respeito. Demócrito conseguiu combinar o interesse enciclopédico a um excelente nível de informação, demonstrando estar sempre atualizado no campo científico e ser sensível as instâncias culturais da sua época. A própria concepção atomística, o fruto mais conhecido do seu pensamento, deve ser vista no quadro do desafio teórico lançado por Parmênides e Zenão. De fato, justamente para resolver os paradoxos derivados da hipótese de uma divisibilidade infinita do espaço, Demócrito chegou a elaboração da noção de átomo: a partícula mínima, o material indivisível e invisível do qual é formada a realidade. Estabelecida a existência do átomo, era preciso, em seguida, explicar o mundo a luz da nova hipótese. Se os átomos podem movimentar-se, premissa que deve ser levada em consideração quando desejamos explicar a morte (separação de átomos), a compacidade (característica do que é compacto) dos corpos (agregação de átomos), o seu Devir (recombinação de átomos) e uma quantidade heterogênea de outros fenômenos (a percepção visual, as leis da mecânica), devemos admitir a existência de um espaço livre, vazio de matéria; o pleno e total ser do átomo contrapõe-se ao Não Ser do vazio. A Alma também é feita de átomos. É possível subdividir uma porção de espaço físico ou um objeto material qualquer ao infinito, em partes cada vez menores? Ou existe um limite último? Demócrito chegou a elaboração da hipótese atômica tentando escolher os paradoxos postos por Parmênides. Encontrou a solução ao negar que, para a matéria do mundo físico, valesse a mesma divisibilidade infinita de que gozam os elementos matemáticos. Pode-se subdividir um número ao infinito, mas partindo-se de uma partícula de matéria progressivamente chegas-se a um mínimo indivisível (e invisível); o átomo, expressão grega que significa, literalmente, sem divisão. O átomo identificado dessa forma, torna-se, com Demócrito o elemento básico para uma série de complexas especulações; a sua existência pressupõe, antes de tudo o vazio (no qual os átomos possam movimentar-se), implica também na homogeneidade estrutural do universo, formado por combinações diversas dos mesmos átomos, e sugere a existência de infinitos átomos. Não há senão átomo e vazio. Princípio de todas as coisas são os átomos e o vazio. Todo o resto é opinião subjetiva. Existem infinitos mundos, os quais são gerados e corruptíveis; nada vem do Não Ser, nada pode perecer e se dissolver no Não Ser. Um Vórtice cósmico seleciona os átomos segundo a grandeza, originando os quatro elementos. Os átomos são infinitos sob o aspecto da grandeza e do número. Eles se movimentam no universo girando em vórtice e, desse modo, geram todos os compostos: fogo, água, ar, terra e o éter. Todas as coisas são combinações de átomos. Por também os compostos (fogo, água, ar, terra) são conjuntos de certos átomos em particular, os quais, no entanto, não são decompostos nem alterados, exatamente pela sua solidez. Também a alma e os corpos celestes são combinações de átomos. O Sol e a Lua também são compostos por tais átomos, ou seja, por aqueles lisos e redondos; e igualmente a alma, que foram uma unidade com o intelecto. A diferente combinação de átomos explica todos os fenômenos. Tudo se produz conforme a necessidade, porque a causa da formação de todas as coisas é esse movimento em vórtice (redemoinho) que ele denomina exatamente necessidade. Determinismo. Consiste na convicção de que todos os fenômenos, tanto os naturais quanto os psíquicos, estão ligados entre si por conexões necessárias e dependentes da lei de causa e efeito, excluindo qualquer explicação que introduza as noções de acaso. Segundo os Deterministas, conhecendo com precisão qualquer processo em curso, é sempre possível prever, com igual precisão, os seus resultados. Após ter sido enunciada pela primeira vez por Demócrito, a posição determinista ressurgiu com grande força no século XVII, durante a denominada Revolução Científica, e no século XIX, com o pensamento positivista. Não há senão átomo e vazio. Se cada coisa é constituída por uma agregação de átomos, como se explica a diversidade das próprias coisas? Para responder a essa objeção é suficiente, segundo Demócrito, pensar como as poucas letras que compõem um alfabeto podem, combinando-se em si formar um infinito número de palavras. Entre os átomos existem apenas diferenças quantitativas (grandeza, forma geométrica) e, portanto, a diversidade qualitativa das coisas (aparentes) explica-se pelo grande número de combinações possíveis. As qualidades sensíveis são aparentes. Opinião é a cor, opinião é o doce, opinião é o amargo, verdade são os átomos e o vazio, diz Demócrito, considerando que todas as qualidades sensíveis, que ele supõe relativas a nós, das quais temos as sensações, decorrem da variada combinação dos átomos, mas que, por natureza, não existem absolutamente branco, preto, amarelo, vermelho, doce, amargo (...). Não há senão átomo e vazio, portanto, as percepções também são combinações de átomos. Os homens acreditam que o branco e o preto, o doce e o amargo, e todas as outras qualidades do gênero, são algo de real, quando na verdade só o que existe é o ente e o nada. Demócrito também usava esses outros termos, chamando os átomos de entes e vazio de nada. O átomo não tem qualidades sensíveis, perceptíveis somente nos compostos. Todos os átomos, sendo corpos minúsculos, não possuem qualidades sensíveis, e o vazio é um espaço em que tais corpúsculos se movimentam para cima e para baixo eternamente ou se entrelaçando de diversas maneiras ou se chocando e ricocheteando, de modo a irem se desagregando e se agregando em tais compostos, e, desta forma, produzem todas as outras maiores agregações e os nossos corpos e as suas afeições e sensações. O átomo jamais sofre qualquer tipo de modificação. Supõem, também, que os corpos primeiros são inalteráveis (alguns dentre os atomistas, mais precisamente os seguidores de Epicuro (341 AC 270), porque acreditam que sejam infringíveis pela sua dureza; outros, os seguidores de Leucipo (480 AC 420), porque indivisíveis pela sua pequenez, ou melhor, que tampouco sofrem (por meio de alguma forma externa) as modificações as quais todos os homens (que extraem a sua ciência das sensações) acreditam que eles estão sujeitos. O átomo não sente os efeitos do ambiente em que se encontra. Nenhum átomo pode aquecer-se ou resfriar-se, ressecar-se ou umedecer-se, tornar-se branco ou preto ou receber outras qualidades por qualquer modificação que se queira. Livro Antologia Ilustrada de Filosofia. Das origens à Idade Moderna. Abraço. Davi.


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