Editor do Mosaico.
DESTAS PEDRAS DEUS PODE SUSCITAR FILHOS A ABRAÃO. O texto acima, título de
nosso tema, está em Mateus 3,9-10. Basearei minha reflexão nele abordando
alguns princípios da filosofia oculta. Os três primeiros Evangelhos Mateus,
Marcos e Lucas recebem o codinome de Sinópticos. São conhecidos assim por terem
uma grande quantidade de histórias em comum sobre Jesus. Na mesma sequência e algumas vezes
utilizando os mesmos esquemas de palavras. Nesses termos existe um grau de
paralelismo relativo ao conteúdo, linguagem e estruturas das frases ocorrendo
somente em uma literatura interdependente. Desse modo muitos estudiosos
acreditam que esses evangelhos compartilham o mesmo ponto de vista e são
claramente ligados entre si. Uma esclarecedora mística quanto a esses
Evangelhos é que cada um tem uma simbologia específica. Dessa forma Mateus traz
a representação do Cristo como o Leão o rei entronizado para governar seu povo
com majestade e glória. Em João 19, 19-20 diz-se "E Pilatos escreveu também
um título e pô-lo em cima da cruz e nele estava escrito: Jesus Nazareno o Rei
dos Judeus. E muitos dos judeus leram este título porque o lugar onde Jesus
estava crucificado era próximo da cidade e estava escrito em hebraico, grego e
latim". Marcos traz a tipologia de Jesus como o Boi ou o Cordeiro que é
oferecido como holocausto pelos pecados de toda a humanidade. Também nesse
contexto se entende aquele que serve e ara a terra deserta preparando-a como
nutriente. Tornando-se o calcário para diminuir sua acidez e proporcionar mais
alcalinidade a uma melhor semeadora e boa colheita. Além de pulverizar e
irrigar o solo. Marcos 10,45 fala "Porque o Filho do homem não veio para
ser servido mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos". Lucas
enfatiza em seus escrito o Cristo como um Homem de carne e osso frágil e tendo
necessidades físicas, emocionais e sentimentais. Igual a qualquer ser humano.
De certo um assunto para ser investigado mais minuciosamente pela ciência
oculta. A tradicional teologia parece ter medo de mensurá-lo como homem em sua
completude. Para alguns uma compreensão estereotipada do sentido misterioso da
encarnação - Deus Homem. Reduzindo o Cristo apenas a uma figura de herói ou
mártir. Coisas que se evidenciam de forma emblemáticas em sua época por feitos
milagrosos, doutrinas, simplicidade, mansidão, amor, pureza e santidade.
Contudo quando lermos os Evangelhos, devemos entender que Jesus “escondia” sua
divindade na maioria das vezes. Não reivindicando pra si a deidade, preferindo
ser tratado como um simples mortal. Nessa condição ele veio para esse mundo
cumprir sua missão divina e na situação de Deus era impossível morrer
vicariamente pela humanidade. Assim tendemos a acompanhar a argumentação
exotérica dos técnicos em exegese. Com medo, não seguimos a intuição oculta que
nos diz para considerá-lo também como um homem. Que cometeu deslizes e resvalos
éticos até em alguns momentos se irou justamente percebendo a insensibilidade
humana. Querendo manter o status quo sistematizado e religioso vigente em sua
época. Lucas 12, 8 "E digo vos que todo aquele que me confessar diante dos
homens também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus". O
texto que analisaremos está em Mateus 3, 1-10 então iniciemos "Naqueles
dias apareceu João Batista pregando no deserto da Judeia e dizia:
arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus". Para compreendermos
melhor vamos fazer uma conexão com outro trecho bíblico em que Jesus
compara João Batista a Elias em Mateus 17, 11-13 "E Jesus respondendo
disse-lhes: Em verdade Elias vira primeiro e restaurará todas as coisas mas
digo-lhes que Elias já veio e não o conheceram mas fizeram-lhe tudo o que
quiseram. Assim farão eles também padece o Filho do homem. Então entenderam os
discípulos que lhes falara de João Batista". Segundo a Sabedoria Antiga o
Mestre Jesus sendo um Essênio viveu numa comunidade que existiu no ano 150 aC a
70 dC. Isso conforme os historiadores judeus Filon (10 aC 50 dC) e Flávio
Josefo (37-100). Os Essênios eram uma ordem religiosa que tinham revelações manifestadas
e esotéricas, havendo se afastado do Judaísmo por motivos desconhecidos.
Todavia tinham leis, documentos sagrados, usos e costumes diferenciados. Foram
mostrados pela famosa descoberta dos Manuscritos do Mar Morto (1950). Uma
centena de textos e fragmentos encontrados nas Cavernas de Qunram em Israel. Os
Essênios alimentavam-se basicamente de frutas e legumes banhando-se em águas
para equilibrar o corpo e talvez tenha surgido daí o rito do batismo. João
Batista era Essênio. Eles assim como os judeus tinham Escolas para Iniciados e
possivelmente o Mestre Jesus frequentou em sua juventude e maioridade essa
Academia do Conhecimento Oculto. Alguns ponderam que os sábios essênios
trocavam comunicação com os Mestres da Escola de Alexandria, século I. Possivelmente
Jesus estudou também nessa Casa do Saber Universal. Assim pensando no
conhecimento oculto que o Mestre Jesus como Iniciado adquirirá. Podemos inferir
que João Batista é uma encarnação do profeta Elias. Continuando seu ministério
de "preparar o caminho do Senhor, endireitar as suas veredas". Os
dois evidenciaram-se em diferenças e semelhança vejamos: Elias executou
milagres e maravilhas e João Batista não fez nenhum sinal. Elias teve problemas
com os profetas de Baal e João Batista teve dificuldades com os Fariseus. Elias
feriu o rio Jordão atravessando-o sem se molhar. João batizava no rio Jordão
e todos saiam molhados. Elias viu uma pequena nuvem do tamanho de uma mão
do homem. João Batista viu nascer o sol da justiça. Elias lutou contra a
idolatria de Baal o deus Cananeu - Fenício da chuva, do clima, da tempestade
que molha a terra. João Batista pregava principalmente o arrependimento e a
vinda do Messias. Elias não morreu, subindo ao céu arrebatado numa carruagem
puxada por cavalos de fogo dentro dum redemoinho II Reis 12,1-12. João Batista
morreu decapitado preso por Herodes. Elias não foi preso mas sofreu
perseguição. Elias tinha como discípulo Eliseu. João Batista tinha discípulos e
alguns deles se tornaram discípulos do Mestre Jesus. Elias predisse
profeticamente acontecimentos futuros. João Batista foi alvo vivo de profecias
passadas. Cumprindo as previsões de Malaquias e Isaías. Essas comparações
podem provar que a encarnação dos dois é perfeitamente plausível em termos
lógicos. Podemos pensar João Batista como um iniciado ou adepto dos mistérios
ocultos. Sua roupa diferente das originais vestes sacerdotais judaicas
denunciavam sua maneira excêntrica de servir ao Eterno. Assim como o Mestre
Jesus que não deixou nenhum código de doutrinas exotéricas - exterior e nem
fundou nenhuma nova religião. Preferindo proclamar o amor ao próximo e a
fraternidade universal entre os homens. João Batista apesar de judeu não
enfatizou nada de preceitos ou normas ritualísticas de sua religião judaica.
Que aproximassem o fiel do seu Deus. Por ser diferente teve autoridade para
falar com intrepidez dos mistérios – ocultos – maiores que estavam guardados.
Enfrentando com coragem os desmandos e a hipocrisia moral da autoridade do
governador Herodes Antipas (20 aC 39 dC) da Palestina. Esse malignamente
influenciado por sua amante na festa de seu aniversário, mandou decapitar João
Batista no cárcere. Marcos 6, 24 - 26 "Saindo ela perguntou a mãe: Que
pedirei? Esta respondeu: a cabeça de João Batista. E enviando logo o executor
mandou que lhe trouxessem a cabeça de João. Ele foi e o decapitou no cárcere, e
trazendo a cabeça num prato a entregou à jovem e está por sua vez a sua
mãe". O versículo 20 do texto acima diz que "Herodes temia a João Batista
sabendo que era homem justo e santo e o tinha em segurança. E quando o ouvia
ficava perplexo escutando-o de boa mente". Os Mestres iniciados tem
testemunho dado por pessoas que os observam, mostrando que estão caminhando
pela Senda Espiritual. Voltando para Mateus 3, 6 "E eram por ele batizados
no rio Jordão confessando os seus pecados". Incrível imaginar que a
mensagem do profeta João Batista era tão curta e simplesmente dizia:
"arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus" Mateus 3,2.
Bastante diferente do que estamos acostumados a ouvir nos dias de hoje. As
pregações tentam converter as pessoas para sua bandeira de fé e prática. Sempre
mostrando as vantagens e recompensas advindas dessa decisão. Aqui
particularmente parece que João não oferece nenhum galardão. Só a esperança da
evolução espiritual para entrar num reino superior e elevado. Acima do
interesse e glórias humanas. Que fariam com que o discípulo percebesse que lhe
aguardavam futuros processos de renascimentos à completar seu ser espiritual. O
batismo era o primeiro passo para o iniciado percorrer esse caminho estreito,
entrando pela porta apertada. Nada de organização ou filiação religiosa ou
partidária. Porém um compromisso consigo mesmo de trilhar pela prece,
meditação, contemplação o autoconhecimento. O desenvolvimento da
espiritualidade superior. A referência a "raça de víboras quem vos induziu
a fugir da ira futura" Mateus 3,7. É uma advertência de que apenas o
conhecimento que alcançamos por nossa inteligência dos mistério maiores e
menores da natureza e da mente humana. Não são suficientes para completar nossa
formação espiritual. João sabia que na tradição mística a serpente simboliza o
conhecimento humano. A chamada doutrina do olho dita por Buda (563 aC 483) nos
seus escritos sagrados. Também como o Buda enfatiza precisamos da doutrina do
coração. Revelada numa atitude de altruísmo,
resignação e compaixão ao próximo. Acolhendo-os e não considerando
imundo aquilo de Deus santificou. Usando a tolerância e o amor para com
todos sem discriminação de cor, sexo, raça, opinião e religião. Considerando todos como irmãos mesmo em
situações de espiritualidade, culturas e tradições divergentes. Buscando a
evolução integrada com todos os seres da natureza que vivem na Criação feita
pelo Criador. Assim os hipócritas fariseus se orgulhavam de seu conhecimento.
Achando que isso era suficiente para encontrarem os segredos que estavam
encobertos. Classificavam aqueles que não podiam consegui-los como gentios e
publicanos. Desmerecedores das recompensas celestiais. Seu orgulho e mesquinhez
era o que os condenavam desviando-os da caminho da verdade. João Batista
conhecia o processo natural da evolução humana e infiro que tinha conhecimentos
ocultos da Cabala judaica. A referência "Temos por pai a Abraão porque eu
vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão" Mateus
3,9. Esse é o tema de nossa reflexão. Mostra o conteúdo de um dos textos -
Livro da Criação - dessa doutrina mística quando diz que: "do mineral
tornou-se vegetal do vegetal tornou-se animal do animal tornou-se humano e do
humano tornar-se-á espírito". Para mim está claro nesse trecho bíblico o
desejo do Espírito Divino de continuar sua obra de evolução em nossa matéria -
espírito ou espírito – matéria. Ela foi insuflada pela centelha divina a
milhões de encarnações passadas. Percorrendo os planetas de nosso sistema solar
até aportar em nossa terra. Interessante pensar que como a monada, átomo ou gene
– partícula divina, fomos germinados por esse raio luminoso. Mineralizados em um dos planetas de nosso
sistema solar para iniciarmos nossa ronda evolutiva existencial. Acessando a
astrologia através de um mapa astral podemos ter uma previsão de onde iniciamos
esse enigmático processo. Em qual das casas astrais ou planeta de nosso sistema
solar. Na terra estamos segundo os estudiosos da ciência oculta perfazendo um
total de aproximadamente milhares de encarnações. Um número imaginário é claro,
para podermos entender esse complexo veículo de evolução. Junto com nosso carma
positivo ou negativo proporcionando nosso tempo entre vidas. Onde reparamos ou
retificamos aquilo que precisa ser debitado como vício. Ou compensado como
virtude para desfrutarmos o período de conforto antes das novas encarnações.
Esse processo evolutivo na terra é feito primeiramente por uma anterior
consciência elementar. Bem primitiva e sem coordenação estrutural nervosa.
Seguindo posteriormente uma consciência primitiva mineral ainda se organizando.
Mesmo que incipiente tentando formular relações de compartilhamentos
moleculares e partículas. Onde átomos eletrovalentes se conectam a valências
negativas nos elementos inorgânicos. Surgindo as interações de compostos que
representam os atuais elementos químicos existentes. Dos quais somos uma
totalidade de carbono, nitrogênio, hidrogênio, oxigênio e outros. Continuando
evoluímos para avançarmos como um vegetal em uma consciência adaptativa.
Centrada em nosso próprio sustento. Agora tendo a necessidade de
interdependência com outros reinos e cadeias alimentares. Principalmente a
precedente da qual tiraremos nosso sustento e nutrientes e posteriormente uma
consciência instintiva animal. Essa já bem organizada e sabedora de alguns
processos de relacionamentos coletivos. Mesmo que para uma individualidade da
espécie. Sem entender que os vários reinos da natureza são intercambiáveis e o
equilíbrio é feito com a harmonia de todos. E finalmente chegamos a uma
consciência intuitiva, imaginativa e cognitiva humana. A compreensão de que
fazemos parte do todo da natureza. Fundamental estarmos conectados e atuando
para o bem dos seres na face da terra. Dependemos de cada pedra, cada árvore e
cada animal que estão vivendo sua existência. Com eles nós humanos
construiremos uma Fraternidade Universal onde a Criação representa o Criador e
o Criador tipifica a Criatura. Abraço. Davi.
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