Cristianismo.
Ciência e Religião Juntas. I. AVE MARIA CHEIA DE GRAÇA. A intrigante
trajetória da mãe de Jesus suscita pendências históricas, teológicas e até
mesmo científicas. Há mais de dois mil anos, na vila de Nazaré, na Galileia, o
cotidiano do povoado colonizado pelos romanos era um tanto quanto simples.
Enquanto os homens saíam para a árdua rotina da labuta, as mulheres permaneciam
em suas casas para os afazeres do lar. E, entre uma ou outra tarefa doméstica,
o papel de mãe zelosa e dedicada também era um dos mais bem vistos pela
sociedade. Não que a jovem Maria não tenha vivenciado todas essas situações.
Contudo, no caso dela, a responsabilidade era muito maior. Afinal, seu filho
não era um menino como os demais da vizinhança. O anjo que a visitara tempos
antes havia dado o recado de maneira clara: de seu ventre nasceria o Messias, o
filho de Deus enviado à Terra para salvar e redimir os pecados da humanidade.
Descrita na Bíblia, a história mais conhecida do mundo fez de Maria a figura
feminina mais venerada de todos os tempos. E as incógnitas acerca de sua imagem
residem justamente ai: não há fontes que remontem ou comprovem sua trajetória
além das Sagradas Escrituras e dos evangelhos apócrifos – estes, por sua vez,
refutados pela igreja por não serem considerados de inspiração divina. PERFIL
BÍBLICO – Ficção para uns, realidade para outros, a verdade é que o conteúdo da
Bíblia é – ou pelo menos deveria ser – a única regra de fé para os cristãos.
Assim, antes de qualquer questionamento sobre o Culto à Maria, bem como dogmas
construídos ao seu redor, torna-se imprescindível resgatar o que os evangelhos
canônicos (Mateus, Marcos, Lucas e João) descrevem acerca da mãe terrena de
Jesus. Diferentemente do que acontecia com os personagens do Antigo Testamento,
Maria não tem a totalidade de sua vida abordada pelos escritores, pois sua
trajetória é relatada a partir do momento em que a jovem é designada a se casar
com o carpinteiro José. Não há nenhuma indicação de quantos anos ela tinha, mas
à época, a tradição judaica prezava que as moças fossem destinadas ao
matrimônio ainda virgens, logo aos 13 anos de idade. A SANTÍSSIMA VIRGEM NOS
APÓCRIFOS – Se nas Escrituras Sagradas o papel concedido à Maria é de uma
importante coadjuvante, alguns dos evangelhos apócrifos a apresentam como
protagonista. Inclusive, muitas das tradições religiosas criadas ao seu redor
são provenientes desses escritos: liderança sobre os primeiros cristãos
(sobretudo os apóstolos); a palma e o véu de Nossa Senhora; as roupas que ela
confeccionou para usar no dia de sua morte; sua assunção ao céu; os nomes de
seus pais (Ana e Joaquim). Outros relatos, no entanto, são vistos como
possíveis fantasias, como por exemplo, a descrição sobre o parto de Jesus, bem
como algumas histórias supostamente contadas pela própria Maria acerca da
infância do pequeno Messias. MÃE DE JESUS – Desde o princípio a personalidade
mariana foi caracterizada por atributos apreciáveis. Nas conversas com o anjo
Gabriel, por exemplo, suas falas demostram humildade e obediência à missão
confiada por Deus, mesmo com a repercussão polêmica que uma gravidez por
concepção através do Espírito Santo poderia lhe causar. “Eis aqui a serva do
Senhor, faça-se em mim, segundo a Tua palavras”, disse ela, de acordo com Lucas
1,38. Aliais, por falar nos documentos lucanos (tanto o evangelho como o livro
dos Atos dos Apóstolos) são neles que a figura de Maria surge como presença
constante na vida de seu filho Jesus. É verdade que os devotos acreditam que as
narrativas bíblicas foram divinamente inspiradas, mas a riqueza de detalhes faz
com que alguns estudiosos coloquem a própria Maria como uma das fontes às quais
o evangelista recorreu para compor os quadros de uma narração coordenada dos
fatos que entre nós se realizaram, conforme nos transmitiram os que desde o
princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra, como ele mesmo
definiu. Um dos melhores exemplos disso é quando a mãe de Cristo, ainda nos
primórdios da gravidez, decide visitar sua prima Isabel, que por sua vez
aguardava o nascimento de seu filho João Batista. “Quando Isabel ouviu a
saudação de Maria, o bebê agitou-se em seu ventre, e Isabel ficou cheia do
Espírito Santo. Em alta voz exclamou: Bendita é você entre as mulheres, e
bendito é o filho que você dará à luz”, isso é dito em Lucas 1,41-42. Afinal,
quem poderia ter lhe contado a intimidade do diálogo se não a própria
protagonista do cena? DIVERSIDADE SOBRE A IMACULADA CONCEIÇÃO – Sejam crentes
ou céticos, boa parte das pessoas não entende a quantidade de nomeação que se
atribuem a Maria. Muitos questionam: é a mesma? Ora, se Maria era judia, é
provável que possuísse a pele morena. Então porque as famosas “Nossas Senhoras
possuem diferentes raças, roupas e causas? A resposta da Igreja é: sim, todas elas
remetem à Maria. Segundo as tradições, seu culto e presença ao longo do
desenvolvimento da Igreja propiciaram o nascimento de devoções particulares e
locais, além de outras representações simbólicas com aspectos condizentes com
as causas pela qual foi invocada. A mesma coisa pode ser dita em relação ao
evangelho do publicano Mateus. Neste caso, o destaque fica por conta de todos
os pormenores que envolvem o canto natalino – desde a fuga para o Egito até a
ilustre visita dos três magos. Já no evangelho do apóstolo João, o relato dos
sinais operados por Cristo tem início nas bodas de Cana da Galileia, quando
Maria desempenha um papel fundamental na realização daquele que é tido como o
primeiro milagre de Jesus, instigando-o a desfrutar de seus poderes sobrenaturais.
“E faltando vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não tem vinho. Disse-lhe Jesus:
Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Sua mãe disse
aos serventes. Fazei tudo quanto ele vos disser”, estando o texto em João
2,3-5. Apesar de sua resposta demonstrar contrariedade à ideia, a sequência da
narrativa revela que o filho obedece a mãe e transforma a água em vinho para a
alegria dos presentes na festa de casamento. Outro momento crucial no qual sua
presença é relatada diz respeito à crucificação. Sem abandonar Jesus (como
muitos dos discípulos fizeram), Maria cumpre sua função de mãe fiel e piedosa
ao acompanhar o filho por todo seu martírio. Em síntese, entre os cristãos não
há discordância acerca dos conceitos sobre a pessoa de Maria, já que
sob a ótica da fé, é reconhecida como um ser especial. Uma verdadeira escolhida
de Deus que teve êxito na mais sublime missão que um mortal poderia receber. No
entanto, apesar da evidente relevância, a institucionalização da Igreja
primitiva instaurou alguns preceitos que motivam controvérsias até os dias de
hoje. DE ACORDO COM A HISTÓRIA – Embora a Igreja Católica proclame a si mesma
como a igreja pela qual Cristo morreu, uma leitura – ainda que superficial – do
Novo Testamento não encontra alusões à sucessão apostólica, ao papado, ou ainda
à veneração a Maria e outros santos. De fato, os primeiros 280 anos após a
morte de Jesus foram marcados por uma terrível perseguição aos seus seguidores
por parte do Império Romano. Porém, o panorama dramático passou a se alterar
quando o imperador Constantino resolveu se “converter” ao Cristianismo. Apesar
de o discurso oficial defender que o romano havia abraçado uma nova fé, os
historiadores acreditam que a ação escondia segundas intenções. NOSSA SENHORA APARECIDA
– Situada na região do Vale do Paraíba, no estado de São Paulo – Brasil, a
cidade de Guaratinguetá foi o palco da primeira aparição da imagem. Apesar de
partirem para a pesca durante uma temporada não muito propícia, alguns
pescadores rezaram para Maria pedindo uma providência dos céus. Segundo os
relatos, após algumas tentativas infrutíferas, o barco desceu o curso do rio
para que a rede fosse jogada novamente. Dessa vez, em vez de peixes, teriam
apanhado a famosa imagem de terracota que, segundo a crença, remetia à figura
da mãe de Jesus. A partir daquele momento, os três pescadores conseguiram
tantos peixes que se viram forçados a retornar ao porto. E, obviamente, além de
descarregarem o resultado da pesca, difundiram esta que é considerada a primeira
intercessão atribuída a Santa. Naquela altura, o vasto e diversificado Império
Romano começava a se fragmentar. Assim, Constantino supôs que a religião
poderia ser sustentação para restaurar a unidade. A princípio, a iniciativa até
parecia ser favorável também para a Igreja Cristã – e realmente foi, se
considerado apenas o privilégio e o prestígio adquiridos com as mudanças.
Contudo, no que diz respeito aos ensinamentos, pode-se dizer que as
consequências não foram das mais positivas. E segundo boa parte dos teólogos, a
imagem de Maria não escapa dessas deturpações. Seria ingenuidade acreditar que
a população abandonaria seus credos religiosos e professariam o Cristianismo em
sua totalidade. Portanto, o imperador promoveu uma verdadeira mistura com crenças
pagãs e absolutamente não bíblicas. O henoteísmo (crença em Deus único, mesmo
aceitando a existência possível de outros deuses), por exemplo, era um prática
muito comum na época, cuja essência baseava-se na existência de muitos deuses,
mas dando atenção especial a um deus em particular. Entre esse “segundo
escalão” de entidades, uma das mais populares era a deusa Ísis. O culto à deusa
mãe do Egito se alastrou por todas as partes do mundo grego romano. Através das
histórias da mitologia, os pagãos a consideravam um modelo de mãe e esposa,
protetora da natureza, além de amiga dos escravos, pescadores e oprimidos.
Entre as muitas designações que lhe foram conferidas, destaque para “Rainha dos
Céus” ou “Mãe de Deus”. Desta maneira, foi natural que Ísis tivesse sua imagem
absorvida pelo Cristianismo – obviamente, atrelada à de Maria, afim de atrair
os adoradores da deusa para uma fé que, em outras circunstâncias não
abraçariam. Percebendo isto. Constantino e os outros imperadores que o seguiram
não hesitaram em potencializar o sincretismo (mistura), visto que a exaltação
da mãe de Jesus além do que prediz a Bíblia seria benéfica para a nova fé. Não
à toa, muitos templos que eram consagrados a Ísis acabaram dedicados à Maria.
Basta ver que a primeira indicação clara dá Santidade da Virgem Maria
é brilhantemente apresentada nos escritos de Orígenes (185-254),
escritor e teólogo cristão cuja Terra natal era Alexandria (historicamente, o
lugar principal de adoração à deusa egípcia). Livro: Mistérios da Bíblia – O Lado
Oculto do Livro Sagrado. Abraço. Davi.
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