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ATOS DE BONDADE. Shimon, o Justo (300 AC 273), um dos últimos participantes da
Grande Assembleia, afirmava: "Sobre três coisas se sustenta o mundo: o
estudo da Torá, o serviço Divino (a oração) e guemilut chassadim, os atos de
bondade". (Pirkei Avot - A Ética dos Pais). O judaísmo ensina que o homem
é o único ser que possui livre arbítrio e que pode, de forma consciente,
beneficiar seus semelhante são praticar atos de bondade - guemilut chassadim,
em hebraico. A Torá e nossos sábios ensinam que a bondade, a generosidade, a
ética e a responsabilidade coletiva constituem parte integral dos mandamentos
Divinos transmitidos para o povo judeu no deserto do Sinai. O mandamento de
guemilut chassadim vai além da prática da tzedaká e inclui qualquer ato de
bondade que é feito a outro. Mais especificamente, inclui emprestar dinheiro ou
objetos, ser hospitaleiro, visitar e confortar os doentes, dar roupas a quem o
necessita, auxiliar e alegrar noivas e noivos, enterrar os mortos, consolar os
enlutados e promover a paz entre pessoas. Um simples sorriso, uma palavra
bondosa e um ouvido atento em um momento de aflição são também atos de bondade.
Cada vez que estendemos a mão a alguém que precisa de ajuda estamos cumprindo
esse mandamento. Desde seus primórdios, o judaísmo e a prática de guemilut
chassadim são inseparáveis e entrelaçados, pois sem compaixão, moralidade e
justiça social não há como manter uma sociedade ou sustentar a humanidade.
Ensinam nossos sábios: "Se Israel considerasse as palavras da Torá que lhe
foi dada, nenhuma nação ou reinado teria domínio sobre esse povo. E o que a
Torá pede que se faça? Que se aceite sobre si o jugo do Reinado Celestial e que
os membros do povo de Israel pratiquem, uns com outros, atos de bondade".
O Midrash vai mais longe e revela que a prática de atos de bondade é a pedra
fundamental, o pilar sobre o qual se ergue todo o universo. O judaísmo ensinou
ao mundo que o homem foi criado à "imagem de D'us". Isto significa
que o ser humano é um microcosmo dos atributos e qualidades divinas. Portanto,
assim como a bondade, a generosidade e a compaixão do Todo-Poderoso se estendem
a todos, o homem deve buscar fazer o mesmo. A Torá nos ordena: "Deves
seguir D'us e ser fiel a Ele" (Deuteronômio 13:5). Ao comentar este verso,
nossos sábios afirmam que o ser humano só pode apegar-se a D'us e se aproximar
dele se emular suas qualidades. D'us é Misericordioso e Generoso. De fato, um
dos nomes de D'us mais usado no Talmud é Rachmaná - "O
Misericordioso", então o homem também deve ser misericordioso, generoso e
bondoso com todos. Portanto, afirmam nossos sábios, assim "como D'us veste
os que não possuem roupa (...) visita os doentes...consola os enlutados (...)
cuida dos mortos (...) alegra os noivos e noivas (...), também tu deves assim
proceder". Os rabinos do Talmud consideravam a bondade uma das três marcas
singulares do judeu. Guemilut chassadim é tão fundamental no judaísmo que, se
alguém não pratica atos de bondade, deve-se questionar se realmente faz parte
da Nação Judaica, pois, está escrito que "Israel, o povo sagrado, é
caracterizado por três qualidades: a modéstia, a misericórdia e a prática da
bondade" (Yevamot, 79a). O Talmud vai além e afirma que alguém que só
estuda Torá, mas não pratica a bondade, repudia a D'us e não adquire nem mesmo
o mérito do estudo. Pois, como ensinou Rabi Akiva, o maior mestre do Talmud, o
mandamento "Amarás a teu semelhante como a ti mesmo" (Levítico 19:18)
é o princípio fundamental da Torá. Ser um ish
chessed. Uma das principais metas do judaísmo é ajudar o homem a se aperfeiçoar
espiritualmente para que ele se torne um ish chessed, um homem de bondade. Não
surpreende, portanto, que o primeiro patriarca judeu, Avraham, personifique a
Sefirá, o atributo Divino, de chessed - benevolência, generosidade e amor
infinito. Bondoso e altruísta, Avraham estava sempre preocupado com o bem-estar
dos outros, respeitando e amando todos os seres e cercando-os de atos de
bondade e generosidade. Hospitaleiro, o primeiro judeu usou sua riqueza para
acomodar os viajantes; as portas de sua tenda estavam sempre abertas a todos
aqueles que por lá passavam. Qualquer um, anjo, mendigo ou mesmo idólatra,
podia entrar em seu lar e comer à sua mesa, ou descansar em uma de suas tendas.
Avraham também compartilhava com outros sua sabedoria e seu conhecimento. Para
salvar alguém do sofrimento e da morte, não hesitava em tomar a medida
necessária, mesmo arriscando a própria vida. Avraham é o paradigma do judeu
ideal - bondoso com D'us e com os homens; o Talmud ensina que qualquer pessoa
que tenha compaixão por outras certamente descende do patriarca. Na Cabalá, a
Sefirá de Chessed, simbolizada por Avraham, representa a bondade, o altruísmo,
o compartilhar, o dar incondicional, o amor. É o fluxo de energia que nos abre
para o mundo e nos leva a estender a mão ao outro. Em hebraico, a palavra que
significa "amar" é ohev e advém de hav, "dar". O verdadeiro
amor, ensina o judaísmo, é constituído por atos de doação e bondade. Guemilut chassadim e tzedaká. Como vimos, guemilut chassadim é
definido por qualquer ato realizado com o objetivo de beneficiar o outro. Um
ato de bondade ocorre quando uma pessoa doa algo de si para outro, seja
dinheiro, energia, tempo ou afeição. Em hebraico, o termo guemilut chassadim é
sempre utilizado no plural, pois cada ato de bondade é recíproco, beneficiando
o receptor e o doador também. Ensinam nossos sábios que cada ato de bondade tem
dupla conseqüência: ajuda o que recebe e abençoa o que dá. A tzedaká é um dos
sustentáculos do judaísmo. Mas nossos sábios ensinam que os atos de guemilut
chassadim são, geralmente, superiores. O Talmud explica: "Os sábios ensinaram:
de três maneiras os atos de bondade são maiores que a caridade. A caridade é
realizada com dinheiro; a bondade é feita quando alguém dá de si. A caridade é
dada ao pobre; a bondade pode ser feita tanto para o pobre quanto para o rico.
A caridade é para os vivos; a bondade é para os vivos e para os mortos"
(Sucá, 49b). O Maharal de Praga, Rabi Yehudá Loew (1520-1609), afirmava que por
mais louvável e necessária que fosse a tzedaká, muitas vezes é impulsionada por
um sentimento momentâneo de compaixão. É difícil não ajudar alguém quando somos
defrontados com a dor ou fome de outro ser. Mas, explica o Maharal, para que o
homem se "aproxime" de D'us, ele precisa ir além de momentos
passageiros de compaixão; o homem que deseja elevar-se espiritualmente precisa se
tornar um verdadeiro homem de chessed. Para tal homem, agir para beneficiar
outros não é uma resposta frente a uma necessidade, mas uma qualidade
intrínseca de sua personalidade. O coração e a mente de um homem de chessed
estão sempre atentos, percebendo as necessidades dos que estão a sua volta e
agindo para atendê-las. Maimônides (1135-1204), o maior dos filósofos judeus e
codificador da Lei Judaica, explicou qual a diferença entre tzedaká e chessed.
Tzedaká vem da palavra tzedek, cujo significado é justiça. Justiça quer dizer
dar a alguém algo que é seu por direito - no judaísmo, a caridade é considerada
uma forma de justiça e não bondade gratuita. Chessed, por sua vez, é uma
atitude em relação àqueles que não necessariamente precisam de gestos de bondade
- ou na proporção na qual são receptores. Assim, Maimônides conclui que
enquanto a tzedaká está relacionada a um ato de generosidade, geralmente feito
por alguém que deseja aperfeiçoar a sua própria alma, chessed aplica-se à
realização da beneficência sem limites. Praticando
o bem. A prática de atos de bondade é necessária para se constituir uma
sociedade saudável e justa. Mas, para que a generosidade seja canalizada de
forma positiva, deve incluir medidas de empatia, discernimento e respeito.
Deve-se tomar, sempre, o maior cuidado para salvaguardar os sentimentos e o
amor próprio de quem necessita de ajuda. A Torá ensina que se uma pessoa der a
outra os mais valiosos presentes do mundo, porém de má vontade, será como se
não tivesse dado nada. Por outro lado, se um indivíduo for recebido com um
sorriso de boas-vindas, ainda que não seja possível dar-lhe algo, será como se
os presentes mais valiosos do mundo lhe tivessem sido ofertados. D'us nos
ordena ser gentis não apenas com atos, mas também com palavras - falar
gentilmente com os menos afortunados e estimulá-los. Na Torá, D'us promete
abençoar aqueles que assim agem. Atos de bondade cobrem uma gama quase infinita
de possibilidades, pois qualquer ser humano é "pobre" em relação ao
que lhe falta. Alguns precisam de ajuda financeira, outros de afeição e outros,
ainda, de conhecimento. Da mesma maneira que temos a obrigação de cuidar física
e mentalmente dos outros, devemos fazer o mesmo em relação a seu espírito. É
isto que D'us nos ordena na Torá: "(...) se há um necessitado entre vós
(...) certamente deveis estender-lhe vossa mão e emprestar-lhe o suficiente
para suas necessidades, seja o que for que lhe falte".
(Deuteronômio,15:7-8). Este é um mandamento amplo, que não se limita às
necessidades materiais do indivíduo. Guiar os outros, ensinando-lhes a Torá, é
um elemento essencial de guemilut chassadim. Todo aquele que segue o mandamento
de estudar a Lei tem também a obrigação de ensiná-la não apenas às crianças,
mas a qualquer um. Nossos sábios ensinam que desviar alguém do caminho da Torá
é pior do que feri-lo fisicamente, pois o dano espiritual é maior do que o
físico. O dever de cuidar do bem-estar espiritual dos necessitados ultrapassa,
muitas vezes, a obrigação de prover-lhes de bens materiais. Ensinam nossos
sábios que o verdadeiro altruísmo, a verdadeira bondade, são realizados quando
não se espera nada de volta. Frequentemente, mesmo se de forma inconsciente, ao
darmos algo de nós mesmos para outro, temos a expectativa de receber algo em
retorno. Mas o verdadeiro amor, a verdadeira bondade, devem ser dados
incondicionalmente, sem esperar nada em troca. É por isso que o judaísmo
considera que o verdadeiro ato de bondade, chamado de Chessed shel Emet, é
feito aos mortos, pois os falecidos jamais poderão dar algo para aquele que
tudo faz para que sejam enterrados com dignidade e respeito. A passagem de um
ser humano desta vida terrena para a sua Morada Celestial é um dos ciclos de
sua existência, não o seu fim. Portanto, o corpo do falecido deve ser enterrado
com dignidade e conforme as leis judaicas e deve-se recitar o Kadish, estudar a
Torá e realizar atos de tzedaká, para ajudar a elevar a alma do falecido. Mais do que um. No judaísmo, o conceito de guemilut chassadim não é
uma sugestão ou uma convenção social desejável. É uma obrigação religiosa, uma
ordem Divina. Guemilut chassadim literalmente quer dizer "devolver
chessed". Cada um de nós recebe do Todo-Poderoso, todos os dias, um fluxo
inesgotável de bondade. Basta olhar em nossa volta e prestar atenção a todas as
bênçãos que recebemos, dia após dia. A única maneira de pagar por este chessed
é fazendo algo pelos outros. O judaísmo ensina que o homem é uma criatura que
mantém hábitos; à medida que a prática da bondade se torna uma constante em sua
vida ele vai-se elevando e se torna um ish chessed, um homem de bondade. Desta
forma, realizará a missão Divina de consertar e santificar o mundo e torná-lo
um reino de D'us. www.morasha.com.br. Abraço. Davi
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