Religião Afro-brasileira. Candomblé. Livro Revendo o Candomblé - I. Por Eurico Ramos. PREFÁCIO - COM A PALAVRA O AUTOR. O Orixá nos chama, nós atendemos ao seu chamado e vamos servi-lo. Fazemos nossa iniciação, mudamos de situação espiritual, nos tornamos Omo-orixá. A responsabilidade é grande, tanto social como espiritual, e é com base nesse aspecto que Eurico Ramos - um filho de Aganju, descendente da Casa Branca. Onde tudo começou, nos transmite alguns ensinamentos. Filho da Casa Branca do Engenho Velho - Município de Salvador - BA, por onde passaram os maiores mestres de nossa tradição e lá deixaram seguidores crentes e dedicados. Eurico é hoje uma autoridade no assunto. Levado pela inspiração ancestral, e de seu orixá, é que o escritor se propôs a oferecer-nos esta obra. Que tem muito valor para os iniciados e praticantes da religião dos orixás. A forma discreta, clara, objetiva e esclarecedora é uma maneira didática com que o autor se expressa. Revendo o Candomblé é uma obra chamada para a continuação da leitura. O esclarecimento sobre as nações a partir da nossa, "Ketu", conduz o leitor a uma noção desta e das demais, induzindo-o a respeitá-las e valorizá-las. Levando dessa forma, o olorixá ao caminho da perfeição. Como diz o escritor, candomblé ou culto aos orixás não é somente Xiré, que mostra a plástica e o lúdico da nossa religião. Não é a exposição de ebós, de forma aleatória, aos que nada entendem, como animais mortos e expostos pelas ruas. Temos práticas internas de grande valor e que exigem recolhimento. Aliás, para o iniciado consciente, o nosso dia a dia é todo ritualizado. Com muita propriedade, o autor também nos esclarece sobre procedimento social e religioso, em nossa e fora dela, Qual a forma de recebermos e de apresentar-nos em outras casas. inclusive como deve ser o traje, o que deve ser lido com muita atenção. De forma inteligente nos é mostrado que nossa escola é o Axé, e que os nossos mestres são os nossos mais velhos. Vimos, neste trabalho, que candomblé é uma religião e que a diferença entre o candomblé e a umbanda é grande. Como a teologia, as vestimentas e tantos outros aspectos. O texto sobre alguns encantados e Ori é bem explicado, passando inclusive pelas folhas como elemento essencial ao culto dos orixás. Seu uso e alguns elementos como a água, o que é um rio, um oceano, uma fonte, a energia que emanam e como devemos tratá-los. Ao valorizarmos os símbolos, a comida de santo está incluída entre eles. O valor desde o seu preparo, até quando é retirada dos pés do orixá, onde devemos colocá-la. Prova que devemos nos preocupar com o meio ambiente. O autor explica de forma clara como e quando um Ilé Axé deve ser aberto e por quem. Fala sobre hierarquia, que é a mão mestre de todo Ilé Axé. Fica bem claro neste trabalho que o culto aos orixás é uma religião, e seu templo é lugar para rituais e concentração espiritual. Não é um clube que se possa trocar por qualquer mal-entendido, mostra que devemos viver para o orixá e não do Axé. Babá e iyalorixá são autoridades supremas, todos lhes devem respeito. Candomblé é causa, não é profissão. São diversos lembretes, interessantes e sérios, e é com muita propriedade que o autor nos passa esses ensinamentos. Daí recomendo que leiam e presenteiem com este livro. Vale a pena! Salvador - BA, Brasil, 16 de agosto de 2004. Maria Stella de Azevedo Santos. Com a palavra o autor. A ideia de escrever este livro nasceu a partir de programas de rádio que tenho a oportunidade de apresentar no Rio de Janeiro - Brasil, e também da participação em fóruns e salas de bate papo na internet que discutem o tema candomblé. Após alguns anos conversando com ouvintes no ar, visitando chats e teclando on-line com pessoas de todas as religiões do país. Adeptos, simpatizantes e curiosos, rapidamente percebi que, apesar de toda a popularização das religiões afrodescendentes. De toda a informação a que temos acesso nos dias de hoje. De todas as publicações disponíveis em livrarias, bibliotecas e também na web, as dúvidas das pessoas continuam as mesmas. O que é bastante curioso por um lado e muito preocupante por outro. Curioso, porque, além das informações ao alcance de todos, o número de praticantes aumentou muito nas últimas décadas, em todas as regiões do país. Preocupante porque, se temos hoje um número maior de adeptos e o advento considerável de novas casas de culto. Por que ainda existe tantas dúvidas, que considero básicas, a respeito da religião dos orixás? As conclusões a que cheguei certamente não agradarão a outros, mas pude comprovar, através dos próprios participantes desses chats e dos ouvintes que telefonam para o meu programa. O problema tem causas antigas, sendo uma delas, e talvez a pior de todas, o total despreparo de boa parte dos sacerdotes do candomblé de hoje com relação ao que é, de fato, o culto aos orixás. Muitos conceitos foram misturados ao longo do tempo, muitas coisas que simplesmente não existem foram acrescentadas ao culto. De tal forma isso afetou o universo do candomblé que não se conhecem mais os limites entre o culto real, extremamente lógico e completamente de acordo com a própria natureza. E aquele que se realiza em muitas e muitas casas e que vem se distanciando cada vez mais de suas origens africanas. Por isso, decidi escrever este livro. É importante deixar claro para você leitor, que não pretendo aqui, de modo algum, fornecer receitas mágicas ou fórmulas milagrosas para resolver problemas. Ou, ainda, revelar aspectos do culto que só podem e devem ser transmitidos, oralmente, aos iniciados. Quero sim, explanar sobre os conceitos ritualísticos que determinam a prática do candomblé de acordo com os dogmas professados na Casa Branca do Engenho Velho. Da qual, com muito orgulho, sou descendente direto. Eurico de agnju. Ilê Axé Edun Ará Obá Omo Yá Nassó Oká. Abraço. Davi. Candomblé. Livro Revendo o Candomblé - II. Por Eurico Ramos. Para começar a entender o Candomblé. 1.O QUE É REALMENTE O CANDOMBLÉ. O Candomblé é um culto estritamente brasileiro, cuja essência possui raízes africanas. Por que se diz que o candomblé é brasileiro? Porque o candomblé, tal como é professado pelos adeptos e como é reconhecido pelo Vaticano, só existe no Brasil. O candomblé nasceu quando tribos de diversas etnias foram aglutinadas dentro de uma mesma senzala - "alojamento destinado à moradia dos escravos, nas antigas fazendas ou casas de senhores feudais", ainda no período da escravidão. Isso fez com que ocorressem trocas culturais e miscigenação étnica entre essas várias tribos. Ocorrendo em seguida o seguinte fenômeno: ritos que eram professados nas mais longínquas regiões do continente africano. Em termos de divindades, cânticos e culto em geral, começaram a ser conhecidos, trocados e acomodados dentro de uma mesma senzala, por grupos de procedências diversas. A partir dessa aglutinação, teve início esse culto de origem africana, que nós conhecemos hoje como candomblé. 2. O que é a nação Ketu e qual a sua importância hoje no Brasil? Falar das tribos Ketu do panteão iorubano é um orgulho para nós, cuja raiz é a Casa Branca do Engenho Velho. Podemos dizer que as tribos provenientes da cidade de Ketu foram algumas das últimas a aportar no Brasil, e permaneceram como escravas por um período relativamente curto. Por esse motivo é que as tribos Ketu puderam guardar consigo todos os encantos, magia e misticismo da cultura africana original. O que não aconteceu com outros povos que aqui chegaram em tempos mais longínquos, como as tribos de origem banto. As tribos de Angola e Congo sofreram repressão, escravidão, influência dos padres jesuítas da Igreja Católica. Dos índios e de diversas outras culturas durante um período maior e por esses motivos perderam muito de sua essência. o que não aconteceu com as tribos Ketu e com as tribos Jeje. Por falar nas tribos Jeje, estas, inclusive, buscaram um regresso às terras africanas depois da Abolição da Escravatura em 13 de maio de 1888. As tribos Ketu tiveram suma importância na cultura nacional brasileira e isso é observado de forma bem clara na Bahia, em Salvador. Posteriormente, já em meados do século XX (1901-2000), ocorreu o mesmo no Rio de Janeiro, quando alguns remanescentes dessa nação começaram a aportar na nossa cidade. As tribos Ketu eram muito guerreiras, muito interligadas e primavam por manter vivos o seu idioma, as suas danças. E toda sua cultura, o que podemos constatar até os dias de hoje, características que muito se perderam em outras nações. 3. Por que o candomblé é uma religião? Qual é o conceito de religião, quais são os parâmetros para se reconhecer o que é uma religião? Religião existe quando há um culto prestado a uma divindade, a um ser supremo. É o conjunto de dogmas, práticas e rituais próprios de uma crença religiosa específica. É qualquer filiação a um sistema específico de pensamento ou crença que envolve uma posição filosófica, ética e metafísica. Isso está no dicionário, é assim que se define religião. Portanto, o candomblé é uma religião porque possui filosofia, mitologia, comidas, indumentárias, ritualística, códigos de conduta e idioma próprio - iorubá. Nas casas de Ketu, Kimbundo nas casas de Angola, fon nas casas Jeje. O candomblé possui as suas roupas próprias, as suas indumentárias litúrgicas - a roupa do santo, abadá, roupa de ração etc. Tem a sua cultura e tradição, modus vivendi, modus operandi. Enfim, o candomblé tem a sua liturgia própria, não devendo nada a religião alguma. Por esse motivo, o candomblé é visto como uma religião monoteísta. Abraço. Davi
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